Palavras-chave: Acidentes Espaciais. Voos Espaciais Tripulados. Astronautas. Cosmonautas.

1. INTRODUÇÃO
A complexidade inerente às atividades espaciais faz com que estas sejam, por definição, uma tarefa arriscada. Desta forma, seria de se esperar que acidentes acontecessem na área dos voos espaciais de tempos em tempos. Já na época dos primeiros foguetes, as bombas voadoras V-2 na Segunda Guerra Mundial, os alemães criaram o avião Bachem-Natter, que decolaria na vertical, como um foguete. Seria a primeira decolagem vertical de um ser humano, algo que se tornaria comum com o advento dos foguetes espaciais. E, já nesta ocasião pioneira, a aventura terminou em tragédia quando o avião se desfez no ar provocando a morte de seu piloto, o tenente Lothar Siebert (CLARKE, 1968).
Com o surgimento dos foguetes propriamente ditos, alguns acidentes continuaram a acontecer. No início, sobretudo devido à pouca experiência e rusticidade de tais veículos os acidentes eram algo comum. Em 1956, ano anterior ao lançamento do satélite Sputnik-1, primeiro objeto artificial a orbitar a Terra, o número de fracassos em lançamentos americanos chegou a assustadores 48%. O número de fracassos soviéticos pode ter atingido patamares semelhantes, embora não haja certeza, uma vez que nos primeiros anos da Corrida Espacial seus fracassos eram mantidos em absoluto sigilo (CLARKE, 1968; WHITE, 2003).
Alguns acidentes com foguetes não terminam em tragédia, não causando vítimas, mas ainda assim, exercendo alguma pressão ao longo da História para que mudanças sejam introduzidas nos programas espaciais. Mas em se tratando de acidentes com vítimas fatais as pressões são ainda maiores. Alguns acidentes podem ser vistos como os responsáveis diretos por grandes mudanças, algumas das quais acabaram por moldar os rumos e o futuro das atividades espaciais em várias nações.
Entre os acidentes fatais, os que mais pressionam os programas espaciais para que mudanças sejam introduzidas em seu modus operandi são os que terminam na morte de astronautas e cosmonautas. Isso porque os viajantes espaciais são normalmente vistos como heróis reais da aventura espacial e, não raro, tratados como celebridades. A simpatia que invariavelmente demonstram aproxima-os do povo e isso tende a conquistar a opinião pública. Não é então exagero afirmar que os astronautas americanos, cosmonautas russos e, mais recentemente, os taikonautas da China, são a melhor propaganda de seus programas espaciais. Esta situação se verifica até mesmo em nações que não possuem programas espaciais próprios e enviam seus viajantes espaciais de carona em naves de outros países.
Desta forma, a morte de alguns destes personagens causa profunda comoção e, via de regra, estagnação no programa espacial, uma vez que intensas e demoradas investigações são realizadas para se concluir com exatidão quais foram as causas da tragédia e eventuais modificações em design e estrutura de naves para impedir que semelhantes desastres ocorram. Neste ínterim, futuros voos espaciais são cancelados ou adiados até por anos.
Obviamente estas tragédias trazem consequências profundamente sentidas para o resto da história do programa espacial em questão. Naves passam por modificações, hábitos são alterados ou abandonados e o próprio atraso em programas espaciais traz seus efeitos, alterando a história da exploração espacial de modo às vezes drástico.
Vidas humanas são algo de valor incomensurável. Assim sendo, após uma tragédia em um voo espacial, medidas são tomadas para que certos acidentes e incidentes não venham a se repetir em uma missão.
Este artigo analisa as principais consequências inerentes aos acidentes em voos espaciais tripulados. Entretanto, mesmo os acidentes envolvendo veículos espaciais não-tripulados deixam suas marcas. Um exemplo é o primeiro acidente com morte no programa espacial soviético, em outubro de 1960, por ocasião da tentativa de lançamento do primeiro protótipo do foguete R-16, que explodiu na plataforma de lançamento matando dezenas de técnicos e cientistas, entre eles o general Mitrofan Nedelin (OBERG, 1981; ABRIL, 1990). O acidente com o foguete R-16 trouxe algumas conseqüências ao programa espacial soviético. Uma delas foi que Mikhail Yangel, seu projetista, perdeu parte de seu prestígio. Antes do acidente ele desafiava o engenheiro Sergei Korolev e havia grandes chances de que acabasse por figurar como o projetista-chefe do programa espacial soviético. Se tal acontecesse a História seria diferente, pois alguns dos grandes avanços dos soviéticos em se tratando de desenvolvimentos na Astronáutica saíram do cérebro de Korolev, como os satélites Sputnik e as naves Vostok, Voskhod e Soyuz. Mas com o acidente, Yangel foi designado para tarefas de pouco brilho, como dar continuidade ao foguete R-16 que, em pouco tempo, foi superado por projetos de foguetes mais poderosos de Korolev (ZAK, 2010).
Outros acidentes envolvendo veículos espaciais não-tripulados que, ainda assim, exerceram profundas influências sobre a história da exploração espacial foram as explosões dos protótipos do foguete russo N-1, no final da década de 1960 e início da década seguinte. Este foi o mais poderoso foguete construído pelo homem e em altura (111 metros) rivalizava com o Saturno-5 norte americano. Entretanto, todos os protótipos do N-1 que foram construídos acabaram explodindo no lançamento. O foguete serviu apenas para produzir as maiores explosões da história da Astronáutica e pelo menos um deles provocou vítimas fatais no solo, embora seu número seja desconhecido até hoje da imprensa ocidental (WHITE, 2003). Com o fracasso dos foguetes N-1 os soviéticos perderam qualquer possibilidade de chegar à Lua antes dos norte-americanos, uma vez que jamais conseguiriam produzir outro foguete tão poderoso a tempo.
O acidente que terminou na morte do cosmonauta Valentin Bondarenko em 1961, embora não tenha ocorrido durante um voo espacial, aconteceu durante os testes para uma missão tripulada, de modo que figura neste artigo, além do fato de o mesmo ter deixado consequências que afetaram os voos espaciais tripulados na União Soviética. Ademais, o acidente de Bondarenko apresenta grandes semelhanças com a tragédia da Apolo-1. Assim, se o acidente que vitimou Bondarenko não fosse abordado por este artigo, não haveria sentido em falar-se sobre o da Apolo-1. Entretanto, o acidente da Apolo-1 é por demais importante, no âmbito da história do programa espacial norte-americano, figurando em praticamente todas as listas de acidentes espaciais, embora o mesmo tenha ocorrido em terra. Seja como for, tal como o acidente de Bondarenko, o da Apolo-1 ocorreu durante um teste para uma missão espacial tripulada. Alguns astronautas americanos (como Elliot See, Charles Basset, Clifton Williams, entre outros) e outros cosmonautas (como Iuri Gagarin) perderam suas vidas em acidentes aéreos, alguns dos quais em fase de testes para voos espaciais (COLLINS, 1975). Porém, a morte em aviões de treinamento não traz maiores consequências além da simples substituição da tripulação falecida por outra, de modo que estas situações não serão analisadas por este artigo.
Até mesmo o Brasil teve sua tragédia espacial quando o foguete VLS (sigla para Veículo Lançador de Satélites) explodiu em 2003 na plataforma de lançamento em Alcântara, no Maranhão, dizimando as vidas de 21 técnicos plenamente capazes, cuja formação custara tempo e dinheiro ao país, além de um satélite do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e um da UNOPAR (Universidade Norte do Paraná). Obviamente o foguete não conduziria tripulantes, mas, ainda assim, o acidente deixou marcas no programa espacial brasileiro. Além do atraso que abalou futuros projetos, o país teve praticamente destruída a parte mais importante de sua base de lançamentos. A opinião pública e parte da imprensa passaram a questionar a validade e necessidade de um programa espacial no Brasil e veio à tona a situação de parcos recursos sob o qual o programa existia (MORENO, 2008). O acidente ainda levou o Brasil a procurar parcerias com a Rússia, que se comprometeu a desenvolver um estágio extra para o VLS, estágio este movido a combustível líquido, e com a Ucrânia, com a qual criou a segunda empresa binacional do país, a Alcântara Cyclone Space, que objetiva lançar de solo brasileiro foguetes ucranianos, podendo estender suas atividades a outros países. Ainda que a tragédia do VLS tenha terminado em 21 mortes e trazido graves, traumáticas e profundas consequências ao programa espacial brasileiro, o fato de não ser um foguete tripulado faz com que uma análise detalhada do acidente não faça parte do tema deste artigo.
Em contrapartida, uma análise de situações como a perda de controle da Gemini-8 em órbita, em 1966, a quase tragédia da Apolo-13 em abril de 1970, em órbita lunar, e a colisão de um veículo de carga automático Progress contra a estação espacial Mir, em 1997, fogem ao tema deste artigo, pois embora estas naves fossem tripuladas e seus incidentes tenham trazido consequências aos programas espaciais e, por conseguinte, à própria história da exploração espacial, nenhum destes episódios terminou de forma fatal.

