ABORDAGEM DE ASPECTOS GEOGRÁFICOS, HISTÓRICOS, FOLCLÓRICOS E CULTURAIS DAS EX-REPÚBLICAS SOVIÉTICAS POR BANDAS DE HEAVY METAL

RESUMO: O presente artigo busca mostrar como grupos de Heavy Metal, normalmente abordando em suas letras temáticas variadas, eventualmente falam a respeito de aspectos históricos, geográficos e culturais de seus países de origem. Particularmente no caso de ex-repúblicas soviéticas, observa-se a mesma situação, de modo que particularidades destas nações são exploradas por grupos de Heavy Metal surgidos em seu território. Ademais, a exploração das letras de tais artistas pode servir como base para o conhecimento de sua língua, além de ser uma forma de explorar sua história e cultura.

Palavras-chave: Heavy Metal. Ex-Repúblicas Soviéticas. Letra de Música. Cultura. História.

1. OBJETIVOS
? Analisar de que maneira a história e cultura dos povos que compõem a população das ex-repúblicas soviéticas é abordada pelo heavy metal, tanto lírica quanto instrumentalmente;
? Analisar como o heavy metal pode constituir-se em uma forma de divulgar a história e cultura dos diferentes povos das ex-repúblicas soviéticas;
? Examinar como a música produzida por grupos de heavy metal das ex-repúblicas soviéticas pode servir como base para o aprendizado de sua história, língua e cultura;
? Descrever como acontece a introdução de instrumentos típicos dos povos colonizadores e/ou habitantes das ex-repúblicas soviéticas ao heavy metal.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
O Heavy Metal (nome comumente abreviado por seus fãs para Metal, apenas) é um estilo musical que surgiu como um derivado direto do Rock N´Roll (BOULEZ, 1972; LIMA, PEREIRA & CORDEIRO, 2010). Por vezes chamado de rock pesado, o Heavy Metal tem como trabalhos de vanguarda os lançamentos de bandas como Black Sabbath, Blue Cheer, Grand Funk Railroad e Led Zeppelin, entre outros, no final da década de 1960 e primeira metade de década seguinte (HEIN, 2004; JANOTTI JÚNIOR, 2004; SILVA, 2010). O diferencial do Heavy Metal foi a introdução de maior peso e velocidade que o Rock N´Roll. Posteriormente, bandas como Motorhead (MARTINS, 2010), Judas Priest e Iron Maiden surgiriam, sobretudo no Reino Unido e nos Estados Unidos, adicionando maior peso por meio de distorção de guitarras. Neste contexto, um importante grupo, o AC/DC, surgiria como a primeira grande banda de Heavy Metal australiana, enquanto nomes como Scorpions e Accept nasceriam na Alemanha (WEINSTEIN, 1991; JANOTTI JÚNIOR, 1994; LEÃO, 1997; SOLLITTO et al, 2011).
Gradativamente, o Heavy Metal diversificou-se e, ao contrário do que se observa em outros estilos musicais, deixou de ser algo linear, fragmentando-se em subgêneros, de acordo com o peso, velocidade e até temática abordada (PHILIPS & COGAN, 2009). Assim, em dado momento, no âmbito do Heavy Metal surge, por exemplo, o Doom Metal (marcado por músicas pesadas, mas lentas e, não raro, de longa duração), o Death Metal (músicas agressivas, cruas, aceleradas e marcadas por vocais guturais), o Black Metal (também marcado por vocais guturais, mas temática mais voltada a temas mórbidos e sonoridade eventualmente desacelerada), o Metal Progressivo (músicas longas e com muitos solos de guitarras), o Thrash Metal (rápido, mas com a adição de peso por meio de seus instrumentos e vocais), o Gothic Metal (abordando como tema assuntos ligados à Literatura, horror, fantasia e ao sobrenatural, sendo muitas vezes marcado por teclados de sonoridade mórbida e guitarras esparsas, ritmo desacelerado e quebrado. Violinos, quando introduzidos, tendem a transmitir um clima entristecido), o Metal Industrial (sonoridade pesada eventualmente atrelada a passagens eletrônicas; o resultado evoca sons de máquinas, daí o nome), o Stoner Metal (mistura de Heavy Metal, Doom Metal e Rock N´Roll), o Grindcore (fusão entre Punk Rock e Heavy Metal) e, por fim, o Folk Metal (complexa mistura de Heavy Metal e música folclórica de uma região específica). Existe ainda o White Metal, não sendo um estilo musical, mas lírico, pois é feito por bandas que dedicam-se a expor ideias sobre o Cristianismo e outras religiões por meio do Heavy Metal (ROBINSON, BUCK & CUTHBERT, 1991; HAESBAERT, 1999; PHILIPS & COGAN, 2009; SOLLITTO et al, 2011).
Além de diversificar-se em subestilos diversos, o Heavy Metal conseguiu gradativamente espalhar-se pelo mundo. Poucos são os países onde não tenha surgido ao menos um grupo a dedicar-se a este gênero musical (CHACON, 1985; LEÃO, 1997; FRIEDLANDER, 2004; CARDOSO FILHO, 2006). Bandas surgiram em nações tão diversas (BARCINSKY & GOMES, 1999; BRANDINI, 2004) quanto Paquistão (sendo seus principais nomes: Orion, Odissey, etc), Suíça (Krokus, Samael, 69 Chambers, Eluveitie, etc.), Brasil (Sepultura, Angra, Dr. Sin, Korzus, Krisiun, Torture Squad, etc.), Ilhas Faroe (Týr, etc.), Iraque (Acrassicauda, Janaza, etc.), Luxemburgo (Abstract Rapture, etc.), Finlândia (Nightwish, Amorphis, ...and Oceans, Poisonblack, Stratovarius, etc.), Arábia Saudita (Grieving Age, etc.), Grécia (Rotting Christ, Nightstalker, Airged L´amh, etc.), Japão (Loudness, Fatima Hill, etc), Líbano (Kimaera, etc.), Argentina (Rata Blanca, Narcoiris, etc.), entre inúmeros outros (METAL-ARCHIVES, 2011).
Mesmo nações um tanto impermeáveis à cultura ocidental, como China e União Soviética, viram surgir em seus territórios algumas bandas de Heavy Metal. Particularmente no caso da União Soviética, o Rock N´Roll e o Heavy Metal eram inicialmente banidos do país, excetuando-se alguns poucos grupos que conseguiam existir com excepcional aprovação do governo. Tais grupos eram proibidos de cantar em qualquer idioma que não fosse o russo e suas letras tinham de abordar temas que enaltecessem a cultura soviética e o comunismo. Neste contexto, os fãs de Heavy Metal soviéticos somente conseguiam trabalhos de bandas ocidentais no mercado negro, frequentemente muitos anos após o lançamento das obras. Surgiram também bandas clandestinas como o Aqvarium, que mantinha-se tocando em locais pequenos, às escondidas, muitas vezes tendo de subornar autoridades para se apresentar ou gravar seus trabalhos (AQVARIUM, 2011).
Em 1985 o regime soviético é marcado pelo surgimento da Glasnost, período caracterizado por uma maior abertura soviética nas relações internacionais e, internamente, por um afrouxamento na censura e nas restrições de certas liberdades (LANDEN, 2004; BEYERSDORF, 2008). Assim, algumas bandas de Heavy Metal soviéticas deixam de ser consideradas clandestinas e saem do anonimato. No mesmo período, pululam novos grupos por toda a União Soviética. Em 1986 forma-se, na Rússia, a banda Aria, que foi um dos primeiros grupos de Heavy Metal a surgir em solo soviético. No ano seguinte nasce, em Moscou, o grupo Jenskaya Bolezn', que provavelmente foi a primeira banda de Heavy Metal com formação exclusivamente feminina a surgir na União Soviética. A partir de então, gradativamente, outros nomes surgiriam no país, bandas como Santa Maria, End Zone e Butterfly Temple. Em 1989 surge a banda Lamia, que foi um dos primeiros grupos de Heavy Metal surgidos na república soviética do Cazaquistão (por vezes grafado como Kazaquistão) e a primeira banda com formação exclusivamente feminina a surgir nesta região. Em 1991 forma-se, na Letônia, a banda Grindmaster Dead, um dos primeiros grupos soviéticos a exibir seu nome em inglês. Este grupo seria rebatizado como Skyforger, tornando-se a mais famosa de todas as bandas da Letônia no período pós-soviético (METAL-ARCHIVES, 2011).
Nos vários países onde surgem grupos de Heavy Metal é comum que estes façam suas músicas em inglês, como forma de procurar alavancar algum sucesso no exterior (CHRISTIE, 2010). Mas a maioria dos grupos surgidos em solo soviético e, após 1991, nas ex-repúblicas soviéticas, sempre preferiu criar músicas em seus idiomas de origem, mesmo após a época da Glasnost. Esta prática mantém-se até os dias atuais (METAL-ARCHIVES, 2011).
Em cada país onde o Heavy Metal passa a ser produzido é também comum o surgimento de bandas utilizando a música pesada para falar a respeito da história, cultura, mitologia e folclore de seu povo. Também observa-se, comumente, a adição de instrumentos típicos de sua região aos usualmente utilizados no Heavy Metal. Este recurso, em particular, é mais utilizado pelas bandas de Folk Metal. Tais peculiaridades também são observadas no que concerne às bandas da Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas (METAL-ARCHIVES, 2011).

