Academia: Saúde X Estética.

 

Valdemar J. C. Neto[1]

 

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar os motivos apresentados pelas alunas da academia Wave de Itapema da aula de ginástica localizada para a realização das praticas na academia, com uma população de 25 alunas, o trabalho foi organizado de maneira com que o pesquisador entendesse o objetivo das alunas ao freqüentarem essas aulas. Qualidade de vida[2], musculação e estética, a partir desse entendimento fui a campo com 9 intervenções  para observar as aulas e a atuação das alunas. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo na qual o pesquisador procura resolver os problema através de entrevista feita com algumas palavras chave. Na analise de dados constatamos que as alunas reagiram bem às aulas onde eu estava observando, mas por se tratar de aulas de ginástica e musculação nem sempre todas estavam presentes para participar das aulas. O objetivo foi alcançado, pois a cada intervenção me falavam que se sentiam bem com os resultados que a ginástica trazia para elas, com isso concluí que os resultados estéticos são os motivadores das alunas para participarem das aulas.

PLAVRAS CHAVES:  Fitness e ginástica, saúde, estética.

  1. 1.    INTRODUÇÃO.

Nos dias de hoje notamos uma crescente preocupação com o corpo e faz parte dessa preocupação ter um lugar para o cuidado ao corpo, então academias de ginástica vêm aumentando nos dias atuais, em busca do corpo perfeito, podemos notar que academias estão sendo utilizadas como salão de beleza para o corpo, (HANSEN, 2004).

O presente artigo tem como objetivo identificar e analisar os motivos apresentados pelas alunas da academia Wave de Itapema da aula de ginástica localizada para a realização das práticas na academia e como objetivos específicos analisar o comportamento das alunas antes e durante as aulas; verificar o porquê as alunas se dedicam as aulas de ginástica localizada; observar o comportamento das alunas durante as aulas de ginástica; orientar os alunos na sala de musculação da academia.

Hansen (2004) nos apresenta que o universo das academias, o culto do corpo encaminha a uma busca incansável trilhada por meio de uma árdua rotina de exercícios, através dos quais se pretende superar os próprios limites em nome de contornos corporais concebidos como ideais.

O interesse por essa pesquisa formou-se a partir da observação na sala de musculação, os comentários das praticantes de ginástica localizada durante o horário de estágio supervisionado. Notei que o interesse de ficar com o corpo belo, partia das praticantes que diziam estar por saúde, então comecei a observar aulas e conversar mais com alunas, diante disto me interessa saber quais os motivos apresentados pelas alunas da academia Wave de Itapema da aula de ginástica localizada para a realização das praticas na academia?

  1. 2.     FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

            Para um melhor entendimento os assuntos abordados serão divididos um a um, gerando uma melhor leitura desse artigo. Neste capitulo serão abordados os assuntos: fitness, ginástica, estética.

2.1 FITNESS E GINÁSTICA.

Furtado (2009), caracteriza o fitness à ação de gestos motores com objetivo de condicionamento físico, e que as academias iniciam primeiramente com essa finalidade, um exemplo vasto dessa prática são os primeiros donos de academia que normalmente são halterofilistas, com o passar do tempo o termo halterofilismo é substituído por musculação[3], que conhecemos até hoje.

Alguns autores classificam o fitness em varias partes como: fitness social, fitness físico, fitness psicológico, fitness neuromuscular e fitness cardiovascular. Nessa classificação nos interessa o fitness social, que é quando alunos vão até a academia para aumentar sua rede de relacionamentos (FURTADO, 2009).

Conforme a grande enciclopédia portuguesa e brasileira é uma área da educação física que tem como o objetivo de exercitação metódica dos órgãos por intermédio de exercícios corporais de forma ordenada.

Pereira (1988) explica que:

“Ginástica vem ser a prática de exercícios físicos de forma individual e/ou coletiva com ou sem implementos, que têm enfaticamente o caráter utilitário, pedagógico ou terapêutico, servindo tanto para o fortalecimento corporal integral do ser humano, como para lazer e também reabilitação física” (p.227-228).

