RESUMO

 

O artigo traz reflexões sobre a educação à distância referente à importância do tradutor/intérprete e o esforço cognitivo que é sofrido por ele durante a interpretação dos conteúdos do Ensino Superior EaD. É fundamental ressaltar que para discutir a Educação à Distância para os alunos surdos e o trabalho do tradutor/intérprete, além de participar de algumas interpretações, foi necessário tomar como base as políticas públicas de inclusão educacional e social, a Teoria dos Skopos na abordagem funcionalista de Christiane Nord, e também a Teoria dos Modelos dos Esforços na Interpretação de Daniel Gile, que esclarece sobre os esforços cognitivos sofridos durante o processo interpretativo, o qual está diretamente ligado à qualidade do conteúdo apresentado durante o curso.

 

Palavras-chave: Aluno surdo, Aspectos políticos, esforço cognitivo, Qualidade na EAD.

 

  1. 1.   INTRODUÇÃO

As línguas envolvidas neste trabalho são a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), cuja modalidade é visual-gestual, regulamentada pela Lei Nº 10.436 de 24 de abril de 2002 que a reconhece como meio legal de comunicação e expressão. Para tanto, o público alvo para a realização deste trabalho é o povo surdo que está inserido no contexto da Educação Especial. De acordo com a Política Nacional de Educação Especial MEC/SEESP (1994, p. 17), “Educação Especial é um processo que visa promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas portadoras de deficiências (...)”, e “abrange diferentes níveis e graus do sistema de ensino.” Segundo Machado (2002) o contexto da educação especial expressa movimento e interação/inclusão, tendo como exemplo as práticas sociais para a inserção de pessoas consideradas deficientes. Desta forma, algumas implicações políticas, culturais e linguísticas na educação de surdos que, foram inseridas na modalidade de educação especial.

Segundo a Constituição Federal de 1988 art. 205 e apoiada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a educação é direito de todo cidadão e está atrelada aos os processos sociais que abrangem a informação e desenvolvem a vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Atualmente a inclusão social é uma realidade, e está presente em toda parte, principalmente no âmbito educacional. No quesito acessibilidade, podemos consultar as leis: Lei Nº 10.098/00 art.18 da acessibilidade, a Lei Nº 10.436/02 e o Decreto Nº 5.626/05, as quais dão subsídios para que sejam atendidas as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especializadas, assim como, os alunos surdos matriculados na rede educacional básica e no Ensino Superior. Buscando atender a legislação vigente na área educacional, as Universidades têm recebido alunos surdos e têm feito adequações para atendê-los. Tais adequações e adaptações curriculares constituem possibilidades educacionais de atuar diante das dificuldades de aprendizagem dos alunos.

A Portaria nº 1.679, de 2 de dezembro de 1999, a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, com apoio técnico da Secretaria de Educação Especial, estabelece os requisitos de acessibilidade de pessoas com deficiência no âmbito das instituições de Ensino Superior, tendo como garantia o direito do surdo e suas atribuições. Destaca-se também, a importância de que, a pessoa com surdez tenha acesso ao ensino por meio de sua língua materna, a Libras (Língua Brasileira de Sinais), se assim o preferir. Entretanto, para efetivar o acesso aos conteúdos ministrados durante o curso, far-se-á necessário a presença do intérprete para a mediação das aulas. Suas funções e atribuições são regulamentadas, sob a Lei Nº 12.319 de 1º de setembro de 2010; e sob o Decreto Nº 5.626/05 Capítulo V. o qual se refere à formação do Tradutor/Intérprete para o nível superior. Sendo que a tradução é a transferência de sentidos de uma informação de uma língua para outra língua, e que esta transferência jamais é realizada sem interferências, segundo Gentzler (2009), o tradutor tem licença para participar ativamente na produção do texto alvo, ou seja, este profissional é responsável pelas informações a serem transmitidas ao alunado surdo que participam desse cenário.

Especificamente para a EAD, o inciso II do artigo 13 do Decreto Nº 5.622/05, rege que os projetos pedagógicos de cursos e programas na modalidade à distância deverão conter o atendimento apropriado a alunos portadores de necessidades especiais. Complementa o Decreto Nº 5.296/04, artigo 24 estabelecendo, que “os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de acesso a todos seus ambientes.”.

