Ad nauseam.

As lições que a vida nos traz todos os dias, vão se acumulando em nossa memória e só não somos sábios, por conta da descomunal preguiça que assola o pensar humano.

Em 1979 escrevi algo que, ainda bem, ficou registrado num pequeno livro naquele ano publicado. Era uma pequena poesia que denominei “O direito”.

À época não tinha nem um por cento das lições que angariei de lá para cá, portanto, não teria ainda como esclarecer melhor porque acreditava naquela licença poética sobre o direito haver morrido, sem maiores complicações.

Hoje creio estar um pouco mais próximo de uma explicação plausível para o fato, diante do elenco de atentados sofridos pelas instituições que se julgam estar protegendo nossa Pátria.

Párias terroristas, aos bandos, apossaram-se do poder em nossa Terra e hoje se enterra o direito da mesma forma que afirmei há trinta anos passados: “sem alarde, sem propaganda”.

O direito morreu, ferido não só pela impunidade reinante, mas pela “legislação judiciária” de encomenda, a serviço daqueles que sabem muito bem ludibriar a Justiça, utilizando instrumentos fraudados. Do ataque executivo, de anos, com Medidas Provisórias que selam, como definitivamente impossível a existência do Direito e Justiça.

Morreu, não só pela omissão coletiva, mas também por conta de um Congresso de mercado, à maneira de um leilão de quermesse: “quem dá mais?”.  Legislativo falido, onde raposas se escondem atrás de imunidades (impunidades) parlamentares espúrias. Lugar onde a palavra ética é mero instrumento estético de linguagem, com uma elasticidade ímpar.

Enquanto, para a distração coletiva, a televisão segue seu jogo de enganação da massa, repetindo notícias ad nauseam, onde um astro pop morre milhares de vezes por dia num féretro interminável.  Ou, ainda, um acidente de Fórmula Um, onde um piloto bate o mesmo carro trezentas vezes por dia na cara de incrédulos idiotas, que babam diante da “caixa de Pandora” que brilha mentiras o tempo todo em cada um dos lares.

O erro da idolatria segue gerando cegos aos milhares, enquanto grande parte da mídia vai pagando seus débitos com favores que exemplificam de forma cristalina o que é reciprocidade sem o mínimo comprometimento.

Foi por isso que o direito morreu, sob o patrocínio dessa coletiva anestesia mental que se disseminou sem trégua.

Claro que morreu anonimamente, pois a ninguém interessava essa notícia divulgada. Mas, cercados pelo emaranhado de normas, os juristas sabem que se transformaram em “sacerdotes do nada”.

O direito morreu nas crianças analfabetas, famintas e doentes por todo o planeta, sem alarde. Pois o que realmente importa, não tem valor para o sensacionalismo barato. Crianças morrendo como moscas mundo afora, sempre por descaso, não é importante. Estarmos na insólita existência em uma terra de ninguém, na qual transformaram tudo em falsos valores, é melhor não ser divulgado, pois consciências poderiam despertar.

 Enquanto isso, senadores e deputados continuam “roubando inocentemente” e as Leis não criadas nascem bastardas, exatamente no Judiciário, como tumores que eclodem. Então nosso judiciário não parece mais derivar de Justiça, mas de Judas.

Para mim, aquilo que era apenas uma figura de linguagem para uma tentativa de poesia quando jovem, explode diante de meus olhos hoje, como uma profecia que se realiza, infelizmente.

O pior de tudo, é que ao morrer, o Direito leva consigo, todas as possibilidades de existência da Justiça!