OBJETIVOS
? Analisar a forma como as consequências dos acidentes espaciais envolvendo espaçonaves tripuladas acabam por moldar os rumos da exploração espacial;
? Descrever as diferentes formas como um acidente espacial vitimando tripulação pode ocorrer.

METODOLOGIA
Os objetivos deste estudo somente foram atingidos graças à pesquisa bibliográfica de extenso material referente ao tema. Os materiais e atividades incluem:
? Consulta a livros, materiais impressos, publicações na Internet, dissertações, etc.;
? Realização de debates sobre o assunto em atividades do GEDAL (Grupo de Estudos e Divulgação de Astronomia de Londrina);
? Realização de consultas a livros publicados por especialistas sobre Astronáutica ou que tenham capítulos abordando o tema. Endereços eletrônicos de agências espaciais como a CNSA (www.cnsa.gov), Canadian Space Agency (www.space.csa.gc.ca), Rosaviakosmos (www.roscosmos.ru), Japan Aerospace Exploration Agency (www.jaxa.jp), Agência Espacial Brasileira (www.aeb.gov.br) e European Space Agency (www.esa.int) foram também consultados e explorados.

2. AS TRAGÉDIAS ESPACIAIS
Se nós morrermos, queremos que as pessoas aceitem isso. Nós estamos em um negócio arriscado... A conquista do espaço vale nosso risco de vida

Virgil Grissom, astronauta americano, morto na Apolo-1

2.1. A MORTE DE VALENTIN BONDARENKO
O segundo acidente espacial com vítima fatal também aconteceu em solo soviético e, desta vez, tirando a vida de um cosmonauta. A vítima seria o jovem Valentin Bondarenko, de apenas 23 anos de idade (ABRIL, 1990; SPACEFACTS, 2010).
Valentin Bondarenko foi escolhido para a primeira turma de cosmonautas da União Soviética. Como tal, iniciou imediatamente os treinamentos para futuros e eventuais voos ao espaço a bordo de alguma nave Vostok. As naves Vostok foram as primeiras a levar homens à órbita da Terra e foram um marco para o programa espacial soviético (NOGUEIRA, 2005, MORENO, 2008). Todos os seus tripulantes foram militares da força aérea soviética que passavam por um período de treinamento intenso e testes de resistência para que seus corpos se acostumassem com as condições que seriam enfrentadas por ocasião dos voos espaciais (SPACEFACTS, 2010; ZAK, 2010b).
Um dos testes consistia em manter o cosmonauta isolado em uma pequena câmara hiperbárica de atmosfera sob alta pressão e oxigênio puro ao longo de quinze dias. O objetivo do teste era verificar se um homem poderia manter-se física e psicologicamente são sob tais condições.
O dia 23 de março de 1961 era o décimo dia em que Bondarenko encontrava-se encerrado na tal câmara, no Instituto de Estudos Biomédicos de Moscou. Havendo completado uma bateria de estudos, Bondarenko retirou alguns eletrodos fixados em seu corpo, esfregando o local com um algodão embebido em álcool. Negligentemente ele lançou as bolotas de algodão cheios de álcool em dada direção e elas caíram sobre uma chapa elétrica. Devido a isso irrompeu no interior da pequena câmara um incêndio. O que mais propiciou o incêndio foi a atmosfera interna da câmara, composta de oxigênio puro sob alta pressão. O traje de Bondarenko incendiou-se de imediato, sem que ele nada pudesse fazer para aplacar a violência das chamas.
Alguns médicos e técnicos imediatamente tentaram retirar Bondarenko da câmara. Porém, devido à diferença de pressão a escotilha da mesma levou mais de meia hora para ser aberta. Quando a escotilha finalmente foi aberta, a equipe de salvamento notou horrorizada que Bondarenko sofrera queimaduras na maior parte do corpo.
O cosmonauta foi levado ao hospital mais próximo com a maior urgência. O primeiro médico que o atendeu, Dr. Vladimir Golyakhovsky, recordaria anos mais tarde, em 1984, que ao tentar aplicar uma injeção intravenosa em Bondarenko, a única parte do corpo do cosmonauta que permitia a introdução de uma agulha em algum vaso sanguíneo era a sola de seus pés. Esta área estava intacta, pois as botas de Bondarenko haviam protegido das chamas os seus pés. Mas o restante do corpo do cosmonauta estava terrivelmente queimado.
Ainda de acordo com o Dr. Golyakhovsky o cosmonauta Iuri Gagarin passou várias horas no hospital ao lado do colega malsinado. Bondarenko veio a falecer 16 horas depois do infortúnio, menos de três semanas antes do histórico vôo espacial de Gagarin (GREENE, 2008).
Não foram publicadas notícias do acidente de Bondarenko e sua conseqüente morte na ocasião (ABRIL, 1990). Bondarenko já havia aparecido em filmes e fotografias oficiais do primeiro grupo de cosmonautas e o seu desaparecimento inexplicado produziu rumores de que alguns cosmonautas poderiam ter morrido em lançamentos fracassados. Em 1980 foram finalmente publicados os detalhes deste incidente no Ocidente e em 1986 o jornal Izvestia publicou um artigo através do escritor Yaroslav Golovanov, detalhando o incidente para leitores russos.
O governo soviético apagou a imagem de Bondarenko de uma fotografia oficial de 1961 dos primeiros cosmonautas selecionados para treinar. Tratava-se de uma prática comum do governo comunista soviético quando existia a intenção de negar a existência de alguém. Caso semelhante aconteceu quando o cosmonauta Grigori Nelyubov foi exonerado do corpo de cosmonautas após problemas disciplinares. Sua imagem foi simplesmente apagada da foto oficial da primeira turma de cosmonautas (OBERG, 1981).

2.1.1 Consequências
O acidente de Bondarenko trouxe suas conseqüências para o programa espacial soviético. Talvez a mais marcante tenha sido o fato de que desde seu primeiro lançamento as naves tripuladas soviéticas nunca fizeram uso de uma atmosfera que utilizasse oxigênio puro. Os cosmonautas soviéticos sempre respiraram uma mistura de oxigênio e nitrogênio nas mesmas proporções da atmosfera da Terra. Sendo o oxigênio puro o grande responsável pelo incêndio incontrolável que vitimou Bondarenko, seu uso em naves poderia trazer o risco de um incêndio ocorrendo em órbita.
As circunstâncias da morte de Bondarenko apresentam semelhanças gritantes com o acidente que vitimou a tripulação da nave americana Apolo-1. Alguns acreditam que se os soviéticos tivessem divulgado informações sobre a tragédia de Bondarenko, a NASA (Agência Espacial dos Estados Unidos) poderia ter sido alertada sobre os perigos de usar uma atmosfera de oxigênio puro em qualquer ambiente, e poderia ter feito mudanças que evitariam o incêndio da Apolo-1. Seja como for, antes de 1966 tinham sido descritos os perigos letais de um ambiente de oxigênio puro e alta pressão em publicações científicas americanas (BURGESS, 2003).

