Resumo: Sabemos que a inclusão escolar é um tema complexo e muito questionado. É um problema que atinge não só o âmbito escolar, mas sim todo o contexto social em suas mais diversas áreas. Tendo em vista as dificuldades de se trabalhar e aceitar o “diferente” em nossa sociedade, e em especial, em nossas escolas surge o nosso interesse em conhecer e colaborar nesse processo tão fundamental no desenvolvimento humano. Com base nesse pressuposto, o presente artigo visa apresentar os resultados do trabalho desenvolvido no Colégio Educacional de Itaú de Minas que teve como objetivo compreender os aspectos que envolvem e favorecem a inclusão no âmbito escolar e o  trabalho com professores e diretores da escola, discutindo e promovendo ações que contribuem para que a prática inclusiva aconteça no cotidiano escolar de uma forma mais abrangente e significativa. O método utilizado foi o dedutivo, utilizando as técnicas de observação, entrevistas e questionários aplicados aos professores e diretora. De acordo com a pesquisa constatamos que há muitas ações sendo feitas nas escolas, no entanto, ainda se tem muito por fazer e por melhorar sendo que a inclusão deve ser um processo contínuo e flexível. Concluímos que este é um desafio que requer medidas de flexibilização e reflexão para que o professor planifique ações que sejam coerentes e viabilizem a todos o acesso à aprendizagem e ao conhecimento.

Palavras-chave: Inclusão escolar, ensino, aprendizagem.

Abstract : We know that school inclusion is a complex topic and often questioned. It is a problem that affects not only the school, but within the entire social context in its most diverse areas. In view of the difficulties of working and accepting the "different" in our society, and in particular, in our schools is our interest to meet and collaborate in this process so fundamental in human development. Based on this assumption, this article presents the results of the study completed by the Educational College in Madurai designed to understand the aspects that involve and promote inclusion within school while working with teachers and principal, discussing and promoting actions that contribute to inclusive practice in school everyday in a more comprehensive and meaningful manner. The method used was deductive, using the techniques of observation, interviews and questionnaires applied to the teachers and principal. According to the survey, many strategies are being used in schools, however, there are still difficulties. To improve strategies for inclusion as a continuous process,. We conclude that this is a challenge that requires reflection and ease so that teacher strategies for the classroom are consistent and make it possible for all to have access to learning and knowledge.

Keywords: School inclusion, teaching, learning.

 

Introdução

 

Sabemos que a inclusão escolar é um tema complexo e muito questionado. É um problema que atinge não só o âmbito escolar, mas sim todo o contexto social em suas mais diversas áreas.

A inclusão escolar está inserida em um movimento mundial denominado inclusão social, que tem como objetivo efetivar a equiparação de oportunidade para todos, inclusive para os indivíduos que, devido às condições econômicas, culturais, raciais, físicas ou intelectuais, foram excluídos da sociedade. (CAPELLINI, 2010, p.41)

Tendo em vista as dificuldades de se trabalhar e aceitar o “diferente” em nossa sociedade, e em especial em nossas escolas, surge o nosso interesse em conhecer e colaborar nesse processo tão fundamental no desenvolvimento humano, pois como nos afirma Parolin (2006), é preciso querer participar do movimento inclusivo e ter disposição para buscar conhecimentos e experiências com o outro e esse movimento requer ousadia e esperança que podemos transformar práticas excludentes em ações mais dignas e humanas.

Dentro dessa perspectiva, a partir desta pesquisa ampliamos mais nosso conhecimento a respeito do tema, além de contribuirmos também na promoção de potencialização de desejos de mudança e melhoria na nossa sociedade e nas nossas escolas, respeitando a concepção de que o ser humano é único e singular.

 

Desenvolvimento

A inclusão escolar se constitui em um movimento muito discutido no Brasil e em todo o mundo. Ao longo da história, percebemos inúmeras ações que viabilizam um melhor atendimento às pessoas com deficiência, assegurando-lhes todos os seus direitos, principalmente, dentro nas escolas regulares.

            De acordo com Oliveira (2003, p.33), “a inclusão pode ser entendida como um princípio filosófico que preconiza a convivência das diversidades, pressupondo que as diferenças são constituintes do ser humano e se caracterizam como a maior riqueza da sociedade”. Nesta mesma linha também se encontra a definição de Aranha (2000, p.2) onde afirma que “o principal valor que permeia [...] a idéia de inclusão é o configurado no princípio da igualdade, pilar fundamental de uma sociedade democrática e justa: a diversidade requer a peculiaridade de tratamentos, para que não se transforme em desigualdade social”.