Contudo, o objetivo do trabalho é focado na acessibilidade e qualidade das informações transferidas. Para isto, foram analisados várias interpretações e tempo de exposição sofridos pelos profissionais de uma determinada instituição de Ensino Superior em EaD. Incluindo-me no processo avaliativo, pelo motivo de vivenciar a experiência do mal estar causado pelo excesso de esforço cognitivo, e alterações e ou distorções nos conteúdos do curso, por estar mais de duas horas seguidas em trabalho contínuo.

Sendo assim, dentro do ambiente educacional referido, a EAD, o profissional tradutor/ intérprete de Libras/Língua Portuguesa é uma ferramenta importante de acesso às informações, aos conteúdos e às interações necessárias nesta modalidade. Para que haja a fusão de todas essas competências, vale salientar o processo tradutório empenhado nesta função, a ação desenvolvida entre os participantes do meio. Neste âmbito, o estudo é desenvolvido a partir da Teoria dos Skopos na abordagem funcionalista de Christiane Nord e a Teoria dos Esforços na Interpretação de Daniel Gile (1995), o qual usou como ponto de partida a análise e processo de interpretação simultânea. Contudo, será verificado no esforço cognitivo desempenhado, se este está atrelado à qualidade da interpretação da língua alvo para língua fonte.

  1. DESENVOLVIMENTO

 

Para explicar melhor o que consiste o processo tradutório/interpretação, tendo como base a teoria de Skopos, os teóricos que defendem a abordagem funcionalista concebem a tradução como uma ação a ser realizada por um emissor que tem como meta uma comunicação específica, que segundo Gentzler (2009) Reiss e Vermeer se refere como Skopos (termo em grego com significado de “o intento, a meta, a função”. Reiss e Vermeer, 1984:94 apud Gentzler, 2009: 100). Partindo do ponto em que o nível da tradução está ligado à meta pretendida, Vermeer descreve a regra do Skopos e consiste em:

Traduzir/interpretar/falar/escrever de uma maneira que possibilite ao seu texto/tradução funcionar na situação a qual é usado e com pessoas que querem usá-lo, e exatamente do modo que querem que funcione (Gentzler, 2009, p. 100).

 

Dentro do contexto funcionalista, os teóricos sugerem ao tradutor, que pode ser fiel ao texto fonte ou pode escolher estratégias do tipo palavra por palavra. Também pode ser acrescentado, tirar ou mudar as informações, dependendo do contexto cultural e das necessidades do público/receptor. Desta forma a abordagem funcionalista permite que o tradutor tenha flexibilidade para decidir o método ou abordagem que mais se identifica em determinada situação. Segundo Gentzler (2009) esta abordagem vê o tradutor como profissional intercultural, se comparado com outros teóricos. A regra do Skopos definido por Nord se resume em “o fim justifica os meios” (1997, p. 20 apud Gentzler, 2009).

No conceito funcionalista, a tradução deve estar passiva de ser adaptada conforme o papel do emissor e do receptor de uma mensagem, ou da escolha do tradutor. Ela pode ser apresentada por intermédio de textos escritos, orais, sinalizados, gestuais, ou seja, verbais ou não verbais, dependendo do propósito dos participantes envolvidos.

Para a efetivação desta atividade o tradutor/intérprete deve levar em conta as circunstâncias do tempo e o espaço, os quais serão determinantes para comunicação dos indivíduos. O mesmo deve então atentar para o estudo de caso das línguas que serão trabalhadas, ao conceito cultural envolvido, verificando as restrições que estão condicionadas em ambas as línguas: “A linguagem empregada na comunicação é considerada parte da cultura, e a forma de comunicação está condicionada às restrições da situação cultural”. (NORD, 2009, p. 210)

Segundo a teoria do Skopos o princípio é condicionar qualquer processo de tradução, em qual a finalidade que se quer atingir com a ação translativa, ou seja, a intenção do tradutor definida em qualquer tradução. Segundo Nord, Vermeer usa as palavras relacionadas: Finalidade, objetivo, intenção e função tais como sinônimos, e Nord (1988) faz uma distinção entre intenção e função.

A intenção se define pelo ponto de vista do emissor (tradutor) e a finalidade que se deseja chegar com seu texto. No entanto, segundo Nord a melhor intenção não garante o melhor resultado, pois tudo depende de alguns aspectos, como temporal, local, cultural, entre outros, dentro das situações em que se encontram o tradutor e o receptor. O receptor pode ter suas próprias expectativas a respeito do texto traduzido, isto é, usa-o para uma função, seu interesse. A intenção do tradutor encontra sua finalidade, porém a função seria análoga a esta intenção ou até mesmo iguais, dependendo do caso. Às vezes a realidade não consiste no ideal.