2.2. APOLO-1
Até então os norte-americanos não tinham sofrido nenhum acidente fatal em seu programa espacial. Já haviam perdido alguns astronautas, mas estes pereceram em acidentes aéreos durante voos de treinamento (SPACEFACTS, 2010).
Em fins de 1966 os Estados Unidos concluíram a construção de sua nave Apolo. A mesma foi concebida para transportar três homens e tinha por grande objetivo enviar seres humanos à Lua (CLARKE, 1968). Para que este grande e histórico objetivo fosse atingido, entretanto, a nave deveria passar por alguns testes em vôo. Obviamente os testes começariam em seu primeiro vôo, que teria a duração de dez dias e aconteceria na primeira quinzena de fevereiro (COLLINS, 1975; BURGESS, DOOLAN & VIS, 2003).
No dia 27 de janeiro de 1967 seus tripulantes, os astronautas Virgil Grissom, Edward White e Roger Chaffee, estavam a realizar um treinamento em solo, dentro da nave que já estava na plataforma de lançamento. Ao contrário dos soviéticos, os norte-americanos faziam uso, em suas naves, de uma atmosfera de oxigênio puro sob alta pressão. Embora eles soubessem dos riscos de se usar tal atmosfera, não tinham ainda conhecimento do acidente que vitimara Valentin Bondarenko, pois os soviéticos o mantiveram em absoluto sigilo. Os próprios astronautas já haviam deixado claro que havia certa insegurança em se utilizar oxigênio puro sob pressão em uma nave, pois caso um incêndio irrompesse, seria incontrolável. Mas a NASA rebateu afirmando que este tipo de atmosfera fora utilizada com sucesso anteriormente, além de contribuir para diminuir o peso da nave (COLLINS, 1975; ALDRIN & MCCONNELL, 1989).
Ao final do dia os astronautas ainda encontravam-se encerrados dentro da cabine da Apolo-1, realizando seu treinamento. Foi exatamente às 18h31min que a equipe de controle ouviu o grito de Roger Chaffee pelo rádio informando que havia fogo a bordo da cabine, algo que foi confirmado por Virgil Grissom segundos depois. A equipe de controle tinha imagens da parte de fora da nave, por meio de um monitor e muitos afirmaram depois ter visto as mãos de White (que estava sentado junto à escotilha da nave) batendo freneticamente na janela, em debalde tentativa de abri-la. Segundo a NASA, 17 segundos depois do primeiro alarme dos astronautas, ouviu-se um grito e as comunicações com a nave foram subitamente interrompidas (SHEPARD & SLAYTON, 1994).
Uma equipe de socorro subiu imediatamente à cápsula, mas não conseguiu, num primeiro momento, abrir a escotilha devido à diferença de pressão e à alta temperatura. Tão logo conseguiram abrir a nave, constataram que os três astronautas estavam mortos. Mais tarde ficaria evidente que morreram asfixiados quando gases tóxicos provenientes do incêndio entraram em seu sistema de abastecimento de oxigênio. Em seguida os corpos dos três foram carbonizados. Nunca se conseguiu determinar com segurança, porém, se sofreram algumas queimaduras ainda vivos (SHEPARD & SLAYTON, 1994).

2.2.1 Consequências
Assim como no caso dos acidentes soviéticos, o desastre da Apolo-1 trouxe consequências para o programa espacial estadunidense. O primeiro e mais importante efeito do acidente foram modificações no desenho da nave e em certos procedimentos nos testes e lançamentos. A atmosfera interna passou a ser uma mistura de 60% de oxigênio e 40% de nitrogênio a 5 psi durante o lançamento e mudando gradualmente para 100% de oxigênio nas 24 horas seguintes (ALDRIN & MCCONNELL, 1989). Também foram substituídos ou diminuídos os materiais inflamáveis no interior da nave e 1.407 problemas foram corrigidos em sua parte elétrica. Os trajes espaciais passaram a ser feitos de material a prova de fogo (tecido a base de sílica). Ao invés de pinos pirotécnicos para abrir a escotilha em situação de emergência, como nas naves Mercury, instalaram cartuchos de nitrogênio pressurizado junto à escotilha. Graças a tais cartuchos, numa situação de emergência a escotilha da nave poderia ser arremessada longe, permitindo a imediata saída dos tripulantes (BURGESS, DOOLAN & VIS, 2003).
Outra consequência da tragédia da Apolo-1 tem relação com datas. Após o acidente da nave os Estados Unidos iniciaram uma intensa investigação para determinar a causa do incêndio. Tal investigação teve a duração de quase dois anos e enquanto a mesma era realizada nenhuma nave americana tripulada subiu ao espaço (WHITE, 2003; SPACEFACTS, 2010). Obviamente isso causou atrasos ao programa espacial americano. Sem tais atrasos a primeira nave tripulada na Lua não teria sido a Apolo-11 e o primeiro passo no satélite provavelmente teria sido dado antes de 1969. É até provável que o primeiro homem a caminhar na Lua teria sido outro que não Neil Armstrong, pois o rodízio de tripulações teria sido outro.

2.3. SOYUZ-1
O ano de 1967 foi particularmente trágico à conquista espacial. Poucos meses após a tragédia da Apolo-1, os soviéticos registraram outro acidente fatal, também no vôo teste de uma nova espaçonave. Assim como os Estados Unidos, a União Soviética também desenvolveu uma nave com o intuito de levar homens à Lua ? ainda que, com sua derrota na Corrida Espacial, os soviéticos tenham negado veementemente este objetivo durante décadas (NOGUEIRA, 2005). A nave soviética equivalente à Apolo americana era a Soyuz, utilizada até hoje pela Federação Russa (MORENO, 2008). Com capacidade para conduzir três homens, a nave é dotada de dois painéis solares que se abrem no espaço para a captação de energia solar e sua posterior transformação em energia elétrica (SPACEFACTS, 2010).
A nave Soyuz ficou pronta no início de 1967. Foi projetada por Sergei Korolev, o engenheiro-chefe do programa espacial soviético. Infelizmente ele morrera em janeiro de 1966 sem ver a conclusão de seu mais genial projeto (WHITE, 2003; NOGUEIRA, 2005). O primeiro vôo de uma nave Soyuz foi inicialmente planejado para maio de 1967 e a nave levaria o cosmonauta Vladimir Komarov como único tripulante. A missão era aguardada com especial atenção, pois seria o primeiro vôo espacial tripulado após a morte de Sergei Korolev ? que fora substituído por Vladimir Chelomey, a contragosto de muitos (WHITE, 2003). Além disso, a União Soviética não realizava vôos espaciais tripulados desde o já distante ano de 1965, de modo que fora ultrapassada pelos americanos em uma série de recordes e realizações (SPACEFACTS, 2010). Ao contrário dos soviéticos, os norte-americanos nunca fizeram questão de esconder seus fracassos (WHITE, 2003). Assim sendo, a tragédia da Apolo-1 era de conhecimento de todo o mundo e, por consequência da mesma, os americanos estavam sem voar, metidos em uma longa investigação sobre os motivos do acidente que vitimara três astronautas. Se a União Soviética conseguisse realizar um grande voo com sua nova espaçonave, outras missões viriam e a nação conseguiria reverter sua situação e se colocar novamente à frente na Corrida Espacial.
Embora a data de lançamento da Soyuz-1 estivesse inicialmente fixada para o mês de maio, no início de fevereiro de 1967 o simbolismo soviético levou o governo comunista a pressionar para que uma grande missão tripulada fosse realizada no mês de abril, para comemorar o nascimento de Lênin. Desta forma a data de lançamento da Soyuz-1 seria antecipada em cerca de vinte dias. Isso levou as equipes de técnicos a trabalharem mais intensamente em torno dos testes a ser realizados com a nave. Para que a missão fosse apresentada como um feito histórico uma segunda nave, a Soyuz-2, decolaria no dia seguinte com três cosmonautas a bordo e se encontraria no espaço com a Soyuz-1, com dois dos homens daquela passando para esta e retornando à Terra.
No dia 23 de abril de 1967 a nave Soyuz-1 decolou para uma missão que teria três dias de duração. Seu único tripulante, Vladimir Komarov, tornou-se o primeiro soviético a ir duas vezes ao espaço. Ainda em órbita, entretanto, começaram os problemas da missão Soyuz-1. Um dos painéis solares não se abriu e isso impediu que a nave fosse alimentada com uma quantidade suficiente de eletricidade. Alguns equipamentos tiveram de ser desligados para economizar energia. Pouco depois ficara evidente que a nave não teria condições de se manter em órbita e a missão foi interrompida (BURGESS, DOOLAN & VIS, 2003).
A Soyuz-1 retornou à Terra em sua 16ª órbita. Como o sistema de retorno automático estava avariado devido à falta de energia, havia a certeza de que Vladimir Komarov não conseguiria manobrar a nave com segurança em seu retorno à Terra. A certeza de que ele morreria na reentrada era tamanha que sua esposa foi levada ao centro de controle da missão para se despedir do marido.
Porém, a manobra de reentrada, contra todas as probabilidades, foi efetuada com sucesso. A nave reentrou na atmosfera terrestre e passou a cair em direção à Rússia Central. Porém, neste momento a missão enfrentou seu último e mais grave problema: os pára-quedas, que deveriam frear a nave a trazê-la em segurança ao solo, falharam. Apenas um pequeno pára-quedas piloto se abriu, mas foi insuficiente para atuar eficazmente como freio. A Soyuz-1 espatifou-se no solo a mais de 340 km/h, matando Vladimir Komarov de imediato (SPACEFACTS, 2010).
Não houve possibilidade de a União Soviética manter a tragédia da Soyuz-1 em segredo, como era hábito dos comunistas, por vários motivos. Como o lançamento aconteceu como parte das comemorações pelo aniversário de Lênin, o voo foi muito ovacionado na imprensa soviética e não haveria como negar a morte do cosmonauta ao fim da missão. Além disso, por ser o primeiro vôo de uma nova espaçonave, havia interesse até mesmo no Ocidente sobre como seria o andamento da missão. As mensagens de Komarov à Terra informando sobre os problemas com a nave foram captados em diversos países.