Mediante essas questões muito se tem estudado e refletido sobre o assunto num intuito de tentar romper esses paradigmas que tanto prejudicam não só as pessoas envolvidas, como toda sociedade. Como nos declara Capellini e Rodrigues (2010) que as deficiências sempre existiram e sempre existirão em nossas escolas, por isso acreditamos que se faz necessário um trabalho voltado para um novo olhar na ação educativa, buscando maior interação entre os sujeitos e destes com seus contextos.

Cabe mencionar a realidade que vivenciamos em toda sociedade, de modo particular nas escolas, em como os aspectos culturais influenciam nas práticas inclusivas e pedagógicas. “A cultura das escolas tem um ranço elitista e homogeneizador. O aluno ideal não é o que representa necessidades educacionais específicas; este representa a diferença que assusta e ameaça”, (CARVALHO, 2012, p.49, grifo nosso).

E concordamos também com a mesma autora quando nos apresenta que as dificuldades enfrentadas são significativas, não só em relação ao processo, mas em toda organização curricular, seguidas por grande resistência por parte dos professores, e até de alguns teóricos. Por isso ela sugere que o trabalho deva ser feito coletivamente.

Alguns tópicos são fundamentais para garantir a essas crianças esse direito, tais como: desenvolver junto a ela a construção de sua identidade, autoconceito e autonomia.

Sabemos que as crianças com Transtornos de Aprendizagem ou Portadoras de Necessidades Especiais demonstram possuir um conceito muito desvitalizado de si mesmas, sentem-se como se fossem inferiores às outras, e manifestam de forma diferente uma das outras.

Alguns sinais comuns são: choramingar, querer vencer sempre, ter medo de não saber fazer as coisas, oferecer seus brinquedos a fim de comprar-lhes o afeto, entre outros exemplos possíveis.

Ao pensarmos na palavra identidade, ela nos remete primeiramente à Identificação, conceito bastante usado na Psicologia e nos leva a pensar na importância do outro e das interações que com ele estabelecemos para o desenvolvimento de nossa personalidade.

A identificação pode ser considerada um mecanismo de desenvolvimento da personalidade e socialização, podendo ser aprendida ou não. Identificamo-nos com nossos pais, quando repetimos suas atitudes e comportamentos, também nos identificamos com grupos e outros meios sociais, e essa identificação dá à criança as habilidades, ideais, valores, tabus e moralidades adequados ao seu grupo social.

O professor se defronta diariamente com situações que envolvem a formação da identidade do aluno e busca sua compreensão através de conhecimentos adquiridos durante sua formação.

Oliveira e Costa (2002) chamam esse processo de formação de identidades feridas pela exclusão diária e contumaz e propõem uma intervenção bastante profunda nos cursos de formação inicial e continuada de professores no sentido de uma ênfase multiculturalista dessa formação.

Estudos têm demonstrado uma correlação positiva entre uma identidade bem construída, com autoconceito elevado e o bom desempenho acadêmico, enquanto que o fracasso escolar pode levar um aluno à autodesvalorização, prejudicando o desenvolvimento de sua identidade.

Acreditamos que a identidade está permanentemente em construção e pode ser reposicionada, é transitória e dinâmica, sendo assim podemos ousar duas indicações de procedimentos que a escola pode utilizar para minimizar os efeitos negativos da exclusão sobre os indivíduos que possuem necessidades especiais.

A primeira indicação focaliza a mudança no processo interacional que se desenvolve e que afeta a identidade do aluno diferente dos demais. É necessário desenvolver uma proposta de educação voltada para os valores como a equidade, a sensibilidade e a solidariedade.

No atual contexto educacional, exige-se um novo profissional de educação, com competência e conhecimentos necessários para poder enfrentar e se encaixar nesse processo.

Na prática educacional, o trabalho sobre a diversidade pode ser realizado a partir de diferentes perspectivas: avaliação de conteúdos, o uso de metodologia facilitadora, o agrupamentos de alunos, relacionamento do grupo-classe, entre outros.

Outro conceito considerado de suma importância é o de autonomia.

Segundo Freire (2003, p.107): “A autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si é processo, é vir a ser. Não ocorre com hora marcada”.

A partir desse conceito, percebe-se a importância da escola em abrir espaço para que o aluno se posicione e apresente sua opinião. Permitir e auxiliar na formação da autonomia do aluno pode ser um respaldo na (re) construção da cidadania do aluno com necessidades especiais, uma autonomia dissociada do contexto de grupo, para construir uma nova visão dessa pessoa como indivíduo social e cidadão.

É necessário, por intermédio da escola, buscar novas concepções de relações em sociedade, com olhar voltado para o que é socialmente pertinente e o que favorece a inserção da pessoa com necessidades especiais no meio social, resgatando a autoestima perdida, ou ainda não estabelecida.

A escola, antes mesmo de ser um espaço de descoberta e produção de conhecimento, é um espaço em que se fazem e produzem relações humanas. Juntamente com seus educadores, tem papel importante no reconhecimento e formação de todos os indivíduos, principalmente daqueles que até o momento não tiveram a oportunidade de o fazerem.

