Maria Magalhães Rodrigues*


RESUMO: O presente artigo tem como objetivo analisar o ensino de gramática das escolas públicas das cidades de Camocim e Santa Quitéria por meio de questionários aplicados a cinco professores do Ensino Fundamental II das referidas cidades. Como embasamento teórico nós utilizamos os seguintes autores FRANCHI (2006), PERINI (2005), TRAVAGLIA (2008) e ILARI (1997), para confrontarmos teoria e prática. Concluímos que muitos professores aplicam em suas aulas o ensino prescritivo deixando de lado o desenvolvimento da competência textual, afastando ainda mais a gramática do cotidiano do aluno. Uma vez que a língua é um processo de interação humana.

Palavras ? chave: Ensino de gramática-competência textual

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho abordará as metodologias de ensino de gramática segundo alguns teóricos, bem como, fará um levantamento de dados obtidos em questionários aplicados a professores do Ensino Fundamental II nas cidades de Camocim e Santa Quitéria.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

? Por que ensinar gramática na escola, se o aluno já possui uma gramática internalizada?

A língua padronizada é sistematizada pela gramática normativa, tem por finalidade estabelecer normas e regras no uso escrito ou oral do idioma. Do mesmo modo qualquer linguagem é um meio de comunicação e deve ser respeitada. Mas ainda para alguns gramáticos a língua de prestígio continua sendo a língua culta, uma vez que essa é a detentora de classe menor e privilegiada. Ao passo que as variantes ou dialetos, são vistos com preconceito demonstrando que pertence a classe inferior da sociedade.

Existem diferentes modalidades de uso da linguagem ou de uma língua natural do falante. Uma modalidade culta e bela; outra, as modalidades coloquiais, feias e vulgares porque em uso pelas camadas mais simples do povo (FRANCHI, 2006 p.13)

A gramática normativa, por ser o registro das normas da língua, é obrigatória nas escolas desde o momento em que a criança é alfabetizada.
Pode parecer estranho, mas a verdade é que se alguém é falante de uma língua, domina a respectiva gramática. Nós por exemplo, que falamos português, se não tivéssemos esse conhecimento, não seríamos capazes de emitir e entender enunciados.

? Por que então, a preocupação com o ensino de gramática, na escola?

É necessário esclarecer que a gramática permite a comunicação aos falantes de uma determinada língua faz parte de um conhecimento implícito. Esse saber faz com que qualquer usuário, mesmo uma criança que jamais tenha freqüentado a escola, reconheça como frase legítima da nossa língua portuguesa os exemplos 1, 2,3 e não frases como em 4,5.

1. Hoje o céu está nublado.
2. O céu está nublado hoje.
3. Nublado está o céu hoje.
4. Céu o nublado está hoje.
5. Hoje o esta céu nublado.

Ensinar gramática será assim ajudar o aluno a tornar consciente parte daquelas regras que ele domina intuitivamente. Será também orientá-lo para que descubra as especificações da escrita, uma Vaz que essa forma de linguagem difere em vários aspectos da forma já conhecida, a linguagem oral.

  • Discussão dos dados da pesquisa:

Aplicamos um questionário formado por cinco perguntas a cinco professores de língua portuguesa do ensino fundamental II, nas cidades de Camocim e Santa Quitéria. Para identificarmos como a gramática vem sendo abordada e principalmente saber quais os efeitos que ela trás na vida dos alunos. Quando perguntamos sobre “qual o objetivo do ensino de gramática?” apenas 20% acreditam que servirá somente para escrever melhor.

 

 

 

 

 

Gráfico 01

 

 

É comum ouvir da parte de professores queixas a respeito do desempenho dos alunos, em língua materna: “falam errados”, “não sabem ler”, e principalmente, “não sabem se expressar por escrito”.

 Voltando para o questionamento perguntamos aos professores você acredita que o ensino de gramática tem influência sobre a escrita e fala dos alunos? 40% dos professores acreditam que a gramática influencia a escrita dos alunos. Preocupados, tais professores dedicam suas aulas no ensino da gramática normativa.

 

Gráfico 02

 

 

Segundo estes profissionais, se os alunos memorizam os acontecimentos e algumas regras de concordância, regência, colocação e etc., irão automaticamente transferir esses conhecimentos para as redações, transformando-se em bons redatores.

