Abordagem Etológica e suas interfaces na psicologia. Contribuições no estudo do desenvolvimento infantil e na psicologia social.

Amanda Graziela C. Lima1

1. INTRODUÇÃO

Qualquer ação ou manifestação observável das competências e características individuais, como falar, pensar, escrever, agredir, interagir, decidir ou não fazer nada, são exemplos de comportamento. O estudo comportamental das espécies começa com observações dos movimentos, postura e outros aspectos.A etologia sob influência da teoria darwiniana demonstra de maneira conclusiva que diferente da tradição antiga, as espécies não são eternas e imutáveis; elas evoluem. Darwin introduziu uma idéia de como este processo evolutivo aconteceu: por meio de um processo irracional mecânico que ele chamou de "seleção natural".A Etologia envolve estudos comportamentais, como instinto animal, aprendizado, linguagem, a procriação, dentre outros.

A abordagem etológica com suas contribuições para o estudo da psicologia social é o foco prinicipal desse trabalho. O estudo da teoria da evolução e o behaviorismo que estuda o comportamento baseando - se em experimentações de laboratório com animais, são necessários para compreender de que forma são ativados o comportamento humano.

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1Pós – graduanda em Metodologia e Didática do ensino superior, graduada em Letras Vernáculas e Ciências Contábeis.

  1. Charles Darwin e a Teoria da Evolução

Antes mesmo de mencionar a importância da Etologia para explicar o comportamento humano, Darwin (1859) estudou o comportamento através da perspectiva biológica. Suas idéias foram revolucionárias, para ele o "homem deixou de ser uma criação especial e passou a ser fruto de uma evolução". (apud FREIRE, 2006, p.74). Nesse mesmo contexto vem seu interesse pelo estudo do homem em relação a sua origem, seu desenvolvimento genético e filogenético (evolução das espécies), para ele o comportamento é produto e instrumento do processo de evolução através de seleção natural, ou seja, o comportamento tem função adaptativa e possui algum grau de determinação genética. Segundo Darwin (1850, apud Bowlby, 1982) cada espécie é dotada de seu próprio repertório peculiar de padrões de comportamento, da mesma forma que é dotada de suas próprias peculiaridades anatômicas.

  1. Behaviorismo

Behaviorismo ou psicologia do comportamento nasceu com Watson, nos Estados Unidos, o termo inglês behavior significa "comportamento", esse postulava o comportamento como objeto da Psicologia, um objeto observável, mensurável, cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos.

Watson defendia uma perspectiva funcionalista para Psicologia, sendo que, o comportamento deveria ser estudado como função de certas variáveis do meio.

"Certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos." (BOCK, 2003, p. 45).

A posição de Watson a respeito da relação entre a psicologia animal e o behaviorismo era clara: "O beraviorismo é o resultado direto dos estudos do comportamento animal realizados durante a primeira década do séc. XX" (Watson, 1929, apud Schultz, 2005, p. 229). Desse modo, pode – se afirmar que o principal antecessor do programa de Watson foi à psicologia animal, resultante da teoria evolucionista e que levou à tentativa de se demonstrar a existência da mente nos organismos inferiores e a continuidade entre a mente animal e a humana.

  1. Etologia

A disciplina dedicada ao estudo do comportamento animal recebe o nome de Etologia, termo que provêm do grego êthos (conduta, costumes, comportamento) e lógos (estudo, tratado).

A partir do desenvolvimento da Etologia, algumas novas disciplinas se estruturaram, como a Paleo-etologia humana, que tenta reconstruir o comportamento dos hominídeos fósseis. Outra delas é a Etoprimatologia (ou Etologia de Primatas), dedicada ao estudo do comportamento dos primatas não humanos atuais, os quais apresentam padrões de comportamento que poderiam ter pertencido aos nossos ancestrais.