3. METODOLOGIA
Os objetivos deste estudo somente foram atingidos graças à pesquisa bibliográfica de extenso material referente ao tema. Os materiais e atividades incluem:
- pesquisa em diferentes endereços na internet a respeito de bandas de Heavy Metal existentes em ex-repúblicas soviéticas;
- consulta ao site Metal-Archives, que apresenta extensa lista de grupos de Heavy Metal enumeradas por país;

- consulta aos sites das bandas abordadas;
- audição de álbuns e músicas lançados pelos grupos de Heavy Metal abordados neste artigo;
- visualização de videoclipes produzidos por tais grupos.

4. A União Soviética
A União Soviética surgiu em 1922, como consequência da Revolução Russa em 1917. A revolução propriamente dita aconteceu em solo russo, pondo fim ao controle czarista e estabelecendo uma nova forma de governo, baseada no comunismo. Com o surgimento da União Soviética, alguns países vizinhos à Rússia foram incorporados ao território soviético (GRANVILLE, 2004; BLINIKOV, 2011).
Assim, a União Soviética foi basicamente um grande império que reuniu países de diversas regiões como as chamadas Repúblicas Bálticas, nações da Europa Oriental, do Cáucaso e da Ásia Central. No início da Segunda Guerra Mundial o país ainda conquistou o Istmo da Carélia, até então pertencente à Finlândia (DAVIES, 2009). Por reunir nações tão díspares e distantes entre si, a União Soviética foi um país composto por povos cujas histórias, origens, valores e crenças eram igualmente dessemelhantes. Assim, qualquer manifestação a respeito de tradições, cultura, história e folclore dentro da União Soviética, apresentar-se-ia com todas as disparidades encontradas nos diferentes povos que compunham aquela que era a maior nação da Terra (DOWLING, 2008).

5. O Heavy Metal nas Ex-Repúblicas Soviéticas
4.1. A Federação Russa
Os primeiros povos a habitar o território da atual Federação Russa foram os vikings, que estabeleceram-se na Europa Oriental, no século IX, e fundaram as cidades de Kiev e Nijni Novgorod. Palco da primeira revolução socialista da história, a Federação Russa é tradicionalmente chamada de Rússia, república hegemônica da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O desmembramento da União Soviética pôs fim à Guerra Fria e deixou a Rússia ainda como o maior país do mundo, única nação com dez fusos horários (LYDOLPH, 1977; DOWLINGS, 2008) e um território que espalha-se por dois continentes: Europa e Ásia. A parte europeia, delimitada pelos montes Urais, reúne quatro quintos da população e as principais cidades, incluindo a capital, Moscou (BLINIKOV, 2011). Em fevereiro de 2011 o site Metal-Archives listava, no país, 3.779 bandas de Heavy Metal. Para este estudo, destacam-se as seguintes:

- Anabioz: A banda Anabioz executa uma mistura de Folk Metal, Doom Metal e Death Metal, alternando vocal feminino operístico e masculino gutural. Além dos instrumentos usuais ao Heavy Metal, a banda faz uso também de violinos. Ao contrário da maioria das bandas russas, o Anabioz tem a maior parte de suas composições cantadas e batizadas em inglês. Contudo, as letras falam a respeito do contato humano com a natureza, o que remete a uma característica dos vikings, um dos povos colonizadores do território russo. Antigas crenças eslavas também se relacionam com a natureza, uma vez que aquele povo cria em seres sobrenaturais, que habitariam as florestas (BLINIKOV, 2011).

- Aria: o Aria é uma das mais importantes bandas de Heavy Metal russas (ZUPO JUNIOR, 2007), pois dos primeiros grupos do país, surgidos ainda na época da União Soviética, é o que conseguiu atingir maior sucesso, inclusive arregimentando fãs no exterior, apesar de todas as suas músicas serem cantadas no idioma russo e seus trabalhos serem escritos em alfabeto cirílico. O grupo executa um Power Metal com evidentes influências da clássica banda inglesa Iron Maiden. O Aria é, muitas vezes, descrito como sendo o "Iron Maiden russo". Apesar de suas músicas não abordarem diretamente a história russa antiga, muitas vezes citam as guerras das quais o país participou, com ênfase para a Segunda Guerra Mundial ? na Rússia, chamada de Grande Guerra Patriótica (JUKES, 1969; DAVIES, 2009).

- Arkona: Trata-se de uma banda de Folk Metal da cidade de Moscou, tendo como vocalista uma mulher que alterna vocais limpos e guturais e que, como os demais integrantes, apresenta-se em vestimentas típicas dos vikings, um dos povos que primeiro habitaram o atual território russo (BLINIKOV, 2011). Em algumas composições observa-se ainda a presença de vocais operísticos, algo muito apreciado na cultura russa. Há ainda a presença de instrumentos típicos como violinos, bandolins, balalaicas, acordeões, ocarinas, liras, gaitas de foles, berimbau de boca, viola de roda e flautas (METAL-ARCHIVES, 2011). O nome da banda refere-se à última cidade-estado da Rússia e suas composições abordam como tema o paganismo, antigas crenças eslavas e a mitologia nórdica. Tornar-se-ia a primeira banda russa de Heavy Metal a apresentar-se no Brasil, em maio de 2011, mas sua apresentação no país terminou cancelada juntamente com uma turnê latino-americana (ARKONA, 2011; CARDOSO, 2011).