            Para Moura e Hopf (2011) existe uma separação para que as aulas de ginásticas aconteçam e geram interesse entre as alunas. Os autores classificam como: movimentos estilizados, utilização do tom de voz, palavras e frases de motivação e utilização ou não de espelhos.

            Moura e Hopf (2011), explicam cada uma das classificações apontadas acima:

2.1.1 MOVIMENTOS ESTILIADOS: para facilitar o aprendizado do exercício desejado é preciso motivar o aluno mostrando o movimento varias vezes.

2.1.2 UTILIZAÇÃO DO TOM DE VOZ: é um dos pontos mais importantes para que a aula aconteça, a oscilação do tom de voz, deixa uma impressão de retirar a linearidade da aula, ou seja, a aula não fica tão monótona, palavras são colocadas em momentos próprios e são usadas palavras chaves.

2.1.3 PALAVRAS E FRASES DE MOTIVAÇÃO: é necessário o profissional ter um pouco mais de experiência para a utilização deste item, é certo que palavras motivadoras agradam, mas o cuidado é para que não se perca a atenção das aulas. Palavras e frases motivadoras são importantes no meio das aulas para levantar o astral, a ludicidade e para efeito de motivação das alunas.

2.1.4 UTILIZAÇÃO OU NÃO DOS ESPELHOS: alguns alunos não preferem a utilização dos espelhos, pois preferem prestar atenção no professor, mas também existem muitos praticantes que gostam de se ver no espelho durante ou após algum tipo de exercício. O espelho é um fator importante para o ensinamento dos exercícios.

2.2 ESTÈTICA.

Para Silva (2001) Estética para os brasileiros é uma constante preocupação com o corpo e com um padrão de beleza estabelecido normalmente pelos meios de comunicação de massa, tal preocupação com a beleza e a magreza coloca o Brasil no quinto no ranking mundial em vendas de cosméticos.

“A afirmação denota como esse segmento da sociedade cível organizada tem desprezado a importância da reflexão sobre a dimensão corporal e superestimando, do ponto de vista estico a qualidade do trato dos seres humanos com os corpos e suas preocupações em torno da aparência corporal” (SILVA, 2001 p. 04).

            É comum atualmente encontrarmos freqüentadores de academias de ginástica o culto pelo corpo, uma busca incansável juntamente com uma árdua serie de exercícios rotineiros para alcançar o corpo perfeito, as maquinas também colaboram, já que elas são desenhadas e funcionam para cada seguimento corporal, com isso facilitando os exercícios e isolando ainda mais cada músculo para uma definição ainda mais perfeita (Hansen e Vaz, 2004).

            Hansen (2004) ainda completa sobre o isolamento de grupos musculares fazendo uma comparação entre homens e mulheres, aonde as mulheres são mais preocupadas com exercícios de pernas, coxas e glúteos e os homens são mais preocupados em exercícios que musculatura aumenta e fica visivelmente mai aparente como, braços (bíceps e tríceps), peito e abdômen, ambos têm a idéia que tais exercícios podem levar a perfeição corporal desejada.

            Nas academias, notamos que o espelho e a balança representam a voz da verdade que irá indicar os números do sucesso ou do fracasso na luta pelo “aperfeiçoamento” corporal (Hansen e Vaz, 2004). Nesta idéia Sabino (2000) coloca que o espelho pode ser o seu confessionário e que por muitas as vezes a fita métrica se torna o termômetro que mede o incentivo a tal busca.

2.3 SAÚDE.

            Ao iniciarmos o assunto saúde já é comum pensarmos que saúde é a ausência de doenças, por muitos anos se tinha essa idéia como conceito, mas a OMS (Organização Mundial de Saúde) já coloca saúde como um perfeito bem estar físico, mental e social, conforme Segre e Ferraz (1997) é um conceito até que avançado para a época que foi realizado, mas também é irreal, pois se torna um conceito surreal quando falamos em perfeito bem estar físico, mental e social.

