INTRODUÇÃO


            O presente trabalho tem como referencia o conto "A paisagem de seus sonhos" de Oliver  Sackes, um conto relacionado à memória. Franco Magnani, pintor talentoso e de memória prodigiosa, faz retratos da cidade em que nasceu com a mais detalhada precisão. Só que a única coisa que Franco pensa, fala ou se recorda é sobre Pontito cidadezinha no alto do morro de Toscana, a cidade na qual nasceu e cresceu a qual guarda em sua memória e seus pensamentos com o maior afeto, mas que não visita há mais de 30 anos. Sacks descreve Franco como um artista de memória prodigiosa. O autor aborda neste capitulo também de forma sucinta, o período de internação de Franco em um sanatório, sugere então algum tipo de psicose ou estado neurológico, o que nos faz lembrar sobre os lobos temporais e a personalidade.
            Situações que exigem demais do indivíduo podem causar algum tipo de dano, ou até mesmo adquirir um caráter patológico, podendo gerar alucinações, perturbações do pensamento e da personalidade. Porém isso varia em cada indivíduo e da maneira como cada um reage às situações, podendo ser positiva se extravasada em expressão artista, por exemplo.
            O tipo de epilepsia no lobo temporal, o qual é vivenciado pelo personagem, em que o indivíduo pode se sentir transportado de volta a um momento ou lugar do passado. É um tipo de sentimento em que todos os sentidos estão envolvidos, são alucinações multisensoriais, cheias de sentimentos e de familiaridade. E, ainda, apresenta uma intensificação peculiar na vida emocional, este é o caso de Franco, que desde a infância mostra-se dono de uma memória incrível onde era capaz de recordar enumeras leituras e imagens, mas foi as imagens de Pontito que despertou o seu dom para a pintura.
            O objetivo desse trabalho é refletir sobre o impacto causado por algumas síndromes, analisar como isso é enfrentado pelo indivíduo e como é visto pela sociedade. Buscar-se-á compreender a inserção da pessoa com epilepsia no mercado de trabalho e as dificuldades enfrentadas por ela nesse sentido. A epilepsia leva a múltiplas formas de exclusão e controle social das pessoas. Mitos e preconceitos se fazem presentes na sociedade, o que afeta negativamente a qualidade de vida dessas pessoas e de seus familiares. O preconceito é a queixa principal das pessoas perante a sociedade, que ainda se alimenta de estigmas, tornando a vida desses mais difíceis. Desta forma, este fator contribui para baixa autoestima desses indivíduos os levando a sentimentos de inferioridade e até mesmo, uma possível depressão.
            O estigma e discriminação associados às pessoas com algum tipo de síndromes influenciam negativamente na qualidade de vida da pessoa e de sua família, muitas vezes impedindo-as de conduzir suas vidas dignamente. Assim, torna-se importante oferecer mais segurança e diminuir a sensação de inferioridade, que esse preconceito causa.

  1. ACESSIBILIDADE NAS DIFERENÇAS 

A raça humana tem como peculiaridade às outras espécies o fato de dentro dela haverem diversos grupos étnicos, bastante diferentes fisicamente. Muitas vezes esta diferença ainda é incrementada pelas diferenças culturais que estes indivíduos, de diferentes grupos étnicos, carregam de geração em geração.
            Além das questões étnicas, as pessoas desenvolvem-se de maneira diferente devido a inúmeros aspectos, como: genéticos (grupo de características que dão forma ao indivíduo), sociais(relativos ao meio onde está inserido), econômicos(referente à situação econômica), emocionais(habilidades mentais e conhecimentos), familiares(tipo de criação ou convívio dentro da própria família) ou ocasionais(gerados a partir de situações vividas, como acidentes).
                O impacto que uma dada doença tem em um indivíduo depende, igualmente, das crenças e dos valores da sociedade em que o individuo está inserido, ou seja, há uma variação no conceito de saúde, e segundo SAVASTANO (1967), o estar doente ou são, é um fenômeno cultural. As pessoas com epilepsia, tal como os demais indivíduos, também possuem suas próprias aspirações, desejos, expectativas e concepções de uma vida boa e de um pleno bem – estar. Nosso personagem Franco trouxe para sua vida prazer em recriar sua cidade natal em suas pinturas, além de garantir também seu sucesso financeiro, pois conforme discorrem Minayo, Hartz e Buss (2000) qualidade de vida diz a respeito ao grau de satisfação encontrada na vida familiar, amorosa, social e ambiental.
                A epilepsia afeta indivíduos numa fase precoce e produtiva da vida. Segundo AJURIAGUERRA (1980, p. 532) crianças têm uma predisposição maior às crises convulsivas que os adultos, levando em conta a maturação do sistema nervoso central nessa época da vida. É uma condição crônica, socialmente incapacitante aos seus portadores e seus familiares, pois os portadores, muitas vezes, sofrem limitações reais no desempenho de seus papéis sociais, podendo ser tolhidos em sua independência, autonomia, liberdade e autoconfiança. Vários aspectos da vida diária podem ser afetados, incluindo aspectos psicológicos, médicos, familiares, sociais, pessoais e profissionais.