- Butterfly Temple: Esta banda mistura Doom Metal e Pagan Metal (uma das vertentes do Folk Metal). Apesar de alguns de seus álbuns receberem nomes em inglês, todas as músicas são em russo, falando a respeito de paganismo, lendas eslavas e seus antigos deuses (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Fferyllt: Este grupo executa Folk Metal, alternando vocal feminino e masculino, algo típico a grande parte das bandas que se dedicam a tal estilo. Suas letras comumente falam a respeito de paganismo e druidismo, crenças típicas de povos antigos como os gauleses, bretões e vikings, mas também de shamanismo, crença típica dos nativos da Sibéria (BOBRICK, 1992; BLINIKOV, 2011). A banda também fala a respeito do Ásatrú, que é um movimento neopagão, de cunho religioso, cujo objetivo é a retomada das crenças espirituais dos vikings, seguindo os ensinamentos contidos nos Eddas, antigos escritos sagrados daquele povo (OBOLENSKY, 1994; SHUBIN, 2004; STRMISKA, 2004).

- Kalevala: Curiosamente, o nome desta banda tem pouca relação direta com a história da Rússia, mas com a de regiões circunvizinhas, na Escandinávia. O nome Kalevala refere-se à epopeia nacional da Finlândia, reunindo antigas canções populares do povo finlandês, sobretudo os habitantes da região da Carélia, área hoje pertencente à Federação Russa. Em 1810, a Finlândia havia sido incorporada ao Império Russo pelo czar Alexandre I. A Kalevala foi um importante meio de manter vivo o nacionalismo do povo finlandês, sentimento este que levou-o a livrar-se da dominação russa em 1917, ano da Revolução Russa. Em suas letras, a banda Kalevala presta alguma homenagem aos primeiros habitantes do território russo, falando a respeito de paganismo e mitologia nórdica (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Kipelov: O vocalista Valeriy Kipelov é um ex-integrante da banda Aria, uma das mais antigas da Rússia. Kipelov segue em carreira solo desde 2002, executando Power Metal. Embora suas músicas não abordem diretamente a história de seu país, todas elas são cantadas em russo, o que é uma forma de divulgar o idioma, uma vez que ele conseguiu grande quantidade de fãs em outros países (METAL-ARCHIVES, 2011).

- KYPCK: Grandes homenagens à história da Rússia vêm desta banda que, curiosamente, é formada por finlandeses, sendo três deles antigos integrantes do extinto grupo Sentenced. O KYPCK executa Doom Metal e suas músicas, todas em russo, falam sobre a história da União Soviética (METAL-ARCHIVES, 2011). As homenagens ao povo soviético não se limitam apenas às letras. Os integrantes apresentam-se vestidos com camisas verdes, sobre as quais fixam estrelas vermelhas, que eram típicos símbolos comunistas, e broches com a aparência de medalhas soviéticas (KYPCK, 2011a). Sami Lopakka, um dos integrantes, utiliza uma guitarra em forma de fuzil AK-47, que é uma das armas mais famosas fabricadas na Rússia (KAHANER, 2010). Uma das músicas do primeiro álbum do KYPCK chama-se Stalingrad e fala a respeito da grande Batalha de Stalingrado, travada em território soviético durante a Segunda Guerra Mundial (BEEVOR, 2002; DAVIES, 2009). O que torna ainda mais curiosa a proposta de uma banda finlandesa em homenagear a União Soviética é o fato de a Finlândia haver perdido o Istmo da Carélia para os soviéticos, em 1940, algo que fez surgir ressentimentos em meio aos finlandeses. Contudo, o vocalista do KYPCK, Erkki Seppänen, afirma no sítio oficial da banda que passou a apreciar a cultura russa após trabalhar como funcionário da embaixada finlandesa em Moscou (KYPCK, 2011b). Este sítio apresenta links que levam a outros endereços virtuais como a Wikipédia inglesa ou o site de vídeos Youtube, onde são apresentados curiosidades e comentários enaltecendo a Rússia, citando os grandes caminhões de fabricação russa, submarinos classe Tufão, ecranoplanos, a Tsar Bomba (maior bomba atômica construída), a Mina Mirny (maior mina a céu aberto), a cidade-fantasma de Prypiat, a nave espacial Vostok 1, o veículo Zil Screw Drive, que desloca-se com tração-parafuso sobre o gelo, o time de hóquei Big Red Machine e personagens como Stalin, Rasputin e Ivan, o Terrível (KYPCK, 2011c; KYPCK, 2011d). O nome KYPCK em alfabeto cirílico pode ser transliterado para o alfabeto latino como Kursk, que pode referir-se à cidade onde foi travada a maior batalha de tanques da história, na Segunda Guerra Mundial (TUCKER, 2008; DAVIES, 2009), ou ao submarino de mesmo nome, que afundou no Mar de Barents, em 2001 (TRUSCOTT, 2003).

- Nenasty: Também grafado como NeNasty, neNasty ou Ne-Nasty. Trata-se de um duo formado pela cantora Nastya Turenkova e o guitarrista Valery "Senmuth". Executam uma mistura de Gothic Metal, Dark Metal e Metal Industrial com vocal feminino, resultando em um trabalho grandemente influenciado por bandas como Theatre of Tragedy, Nightwish, Delain, Lacuna Coil, After Forever e Within Temptation. Embora suas letras não abordem diretamente a história de seu país, as mesmas são todas em russo, de modo que demonstram a valorização de seu idioma nativo (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Oprich: A banda Oprich, formada em 1998, executa Folk Metal, sendo todas as suas músicas cantadas em russo. Há alternância de vocais operísticos femininos e masculino barítono. As letras da banda falam a respeito do folclore russo, do paganismo e, sobretudo, de nacionalismo (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Santa Maria: Esta banda moscovita mistura Power Metal e Metal Progressivo, com a presença de psicodelismo, além de corais como back vocal. Trata-se de uma das mais antigas bandas russas em atividade e suas músicas falam a respeito das grandes navegações e pirataria, de modo que pouco têm a ver com a história da Rússia. Contudo, são todas cantadas em russo, o que serve como um meio de divulgar, mesmo que debilmente, o idioma de seu país (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Stakhanovites: Algo singular a respeito deste trio da cidade de Tomsk, na Sibéria, que executa uma mistura de Death Metal, Power Metal e até música cossaca, é o tema de suas composições, todas cantadas em russo. As mesmas falam a respeito de carvão betuminoso, mineiros e minas. Seus integrantes apresentam-se vestidos de mineiros, sujos de carvão e com lanternas fixadas nos capacetes (METAL-ARCHIVES, 2011; STAKHANOVITES, 2011). A abordagem de tema tão incomum tem sua razão de ser, pois a produção carvoeira é um dos orgulhos da Rússia, ganhando feições quase folclóricas no país, que é um dos maiores produtores mundiais de carvão. A região da Sibéria, de onde vem a banda, é a maior produtora de carvão na Rússia (OFER, 1996; BLINIKOV, 2011) e algumas de suas minas chegaram a ser usadas como locais de castigo para prisioneiros dos Gulags no século XX (APPLEBAUM, 2003; KHEVNIUK, 2003; DAVIES, 2009). A banda Stakhanovites tem, até o momento, um único álbum lançado, de nome Шахта слабаков не терпит (As Minas Não Toleram os Fracos). O próprio nome da banda tem íntima relação com a iconografia e a história soviética. Um stakhanovite é, etimologicamente, um seguidor do mineiro Aleksey G. Stakhanov, que empregava métodos tayloristas em seu trabalho, em tentativa de atingir grande produtividade. Seu método iniciou-se durante o Plano Quinquenal de 1935 e consta que em 31 de agosto daquele ano, em apenas um turno de 6 horas de trabalho, ele teria conseguido sozinho retirar 102 toneladas de carvão, o que representava 14 vezes sua cota diária. No dia seguinte o jornal comunista Pravda noticiou o feito como sendo um recorde mundial e o Partido Comunista criou o Stakhanovismo, um movimento para incentivar outros mineiros a aumentar sua produtividade (SIEGELBAUM, 2004). Contudo, o recorde de Stakhanov seria quebrado pouco depois por um de seus seguidores, Nikita Izotov, que em 1º de fevereiro de 1936, conseguiu extrair 607 toneladas de carvão em um único turno. Outra curiosidade sobre a banda Stakhanovites é o fato de seu baterista ser também o principal vocalista (METAL-ARCHIVES, 2011). Em 2011 a banda produziu um videoclipe, no qual seu guitarrista aparece vestido com uma camiseta da banda brasileira Sepultura.

