Eu gostava muito de dormir na casa de minha avó Dina, que era viúva e morava sòzinha num grande chalé avarandado que ficava em frente do cemitério de Paquetá.  

Embora eu só tivesse oito ou nove anos de idade, isso fazia com que eu me sentisse muito maior, porque me dava a sensação de que era uma maneira de protegê-la ...  

Sem nenhuma outra fonte de renda, ela costumava alugar três dos quatro quartos da casa: um para a família do seu Marinho , outro para a família do seu Anibal e o terceiro para dois seresteiros que costumavam tocar violão pelas ruas da nossa Ilha.  

Eu e minha avó costumávamos dormir na mesma cama:  uma enorme cama colonial e aconteceu que numa das noites que eu estava lá com ela, o grande portão de ferro rangeu como sempre fazia quando era aberto e ouvimos passos de alguém subindo os degráus da escada que dava acesso à varanda, caminhando até a porta da sala e rodando a chave na fechadura ... 

Meio assustado, eu perguntei baixinho para a minha avó: 

  • "Que barulho é esse, vó ?" ...
  • "Deve ser alguém dos quartos que chegou ... Não é nada demais, não !" ...

E então, eu me virei para o outro lado e procurei dormir, mas logo em seguida, começou um barulho diferente:  era como se alguém estivesse jogando uma bolinha que rolava pelo chão e eu, então, agora já apavorado, perguntei à minha avó: 

  • "E agora , vó ? ... O que é que é isso ?" ...
  • "Não é nada não, meu filho !... São os gambás rolando os cajás que eles apanham nos cajazeiros do quintal !... Pode dormir sossegado !"...

E eu acabei mesmo dormindo mas, para o nosso espanto, na manhã seguinte, constatamos que não haviam chegado nenhum dos moradores dos quartos, que continuavam completamente vazios e que também não eram gambás rolando cajás no telhado porque estávamos no Outono e não havia nenhum cajá nos pés ! ...  

Acredite se quiser ! ...