Dentro dessa contextualização percebemos que o professor responsável pelo atendimento às pessoas com deficiência ou transtorno deve utilizar estratégias didáticas que incorporem objetivos claros de ensino e aprendizagem e que envolvam os alunos e motive-os a trabalhar com o propósito de atingir metas. Vemos também que o professor tem um papel determinante na construção do projeto pedagógico da escola, e será que ele está apto para atuar em uma escola que atende a diversidade? Em função disso, elencaremos algumas discussões que consideramos relevantes nesse processo.

Mantoan (2008), especialista em inclusão, nos aponta o caminho da flexibilização, e sugere que é preciso elaborar um plano educacional para cada estudante. Ao contrário dessa linha de pensamento Ropoli diz “... as práticas escolares inclusivas não implicam um ensino adaptado para alguns alunos, mas sim um ensino diferente para todos,... (2010, p.15, grifo do autor)”.

Diante desse paradoxo, o professor deve estar bem preparado e decidir qual o caminho melhor norteia o seu trabalho, de forma responsável e segura. Para isso precisa investir em capacitação contínua e adotar posturas conscientes e coerentes com seu papel de formadores.

Parolin (2006) esclarece que o professor deve utilizar de todas as formas de linguagem – verbal, musical, matemática, gráfica, plástica, corporal – e também que trabalhe e respeite as diversas possibilidades de aprendizagem de cada indivíduo, colocando-as em evidência a partir de um desenvolvimento global.

Enfim, vimos que a escola desempenha um papel fundamental na construção do sujeito, quer este apresente alguma dificuldade ou não, e sabemos que as demandas são muitas e o professor precisa se preparar cada vez mais para atender a esse desafio, derrubando barreiras e sendo um eterno aprendiz!

 Percebemos através da entrevista realizada com a diretora do Colégio Educacional que a escola foi planejada e estruturada dentro das normas adequadas para a demanda de inclusão. Ela relata que os professores estão em constante processo de formação, porém salienta as dificuldades enfrentadas neste processo. Relata também que há boa aceitação e relacionamento das crianças que não apresentam nenhum tipo de deficiência com as crianças deficientes. A preocupação se refere às famílias das crianças que não apresentam nenhum tipo de deficiência. Apesar de manterem uma postura tranqüila diante da situação, ficam atentos para que não haja nenhum comprometimento na aprendizagem de seu filho. Isto ela considera um desafio para a escola, atender bem a todos, proposta que já se encontra na filosofia de trabalho.

A partir da análise dos dados obtidos com a pesquisa realizada com as professoras constatamos que o grupo apresenta uma visão bastante diversificada em relação à prática inclusiva, sendo em nossa opinião, este um assunto que precisa ainda ser muito discutido, não só nesta escola, mas de um modo geral em nossa sociedade. Dentre os resultados obtidos pudemos observar que o grupo, mesmo em constante processo de capacitação, ainda apresenta um pouco de insegurança nesta questão, por se tratar de uma prática séria, pensam que às vezes podem não corresponderem ao que se esperam delas e que não elas não consigam oferecer o que a criança realmente necessite aprender.

Outro fator ressaltado pela equipe é que na escola particular percebem uma cobrança ainda maior nos resultados de aprendizagem e bom atendimento por parte dos pais do que nas escolas públicas. No entanto, apesar de tantas dificuldades percebemos que buscam com empenho e vontade estratégias para vencerem essas barreiras e obterem os melhores resultados possíveis.

Conclusão

 

Concluímos, ao finalizar esta pesquisa, que ao longo do tempo, a inclusão tem sido motivo de dúvidas, questionamentos e que a sociedade tem buscado implantar várias ações no sentido de melhor compreender e adotar práticas que viabilizem um atendimento significativo e que atenda a todos de forma mais digna e humanizada.

Este é um desafio que requer medidas de flexibilização e reflexão para que o professor planifique ações que sejam coerentes e viabilizem a todos o acesso à aprendizagem e ao conhecimento.

Foram momentos prazerosos, interessantes e de grande aprendizado. Realmente essa foi uma experiência enriquecedora, que despertou em nós curiosidade, inquietações e desejos. A partir da realização e participação nesse trabalho pudemos aprimorar mais nossos conhecimentos e temos certeza que serão muito valiosos em nossa prática.

            Enfim, esperamos que realmente haja mudança de paradigmas, quebrando tabus para aceitar e enfrentar a diversidade no seu cotidiano. E é preciso ter coragem, ousadia e empenho para transformar o ideal em real, pelo menos tentando se aproximar ao máximo ao possível, apesar dos desafios e barreiras que possam surgir no caminho!!!

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

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