- Svarga: Esta banda de Folk Metal de Zhukovsky, região de Moscou, tem todas as suas músicas em russo, músicas estas que são marcadas pela presença de acordeão junto aos instrumentos típicos do Heavy Metal. As composições do Svarga falam a respeito de mitologia nórdica, com ênfase para as crenças viking (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Tenochtitlan: A banda Tenochtitlan dedica-se a executar uma mistura de Doom Metal e Ethno Metal (uma das formas de manifestação do Folk Metal sendo, porém, mais específico ao falar de um povo). Curiosamente, o Tenochtitlan não fala a respeito da Rússia, mas das civilizações pré-colombianas existentes no México (astecas, maias, etc.). Suas músicas, inclusive, são marcadas pela presença de flautas andinas, típicas da América. O próprio nome da banda refere-se ao antigo nome da atual Cidade do México, uma das mais grandiosas metrópoles do período em todo o mundo. Apesar de as músicas da banda receberem nomes em nahuatl, o antigo idioma falado apenas em algumas regiões do México, particularmente pelos astecas, as mesmas são cantadas em russo, o que não deixa de ser uma forma de valorizar o próprio idioma (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Troll Gnet El: Trata-se de uma banda de Folk Metal. Suas músicas são todas em russo e abordam temáticas como paganismo, anões e outros personagens mitológicos medievais, como os trolls, que são criaturas antropomórficas do folclore escandinavo, podendo ser gigantes (ogros) ou de pequena estatura (goblins), sendo que seus integrantes optaram por utilizar o bom humor para falar de tais assuntos (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Vo Skorbyah: O grupo Vo Skorbyah executa uma mistura de Funeral Doom Metal e Folk Metal, sendo suas músicas marcadas pela presença de instrumentos como flautas e gaitas de foles. A música do Vo Skorbyah tem como tema o sofrimento (o nome da banda, em russo, significa "Em Dores"), mas também antigas crenças do povo russo (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Woodscream: Banda formada em 2006, em São Petersburgo, executa Folk Metal com vocal feminino não operístico. Existe, em suas composições, presença de instrumentos folclóricos como gaitas de foles, violinos e flautas. As músicas, todas em russo, falam a respeito da cultura e história da Rússia (METAL-ARCHVES, 2011).

4.2. As Repúblicas Bálticas
As chamadas Repúblicas Bálticas compreendem as três nações da Europa Oriental que localizam-se às margens do Mar Báltico: Estônia, Letônia e Lituânia (BLINIKOV, 2011). Tais países foram incorporados à União Soviética pouco antes de o território soviético ser atacado por tropas germânicas na Segunda Guerra Mundial, ou seja, em meados de 1941. A incorporação deu-se contra a vontade da maioria absoluta da população destes países. O governo stalinista reagiu deportando para campos de trabalho forçado na Sibéria ou Ásia Central grande parte dos intelectuais, professores, profissionais de saúde e autoridades da Estônia, Letônia e Lituânia, de modo a desencorajar movimentos separatistas em tais nações. A maioria jamais retornaria a seu país natal. O descontentamento dos povos bálticos manteve-se século XX adentro e nos últimos dias da União Soviética foi justamente a Lituânia a primeira república a declarar sua independência (HANSEN & HEURLEN, 1998; O´CONNOR, 2003).

4.2.1. Estônia Menor e mais ocidentalizada das Repúblicas Bálticas. A população estoniana divide com a Finlândia a mesma origem etnolinguística. Durante o regime soviético o país era um importante centro industrial. Algumas das principais bandas de Heavy Metal da Estônia são:

- Bestia: Quinteto que executa Black Metal e tem como tema de suas letras a história das primeiras tribos vikings que colonizaram a região báltica (BESTIA, 2011).

- Kalm: Banda de Black Metal cujas letras falam a respeito de paganismo e crenças vikings (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Loits: Banda de Black Metal que fala sobre orgulho dos antepassados, patriotismo e Segunda Guerra Mundial (METAL-ARCHIVES, 2011). As piores batalhas desta guerra deram-se em solo soviético, de modo que o conflito acabou por exercer forte influência na cultura dos povos de algumas ex-repúblicas soviéticas (DAVIES, 2009).

- Metsatöll: Esta é a mais conhecida banda surgida na Estônia. Trata-se de um grupo de Folk Metal que emprega em suas músicas instrumentos como flautas, além de outros, típicos de sua região, sendo alguns pouco conhecidos em outros locais, como o torupill (um tipo de gaita de foles). As composições do Metsatöll normalmente falam sobre natureza, guerras e mitologia nórdica (METAL-ARCHIVES, 2011; METSÄTOLL, 2011).

- Must Missa: Banda que mistura Black Metal e Thrash Metal. Inicialmente, suas músicas abordavam como tema a história das conquistas e batalhas viking. Posteriormente, porém, passaram a falar a respeito de assuntos diversos.

- Urt: A banda Urt, formada em 2004, na cidade de Põlva, executa Black Metal. Embora não tenham a presença de instrumentos típicos ou folclóricos, as músicas do Urt abordam como tema o paganismo e mitos da Põhjala (METAL-ARCHIVES, 2011), uma região fictícia descrita na mitologia dos povos bálticos e escandinavos (LEETE, 2004).

