Acordei no meio da noite, pois não conseguia dormir. Meu corpo doía todo. Levante-me devagar apoiando no espelho da cama que me deu a mão firme como um amigo invisível. Deixei o lenço escorrer por entre minhas pernas, o pano era tão macio e delicado que acariciou minha pele. Lá fora a lua brilhava forte com sua luz mágica. Raios penetraram em meu quarto escuro iluminando alguns pontos. Um morcego, perdido na noite, batia insistentemente na vidraça tentando entrar. Um visitante inóspito que chega ao anoitecer.

Com grande esforço caminho até a janela. Abro-a, o morcego que insistia em entrar não está mais lá. O único que penetro Fo o vento frio da noite acariciando meu rosto e com ele me veio à lembrança dos meus louros dias.

Lembro-me de quando a vi naquele parque banhando-se em uma luz amarelada que penetrava por entre as folhagens, as árvores estavam avermelhadas, longos mantos de folhas dançavam no ar ao sabor do vento. Uma brisa mansa jogava-lhe os cabelos de um lado para o outro. Aquele chapéu longo cheio de adornos protegia-lhe a face meiga de criança. Estava linda em um vestido longo em renda. Quando me aproximei devagar virou e me olhou com um olhar meigo e pueril. Foi amor à primeira vista.  Naquele dia caminhamos por horas pelo parque. Durante dias nos encontramos sempre há mesma hora.

Algum tempo depois vim a conhecer sua família que me recebera como quem recebe um filho. Após um ano nos casamos. Fomos morar em minha casa no Morro dos Ventos perto da praia, lá as manhãs nos recebiam a cada amanhecer com uma das mais belas paisagens que a mãe natureza criara.

Os anos foram passando velozes nas patas de um corcel negro em seu galope livre pelos prados da vida, e, com ele, montado em seu dorso foram os louros dias. Muito embora, tenham deixados, em pegadas cravadas nas areis da vida, muitas alegrias e tristeza o galopes foram maravilhosos; No entanto, a chagada da noite trouxe com ela a carruagem da despedida. Nela subiste e partiste para longe sozinha. Os anos que se seguiram foram cruéis. Nos passeios nas areias da praia tenho apenas como companhia as gaivotas que, em seus gritos melancólicos, te chama ao sabor do vento e as águas do mar que vem acalentar minha solidão.

Nesta janela, ao longe, vejo os primeiro raios da manhã que escorregam por entre o manto negro da noite. Meus olhos procuram a carruagem que subistes e mergulhasse no horizonte infinito para nunca mais retornar.

Luz da minha vida, todos os dias, quando a penumbra da noite abre seus braços aguardo ansiosamente a minha carruagem puxada por magníficos corcéis brancos.