“Adestramento do Saber”

Wanderson Vitor Boareto

O conhecimento é um produto de mercado, de valor estimado na modernidade. Na pós-modernidade, esse saber está passando por um processo de estagnação, já que muitos professores entendem que o aumento da tecnologia é sinônimo de conhecimento e de avanço no saber. Se isso fosse real, os níveis de desenvolvimento psicossocial seriam diferentes. Qualquer leigo pode perceber a crise na educação! Pelo perfil dos alunos e a proposta dos reprodutores do saber.

Algumas instituições de ensino usam a metodologia da repetição para que os alunos aprendam mecanicamente. Em alguns casos isso funciona dentro dos índices de avaliação dos governos, já que o processo avaliativo governamental é o sistema de provas geradas no sistema. Nesse caso, o uso do “adestramento” é um dos métodos que mais oferece resultados nas escolas.

Um sistema que usa o processo de ENEM e vestibular para a promoção ao ensino superior mostra a importância do adestramento da educação. Os alunos no dia a dia em sala de aula reproduz esta triste realidade da reprodução mecânica do conhecer, já que existe uma grande diferença entre conhecer e saber, como ensina o professor Aristides Ribas de Andrade Filho: “conhecer está ligado a produção repetida de pessoa objeto; o saber está ligado diretamente a aplicabilidade do saber na relação direta e indireta na vida do indivíduo”.

A pergunta é: por que a elite que é a produtora do saber insiste nestes métodos de “adestramento do saber”? São muitos os motivos. Um deles é que para pessoas “não pensantes”; “o adestramento” facilita a conduta social de manejo, como brilhante mente, explica Leonardo Boff em sua obra: Depois de 500 Anos Que Brasil Queremos? Segundo Boff os produtores e reprodutores do sistema do capital estimulam um saber equacional legado ao domínio dos números e não ao domínio da crítica, da ética e dos valores humanos de conduta social. Pelo contrário, temos neste sistema um estímulo bombástico do individualismo e da capitalização de bens.

No entanto, a reprodução da educação passa por uma regressão no sentido da convivência de pessoas, tanto é verdade que os governos incentivam os cursos a distância e a formação individual do sujeito. Não se trabalha a formação coletiva do sujeito, ou seja, o individualismo é essencial para a manutenção do sistema do capital. O saber adestrado para o cumprimento de metas, que são alcançados com estatísticas através de provas geradas por órgãos que estão distantes das salas de aulas e da realidade das comunidades, que se diferem dentro do espaço geográfico, econômico e social, mostra que a tentativa de padronização do saber é uma característica de mercado e não um processo de estímulo ao conhecimento real do sujeito.

Isso é tão assustador que muitos professores defendem este modelo de metodologia de “adestramento”, algumas instituições de ensino geram provas mensais e outras semanais e tem orgulho em analisar o aprendizado dos alunos através de pontuação e não de uma avaliação diária partido da realidade da comunidade e da bagagem trazida por cada indivíduo como ensina Paulo Freire.

Existe um provérbio medieval que diz: “uma mentira repetida milhares de vezes se torna uma verdade dogmática”. Sendo assim, o processo do conhecimento está longe de se ter no Brasil escolas parecidas ou próximas da Escola da Ponte, onde o conhecimento é estimulado de uma forma natural, sem cobrança,  através do prazer e não do “adestramento”.  Pensando em uma educação de formação humana. É  claro que existe professores que questionam esta maneira de dominação monopolista do conhecimento, e fazem dentro do possível sua diferença mesmo estando “engessados”  pela cobrança do sistema.

Outra prática incentivada pelos governos são os cursos profissionalizantes, que preparam pessoas para o mercado. São cursos de qualidade, onde são formadas pessoas preparadas para o sistema do mercado, no entanto, não formam pessoas pensantes e sim reprodutoras do escravismo cultural dos senhores do capital. Isso é tão maléfico à sociedade, que eleva gradativamente a má distribuição de renda, os níveis de violência e a criminalidade no Brasil através do ganho fácil. O ganhar está sendo mais importante do que o saber, como nos ensina Frei Betto.

Uma sociedade onde a escola é vista como um ambiente de tortura e martírio demonstra que alguma coisa está errada. A falta de compromisso com a vida, em uma sociedade onde os valores são temporais e a ética está ligada aos tolos, mostra que a educação está “ferida”. Vários projetos que na verdade mascaram a falta de preparo de um povo, que na maioria das vezes não tem e não quer ter consciência da importância do conhecimento como fator gerador de mudanças sociais e política de nosso país.