2.3.1. Consequências
Após a tragédia da Soyuz-1 a Soyuz-2, que não decolara, passou por uma minuciosa inspeção e descobriu-se que o mesmo defeito no pára-quedas da primeira nave existia também nesta (SPACEFACTS, 2010). Assim, se a Soyuz-2 tivesse decolado, a União Soviética teria perdido não apenas um, mas quatro cosmonautas. Pode-se afirmar então que a tragédia de uma missão salvou outra tripulação da morte certa.
Com o desastre da Soyuz-1 os soviéticos tiveram de redesenhar suas naves e realizar uma intensa investigação. Este fato fez com que passassem mais dezoito meses sem realizar vôos espaciais tripulados. Somado à explosão do gigantesco foguete N-1, em julho de 1969, este fato fez com que os soviéticos fossem lançados ainda mais para trás na Corrida Espacial, perdendo qualquer possibilidade de chegar à Lua antes dos Estados Unidos (WHITE, 2003).

2.4. SOYUZ-11
Em abril de 1970 a União Soviética lançou ao espaço a primeira estação espacial da História, a Saliut-1. Para os soviéticos ela era uma boa propaganda. As missões americanas Apolo à Lua haviam perdido o brilho aos olhos do público mundial e era hora da União Soviética exibir-se novamente como uma potência espacial, mantendo em órbita a primeira tripulação a habitar um laboratório espacial. Uma estação espacial também permitiria uma maior permanência humana no espaço, bem como a realização de uma série de experiências em diversas áreas (SAGAN, 1996; NOGUEIRA, 2005).
Poucos dias depois decolou a nave Soyuz-10, com três cosmonautas a bordo. A nave atracou-se à estação espacial Saliut-1. Era a primeira vez que uma nave unia-se em órbita a uma estação espacial. A missão, porém, terminou em fracasso, pois a escotilha da Soyuz-10 ficou emperrada e seus tripulantes impedidos de passar para a Saliut-1.
A estação espacial permaneceu sem tripulantes em órbita por mais algum tempo e em 06 de junho de 1971 a Soyuz-11 decolou com os cosmonautas Georgi T. Dobrovolski, Vladislav N. Volkov e Viktor L. Patsayev. A nave acoplou-se com a estação Saliut-1 e seus tripulantes conseguiram passar para o interior da mesma. Raramente uma missão espacial fora saudada com tanto entusiasmo pela imprensa soviética. Todas as noites os cosmonautas eram mostrados na televisão de seu país (NOGUEIRA, 2005).
Neste primeiro voo a uma estação espacial os tripulantes permaneceram nada menos que 24 dias em órbita, estabelecendo o recorde mundial de permanência no espaço para a época. Foram realizadas experiências diversas, observação da Terra e observações astronômicas. Ao fim da missão os três cosmonautas passaram para o interior da Soyuz-11, separaram sua nave da estação espacial e rumaram à Terra.
Durante as duas horas seguintes tudo correu normalmente enquanto a nave gradativamente perdia altitude, aproximava-se da atmosfera terrestre e iniciava as manobras de retorno.
Assim que a nave reentrou nas camadas mais altas da atmosfera, sua comunicação com o controle em terra foi imediatamente interrompida. Isso normalmente ocorre porque o atrito da nave com a atmosfera faz com que o veículo fique envolto em plasma, o que impede que as ondas de rádio enviadas pela tripulação cheguem ao controle e vice-versa (GLEISER, 2005). Passaram-se alguns minutos e o controle tentou retomar as comunicações. Para surpresa de todos, não houve resposta dos cosmonautas. Durante vários minutos os técnicos do centro de controle chamaram pelos cosmonautas sem obter resposta. Os minutos se passaram e chegou o instante em que a nave já deveria ter pousado nas planícies do Cazaquistão. Ainda assim, nenhum dos cosmonautas se comunicava.
Tão logo a nave tocou no solo, uma equipe de resgate aproximou-se, em helicópteros e veículos. A escotilha da Soyuz-11 foi aberta e, para consternação de todos, observou-se que os três cosmonautas estavam mortos. Seus corpos foram imediatamente retirados e deitados no chão. Imediatamente membros da equipe médica curvaram-se sobre os três homens e puseram-se a fazer massagens cardíacas e respiração artificial. Mas não houve a menor possibilidade de reanimá-los (SPACEFACTS, 2010).
Assim como acontecera ao fim da missão Soyuz-1, a morte Dos cosmonautas foi imediatamente anunciada na imprensa. Nem havia como a União Soviética tentar esconder mais esta tragédia, pois fora mais uma das grandes missões. Acidentes como o que ocorrera com o desconhecido Valentin Bondarenko, em 1961, ou os acidentes com o foguete não-tripulado N-1 poderiam ser mantidos em segredo, mas não era o caso da Soyuz-11. Nos dias em que estiveram no espaço os cosmonautas tornaram-se muito conhecidos do público, pois apareciam na tevê com frequência (NOGUEIRA, 2005).
A primeira geração de naves Soyuz era dotada de uma pequena válvula que se abria automaticamente quando a mesma tocava o solo. O objetivo era permitir a rápida entrada de ar puro ao interior da cápsula até a chegada da equipe de resgate. Ela podia ser posteriormente fechada manualmente pelos cosmonautas, caso estes o desejassem. Uma investigação posterior apurou que tão logo a nave entrou nas camadas superiores da atmosfera esta válvula abriu-se devido a um defeito e sua atmosfera interna foi toda lançada para fora, devido à menor pressão externa. A nave continuou a cair e seus pára-quedas abriram-se automaticamente, depositando-a lentamente ao solo (SPACEFACTS, 2010).

