Procura-se desde os primórdios a solução da grande pergunta: existe vida após a morte? Nasceram deuses, espíritos, mitos nas mais diversas civilizações. O homem busca uma resposta para sua angústia, mas não a tem. Apareceram os espíritas e outros mais, todavia não conseguem explicar. O cristianismo inventou um tal de paraíso do qual um Grande Deus virá julgar os homens para concedê-los a vida eterna e levá-los para esse lugar de paz.

Acredite quem quiser. Eu a encontrei!

Encontrei-a certo dia quando fui a uma biblioteca. Folheando alguns livros, senti um ar sobrenatural, fantasmagórico e tive a seguinte idéia: o poeta e os grandes escritores têm vida após a morte. A escrita é um mundo de vida eterna, ou uma vida após a morte. Quase todos dias, faço contato com Drummond, Murilo Mendes, Machado de Assis. Eles estão circulando por aí em prateleiras de biblioteca, em livrarias, nos ônibus e nas escolas. Não escolhem com quem vão fazer contato, basta que a pessoa entre em conflito: não existe certo e o errado. Todos podem se infiltrar, maravilhar-se com os espectros elípticos do mundo da palavra: encontrar a loucura de um Dom Quixote, beber um pouco de ironia de Machado, fantasiar-se e reconhecer-se em Hamlet de Shakespeare, sentir-se enclausurado na dúvida. Esses espíritos estão por aí, não tenham medo!

Quando alguém os Lê, parece até um rito; os convocam para esse mundo. Alguns leitores ficam parados, saboreando: degustando a fabulosa ligação. Muito desses espíritos são despersonalizados como o do Fernando Pessoa; às vezes me aparece como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Tenho um segredo, querem saber?

Caro leitor tenho dormido constantemente com Clarice Lispector. Desperto-me. Lá está ela sobre mim, uma vida que está em outra dimensão, mas que não saí do meio de nós . Por isso, virei um espírita, um espírita da literatura: converso com todos. Como faço para isso acontecer?

Respondo-lhe. Penetro surdamente nos reinos das palavras (parafraseando Drummond), distancio-me das regras, das coisas automáticas, adestro o meu olhar para a beleza do estranho, não há medo em mim. Abro a cortina, tudo é magia, fantástico. Alguns reclamam: "não consigo entender, isso não pode acontecer na realidade!". Entendo-os. Eles vêem apenas os cenários montados; não se abrem para o grande mundo novo desses enigmáticos espíritos das palavras. Por isso, são poucos que fazem contato com esses entes. Só que não há psicografia, tudo está no reino das palavras, o qual eles nos deixaram em vida: é o fio condutor. Alguns há um século, outros há mais de dois séculos, como Homero, Virgilio e outros mais.Acreditam, agora, em vida após a morte?

Aliás, preciso voltar a conversar com um amigo de longa data, meu amigo inseparável-Drummond.

Em Homenagem a todos escritores.