Neste caso, o receptor retém a informação que ele quer e a que ele precisa. Assim, podemos ter mais de um texto alvo a partir do texto fonte, como ilustrado por Nord (2006):

 

Figura 1 - Textos alvo a partir de um texto fonte

 

Neste caso, cada receptor tem um interesse distinto acerca do mesmo assunto, sendo que as interações comunicativas são delimitadas nos casos de localidade, influência ou cultura. É necessário ter uma perspectiva específica de cada grupo, a situação e o ponto de vista que adotam em relação aos acontecimentos mundiais.

Imaginemos o tradutor/intérprete na central de filmagens das aulas interativas, ele é quem irá emitir aos surdos dos polos presenciais, o conteúdo ministrado pelo professor EAD. Porém, os polos que atendem os alunos surdos são de diversas regiões do país, e conhecendo que cada região contém cultura e variação linguística de sua região, logo, o tradutor/intérprete presencial serve de apoio ao aluno local e adequa a tradução no que se faz necessário.

Neste cenário, a Educação a Distância oferece diversas vantagens, para quem por ela se interessa, incluindo-se o alunado surdo. A flexibilidade de horários, a autonomia de tarefas e probabilidade de autodisciplinar-se, faz com que aumente a procura por esta modalidade. Desde a regulamentação dos cursos superiores à distância – através do Decreto Federal nº 5.622/2005 (regulamenta o artigo 80 da Lei 9.394/1996), criaram-se critérios de qualidade do ensino, como melhor estruturação da entidade, e a qualificação dos docentes. No entanto, o MEC realiza auditorias nestas entidades de Ensino Superior e aquela que não se adéqua nem atende estes critérios, são descredenciadas para a oferta de cursos à distância.

Neste ambiente, o tradutor/intérprete é quem faz o elo entre conteúdo e aluno surdo nas aulas e atividades propostas durante o curso. É importante que este profissional tenha uma formação adequada ao Decreto n.º 5.626/05 para contribuir com melhor atendimento a respeito da diversidade linguística do usuário da Língua Brasileira de Sinais.

Segundo Quadros (2002), a definição do intérprete está em: “pessoa que interpreta de uma língua (língua fonte) para outra (língua alvo) o que foi dito”, e ainda intérprete de línguas de sinais – “pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais”. Ele pode atuar em diversas áreas que necessitem de seus serviços, e na EAD há a presença dele nas aulas interativas e nos polos presenciais.

Lembrando que o conceito de que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é oficialmente uma língua e assim, como todas as outras línguas de sinais existentes no mundo são línguas naturais, é que será discutida a tradução sem distinguir se a modalidade é oral ou sinalizada. Desta forma, respeitando a prática cultural e a complexidade da cultura do povo surdo e da Língua Brasileira de Sinais, que apresento as questões envolvidas na tradução.

Nas aulas interativas, desta unidade de ensino a qual foi feita a pesquisa, este profissional realiza simultaneamente a interpretação das aulas que cada uma dura por volta uma hora e meia, com intervalo de 10 minutos entre elas, totalizando três horas por período, sem interrupções. Algumas modalidades de interpretação que podem ser utilizadas são: simultâneas e ou consecutivas, dependendo da necessidade. Para Quadros (2002) a interpretação simultânea consiste em realizar a interpretação de uma língua para outra simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo em que ela é enunciada, e a consecutiva, o intérprete ouve o enunciado na língua fonte, processa a informação e, posteriormente faz a interpretação para língua alvo. O mesmo é feito nos polos presenciais, estes profissionais servem de apoio nas atividades propostas em sala, e durante a web aula, e tira dúvidas que surgem no decorrer da exposição do conteúdo. E, ao entrevistar outros profissionais que atuam na instituição, percebi que a sensação de tonturas e dispersão do assunto ocorria após uma hora de interpretação. A base encontrada para definir tal acontecimento, foi encontrada no livro de Quadros, O tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais, onde ela diz, “o tempo é considerado o problema crítico, a atividade é exercida em tempo real envolvendo processos mentais, de curto e longo prazo” (QUADROS, 2002. p. 78). Quadros neste mesmo livro, também relata uma pesquisa para averiguar a qualidade da interpretação, quando esta tem uma duração extensa, e constata que:

A medida em que o tempo passa, se perde qualidade na interpretação. Os erros nas escolhas lexicais, os erros nas decisões quanto ao significado são progressivamente muito maiores após a primeira hora de interpretação simultânea. Um problema comum observado entre os intérpretes em sala de aula, principalmente após algum tempo de interpretação simultânea, embora tenha sido encontrado em alguns casos também no início da atuação, foi a simplificação das informações. (QUADROS, 2002, p. 70).