Não existe um grão de evidência em favor disso. Vamos pensar um momento: se é preciso saber gramática para escrever bem, será de esperar que pessoas que escrevem bem saibam gramática, ou pelo menos, que as pessoas que sabem gramática escrevem bem. (PERINI, 2005p. 50)

 

Mas será que isso acontece? O que se constata é que na maioria dos casos, após anos de estudos gramaticais, a escrita dos alunos continua a mesma. Eles não conseguem estabelecer relação alguma entre gramática empregada às frases soltas, elaboradas “de encomenda”, e a realidade dos textos que lêem ou escrevem. Quando questionados sobre “que métodos você utiliza para repassar gramática?” 80% dos professores priorizam o livro didático como método.

 

Gráfico 03

 

 

 

  • O ensino tradicional da gramática peca por diversos motivos:

 

a)    Lida com fragmentos da língua, palavras, frases e ignora os textos;

b)    Tenta homogenizar a língua, ignorando toda e qualquer forma de variação;

c)    Demonstra incoerência, na medida em que impõe aos estudantes conceitos que resistem á análise mais elementar;

d)    Repete, em todas as séries, basicamente os mesmos conteúdos sem a preocupação de estabelecer uma seqüência coerente.

 

Esse ensino está, pois, muito longe de tornar possível ao aluno “tomar consciência do seu conhecimento implícito da língua e descobrir as peculiaridades da escrita”.

Os professores quando questionados sobre “suas expectativas são atendidas quanto a assimilação do conteúdo gramatical pelos alunos?” apenas 40% se dizem satisfeitos. Vejamos o gráfico 04:

 

 

Gráfico 04

 

 

 

  • Qual seria então, a melhor maneira de se ensinar gramática?

 

Para chegarmos a sugerir como deve ser abordada a gramática no ensino fundamental, devemos ter em mente que:

a) o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, deve ser visto como objetivo primordial do ensino da língua;

b) desenvolver a competência comunicativa;

E, finalmente, perguntamos aos professores o que eles modificariam no ensino de gramática. Cada professor deu sua sugestão: 20% acreditam que abordar gramática dentro dos textos é uma ótima opção. Enquanto 60% enfatizam que a forma como a gramática é repassada em meio a tantas regras e exceções, deveria ser modificada, porque distancia ainda mais os alunos dela. E 20% afirmam que modificariam a repetição dos conteúdos, uma vez que os alunos no ensino fundamental futuramente verão no ensino médio praticamente as mesmas coisas.

            Vejamos os resultados no gráfico cinco:

 

Gráfico 05

 

Como percebemos, o ensino de gramática ainda deixa muito a desejar na escrita e na fala. E também a forma como é repassado este saber, vimos que muitos professores utilizam apenas o livro didático, aplicam as regras mecanicamente afastando ainda mais os alunos da gramática. Com este questionário concluímos que:

A gramática deve ser abordada como subsídios a compreensão e a produção de textos. Aliás, alguns professores na prática, já realizam esse tipo de abordagem; apenas não se dão conta disso. Por estarem sistematizados aos conteúdos de acordo co a seqüência indicada nos livros. Assim o ensino produtivo é centrado no texto, partindo do princípio de que a interação na comunicação se dá não através da frase, ou palavra, mas através do texto. Desse modo, a ênfase, em sala de aula, é dada á produção e recepção de textos, como praticas discursiva. Travaglia (2008) explica que o ensino de gramática deve se fundamentar em dados da língua em funcionamento (pragmática comunicação e informação)

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O trabalho com a gramática nas escolas deve ser feito numa perspectiva de interação comunicativa para, assim, tornar o aluno consciente das regras que ele utiliza intuitivamente.

Verificamos através deste questionário que muitos professores se prendem ao ensino tradicional de gramática. Eles seguem o livro didático e a forma mecanizada de ensinar regras e exceções. Muito embora existam aqueles professores que abordam a gramática a partir de textos, filmes, revistas e outros meios.

Acreditamos que para uma melhor apreensão do conteúdo gramatical pelos alunos, os professores devem tornar suas aulas mais dinâmicas. Eles devem partir do princípio de que a gramática faz parte do cotidiano dos alunos, seja em um texto, panfleto, jornal, revista e etc.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo gramática? São Paulo: parábola, 2006.

 

ILARI, Rodolfo. A lingüística e o ensino da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

 

PERINI, Mário. Sofrendo a gramática. São Paulo: ática, 2005.

 

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2008.