            Segre e Ferraz (1997) concluem que saúde pode ser um estágio razoável entre o sujeito na sua própria realidade.

            Já Scliar (2007) apresenta saúde como algo de junção entre o social, econômico, político e cultural, abrindo um leque para o conceito, sendo assim, dependerá dos valores individuais de cada individuo, ou seja, o conceito saúde pode variar de pessoa para pessoa. O conceito também tem essa variação, pois, o autor nos coloca que esse conceito que ele apresenta concepções cientificas, religiosas e filosóficas, individualizando ainda mais o conceito de saúde.

3     METODOLOGIA

O presente artigo adotou a pesquisa de campo para o andamento desse trabalho, segundo Gil (1999) é o aprofundamento de alguma realidade específica através de entrevistas feita com palavras chaves. Ainda sobre a pesquisa de campo Marconi e Lakatos (2001) explicam que a utilização desse tipo de pesquisa tem o intuito de levantar informações sobre o problema estudado através de fatos e/ou fenômenos, tanto na coleta dos dados, quanto no registro de variáveis relevantes para utilização na analise.

Situada na cidade de Itapema, a academia Wave, é uma entidade particular.

Foram realizadas 9 intervenções com duração de 3:30h e as aulas tinham duração 60 minutos, os participantes eram alunas matriculadas na academia e tinham uma faixa etária de 20 a 55 anos, dentre as alunas participantes eu podia contar sempre com 15 alunas que eram assíduas nas aulas.

Para a avaliação, utilizei as rodas de conversa (entrevista), ouvi muito elas dizerem que ao participarem das aulas a relação social entre elas sempre aumenta, e o corpo desejado fica cada vez mais definido.

Entrevista é uma técnica que o pesquisador usa que lhe permite formular perguntas com o objetivo de obter dados que lhe interessa.

Enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (SELLTIZ et al., 1967, p. 273).

4     ANALISE DE DADOS

Ao iniciar as intervenções percebi que o professor cuidava muito da escolha das musicas, elas não se repetiam nas aulas e para cada região ou cada tipo de exercício a ser trabalhado era selecionada uma musica correspondente, umas mais agitadas para exercícios de repetições, e umas mais calmas para exercícios finais e de alongamentos (RELATÓRIO DE CAMPO, 07/10/14). Segundo Moura e Hopf (2011), a escolha das musicas para a elaboração das aulas é uma responsabilidade assumida pelo profissional porque as aulas corresponderão as musicas escolhidas, pois, de forma quantitativa e grosseira pode-se afirmar que a musica é 50% da aula, ou seja, corresponde a metade da motivação ou gosto pela pratica da sessão da aula de ginástica.

Neste mesmo relatório de campo (07/10/14), também pude observar como as alunas se organizavam conforme seus vínculos de amizades sentavam uma perto da outra, conforme Furtado (2009) elas se encaixam no fitness social, porque quando elas estão na sala de ginástica elas também estão procurando aumentar sua rede de relacionamentos.

No relatório de campo 9 (14/10/14) estava conversando com algumas alunas e em um certo momento uma aluna falou o seguinte:

- “Tudo que eu faço, vale a pena para ficar com um corpo global”. Essa afirmação ocorre segundo Silva (2001), os meios de comunicação são uns dos mais responsáveis, por estabelecer um padrão de estética.

            No decorrer das semanas notei que a balança era muito utilizada pelos freqüentadores, uma vez que ela se posicionava em um lugar bem movimentado da academia (RELATORIO DE CAMPO 9), conforme Hansen (2004), a balança se torna algo fielmente utilizado pelos freqüentadores da aula de ginástica, ela se torna quase que um confessionário das alunas e um grande motivador, uma vez que a balança mostra algum tipo de resultado ela se sente cada vez mais motivada a voltar e atingir seus próprios limites.