4.2.2. Letônia
Entre os principais grupos de Heavy Metal da Letônia, destacam-se:

- Agares: Banda de Black Metal que fala sobre o heroísmo de soldados soviéticos na Segunda Guerra Mundial (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Balagury: Trata-se de uma banda de Folk Metal que inclui em suas músicas instrumentos folclóricos como violino e acordeão. Como é típico de bandas que dedicam-se a este gênero de Heavy Metal, há ainda nas composições alternância entre vocal feminino e masculino. As letras de suas músicas normalmente falam sobre o orgulho de ser eslavo (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Frailty: A banda Frailty, formada em 2003, em Riga, capital letã, executa uma mistura de Doom Metal e Death Metal. Embora todas as suas músicas sejam em inglês, eventualmente abordam como temática a mitologia nórdica, o que é uma forma de homenagear antigas crenças do povo letão. A banda também aborda como tema a vida espiritual da humanidade e a morte. Em 2009, durante uma entrevista, Mārtiņ? Lazdāns, vocalista do Frailty, afirmou que a morte é tema recorrente em suas músicas, pois o povo letão viveu anos de sofrimento sob regime comunista e, particularmente, durante a Segunda Guerra Mundial, com seu país invadido pela Alemanha nazista, sendo que praticamente cada família da região perdeu ao menos um ente querido por morte ou deportação. Segundo ele, tristeza e morte seriam então comumente abordados por manifestações artísticas diversas na Letônia (SPOKI, 2011).

- Heresiarh: Extinta banda de Black Metal que falava sobre Literatura (com ênfase para os trabalhos de J. R. Tolkien), mas também folclore letão e dragões. Embora dragões sejam seres mitológicos ausentes das lendas letãs em si, eles estão inseridos no folclore da Europa Medieval (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Skyforger: Esta banda de Folk Metal é a mais conhecida da Letônia. Seus integrantes apresentam-se com vestimenta típica e suas letras falam a respeito de batalhas históricas, mas prestam uma grande homenagem a seu país, uma vez que também abordam a mitologia e a história da Letônia. Embora a maioria das composições do Skyforger seja em inglês, algumas delas o são em letão (METAL-ARCHIVES, 2011), o idioma pátrio e oficial da Letônia, falado pela maioria da população (HOLST, 2008). Utilizam gaita de fole em algumas músicas. Um dos álbuns do Skyforger, de nome Latvieðu Strçlnieki (Fuzileiros Letões), foi lançado em 1999, em comemoração ao octagésimo aniversário da Guerra de Libertação da Letônia, em 1919, na qual os fuzileiros do país tiveram grande participação (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.2.3. Lituânia:
Entre as principais bandas de Heavy Metal da Lituânia figuram as seguintes:

- Atalyja: Trata-se de uma banda de Folk, com poucos elementos de Heavy Metal, na verdade. Suas músicas são marcadas por vocais masculinos e femininos e instrumentos típicos, como violinos, gaitas de fole, bansuri, viola, kankles, viola de roda e berrantes feitos de chifres de caprinos. Suas músicas são todas em lituano e normalmente falam a respeito do folclore dos povos bálticos (ATALYJA, 2011).

- Akys: Extinto grupo letão de Doom Rock, Dark Ambient e Neofolk, cujas letras, todas em lituano, falavam sobre paganismo, natureza e inverno (METAL-ARCHIVES, 2011). A abordagem desta última temática em particular evidencia como os rigorosos invernos, comuns nos países bálticos, atuam no sentido de exercer influência sobre a cultura dos povos da região (LYDOLPH, 1977).

- Ha Lela: Extinta banda de Folk Metal e Black Metal que falava sobre folclore lituano e paganismo. Em suas músicas introduziam instrumentos como gaitas de foles, tamborins e alguns pouco conhecidos em outras regiões, como o dambrelis, lumzdelis (uma flauta típica) e kankles, um instrumento de corda típico de sua região, semelhante à cítara (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.3. Europa Oriental
As nações da Europa Oriental que chegaram a fazer parte da União Soviética foram: Belarus (muitas vezes chamada de Bielorrússia ou Rússia Branca, devido às extensões de areia branca em seu território), Ucrânia e Moldávia (ÅSLUND & MCFAUL, 2006). Em 1986, um quarto de Belarus foi contaminado pelo acidente nuclear de Chernobyl, na vizinha Ucrânia (MOULD, 2000). Sua capital, Minsk, é um modelo de arquitetura soviética, com ruas largas e grandes edifícios (GARNETT & LEGVOLD, 1999). A Ucrânia, por sua vez, o segundo maior país da Europa (atrás apenas da Federação Russa), era parte do território russo, tendo declarado sua independência durante a Revolução Russa de 1917. Contudo, o país veio a ser incorporado à União Soviética, no início da década de 1920. Pouco depois, a Ucrânia foi vítima do Holodomor, um período de fome que ocorreu em consequência da coletivização forçada pela política comunista e deixou pelo menos sete milhões de ucranianos mortos (MAGOCSI, 1996). Tal como a Ucrânia, a Moldávia desmembrou-se do território russo em 1918, mas veio a ser incorporada à União Soviética em 1940. Até 1964, mais de 300.000 moldávios seriam deportados para outras regiões da União Soviética, o que provocaria descontentamento de sua população com o regime comunista (DRYER, 1996).

4.3.1. Belarus
Dentre as mais importantes bandas de Heavy Metal de Belarus encontram-se:

- Litvintroll: Banda que destaca-se por misturar Folk Metal e elementos de Rock N´Roll. Suas músicas são quase todas cantadas em russo e bielo-russo, os idiomas oficiais de seu país, com umas poucas em inglês. Falam normalmente sobre tradicionais músicos errantes típicos do período medieval (menestréis), e trolls, seres da mitologia nórdica (LITVINTROLL, 2011; METAL-ARCHIVES, 2011).

- Lutoverie: Banda de Folk Metal cujas músicas, todas em bielorrusso, falam a respeito de paganismo, natureza e história dos povos eslavos. As músicas do grupo são marcadas pela presença de violino, instrumento comum em algumas bandas de Folk Metal (METAL-ARCHIVES, 2011).

- Vicious Crusade: O Vicious Crusade mistura Thrash Metal e Folk Metal, havendo ainda influências marcantes de Gothic Metal. As composições da banda, marcadas pela alternância entre vocal feminino e masculino e também pelo som de violino, são em inglês e frequentemente abordam como tema o contato entre o homem e a natureza, algo que remete às antigas tribos eslavas que primeiro habitaram Belarus (METAL-ARCHIVES, 2011; VICIOUS CRUSADE, 2011).

- Znich: A banda Znich executa Folk Metal, inclusive com a adição de instrumentos típicos do estilo, como violino, viola de roda e flautas. Suas letras falam a respeito de paganismo e Krivichs (METAL-ARCHIVES, 2011). O paganismo em si é uma das tipicidades das crenças dos vikings, um dos povos que primeiro colonizaram Belarus. O Krivichs, por sua vez, foi uma das uniões tribais de eslavos do leste, entre os séculos VI e XII, incluindo regiões dos rios Volga e Dnieper (DIMNIK, 1994).

4.3.2. Moldávia
O site Metal-Archives lista apenas 24 bandas na Moldávia (em fevereiro de 2011). Os principais grupos de Heavy Metal do país são o Dakon e o Neuromist, ambos de Death Metal. Contudo, suas letras não falam a respeito da história, cultura, folclore ou tradições da Moldávia, abordando ao invés disso temas variados. A única banda da Moldávia que tratava sobre a cultura de seu povo de modo mais significativo era a que segue:

- Severegore: Extinta banda de Black Metal cujas letras eram em inglês e em romeno, o idioma oficial da Moldávia. As letras da banda falavam a respeito da Dácia, uma antiga região existente nas imediações dos Montes Cárpatos, junto ao Mar Negro (BRUCHIS, 1996; METAL-ARCHIVES, 2011).