Os distúrbios psicológicos, solidão, desajustamentos e percepção do estigma contribuem significativamente para o preconceito e prejuízo do funcionamento psicossocial. Os portadores de epilepsia estão sujeitos a atitudes de rejeição social desde a infância e muitas vezes tais atitudes se iniciam no próprio grupamento familiar, com restrições a freqüência escolar e a participação em atividades coletivas próprias e da idade. LINS (1983) pontua que as atitudes inadequadas da população desinformada têm sido registradas não apenas entre as pessoas estranhas ao paciente, mas também entre os próprios componentes de seu grupo familiar, e ocorrem desde a infância, quando os pais freqüentemente se tornam superprotetores e inseguros perante seus filhos, adotando atitudes restritivas à vida social da criança,  participação em atividades coletivas, entre as quais o próprio comparecimento à escola.


1.1       CONVÍVIO COM A DIFERENÇA E A VISÃO EXTERNA

           

            Na nossa construção como seres humanos, individuais e coletivos, passamos por diversas fases concomitantes, sucessivas, estabelecendo relações com nós mesmos e com os outros. A relação com nós mesmos é uma tarefa de construções e desconstruções, um projeto de vida. Este conto nos fez algumas reflexões. Entender o outro indivíduo nem sempre é uma tarefa muito fácil. Mais do que a aparência física, consiste em saber lidar com as pessoas diferentes na forma de pensar, sentir e agir. Cada pessoa é um ser único no mundo, com uma história de vida própria somente por ela experimentada. Franco, transformou sua patologia em expressão artista, talvez para ele, voltar atrás fosse uma maneira de seguir adiante.
            O pensar sobre a diferença deve fazer parte da pratica cotidiana. É preciso batalhar para que o indivíduo seja visto, na sua integridade, independentemente dos atributos físicos que a tornam peculiar e olhar para todos os seres humanos na sua totalidade.
            A superação possibilita às pessoas reconstruírem significados na vida e restabelecerem o “eu” para além das imposições dos problemas, percebendo através das próprias buscas pessoais que esta é maior que as diferenças e esta, por sua vez, possui qualidades que podem ser reconhecidas ou resgatadas.
            O estigmatizado é coisificado, destituído de sua condição de sujeito, o que implica não ver respeitada sua própria história. Se alguma historia é respeitada é aquela do grupo ou segmento que pertencem. Assim, a pessoa estigmatizada costuma ser considerada como parte de determinada categoria, a qual são atribuídas características que supõe-se comuns a todos que a constituem. Assim, busca-se, comumente, olhar o outro como um individuo com características e necessidades que nem sempre correspondem a uma categoria, configurada sobre preconceito. Deve-se pensar no sujeito com uma história peculiar, com direito de apropriar-se de todo o conhecimento possível sobre a construção desta sua história, até no que tange ao significado do ser diferente em um ”mundo” que valoriza a padronização e impõe culpas pelas diferenças mais socialmente valorizadas.