2.4.1. Consequências
A válvula de ar que provocou a descompressão da nave foi redesenhada, passando a operar apenas manualmente. Ou seja, ela somente seria aberta quando e se a tripulação o desejasse. Um efeito mais profundo foi que, a partir deste acidente, as tripulações soviéticas passaram a realizar as viagens espaciais vestindo um traje pressurizado leve, usado durante as manobras de lançamento, acoplagem e retorno à Terra. O traje é chamado Sokol e é usado até hoje pelos cosmonautas (este traje pode ser visto, por exemplo, nas fotos oficiais da missão do cosmonauta brasileiro Marcos Pontes). O programa espacial chinês chegou mesmo a copiar este traje para uso de seus próprios viajantes espaciais. Tal traje não serve para caminhadas espaciais, mas tão somente para proteger a tripulação de uma eventual despressurização da nave. Em tal situação os cosmonautas poderiam manter-se vivos por até duas horas, tempo mais que suficiente para realizar-se um pouso de emergência em qualquer região do globo. (SPACEFACTS, 2010).
Após a tragédia os soviéticos mantiveram-se sem voar até setembro de 1973, ou seja, por mais de dois anos. Nesse ínterim realizaram intensa investigação sobre as causas do desastre. Também redesenharam sua nave, fazendo nada menos que 1.009 modificações. Estas modificações fizeram com que o espaço interno fosse ligeiramente diminuído, de modo que a partir da Soyuz-12 as naves soviéticas passariam a conduzir apenas dois cosmonautas (somente a partir de novembro de 1980 é que as naves Soyuz-T, redesenhadas, passariam a conduzir novamente três cosmonautas). Também usaram os dois anos para desenvolver o traje Sokol e também o Orlan, um traje melhor e mais seguro para as caminhadas espaciais, permitindo que as mesmas passassem a ter duração maior (OBERG, 1981).
Mas a maior perda soviética (excetuando-se os três cosmonautas) foi no fator tempo. Enquanto estiveram sem voar, não puderam novamente subir à sua estação espacial Salyut-1, deixada inoperante e sem tripulação em órbita (OBERG, 1981). Pelo menos mais uma ou duas missões poderiam ter sido enviadas até a Salyut-1, mas em outubro de 1971, sem motores capazes de manter a órbita, ela acabou por se render ao efeito do arrasto atmosférico e reentrou na atmosfera no dia 11 (NOGUEIRA, 2005).
Outra consequência do tempo sem voar foi que até no campo que eles mesmos inauguraram (o das estações espaciais) os soviéticos foram superados pelos americanos. Em maio de 1973 os Estados Unidos, já sem voar à Lua, lançaram sua primeira estação espacial, a Skylab. Apesar de enfrentarem alguns problemas no lançamento, poucos dias depois ela estava pronta para receber sua primeira tripulação, os astronautas Charles Conrad, Paul Weitz e Joseph Kerwin. Estes homens completaram 28 dias no espaço, quebrando todos os recordes de permanência em órbita. Ainda em 1973, em fins de julho, a Skylab recebeu sua segunda tripulação (Alan Bean, Jack Lousma e Owen Garriot), que estabeleceu recorde de 59 dias no espaço. Em novembro a Skylab recebeu sua última tripulação (Gerald Carr, William Pogue e Edward Gibson), que completou 84 dias em órbita, realizando observações do Sol e do cometa Kohoutec, além de completar com êxito aquele que, até hoje, é o mais longo voo espacial exclusivamente norte-americano (ABRIL, 1990; NOGUEIRA, 2005; SPACEFACTS, 2010).

2.5. ÔNIBUS ESPACIAL CHALLENGER
Após o sucesso de seus voos à Lua e a utilização de sua estação espacial, os americanos mantiveram-se sem voar ao espaço e direcionaram seus esforços para a construção de novas espaçonaves. Chamados de ônibus espaciais, estes novos veículos prometiam ser revolucionários. Seriam as primeiras naves dotadas de asas, poderiam levar até oito astronautas de uma vez e, com 36 metros de comprimento, seriam os maiores veículos espaciais construídos pelo homem. Mas o mais importante é que seriam também as primeiras naves reutilizáveis da história, podendo voltar ao espaço seguidas vezes, passando apenas por algumas revisões entre um voo e outro (ABRIL, 1990).
O primeiro voo de uma dessas novas espaçonaves aconteceu em 12 de abril de 1981. A nave chamava-se Columbia e realizou um voo teste de 54 horas com os astronautas John Young e Robert Crippen a bordo. Ainda em 1981 a Columbia tornou-se a primeira nave tripulada a ir duas vezes ao espaço. Embora a freqüência de missões de ônibus espaciais à órbita da Terra sempre tenha estado aquém do que fora inicialmente anunciado pela NASA, o sucesso das novas espaçonaves fez com que outros modelos fossem desenvolvidos. Nos anos seguintes foram construídos o ônibus espacial Challenger, o Discovery e o Atlantis (ABRIL, 1990; NASA, 2010).
Mesmo com o número de missões estando abaixo da média inicialmente pretendida, os novos veículos rapidamente deixaram claro que a quantidade de voos espaciais americanos seria maior que a realizada por cápsulas e levando uma quantidade maior de tripulantes por missão (SAGAN, 1996; SPACEFACTS, 2010).
Os seguidos sucessos das missões dos ônibus espaciais, bem como sua freqüência, logo tornaram os voos espaciais uma rotina, pelo menos aos olhos do povo. Em pouco tempo a imprensa perdeu seu interesse pelas missões, transformando-as em apagadas notas de rodapé em jornais. De certa forma o ônibus espacial passou a ser vítima de seu próprio sucesso. Isso, para a NASA, não era nada positivo, pois se o povo americano perdia o interesse pelas atividades espaciais, o congresso tendia a diminuir os recursos destinados à exploração do espaço (SAGAN, 1996).
Numa tentativa de reascender no público norte-americano o gosto e o interesse pelas atividades espaciais, a NASA lançou um projeto que visava colocar em órbita um cidadão comum, que não fosse astronauta. Para tanto a agência espacial realizou um concurso junto à população americana para a escolha da pessoa que faria a viagem. Havia, entretanto, uma condição: tal pessoa deveria ser um professor da rede pública de ensino. O objetivo seria fazer com que este professor, em órbita, transmitisse aulas para alunos em terra, despertando neles a curiosidade pelas atividades espaciais. Ao fim do processo de seleção a NASA havia escolhido duas professoras para participar de uma missão espacial: Christa MacAuliffe e Barbara Morgan (SPACEFACTS, 2010).
No segundo semestre de 1985 a NASA anunciou que Christa MacAuliffe subiria ao espaço. No caso dela não poder, por alguma razão, participar da missão, Morgan subiria em seu lugar. A missão aconteceria a bordo do ônibus espacial Challenger e foi inicialmente anunciada para o início de janeiro de 1986. Porém, a missão sofreu alguns adiamentos e a data de seu lançamento foi fixada para o final do mês (NASA, 2010).
A nova data fixada era 28 de janeiro, por coincidência um dia após se completar 19 anos do acidente da nave Apolo-1. O dia surgira límpido, mas com baixíssimas temperaturas. Havia caído neve até mesmo na região do Cabo Kennedy. Havia gelo em várias partes da, imponentemente colocada sobre a plataforma de lançamento. Durante a noite a temperatura atingira 13º C abaixo de zero e alguns funcionários da NASA passaram horas retirando gelo de partes da nave (ASTRONAUTIX, 2010).
Às 11h38min a nave Chellenger decolou, levando em seu interior os astronautas Francis Scobee, Michael Smith, Gregory Jarvis, Judith Resnik, Elison Onizuka, Ronaldo McNair e a professora Christa MacAuliffe (NOGUEIRA, 2005). Durante 73 segundos (ABRIL, 1990) o ônibus espacial avançou pela atmosfera, em direção ao espaço, ganhando velocidade conforme ia consumindo seu combustível.
Subitamente, ao atingir os dezesseis quilômetros de altitude, uma explosão na parte inferior da nave percorre todo o veículo, desfazendo-o em pedaços ante os olhares de milhares de testemunhas e telespectadores que acompanhavam ao vivo o lançamento pela televisão (entre estes, milhões de crianças que assistiam ao lançamento em telões instalados em escolas por todo o país). O impacto da explosão de dois milhões de litros de combustível despedaçou o ônibus espacial, o tanque de combustível e o foguete auxiliar direito. Telas de televisão mostraram uma nuvem de fumaça e vapor de água (o produto de combustão de hidrogênio) junto a um globo de fogo luminoso onde o Challenger estivera um segundo antes, com pedaços de escombros que caíam para o oceano. O outro foguete auxiliar, contudo, escapou da explosão e manteve-se em voo solitário, subindo ainda em direção ao espaço, sendo destruído depois pelos próprios controladores, por meio de controle remoto, pois temia-se que ele ficasse desgovernado e passasse a representar algum perigo (ASTRONAUTIX, 2010).
Imediatamente equipes de resgate rumaram para o ponto do oceano onde os destroços da nave haviam caído. Mas desde o primeiro momento era óbvio que nenhum dos sete astronautas havia sobrevivido ao acidente. Nos meses que se seguiriam à tragédia as equipes realizariam buscas pelos destroços da nave cobrindo uma área de mais de 1.600 quilômetros e chegando a mais de 350 metros de profundidade. Num primeiro momento acreditou-se que os corpos dos tripulantes haviam se vaporizado sob o impacto da explosão, de modo que não houve muita ênfase em localizar seus restos mortais. Entretanto, ao longo do resgate dos destroços da nave, os sete corpos foram encontrados. O último dos corpos dos astronautas somente seria encontrado cerca de dois meses após o acidente (ASTRONAUTIX, 2010).