4.3.3. Ucrânia Em fevereiro de 2011 o site Metal-Archives listava 446 grupos de Heavy Metal na Ucrânia. As principais bandas ucranianas a falar a respeito de assuntos ligados à cultura de seu país são:

- Holy Blood: Banda de Folk Metal, Death Metal e Black Metal. Em suas músicas nota-se a presença de instrumentos típicos, como flautas, bouzoukis (um instrumento de corda, semelhante a um bandolim) e gaitas de foles. Suas letras, impregnadas de mensagens cristãs, falam sobre batalhas espirituais, o Paraíso e o Cristianismo Ortodoxo (HOLY BLOOD, 2011; METAL-ARCHIVES, 2011). Na Ucrânia, o Cristianismo representa a crença de 81,1% da população, sendo que o ortodoxo é seguido por 52,9%. Tal vertente do Cristianismo era típica na União Soviética, em períodos em que religiões eram permitidas (ABRIL, 2007a).

- Nebulae31: Banda que mistura Metal Sinfônico, Metal Progressivo e Death Metal. Suas músicas são marcadas pela presença de um instrumento típico da Ucrânia, a bandura, uma espécie de bandolim. As letras do Nebulae31 são todas em inglês, mas falando a respeito da sociedade ucraniana moderna. Inclusive, trata-se de uma banda que difere de seus congêneres por deixar de abordar temas ligados à história antiga, em detrimento de fatos hodiernos (METAL-ARCHIVES, 2011). O grupo disponibilizou seu álbum The Epitaph para download em seu site oficial (NEBULAE31, 2011).

- F.R.A.M.: Banda de Folk Metal cujas músicas, todas no idioma ucraniano, falam sobre a história dos povos eslavos, escandinavos e bizantinos que primeiro habitaram o território da Ucrânia. Uma das composições, contudo, fala a respeito do Holodomor (METAL-ARCHIVES, 2011), a grande fome que assolou o país no século XX, deixando um saldo de pelo menos sete milhões de mortos (MAGOCSI, 1996; ABRIL, 2007a). As músicas da banda F.R.A.M. são caracterizadas pela utilização de violinos, flautas e gaitas de foles.

- Sferslav?: Banda de Folk Metal que faz uso de instrumentos típicos como gaita de fole, violão, flauta e bouzouki. Suas músicas, todas cantadas em ucraniano, alternando vocal feminino e masculino, têm como principal temática a história e tradições dos povos eslavos (RENAUD, 2011).

- Viter: Grupo de Folk Metal da cidade de L´viv, cujos integrantes apresentam-se com vestimentas típicas. Suas músicas, todas em ucraniano, são marcadas por vocal masculino barítono, além de instrumentos característicos (como flautas, berimbau de boca e dambrelis) junto àqueles que são comuns ao Heavy Metal (METAL-ARCHIVES, 2011; VITER, 2011).

4.4. O Cáucaso
A região do Cáucaso reúne países da Europa Oriental e Ásia Ocidental, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio. A área inclui então nações como Irã, Turquia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão, sendo que apenas estes três últimos chegaram a fazer parte da União Soviética. Embora os três países tenham deixado de fazer parte da União Soviética em 1991, uma consequência em particular se manteve: a região de Nagorno-Karabakh, embora tenha população de maioria armênia, foi transferida ao Azerbaijão pelo regime stalinista, que desejava justamente reunir diferentes grupos étnicos, com o intuito de enfraquecê-los, desencorajando-os a organizar movimentos separatistas. Com o fim da União Soviética, o Azerbaijão negou-se a devolver o antigo enclave à Armênia, o que gerou uma guerra entre os dois países, que ainda vivem em permanente estado de tensão (SUNY, 1998; HERZIG, 1999; MASIH & KRIKORIAN, 1999).

4.4.1. Armênia: Apesar de ser formada por população de maioria cristã e conseguir grande aproximação com nações ocidentais após sua independência, a Armênia, menor das antigas repúblicas soviéticas (MILLER & MILLER, 2003; KING, 2008), possui reduzida quantidade de bandas de Heavy Metal. No início de 2011 o site Metal-Archives listava apenas oito grupos no país, sendo que a maioria já não se encontra em atividade. Ademais, nenhum deles fala de modo significativo da história ou cultura de seu povo, embora duas destas bandas (Ambehr e Ayas) dediquem-se ao Folk Metal. Além disso, algumas das mais antigas bandas de Heavy Metal a surgir em território soviético nasceram na Armênia, uma vez que o grupo Asparez foi formado em 1982, o Ayas em 1987 e o MDP em 1990. Curiosamente, a mais famosa banda de Heavy Metal formada por armênios não reside na Armênia. Trata-se do grupo System of a Down, cujos integrantes fundaram a banda nos Estados Unidos. Assim, o único grupo da Armênia que parece ter alguma importância para este artigo é o que segue:

- Oaksenham: Esta banda mistura Folk Metal e Metal Progressivo. Nota-se a presença de instrumentos típicos de sua região, como alguns tipos de flautas, sendo o grupo de alguma importância apenas por esta razão, pois suas músicas são instrumentais, sem a parte vocal, e todas batizadas em inglês (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.4.2. Azerbaijão Trata-se de um país com maioria da população devota do islamismo, economia fragilizada e em conflito com a Armênia pela posse da região de Nagorno-Karabakh desde época anterior ao colapso da União Soviética (HUTTENBACH, 1996). Em menos de um século o país muda três vezes de alfabeto. Inicialmente, utilizavam o árabe. Em 1929 os soviéticos passam a realfabetizar a população azeri com alfabetos latinos, em tentativa de diminuir a força do islamismo. Em 1939 ocorre a troca para o alfabeto cirílico. Com o fim da União Soviética, o país volta a fazer uso do alfabeto latino, como tentativa de aproximar-se da União Europeia. Em 2001 o governo azeri decreta lei impondo dois meses para que todos os documentos, jornais e placas no país passassem a ser escritos em alfabeto latino, o que gerou protestos e boicotes por parte da população, instituições e imprensa (PLUNKETT & MASTERS, 2004; KING, 2008). Em fevereiro de 2011, o site Metal-Archives listava apenas duas bandas de Heavy Metal no Azerbaijão, sendo elas o Fatal Nation e o 3,14..., ambas de Heavy Metal extremo (respectivamente Death Metal e Doom Metal). Há ainda uma terceira banda, de nome Midnight, de Metal Progressivo, que não aparecia na listagem do site. Contudo, nenhum destes grupos aborda como tema de suas letras assuntos que tenham importância para este texto. Dos grupos citados, o Midnight possui músicas cantadas em inglês e em seu idioma pátrio, o azeri. Por sua vez, o 3,14... cria composições batizadas e cantadas apenas em azeri, escrevendo os encartes de seus álbuns em alfabeto cirílico, em desacordo com a lei vigente, que obrigaria escrevê-los em alfabeto latino (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.4.3. Geórgia A Geórgia foi uma das mais prósperas repúblicas soviéticas, possuindo um grande parque industrial. Após 1921, quando o país foi incorporado ao território soviético, ideais nacionalistas começaram a surgir em meio aos georgianos. Embora Josef Stalin fosse ele próprio georgiano, a perseguição sistemática aos nacionalistas durante seu governo termina na morte de mais de 400.000 cidadãos da Geórgia. Este nacionalismo e ideias de independência voltam a aflorar com as reformas do presidente soviético Mikhail Gorbatchov, na década de 1980 (GACHECHILADZE, 1995; GOLTZ, 2006; KING, 2008). A exemplo de outras ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso, a Geórgia tem poucas bandas de Heavy Metal listadas no site Metal-Archives (apenas oito). Contudo, as seguintes bandas apresentam alguma importância no que diz respeito à abordagem de temas ligados à história e cultura de seu país, bem como o citado nacionalismo, sendo elas as que seguem:

- Bohema: Banda de Death Metal com letras falando a respeito de filosofia, misticismo oriental e mitologia dos sumérios (METAL-ARCHIVES, 2011), uma das mais antigas civilizações da humanidade (BORG, 2004).

- Diaokhi: Banda de Black Metal com músicas abordando como tema as religiões pagãs, soberania georgiana e a dinastia bragatuna (METAL-ARCHIVES, 2011), fundadora de um império que estendia-se do Azerbaijão à Turquia, levando a Geórgia a seu apogeu, mas que teve fim em 1386, com as invasões mongois (ABRIL, 2007b).

- Ruins Of Faith: Banda de Black Metal cuja temática das letras gira em torno do paganismo e das primeiras tribos que habitaram o atual território da Geórgia (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.5. Repúblicas Soviéticas na Ásia Central
Na Ásia Central a União Soviética incorporou as seguintes nações: Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Quirguistão e Tadjiquistão. Destes países, todos com população de maioria islâmica, o Cazaquistão é o mais desenvolvido, possuindo grandes reservas petrolíferas. Além disso, cede parte de seu desértico território para a manutenção do Cosmódromo de Baikonur, de onde o programa espacial russo lança a maior parte de suas naves espaciais, tripuladas ou não (HARVEY, 2007; RODRIGUES & SILVA, 2010). Após o fim da União Soviética a maior parte das ex-repúblicas soviéticas na Ásia tornou-se países liderados por governos corruptos, particularmente tornando o Tadjiquistão e o Quirguistão dependentes de empréstimos internacionais (EDWARDS, 2002). Algo em comum entre estas nações são as vastidões desérticas, atravessadas por grandes cadeias montanhosas cujas neves, ao derreter, provê com água a maioria dos rios da região. Fisicamente, a maior parte da população identifica-se com os chineses, não muito distantes, particularmente pelos olhos amendoados. O budismo, que era comum na região, acabou praticamente suplantado pelo islamismo que, contudo, é mais moderado nas ex-repúblicas soviéticas que nos países vizinhos, como Afeganistão e Paquistão (EDWARDS, 2002; GROUSSET, 2002).

4.5.1. Cazaquistão Formado por regiões de estepes, desertos e montanhas, estando entre os dez maiores países, mas apresentando uma das menores densidades demográficas do mundo. A população concentra-se ao norte e ao sul. O país apresenta economia em ascensão, mas alto índice de pobreza (BLINNIKOV, 2011). O programa espacial russo continua a utilizar o território cazaque para o lançamento de seus foguetes a partir da base de Baikonur e para a recuperação de naves no retorno à Terra (HARVEY, 2007; RODRIGUES, 2009; RODRIGUES & SILVA, 2010). Em fevereiro de 2011, o site Metal-Archives listava apenas 21 bandas de Heavy Metal em todo o Cazaquistão. Dentre estas, as mais importantes para este estudo seriam:

- Ulytau: Esta banda mistura Folk Metal, Heavy Metal Sinfônico e Hard Rock. Contudo, suas composições são desprovidas da parte vocal, sendo músicas unicamente instrumentais. O grande diferencial deste grupo é a mistura de vários estilos musicais, resultando em algo sem igual entre bandas ocidentais. A música do Ulytau é marcada pela sonoridade de instrumentos vindos de estilos diversos. Da música sinfônica seus membros utilizam o violino. Do Heavy Metal propriamente dito, a guitarra. Da música folclórica típica de seu país de origem, utilizam a dombra, um instrumento de ponteio provido de apenas duas cordas e pouco conhecido no Ocidente. Justamente a dombra e o fato de as músicas do Ulytau, embora sem vocal, ser batizadas em seu idioma natal são uma forma de prestar uma homenagem ao povo cazaque. No idioma cazaque, a palavra Ulytau significa "Grande Montanha" (ULYTAU, 2011).

- Holy Dragons: Juntamente com o Ulytau, é uma das bandas mais conhecidas do Cazaquistão. O grupo executa um Power Metal com letras em cazaque e grande influência sonora e lírica de bandas como a russa Aria, a sueca Dream Evil, alemã Blind Guardian e a britânica Iron Maiden. Embora não aborde diretamente a história do Cazaquistão, o Holy Dragons fala normalmente sobre temas ligados a ela, particularmente no álbum Volki Odina (Lobos de Odin), lançado em 2005. Ademais, trata-se da mais seminal e conhecida banda a cantar em idioma cazaque (HOLY DRAGONS, 2011).

4.5.2. Quirguistão Trata-se de um país marcado por graves problemas econômicos e corrupção. Mais da metade da população reside em áreas rurais (MARAT, 2006). Em fevereiro de 2011, apenas quatro bandas de Heavy Metal quirguizes estavam listadas no site Metal-Archives. As mais importantes delas, para a finalidade deste estudo são:

- Darkestrah: Banda de Black Metal épico com influências de Folk Metal. Suas letras, em inglês, abordam como tema o paganismo, algo que vai de encontro à crença das primeiras tribos a habitar a região do atual território quirguiz. Em algumas composições a banda faz uso de um tipo de harpa chamada temir komuz, um instrumento típico da música tradicional turca.

- Nogay Türklery: Trata-se de uma banda de Folk que, na verdade, possui poucos elementos de Heavy Metal. Sua musicalidade é marcada pela presença da dombra, o típico instrumento da região. As músicas são todas cantadas em quirguiz, uma língua túrquica e um dos idiomas oficiais do Quirguistão. As letras das músicas normalmente falam sobre patriotismo, história do Quirguistão e a respeito da Epopeia do Manas, uma longa narrativa que faz parte do folclore quirguiz, sendo entoada em praticamente todas as festas realizadas no país. Trata-se da mais longa narrativa da literatura mundial, com nada menos que meio milhão de versos. Com cerca de mil anos de idade, a obra fala a respeito de Manas, um herói do folclore quirguiz, além de ser um hino à liberdade, ao valor pessoal e à unidade das tribos quirguizes (EDWARDS, 2002; KANGAS, 2004a).
Durante o regime comunista a Epopeia do Manas foi banida, com exceção de alguns trechos, reescritos de modo a se adequar ao ideal soviético. Apenas nas regiões montanhosas mais inacessíveis do país alguns pastores e aldeões mantiveram-se fieis às suas raízes, cantando o Manas e ensinando os versos aos filhos, para que a obra nunca caísse no esquecimento (EDWARDS, 2002; KANGAS, 2004). A banda Nogay Türklery adapta trechos da Epopeia em suas canções, que são verdadeiras homenagens ao povo quirguiz. O nome do grupo faz ainda referência ao povo nogai, uma etnia de origem turca, que habita regiões do sudoeste da Rússia (GOLDEN, 1992; KOVALEV, 2004).