            Conforme relatório de campo 7 (07/10/14) as mulheres mais idosas gostam de ser comparadas com as alunas mais novas, como se freqüentar as aulas elas rejuvenescesse, Hansen (2004) novamente nos aponta nesse sentido que os aspectos como roupas, horários, afinidades, levam a tal culto à juventude, uma vez que elas estão parecidas com as demais alunas.

            A academia foi instalada num prédio de luxo da cidade e uma coisa que fizeram foi forrar a academia de espelho, todas colunas e paredes estão repletas de espelhos, segundo Moura e Hopf (2011) a utilização do espelho se torna importante para as aulas de ginástica, pois alguns freqüentadores preferem se olhar antes, durante ou depois dos exercícios completados.

            Para finalizar pude observar o sucesso do professor de ginástica, a fidelidade das alunas com ele, algumas vão na aula por causa do professor conforme relatório de campo 3 a 6, segundo Fernandes (2004), o sucesso do professor se faz devido ao domínio das técnicas de aula, bom senso para lidar com diversas situações, boa aparência do professor, utilização de boas e variadas músicas e individualizar o máximo as aulas.

5     CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desta forma o estágio foi um grande aprendizado, pois me proporcionou o conhecimento de um ambiente que sempre via nas academias, mas não conhecia e nem tinha participado de uma aula de ginástica, mas com muita dedicação e persistência fui ganhando espaço e confiança entre as alunas e a equipe da academia.

Quanto ao objetivo acredito que foi parcialmente atingido, pois não foram feitas todas as atividades como imaginei que seria. A mudança de local e a organização das maquinas da academia, falha entre os alunos do estágio, foram os contra tempo que obtive. Constato que as aulas de ginástica trazem benefícios estéticos para as alunas, respondendo assim a pergunta inicial do presente artigo, esses benefícios estéticos que as aulas trazem é o motivo maior que levam as alunas irem para as aulas de ginástica da academia Wave de Itapema.

           

6     REFERÊNCIAS

FERNANDES, André. A prática da ginástica localizada. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2004. p.73

FURTADO, Roberto Pereira. Do fitness ao wellness: os três estágios de desenvolvimento das academias de ginástica. Pensar a Prática, v. 12, n. 1, 2009.

GIL, Antonio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

HANSEN, Roger; VAZ, Alexandre Fernandez. Treino, culto e embelezamento do corpo: um estudo em academias de ginástica e musculação. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 26, n. 1, 2004.

HOPF, Ana Claudia Oliveira; MOURA, João Augusto Reis de. Abordagem Metodológica da Ginástica de Academia. Blumenau: Nova Letra, 2011. 174 p.

MARCONI, Marina de A.; LAKATOS, Eva M. Metodologia do trabalho científico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

NAHAS, Markus V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 2. ed. Londrina: Midiograf, 2001.

PEREIRA, Flávio Medeiros. Dialética da cultura física: introdução à critica da educação física do esporte e da recreação. São Paulo: Ícone, 1988.

SABINO, C. Anabolizantes: drogas de Apolo. In: GOLDENBERG, M. (Org.). Nu & vestido: dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2002. p.139-188.

SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saúde. Physis, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007.

SEGRE, Marco; FERRAZ, Flávio Carvalho, O conceito de saúde. Ver. Saúde Pública, 31 (5): 538-42, 1997.

SELLTIZ, Claire et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1972.

SÉRGIO, A., PEREIRA. A. A. G. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [sd].

SILVA, Ana Márcia. Corpo, ciência e mercado: reflexões acerca da gestação de um novo arquétipo da felicidade. Autores Associados, 2001.



[1] Acadêmico de educação física – bacharel 6º período.

[2] Qualidade de vida pode ser considerado um conceito particular de cada indivíduo ou grupo, apesar de haver consenso de que ela é formada por múltiplos fatores, que podem ser associados a variáveis como estado de saúde, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações familiares, disposição, prazer e até mesmo a espiritualidade (NAHAS, 2001).

[3] Construção de corpos com massa muscular hipertrofiada e definida (FURTADO, 2009).