2.5.1. Consequências
No dia do acidente, após uma hora 85% dos americanos já sabiam do ocorrido. Isso levou alguns pesquisadores da área de comunicação a realizar um estudo, traçando um paralelo entre as notícias da morte do presidente John Kennedy e do presidente Roosevelt no que dizia respeito à velocidade com que tais notícias se tornaram de conhecimento de todo o país. Pela primeira vez nos Estados Unidos as crianças tomaram conhecimento de um grande fato antes da maioria dos adultos. Isso aconteceu porque o lançamento foi transmitido ao vivo para todas escolas do país, devido à presença de uma professora na tripulação. O interesse da imprensa foi alto. Havia somente 535 repórteres credenciados para cobrir o lançamento. Três dias depois havia 1467 repórteres em Cabo Kennedy e 1040 no Johnson Space Center, em Houston (NASA, 2010).
Após o desastre, como de hábito, a investigação avançou por dois anos. Neste período os ônibus espaciais foram mantidos no chão e nenhum astronauta americano entrou em órbita. Somente em setembro de 1988 um outro ônibus espacial, o Discovery, realizou uma nova missão espacial americana à órbita terrestre (NOGUEIRA, 2005). Treze missões de ônibus espaciais planejadas para 1986, seis para 1987 e duas para 1988 foram canceladas. Entre estas estava uma importante missão, em 1986, que levaria ao espaço um observatório astronômico para estudos do cometa Halley. A nave Ulysses, que realizaria estudos do Sol, e que deveria ter sido lançada no mesmo ano, por um ônibus espacial, somente subiria em 1990. O mesmo ocorreu com a sonda Galileu, que estudaria Júpiter, inicialmente planejada para ser lançada em maio de 1986, mas que somente subiria ao espaço em outubro de 1989. Em junho de 1986 decolaria um ônibus espacial com sete astronautas, entre eles o primeiro da Grã-Bretanha (o militar Nigel Wood) e o primeiro cidadão da Indonésia no espaço (a doutora Pratiwi Sudarmono). A missão, que lançaria ainda o satélite indonésio Palapa B-3, acabou cancelada. Os astronautas britânicos retiraram-se do corpo ativo da NASA sem nunca terem ido ao espaço, o mesmo ocorrendo com os astronautas indonésios. O britânico Peter Longhurst subiria ao espaço em 1987, a bordo de outra missão, que acabou nunca ocorrendo. Outra missão, em 1986, conduziria seis astronautas, entre eles o indiano Nagapathi Bhat. A missão nunca ocorreu e os astronautas da Índia retiraram-se da NASA sem nunca terem ido ao espaço. A missão que enviaria ao espaço o telescópio espacial Hubble decolaria também em 1986, mas a mesma terminou cancelada. Somente em 1990 o telescópio seria enviado ao espaço. Entre as missões canceladas em 1988 estava uma que levaria ao espaço os dois primeiros astronautas do Japão (Mamoru Mohri e a doutora Chiaki Mukai). A missão nunca ocorreu e o primeiro japonês no espaço acabou sendo Toyehiro Akyiama, que subiu ao espaço em 1990, numa nave russa (SPACEFACTS, 2010).
Uma das consequências do desastre da Challenger foi que a NASA criou um sistema que permitiria aos astronautas abandonar a cabine da nave e descer até o solo em cabos em questão de apenas alguns segundos. Em caso de emergência, como um incêndio ainda na torre de lançamento, a tripulação teria uma chance de escapar. Os astronautas, que deixaram de usar trajes pressurizados desde a sexta missão de onibus espacial, voltaram a utilizar tais vestimentas no lançamento. É preciso considerar que, no caso da explosão da Challenger o uso de trajes pressurizados não teria salvo a tripulação (pelo contrário, teria apenas aumentado seu sofrimento, pois os astronautas teriam se mantido vivos até o impacto com o oceano). Ainda assim, a NASA adotou este tipo de indumentária. Algumas modificações foram feitas nos foguetes auxiliares, de modo que lançamentos poderiam ser realizados com temperaturas mais baixas.
Com o acidente da Challenger a NASA passou a ter apenas três onibus espaciais (Columbia, Discovery e Atlantis). Passou então a construir uma nave para substituir a que fora perdida. A nave substituita veio a ser o onibus espacial Endeavour, que realizaria seu primeiro voo em 1992 (SPACEFACTS, 2010).
Também foi anunciado que os ônibus espaciais não mais seriam usados para pôr satélites comericais em órbita, mas apenas satélites científicos. Quando o ônibus espacial Discovery decolou, em 1988, no primeiro voo espacial americano após a tragédia, levou em seu interior o satélite TDRS-C (renomeado depois para TDRS-3) em substituição ao TDRS-B, perdido na explosão da Challenger. Nesta missão da Discovery os astronautas também voltaram a decolar fazendo uso de trajes pressurizados (NASA, 2010).
A ideia de colocar não-astronautas em naves americanas foi banida da NASA. Por esta razão a professora-astronauta Barbara Morgan foi dispensada do quadro da agência espacial. Porém, em fins da década de 1990 a ideia de um professor em órbita ministrando aulas para alunos voltou a ocorrer. Barbara Morgan foi então recontratada, mas desta vez fazendo parte de uma turma de astronautas (a décima sétima turma de astronautas da NASA, a mesma da qual o brasileiro Marcos Pontes fez parte). Aos 46 anos, ela era a mais velha integrante da turma (NASA, 2010; SPACEFACTS, 2010).
Em 08 de agosto de 2007 o ônibus espacial Endeavour decolou levando a bordo sete astronautas, entre eles a professora Barbara Morgan, que se tornou, assim, o primeiro educador no espaço. Durante o voo, ela e dois astronautas responderam a cerca de vinte perguntas feitas por alunos de Boise, em Idaho. O evento foi mostrado ao vivo pela emissora de TV da NASA. A aula ministrada por Morgan foi a mesma que seria exibida por Christa MacAuliffe 22 anos antes (NASA, 2010; SPACEFACTS, 2010).
Os astronautas da Challenger foram os primeiros americanos a morrer durante uma missão espacial e os primeiros americanos a ser lançados e não atingir o espaço ? a primeira vez em que isso aconteceu foi durante o voo da nave russa Soyuz-18, em 1975, que voou durante 21 minutos e teve de retornar devido a defeito técnico em seu foguete; neste caso, porém, a tripulação sobreviveu (SPACEFACTS, 2010).