1.2              MERCADO DE TRABALHO


            Para a integração de pessoas com deficiências em meio ao mercado de trabalho é necessário que os recrutadores e gestores tenham três conhecimentos elucidados para si próprios as abordagens contingenciais e situacionais, considerando:
* Descrição de cargo/função: É fundamental para a integração destas pessoas, que sejam estudadas os cargos e funções dentro das organizações e que neste estudo sejam analisadas todas as variáveis necessárias para o desempenho de tal função.
* Cultura organizacional: Deve haver uma cultura dentro da empresa que respeite e dê suporte aos novos colegas que, de alguma maneira, têm deficiências. Esta cultura deverá estar enraizada em cada funcionário criando clima favorável à esta inserção e de que não existam só condições físicas e motoras para que os PCD’s exerçam suas funções dentro de uma empresa como também condições emocionais e motivacionais.
* Análise contingencial dos candidatos: Precisa ser feita a análise de cada caso, cada candidato deve ser avaliado individualmente, a fim de verificar quais são suas limitações e se existem aspectos que o impossibilitem de exercer determinada função. Verificar em quais funções – traçando um paralelo com as descrições de funções – o candidato se encaixaria sem prejuízo das atividades e, ou, resultado final do trabalho.
 

CONCLUSÃO

 

 

            Através deste trabalho, foi possível identificar a existência da exclusão e de preconceitos que as pessoas com epilepsia sofrem. O indivíduo que tem epilepsia, além de sofrer com os problemas neurológicos, enfrenta no decorrer de sua vida um obstáculo difícil de transpor: o de ser estigmatizado.
            Fatores como a descriminação social e o preconceito ainda estão muito presentes na sociedade. O acesso a um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, coloca as pessoas com algum tipo de desabilidade em posição desvantajosa.

            Foi verificado também que saber conviver com as diferenças é um desafio. Exige habilidade e sabedoria para lidar com as situações. O profissional da Psicologia deve auxiliar o indivíduo a lidar com as dificuldades encontradas, orientar e auxiliar a todas as pessoas,  analisando os diversos tipos de comportamentos com o objetivo de ajudar cada um na busca de  seu auto conhecimento. Portanto, o papel do psicólogo é buscar estratégias que promovam crescimento interno, autonomia e independência pessoal, com atenção especial ao desenvolvimento de condutas e habilidades para a adequação deste indivíduo à sociedade, aumentando suas chances de interação social e profissional.

            Observando o papel do administrador na mediação do acesso e integração das pessoas com deficiências, é possível afirmar que, é de sua responsabilidade não a abertura de oportunidades a este grupo de pessoas, mas também a possibilidade de manutenção destes em meio à organização. Também é papel do administrador criar um ambiente receptivo e maduro a ponto de compreender, aceitar e cooperar com o processo de inserção das pessoas com deficiências nos quadros funcionais das empresas.

            Ademais, psicólogos e administradores podem trabalhar conjuntamente afim de criar sinergia que faça com que as pessoas com deficiência consigam integrar-se à sociedade e possam viver suas vidas de modo que estas deficiências sejam minimizadas e passem desapercebidas por si próprios e por aqueles que convivem com estas pessoas.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sacks. Oliver - A paisagem dos Seus sonhos, pg 98-118.

http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/oliver_sacks_what_hallucination_reveals_about_our_minds.html, acesso em 09/junho/2013

R. Cult. : R. IMAE, São Paulo, a.5, n. 11, p. 48-53, jan./jun. 2004

MINAYO, M. C. S.; HARTZ, Z. M, A.; BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 7-18, jan./mar. 2000.

O mundo da saúde- São Paulo, ano 26v.26 n.3 jul/set 2002

Bianchetti L.Um olhar sobre a diferença,Revista Brasileira de Educação Especial,2002

R. Cult. : R. IMAE, São Paulo, a.5, n. 11, p. 48-53, jan./jun. 2004

SAVASTANO, Helena. Aspectos sócio-culturais da epilepsia à luz da psicodinâmica: apresentação de uma entrevista com paciente epiléptica. Rev. Saúde Pública,  São Paulo,  v. 1,  n. 2, dez.  1967

ROSA, Maria de Lourdes da Rocha. Obstáculos percebidos por pais e professores no atendimento das necessidades de crianças com epilepsia. Rev. Latino-Am. Enfermagem,  Ribeirão Preto,  v. 5,  n. spe, maio  1997