Por volta das décadas de 30 e 40, um grupo de cientistas, que se auto denominavam etólogos, como Niki Tinbergen, Konrad Lorenz e Karl von Frisch, estudaram os padrões de comportamento específicos das espécies, fazendo preferencialmente no ambiente natural as suas observações.

A consagração e reconhecimento científico vieram para a Etologia na forma de um prêmio Nobel entregue em 1973 a Tinbergen, Lorenz e também ao alemão Karl von Frisch, que desvendou a linguagem das abelhas. (ETOLOGIA, arquivo net).

A partir desse pressuposto, os etólogos se deparam com quatro questões fundamentais em relação ao comportamento proposto por Tinbergen em 1963. Segundo ele em primeiro lugar deve – se observar e descrever o comportamento, posteriormente, uma análise completa do comportamento deve ser feita com base nas análises:

  1. Análise causal: é feita através do estabelecimento de uma relação entre um determinado comportamento com uma condição antecedente, sendo estudado os estímulos externos responsáveis pelo comportamento e os mecanismos motivacionais internos.
  1. Análise ontogenética: envolve uma relação do comportamento com o tempo, estando o interesse voltado para o processo de diferenciação e de integração dos padrões comportamentais no curso do desenvolvimento de um individuo jovem.
  1. Análise filogenética: estuda a história do comportamento no curso da evolução da espécie.
  1. Análise funcional: estabelece uma relação entre determinado comportamento e mudanças que ocorrem no ambiente circundante ou dentro do próprio indivíduo.

Esses questionamentos nortearam o trabalho dos etólogos. Além da contribuição teórica, a Etologia também propiciou grandes avanços no estudo do comportamento metodológico. A abordagem etológica pode fornecer o repertório de conceitos e dados necessários para explorar e integrar dados e Insights proporcionados por outras abordagens, como a psicanálise e a teoria da aprendizagem de Piaget. Enquanto umacontribuição teórico – conceitual a etologia utiliza modelos e conceitos teóricos para a interpretação de seus fenômenos.

4.1.Perspectiva Etológica

A perspectiva etologica concentra – se nas bases biológicas e evolucionistas do comportamento.

"Ela vai além do valor adaptativo imediato que um comportamento tem para o individuo a fim de examinar sua função na promoção da sobrevivência do grupo ou da espécie". (PAPALIA, 2006, p.78)

Os etologistas fazem pesquisas comparativas para identificar quais comportamentos são universais e quais são específicos a uma determinada espécie ou são modificados pela cultura, também identificam comportamentos que são adaptativos em diferentes períodos do tempo de vida.

Atualmente, a abordagem etológica tem sido aplicada principalmente a algumas questões de desenvolvimento especificas como apego, dominância e agressividade entre amigos e habilidades de resolução de problemas do dia – dia.

Na perspectiva etológica, padrões de brincadeira e de parceria social são características típicas de cada espécie, conferindo ao fenômeno regularidade e certa universalidade, embora em interação com as condições ambientais presentes.

Na visão de Lorenz explicar nosso comportamento por causas naturais não exclui ou afeta necessariamente a nossa "dignidade" ou nossa escala de valores, que os behavioristas consideram falsos, nem mostra tampouco que não somos livres. Ao contrário, para Lorenz o nosso crescente conhecimento de nós mesmos aumenta o nosso poder de autocontrole e assenta em bases sólidas nossa vontade. Quanto mais compreendermos as causas materiais de nossa agressão, mais aptos estaremos para tomar medidas racionais para controlá-la. "O autoconhecimento é o primeiro passo para a salvação". (COBRA, 2003).

Na hierarquia informacional, um instinto é diferente de um reflexo, que é uma simples resposta dada instantaneamente pelo organismo a algum estímulo, sem o envolvimento de um centro cerebral (como o reflexo patelar). Os instintos tornam – se mais complexos á medida que o sistema nervoso de uma espécie se aprimora.