2.6. ÔNIBUS ESPACIAL COLUMBIA
A década de 1990 transcorreu sem que nenhuma outra tragédia espacial ocorresse. Porém, ainda na década de 1980 alguns analistas já previam que em breve outro acidente espacial aconteceria, envolvendo algum ônibus espacial, devido à grande complexidade de tais naves. Alguns destes especialistas chegaram ao ponto de sugerir que os ônibus espaciais fossem aposentados e substituídos por naves mais seguras e menos complexas. A ideia, porém, não fora acatada (NOGUEIRA, 2005).
Dezenas de missões foram realizadas em ônibus espaciais desde a tragédia da Challenger. Em fins de 2002 foi anunciada uma nova missão espacial, que seria realizada pela nave espacial Columbia. A missão levaria sete astronautas, sendo eles o comandante Rick Husband, o piloto William McCool, a indiana naturalizada americana Kalpana Chawla, os especialistas em carga útil Laurel Clark, Michael Anderson, David Brown e Ilan Ramon, o primeiro astronauta de Israel (NOGUEIRA, 2005; NASA, 2010).
Enquanto a NASA pressionava para que nenhuma falha fosse cometida, o governo incumbiu-se da segurança, de modo mais severo que na maioria das missões espaciais anteriores. Como havia um israelense a bordo, não seria impossível que algum palestino realizasse um ataque terrorista contra a tripulação (algo como acontecera nas Olimpíadas de Munique, em 1972). Desta forma, nunca houvera tanta preocupação com a segurança dos astronautas e da própria nave como nas semanas que antecederam ao lançamento da Columbia. Semanas antes do lançamento da nave policiais com cães farejadores já transitavam de um lado a outro nas imediações do Centro Espacial em Houston e também no Cabo Kennedy (NASA, 2010).
No dia 16 de janeiro de 2003 a Columbia decolou. A nave levava em seu compartimento de carga o laboratório Spacehab, com o qual seriam realizadas as experiências necessárias. A bordo do mesmo iam inúmeros ratos, minhocas em um terrário e algumas sementes e plantas para a realização de pesquisas e experiências biológicas no espaço. A nave entrou em órbita a 28.000 km/h e a 278 quilômetros de altura (SPACEFACTS, 2010).
Algumas preocupações com a segurança da nave começaram pouco depois de seu lançamento. Várias câmeras, filmando o lançamento, captaram o momento em que um pedaço de espuma refratária se desprendeu do tanque de combustível, atingindo a parte inferior da asa esquerda do ônibus espacial (NOGUEIRA, 2005).
A parte inferior dos ônibus espaciais são cobertas por mais de 30.000 pequenos tijolos de cerâmica cuja finalidade é proteger a nave do calor excessivo da reentrada na atmosfera. A velocidade da nave deve baixar de 8 quilômetros por segundo para pouco mais de 300 metros por segundo devido ao atrito com a atmosfera, que gera um intenso calor. Os gases da atmosfera, em redor, são aquecidos a vários milhares de graus centígrados. No caso da Columbia, se o pedaço de espuma rígida atingiu a parte inferior da asa, alguns dos tijolos de cerâmica poderiam ter sido arrancados, expondo uma área da fuselagem da nave aos extremos de temperatura na reentrada. Porém, não se considerou, na NASA, que este fato oferecesse sérios riscos à segurança da Columbia.
A missão prosseguiu normalmente. Os astronautas, já no primeiro dia, entraram no laboratório Spacehab, montado no compartimento de cargas da Columbia, e as primeiras experiências de bordo foram realizadas (SPACEFACTS, 2010).
Nos 16 dias em que estiveram em órbita os astronautas realizaram mais de 80 experiências biológicas, de saúde (os próprios membros da tripulação servindo como cobaias para diferentes experimentos; uma das experiências era sobre densidade óssea), físicas (comportamento de chamas e fluídos em microgravidade) e de engenharia de materiais (produção de cristais sintéticos a base de selênio e antimônio). O israelense Ilan Ramon realizou quatro experiências propostas pela agência espacial de Israel. Várias imagens da Terra foram feitas com câmeras especiais. Em algumas ocasiões, durante o voo, os astronautas da Columbia mantiveram conversações com os americanos Kenneth Bowersox e Donald Petit e o russo Nikolai Budarin, que encontravam-se a bordo da ISS (sigla em inglês para Estação Espacial Internacional). No dia 27 de janeiro os astronautas fizeram um minuto de silêncio, por volta das 18h40min, em homenagem aos astronautas da Apolo-1, mortos naquela data, 36 anos antes. No dia seguinte também homenagearam os astronautas da nave Challenger, mortos naquela data, 17 anos antes (NASA, 2010).
Chegou o dia 1º de fevereiro e esta era a data de retorno à Terra. Os astronautas foram acordados bem cedo e iniciaram os procedimentos para a volta. O horário de pouso em um aeroporto na Flórida estava previsto para acontecer às 9h16min daquele dia. Duas horas antes os astronautas vestiram-se com os trajes pressurizados e deram início às manobras de retorno. Às 8h00min houve a confirmação de que tudo estava dentro dos prazos e normalidade para o acionamento dos retrofoguetes que tirariam a nave de órbita. Os retrofoguetes foram acionados exatamente às 8h15min30s. A nave encontrava-se em sua 255ª volta em torno da Terra, a 282 quilômetros de altura sobre o Oceano Índico. Os retrofoguetes funcionaram durante dois minutos e reduziram a velocidade da nave para 7.8 km/s. Pouco depois a nave foi colocada em posição normal (de dorso para cima) e começou a reentrada na atmosfera (NASA, 2003).
Às 8h44min a nave passou a colidir com moléculas de ar em maior quantidade, de modo que surgiu, na parte de fora do veículo, o característico brilho devido ao atrito com as mesmas. A temperatura na parte externa da nave imediatamente subiu a 1.370º C. A maior parte do aumento de temperatura se deve não ao atrito, num primeiro momento, mas à compressão do ar pela nave em velocidade hipersônica (GLEISER, 2005).
Às 8h48min39s um sensor apresentou leituras que evidenciavam aumento de temperatura numa das asas da nave (a esquerda). Imediatamente os astronautas também relataram aumento de pressão no sistema hidráulico da nave (NASA, 2003).
Às 8h59min32s a nave atingiu os 74 quilômetros de altura, aquecendo-se cada vez mais. Neste momento a comunicação com o centro de controle em Houston foi interrompida. Isso é algo normal nas manobras de reentrada, quando as naves são envolvidas por plasma (gás ionizado) que se forma devido às altas temperaturas na parte externa, impedindo as comunicações via rádio. Neste momento a temperatura na parte de fora da Columbia devia ter atingido os 1.540º C (NASA, 2003).
Normalmente uma nave mantém-se incomunicável por breves momentos, não mais que três minutos. Ao fim desse tempo o astronauta Charles Hobaugh, que era Capcom (Comunicador de Cápsula; normalmente um astronauta designado para manter comunicações com uma nave em voo) da missão chamou pela Columbia, mas não obteve resposta. Várias tentativas de comunicação foram feitas, por vários minutos, mas todas se mostraram infrutíferas (NASA, 2003).
O relógio atingiu 9h15min, o horário esperado para o pouso da nave. Mas a Columbia não mais existia. Antes disso já havia surgido a informação de que radares haviam captado a queda de inúmeros destroços vindos da alta atmosfera. Pessoas também haviam filmado a queda de uma estranha estrela cadente que se partira em pedaços vermelhos, amarelos e alaranjados a precipitar-se sobre os Estados Unidos (NASA, 2003). Era evidente que algo incomum havia acontecido ao Columbia.
Imediatamente surgiram rumores de que pedaços de um veículo espacial estavam caindo ao longo de três estados: Novo México, Texas e Louisiana (houve também relatos esparsos de destroços chegando ao estado de Arkansas). Não se demorou a determinar que o tal veículo era a nave Columbia que, por algum motivo, havia explodido durante a manobra de reentrada.
A NASA imediatamente divulgou o acidente. Poucos minutos depois a notícia já se espalhara pelo mundo todo. Num primeiro momento a agência espacial fez menção à queda dos destroços, informando que as pessoas deveriam manter-se longe dos mesmos, sem tocá-los, pois alguns poderiam oferecer riscos de contaminação por substâncias químicas perigosas. Mesmo assim, menos de meia hora após a queda dos primeiros destroços, alguns deles estavam à venda na Internet. A NASA informou então que quem mantivesse tais destroços em seu poder seria processado. Após este comunicado os destroços à venda imediatamente sumiram da Internet. Em seu primeiro comunicado a NASA também deixou claro que dificilmente algum dos astronautas teria sobrevivido à queda (NASA, 2003).
Começou então uma dramática operação de busca por destroços da nave. A NASA valeu-se de militares em veículos em terra, além de aviões e helicópteros sobre áreas desabitadas. A população também contribuiu grandemente, informando sobre locais onde foram observados destroços caindo. Ao fim do primeiro dia os maiores destroços encontrados eram um trem de aterrissagem, uma armação de janela e uma seção do nariz em cone da nave. Poucos dias depois os corpos dos sete astronautas também foram encontrados. O corpo de Ilan Ramon foi imediatamente trasladado para Israel.