Logo, a interpretação simultânea requer muito mais do que conhecimento linguístico, ela está ligada à compreensão e a expressão do texto fonte para o texto alvo, Carvalho (2007) em sua pesquisa relata que o processo se dá pela velocidade da fala cerca de 150 palavras por minuto. Devido à velocidade com a qual se deve realizar o trabalho, ele demanda altos níveis de esforço cognitivo do intérprete. Com isto, podemos entender que para interpretar para os alunos surdos, neste caso, no Ensino Superior EaD, denota esforços que vão muito além de conhecimento didático-pedagógico, ou seja, há um esforço mental que causa baixa qualidade nas informações.

No entanto, baseado na Teoria dos Modelos dos Esforços na Interpretação de Daniel Gile, que demonstra em sua pesquisa o processo na interpretação simultânea e os esforços cognitivos, os quais estão associados à qualidade de sua execução. Segundo Freire (2008) o processo de interpretação compreende em três esforços; o esforço de audição e análise, esforço de produção e esforço da memória de curto prazo, sendo que, além desses esforços, a coordenação é o elemento moderador destes esforços.

Partindo destes modelos estabelecidos pelo autor, cada interpretação é requerida uma capacidade total de processamento, levando em conta, que o intérprete apresenta uma capacidade disponível de processamento. Desta forma, podemos verificar que o excesso de tempo exposto em exercício, pode prejudicar o conteúdo passado para língua alvo.

A capacidade total de processamento, não comporta a capacidade disponível de processamento do intérprete, isto é, “há saturação, o canal de comunicação e a não supre a demanda no ato de comunicação” (FREIRE, 2008, p. 160). O autor complementa ainda, que quando não supre esta demanda de alguns esforços, há déficit em relação à coordenação entre eles.

Imaginemos um intérprete após uma hora e meia de interpretação simultânea e sem intervalos, seu cognitivo já não processa mais informações adequadas como inicialmente, causando dispersão no assunto abordado. E nos casos de instituições que exigem mais horas do intérprete do que ele possa suportar, é bem provável que o aluno surdo seja prejudicado nos conteúdos.

Para entendermos melhor o processo tradutório, ainda baseados na Teoria dos Modelos dos Esforços na Interpretação, veremos que esta teoria teve origem em duas ideias de Gile, sendo:

A interpretação requer uma espécie de energia mental a qual a reserva é limitada; e a interpretação consome praticamente toda esta energia mental, e algumas vezes a demanda vai além da reserva disponível, neste caso a performance do intérprete deteriora-se. (GILE, 1995 apud FREIRE, 2008).

Freire (2008) ao estudar os conceitos de Daniel Gile, dia que o autor resgata os estudos de pesquisadores envolvidos com a psicologia cognitiva e os relacionam com o conceito de atenção. Observa que a atenção volta-se a operações mentais automáticas e operações mentais não automáticas. O autor destaca:

A capacidade de processamento envolvida nas operações mentais automáticas, (identificar um estímulo cognitivo conhecido em condições favoráveis) requer menos atenção que as atividades de processamento envolvidas nas operações mentais não automáticas (identificar um estímulo cognitivo desconhecido ou um estímulo conhecido em condições desfavoráveis). (FREIRE, 2008, p. 160).

O Intérprete ao identificar o texto emitido, como conhecido de seu domínio comum, a interpretação irá fluir sem causar estresse cognitivo, ou seja, o estímulo cognitivo conhecido será favorável tanto para o intérprete quanto para o alunado surdo que recebe o texto traduzido. Porém, se o texto é identificado como desconhecido pelo intérprete, este poderá causar desconforto e falhas na interpretação. Dentro desta perspectiva é fundamental que o intérprete compreenda o que está sendo proferido pelo autor da língua fonte e produzir este discurso na língua alvo, para isto deve armazenar em sua memória de curto prazo o que está sendo dito.

Há em meio ao processo interpretativo o esforço da audição e análise que definido por Gile (1995 apud FREIRE, 2008, p.161) “consiste em todas as operações de análise voltadas à compreensão”, isto é, desde a análise do discurso oral da língua fonte, da identificação e até chegar às decisões finais do intérprete sobre o significado do discurso dito pelo orador.