4.2.Repercussões da Etologia na psicologia

Em psicologia existem diversas formas e maneiras de explicar o comportamento humano. Por isso, o psicólogo geralmente trabalha com fatores causais próximos e históricos quando procura explicar as razões que levam uma pessoa ou um animal a se comportar do modo que o faz.

A Teoria da Evolução, utilizada pela etologia como pressuposto teórico, pode ampliar a compreensão das causas do comportamento. A importância das explicações pode ser útil no estudo do comportamento no sentido de escolher variáveis independentes para o desenvolvimento de modelos e teorias envolvendo a análise comparativa entre espécies; compreender os fatores do ambiente que podem modular o comportamento; determinar quais as variáveis serão consideradas como causa e quais serão consideradas como efeitos e descobrir explicações com grande poder de generalização. (CRAWFORD, 1989).

A etologia tem contribuído para a recuperação da noção de homem como um ser biopsicossocial, abandonando a concepção insular do homem que dominou as ciências humanas na primeira metade do século XX, que destaca o homem da natureza e coloca – o em posição de oposição a esta. A concepção etológica do ser humano é a de um ser biologicamente cultural e social, cuja psicologia se volta para a vida sociocultural para qual a evolução criou preparações bio – psicológicas especificas.

Os processos superiores de cognição humanas são os fundamentos da sociedade e da cultura.

4.2.1.Desenvolvimento infantil

Os etologistas acreditam que para cada espécie, uma variedade de comportamentos inatos, específicos foram desenvolvidos para aumentar suas chances de sobrevivência. Em comparação com outros animais, os seres humanos levam muito tempo para crescer. Pode - se citar como exemplo, os chimpanzés que levam cerca de oito anos para atingir a maturidade reprodutiva, os macacos Rhesus, cerca de 4 anos e lêmures, apenas cerca de 2 anos.

O desenvolvimento do cérebro humano, a respeito de seu rápido crescimento pré – natal, é muito menos completo no nascimento do que o dos cérebros de outros primatas; se o cérebro do feto alcançasse plenamente o tamanho humano antes do nascimento, sua cabeça seria muito grande para passar pelo canal de parto.

Os seres humanos, em contraste, só amadurecem fisicamente depois do inicio da adolescência e, normalmente atingem a maturidade cognitiva e psicossocial ainda mais tarde. "O desenvolvimento mais lento do cérebro humano lhe proporciona maior flexibilidade, uma vez que nem todas as conexões estão permanentemente definidas em idade precoce" (PAPALIA, 2006, p. 79).

O desenvolvimento abrange processos fisiológicos, psicológicos e ambientais contínuos e ordenados, ou seja, segue determinados padrões gerais. Tanto o crescimento como o desenvolvimento produzem mudanças nos componentes físico, mental, emocional e social no indivíduo, independentemente de sua vontade. As mudanças ocorrem segundo uma ordem invariante. (DISTINÇÕES, arquivo net).

Segundo Vieira, a Etologia trouxe significativas explicações para a Psicologia a respeito da interação mãe filhote e do desenvolvimento infantil. Alguns pesquisadores como Robert Hinde e Nicholas Blurton Jones, John Bowlby tiveram importante papel na divulgação de idéias de que o desenvolvimento humano, principalmente nos primeiros anos de vida pode, e deve ser explorado também a partir da perspectiva evolucionária. Muito embora estudos da década de 50 e 60 tenham mostrado que o contato físico entre pais/bebê é fundamental para o bom desenvolvimento físico e psicológico, somente na última década se intensificaram mudanças nas rotinas de hospitais e no modo de compreender a relação pais/bebê.

Na Etologia se valoriza especialmente os comportamentos típicos da espécie. O interesse não está apenas nas semelhanças entre o ser humano e os outros animais, ou entre os animais, mas também nas diferenças. Por exemplo, enquanto em ratos a estimulação hormonal durante a gravidez é fundamental para o rápido início do comportamento materno, em seres humanos o controle ambiental e cultural, além da experiência é decisivo, existindo algumas semelhanças (Stern, 1997). Nas duas espécies o contato físico é necessário para o firme estabelecimento da interação pais/bebê. Por outro lado, estímulos auditivos provenientes do recém-nascido são importantes pistas sensoriais que ativam e orientam os pais em direção ao filhote ou ao bebê, além de ser um fator importante no reconhecimento individual. O choro do bebê para o pai ou a mãe teria a mesma função das vocalizações ultrasônicas no rato.