2.6.1. Consequências
A imagem da NASA terminou gravemente arranhada. Um relatório de 248 páginas publicado em agosto de 2003 deixava claro que a agência espacial agiu de modo displicente com o fato de a nave ter sido atingida no início da missão por uma peça que poderia ter aberto um rombo em sua fuselagem, algo que, de fato, aconteceu. Infelizmente não havia como os astronautas saírem ao espaço para observar a fuselagem da nave à procura de danos, pois não havia trajes para caminhadas espaciais a bordo (tratava-se de uma missão meramente cientifica e experiências seriam realizadas apenas no interior da nave, de modo que não haveria a necessidade de saídas ao espaço). A nave também não tinha combustível suficiente para chegar à ISS. Mas, na dúvida, a tripulação poderia ser mantida em órbita enquanto a NASA preparava, em caráter de emergência, o lançamento de outro ônibus espacial. Uma nave Soyuz, russa, também poderia ser usada para o envio de suprimentos ao ônibus espacial em órbita enquanto esperava-se pelo resgate. Ao que parece, tal ideia nem chegou a ser cogitada pelos dirigentes da NASA (NASA, 2003).
Sem trajes espaciais a bordo os astronautas não teriam como sair ao espaço para observar a parte inferior da nave à procura de danos (mesmo que se tivesse certeza de que tais danos existiam). A partir do primeiro voo norte-americano após os mais de dois anos de investigações para se apurar as causas do acidente (nave Discovery, em 2005), todas as missões espaciais estadunidenses passaram a levar trajes espaciais e pelo menos um astronauta realizaria uma caminhada espacial, dirigindo-se à parte inferior da nave, à procura de danos na camada antitérmica (NASA, 2010; SPACEFACTS, 2010).
Os tanques de combustível dos ônibus espaciais passaram por uma modificação, de modo a não soltar peças no lançamento. Porém, quando a NASA retomou seus voos espaciais, em julho de 2005, observou-se que, novamente, uma peça atingiu uma das asas do ônibus espacial Discovery. O astronauta Stephen Robinson realizou uma caminhada espacial enquanto a nave estava unida à ISS e observou uma pequena avaria na asa atingida. Porém, munido de remendos e uma cola recém-criada pela NASA para ser usada no vácuo, ele teve êxito em realizar um reparo. Mas novamente a NASA interrompeu seus voos espaciais enquanto desenvolvia um novo tipo de tanque de combustível que não soltasse partes que pudessem atingir a fuselagem do ônibus espacial durante o lançamento. Mais uma vez a frota de ônibus espaciais foi mantida no chão e somente em 04 de julho de 2006 uma nova missão americana foi realizada, novamente pela nave Discovery (NASA, 2010; SPACEFACTS, 2010).
Após o acidente da Columbia a NASA decidiu que todas as missões posteriores de ônibus espaciais teriam como destino a ISS. Isso significava que voos espaciais sem acoplagem com a estação espacial ou conduzindo laboratórios do tipo Spacehab ou Spacelab não mais seriam realizados (a exceção foi a missão realizada pelo ônibus espacial Atlantis para a realização de reparos no telescópio espacial Hubble em maio de 2009). Esta decisão foi tomada para que, na eventualidade de algum dano impedir o pouso do ônibus espacial, o mesmo pudesse ser mantido unido à estação espacial em órbita, até ser organizada uma missão de resgate da tripulação. Adotou-se ainda a prática de manobrar o ônibus espacial, girando-o em vários sentidos ao se aproximar da ISS para que a tripulação a bordo da estação espacial possa avaliar a situação da fuselagem da nave, à procura de eventuais danos (NASA, 2010; SPACEFACTS, 2010).
A noção de que o ônibus espacial é um programa intrinsecamente arriscado e que consome grandes fortunas para manter os riscos (muitas vezes sem sucesso) veio à tona de modo inegável. A NASA decidiu então aposentar os ônibus espaciais por volta do ano 2010 e voltar a privilegiar as cápsulas espaciais. Em substituição aos ônibus espaciais surgiu o Projeto Constellation, cujo objetivo seria construir uma nave capaz de levar o homem de volta à Lua e possivelmente os primeiros seres humanos a Marte. Por ocasião do desenvolvimento desta nave a preocupação em torno da segurança da tripulação tornou-se fator primordial. Entretanto, o próprio Projeto Constellation veio a ser cancelado no início de 2010 pelo presidente Barack Obama, alegando verbas insuficientes para dar continuidade ao programa (NASA, 2010).
A tragédia da Columbia conseguiu atingir até mesmo o programa espacial russo. Sem enviar suas naves ao espaço durante mais de dois anos os Estados Unidos viram-se obrigados a mandar seus astronautas ao espaço de carona em naves Soyuz russas. Nada menos que sete astronautas americanos (além do turista espacial estadunidense Gregory Olsen) subiram ao espaço de carona em naves russas antes que os Estados Unidos voltassem a voar de modo regular com seus ônibus espaciais. Tendo de dar carona aos colegas americanos os russos foram obrigados a diminuir a quantidade de cosmonautas de sua nação a subir em suas próprias naves (SPACEFACTS, 2010).
Sendo os ônibus espaciais as principais naves a levar carga e módulos para a montagem da ISS, enquanto mantiveram-se sem voar, no decorrer das investigações, a conclusão desta estação espacial sofreu grandes atrasos. Dependendo apenas da nave russa Soyuz para levar tripulação, a ISS passou por um período, entre 2003 e 2006, em que teve de manter apenas dois tripulantes permanentes, quantidade que subiria para seis em 2009 (NASA, 2010; SPACEFACTS, 2010).

CONCLUSÃO
A história da exploração espacial é feita não apenas de marcos e vitórias como também de sustos, acidentes e mortes. Cada evento exerce sua influência na forma como a história da Astronáutica é moldada. Os grandes marcos, como as viagens de seres humanos à Lua entre 1969 e 1971 certamente são pontos impactantes no desenvolvimento da navegação espacial e, após os mesmos, sua história jamais será a mesma. Em contrapartida, as tragédias também têm sua importância. Serão lembradas por décadas, talvez por séculos, e também contribuem para alterar a história.
Após uma tragédia com morte de tripulação comumente os programas espaciais permanecem estagnados por um período específico enquanto são realizadas investigações para se determinar as causas do acidente e modificações na espaçonave para torná-la mais segura. Tal estagnação exerce influência indubitavelmente negativa uma vez que projetos há muito planejados ou cronogramas que deveriam ser rigorosamente seguidos acabam não sendo cumpridos em tempo hábil. Um exemplo é o caso do acidente da nave Soyuz-1. Os soviéticos a desenvolveram para rivalizar com a nave norte-americana Apolo e, tal como esta, enviar seres humanos à Lua. Com o acidente do primeiro voo da Soyuz seus construtores tiveram de permanecer sem realizar outro voo espacial desde abril de 1967 a outubro de 1968. Um tempo demasiado longo para um programa espacial em disputa com outro para colocar os primeiros homens na Lua. Quando outra nave Soyuz decolou, em outubro de 1968, com Georgi Beregovoi a bordo, os americanos estavam a menos de dois meses de lançar sua Apolo-8, que foi a primeira nave tripulada a orbitar a Lua, e a menos de um ano de enviar a primeira nave tripulada ao solo lunar. Desta forma, os soviéticos, em parte como consequência do acidente com sua Soyuz-1, nunca conseguiram alcançar os norte-americanos, sendo derrotados na Corrida Espacial. As explosões do foguete N-1 enterraram definitivamente todos os planos soviéticos de enviar homens à Lua, de modo que apenas norte-americanos caminharam no satélite.
Embora todos os acidentes sejam marcos negativos, sobretudo quando há perda de vidas humanas, são eventos que deram ao menos uma contribuição relativamente positiva: a introdução de alterações em programas espaciais, no sentido de tornar certas atividades mais seguras. Por ocasião do incêndio da Apolo-1 os astronautas não conseguiram abrir a escotilha a tempo e acabaram morrendo asfixiados, sendo posteriormente carbonizados. Após o acidente a NASA introduziu nas naves Apolo pinos explosivos que, numa situação de emergência, poderiam lançar a escotilha longe, salvando assim a tripulação. Materiais inflamáveis a bordo como velcro em excesso foram retirados ou, ao menos diminuídos em quantidade, tornando a nave mais segura em caso de outros incêndios. Os cosmonautas soviéticos, por sua vez, passaram a utilizar trajes espaciais em suas naves após o acidente com a Soyuz-11.
Alguns desastres podem deixar marcas ainda mais profundas em programas espaciais. Os acidentes das naves Challenger e Columbia, respectivamente em 1986 e 2003, ambas com sete astronautas, levaram a NASA a concluir que os ônibus espaciais são naves por demais inseguras, de modo que optou-se pela aposentadoria dos mesmos. Astronautas norte-americanos passam então a depender exclusivamente de carona em naves russas para subirem ao espaço, algo inédito na história do programa espacial norte-americano. O tempo em que os ônibus espaciais foram mantidos sem voar acarretou atrasos significativos no cronograma que previa a conclusão da ISS em 2007.


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