Nesse processo de interpretação simultânea, o intérprete deve ser capaz de analisar e filtrar todas as informações que achar pertinentes, ou seja, fazer mais que uma análise linguística. A análise metalinguística também está envolvida em meio deste processo, pois a língua carrega consigo sua cultura e comportamento.

Na tradução, emissor e receptor pertencem às culturas e línguas distintas. Também as formas de comportamento pertencem a um código cultural. De modo que os emissores e receptores necessitam de ajuda de alguém que está familiarizado com ambas as culturas e línguas e que se dispõe como intermediário ou mediador entre ambos, é falar do tradutor ou intérprete. (NORD, 2008, p. 210).

Ao passo que o orador profere o discurso, o intérprete ainda deve dissolver as ambiguidades e corrigir erros do orador, para que estes não cheguem até a língua alvo. Para Gile (1995 apud FREIRE, 2008) este processo denomina-se por esforço de produção.

O esforço de produção ocorre em:

(...) o esforço de produção é definido como o conjunto de operações de que vão desde a representação mental da mensagem a ser apresentada, passando pelo planejamento do discurso oral até a concretização desse planejamento (...) (GILE, 1995 apud FREIRE, 2008, p. 162).

Pensando neste processo, em sua qualidade e desempenho é fundamental ressaltar que “tanto a qualidade de informação armazenada como o tempo de armazenamento podem variar”, porém “há poucas chances de ocorrer repetição de operações idênticas (...)” (GILE apud FREIRE 2008, p. 163). Desta forma, para que a interpretação seja bem empenhada e atinja satisfatoriamente o aluno surdo nos polos, é necessário que a demanda operacional total (aqui, horas de exposição ao ato interpretativo) seja condizente com a capacidade de processamento disponível total do intérprete.

Na compreensão de Gile (1995 apud FREIRE, 2008) deve-se investigar de uma maneira geral, como é a relação “desigual” entre os participantes do evento, neste caso mais específico, são eles, professor, intérprete e aluno surdo. Ao professor que domina o conteúdo da disciplina cabe expressar seu conhecimento, ao aluno surdo que deseja tomar conta do conteúdo cabe confiar no intérprete, e ao intérprete cabe desempenhar uma atividade mais complexa, pois envolvem etapas em que:

  • O intérprete não tem o mesmo conhecimento do professor a respeito do conteúdo exposto;
  • Ele não tem o controle a respeito da velocidade que o professor sobre seu discurso oral;
  • Por vezes não compreende sobre o assunto da mesma maneira que espera os alunos, seu público;
  • Deve ter uma boa capacidade de memória de curto;
  • Coordenar adequadamente a compreensão do discurso da língua fonte para língua alvo.

Na definição de Nord (2009), a análise do texto fonte antes do início da tradução é primordial para o trabalho, pois proporciona ao tradutor uma base para que tome as decisões durante a tradução, através de sua compreensão geral do texto e identificação das estruturas linguísticas e textuais.

Ressalta-se que todo este processo deve ser levado do início ao fim do evento, a qualidade da interpretação fica restringida ao esforço cognitivo que o intérprete sofrerá durante este período.

  1. Considerações Finais

A educação a distância proporciona várias vantagens discutidas anteriormente, seu acesso e qualidade de ensino. Aos alunos surdos que têm como primeira língua (língua materna) a Libras (Língua Brasileira de Sinais) cabe confiar na fidelidade interpretativa do intérprete, tanto nas aulas interativas (web) como nos polos presencias de apoio.

Pensar este profissional como ferramenta fundamental neste processo de ensino é deparar-se com o óbvio, a pessoa do intérprete, o ser humano biológico, antes de tudo.

Conclui-se que o estudo prévio dos temas abordados em aula e o tempo de exposição ao processo cognitivo no ato interpretativo, são fundamentais para definir a qualidade da interpretação. Contudo, há a necessidade de rever o tempo estabelecido em cada instituição de ensino EAD, onde está inserido este profissional, e também, em um acordo mútuo chegar a um consenso pensando na qualidade do serviço.

A interpretação não está ligada apenas a um esforço e sim a coletividade que eles representam na Teoria dos Modelos dos Esforços na Interpretação.  Ao fim deste artigo, obtive melhor compreensão a respeito do processo de esforço cognitivo que ocorre durante a interpretação simultânea. A Teoria em questão esclarece que interpretar um discurso não é traduzir uma língua, e sim a construir o sentido pelo intérprete, lembrando que é um pensamento humano transpondo as barreiras linguísticas entre os envolvidos no processo.

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