Algumas Crianças com síndrome de Down apresentam severo grau de retardo mental precisando constantemente da ajuda de um adulto. Já as crianças autistas apresentam um baixo envolvimento emocional e físico em relação a familiares e outras pessoas. Dessa forma conclui-se que aos cuidadores dessas crianças são exigidas muito mais paciência, persistência, flexibilidade e responsabilidade quando comparadas com os cuidadores de crianças normais.

5. CONCLUSÃO

De acordo com as pesquisas abordadas nesse trabalho, verificou – se a importância da etologia para o estudo do comportamento animal, onde é associado os padrões de comportamento à psicologia social. Como foi citado no decorrer desse estudo, os etologistas pesquisam padrões comportamentais específicos das espécies, fazendo - o preferencialmente no ambiente natural, acreditando que alguns detalhes importantes do comportamento só podem ser observados durante o contato estreito e continuado com espécies particulares que se encontram livres no seu habitat.

A genética e o meio ambiente têm papéis fundamentais na formação do comportamento durante todo o processo evolutivo. Os processos genéticos fornecem influência para o desenvolvimento de comportamentos sócio - cultural e ambiental influenciando nesses comportamentos. Dessa forma, o sujeito passa por diferentes tipos de interação social no contexto ambiental, trazendo consigo toda uma carga genética e uma forte influencia que o ambiente exerce sobre ele e que ele exerce sobre o ambiente.

Através dos estudos feitos conclui – se que a genética, o ambiente e as influências sociais são de suma importância para a evolução das espécies. Esses estudos do comportamento animal, desenvolvidos pelos etológos, axiliam também no trabalho dos psicológos para a compreensão do comportamento humano.

REFERÊNCIAS

BOCK, Ana Mercês Bahia, et al. Psicologias uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª ed.rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006.

DISTINÇÕES: Crescimento e Desenvolvimento Maturação e Aprendizagem. Disponível em: <http://www.geocities.com/lourdes_mimura/desenvolvimento/distincoes.html> Acesso em: 10 de out. de 2007.

ETOLOGIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Etologia#Contribui.C3.A7.C3.B5es_metodol.C3.B3gicas_da_Etologia_para_a_Psicologia> Acesso em: 10 de ut. De 2007.

FREIRE, Izabel Ribeiro. Raízes da Psicologia. 9ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

LORDELO, Eulina da Rocha; CARVALHO, Ana Maria Almeida. Padrões de parceria social e brincadeiras em ambientes de creches. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS〈=p&nextAction=lnk&exprSearch=434772&indexSearch=ID> Acesso em: 10 de out. De 2007.

PAPALIA, Diane E., et al. Desenvolvimento Humano. 8ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Ellen. História da Psicologia Moderna. 8ª ed. São Paulo: Thompson, 2006.

Stern, J.M. Offspring-induced nurturance: animal-human parallels. Developmental Psychobiology, 1997, p. 31: 19-37.

VIEIRA, Mauro L. Contribuições para a compreensão do comportamento humano. Disponivel em: <http://pet.vet.br/puc/contri.pdf> Acesso em: 24 de out. De 2007.

ANEXOS

Figura 1

Fonte: http://www.bible-codes.org/images/atbash-charles-darwin-ape.jpg

Figura 02

Fonte: http://www.consciencia.net/2004/mes/02/rigoberto.jpg

Figura 03

Fonte: contanatura.weblog.com.pt/arquivo/2005/09/

Figura 04

Fonte: www.imagick.org.br/zbolemail/Bol05x04/BE04x6.html