4.5.3. Tadjiquistão Após o fim da União Soviética, o Tadjiquistão emergiu como um dos mais pobres países de sua região, mergulhando em uma longa guerra civil e existindo sob um governo corrupto (EDWARDS, 2002). Trata-se de um país de maioria islâmica, religião seguida por 83,8% da população (ABRIL, 2007c). Apenas três bandas de Heavy Metal eram listadas pelo site Metal-Archives em fevereiro de 2011, sendo que nenhuma delas abordava de forma significativa as tradições e cultura do Tadjiquistão. Uma delas, o Anubis, prega em suas músicas mensagens anti-islamismo (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.5.4. Turcomenistão Tal como o Tadjiquistão, trata-se de um país cuja maioria da população (88,2%) dedica-se ao islamismo. Durante quinze anos sob o regime autocrático do presidente Saparmyrat Niyazov, o Turcomenistão torna-se uma das sociedades mais fechadas da Ásia Central. Niyazov promoveu um inusitado culto à própria personalidade, chegando a alterar os nomes dos meses do ano de modo a incluir referências à sua pessoa, tendo ainda o rosto estampado em todas as cédulas de dinheiro, garrafas de vodca e pacotes de chá. Em 2004 anunciou a construção de um castelo de gelo no deserto de Garagum, uma das áreas mais quentes do mundo. Em 2005 pagou para que uma missão espacial japonesa colocasse em órbita terrestre um recipiente contendo o primeiro capítulo do Ruhnama (Livro Espiritual), escrito por ele próprio, em 2001, e de leitura obrigatória a todos os turcomanos, obra esta tida como um guia moral com a interpretação da história do país. Com a justificativa de criar uma identidade cultural turcomana Niyazov baniu o teatro, o circo, o balé, o uso de barba e a execução de canções pré-gravadas em eventos públicos, casamentos e na TV. O ensino de russo e inglês foi proibido em qualquer instituição de ensino no país (ABRIL, 2007d; KANGAS, 2004b; BLINIKOV, 2011). Após a morte de Niyazov, em 2006, seu sucessor, Gurbanguly Berdymukhammedov, iniciou o relaxamento de restrições impostas pelo governante anterior, mas a medida apenas muito lentamente tem produzido efeitos (BLINIKOV, 2011). Assim, a pouquíssima quantidade de bandas de Heavy Metal no Turcomenistão pode ser vista como conseqüência dos anos de restrição e distanciamento da cultura ocidental. Em fevereiro de 2011 apenas duas bandas eram conhecidas no país, segundo o site Metal-Archives. Nenhuma delas, contudo, aborda como tema de suas músicas as tradições, história ou folclore do Turcomenistão (METAL-ARCHIVES, 2011).

4.5.5. Uzbequistão Apesar de ser um país de população majoritariamente muçulmana (CAMARGO, 2004), o Uzbequistão procura aproximar-se do Ocidente, abrindo seu espaço aéreo para a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e permitindo a presença de militares americanos em seu território. Contudo, a transição para a economia de mercado trouxe o aumento do desemprego e da pobreza (EDWARDS, 2002; KANGAS, 2004c; BLINIKOV, 2011). Apenas quatro bandas de Heavy Metal eram listadas no país pelo site Metal-Archives em fevereiro de 2011, sendo que uma delas, o Agony, de Thrash Metal, é uma das mais antigas dentre as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, uma vez que formou-se em 1991 e lançou seu primeiro trabalho no ano seguinte. Nenhum dos grupos de Heavy Metal existentes no Uzbequistão, contudo, abordam de forma marcante o tema sobre tradições, história e cultura do país. Uma quinta banda, que não aparece listada no Metal-Archives, chama-se Zindan e executa Death Metal melódico. Embora o nome da banda ? significando "prisão", em uzbeque ? seja em seu idioma nativo, o Zindan apresenta suas músicas em inglês, o que é indício de que seus integrantes têm interesse em conseguir sucesso no exterior.

CONCLUSÃO
O Heavy Metal, embora tenha nascido na Grã-Bretanha e Estados Unidos, é um estilo musical que, além de diversificar-se em subgêneros, conseguiu a façanha de espalhar-se pelo mundo, inclusive adentrando nações impermeáveis a alguns valores ocidentais. Dentre estas nações encontrava-se a União Soviética, que viu nascer suas primeiras bandas de Heavy Metal já na década de 1970. Com o fim da União Soviética, em 1991, algumas destas bandas mantiveram-se na ativa. Por outro lado, com o fim do estado soviético e, consequentemente, com o afrouxamento ou extinção de uma série de rigorosas leis, a quantidade de grupos de Heavy Metal surgidos nos países que outrora compunham aquela grande nação aumenta de modo incontestável. Curiosamente, algumas das ex-repúblicas soviéticas na Ásia mantiveram-se tão ou mais fechadas à cultura ocidental que a própria União Soviética, em parte devido ao fato de a maioria de sua população ser de religião islâmica. Assim, nestas nações em particular a quantidade de grupos que dedicam-se ao Heavy Metal ainda é pouco expressiva.
Como o Heavy Metal é um estilo que internacionalizou-se de forma comparável apenas à Música Clássica, grupos surgidos em qualquer país podem arregimentar fãs em outras variadas nações, eventualmente mesmo cantando em seu idioma pátrio, como é o caso das bandas alemãs Rammstein e Schandmaul. Este tipo de situação é verificado também entre os grupos surgidos nas ex-repúblicas soviéticas, sendo o Ária, o Arkona e Tenochtitlan os principais deles. Obviamente, bandas que executam suas músicas em inglês têm mais facilidade para conseguir apresentações e fãs em outros países, estando então o grupo ucraniano Holy Blood e os letões Skyforger e Frailty dentre os principais a manter tal característica.
Os temas abordados pelas letras de grupos de Heavy Metal tendem a girar em torno dos mais variados assuntos. Dentre os temas, algo que é recorrente no estilo, surgindo com frequência, são os diferentes aspectos histórico-geográficos dos países dos quais provêm as bandas. Com as bandas provenientes de ex-repúblicas soviéticas este tipo de situação é igualmente observado, inclusive trazendo incutida nas canções grande valorização de sua cultura, folclore e história. Tal valorização é tamanha que grande parte dos grupos de Heavy Metal surgidos nas ex-repúblicas soviéticas executa suas músicas exclusivamente em seu idioma pátrio (como Aria, Arkona e Stakhanovites). Há ainda algumas bandas que mesclam composições em seu idioma e em inglês (como o Skyforger e Anabioz), enquanto um número ainda mais reduzido segue a tendência de cantar apenas em inglês (como o grupo letão Frailty). A abordagem de aspectos histórico-culturais de sua país de origem é característica típica de bandas provenientes de nações onde observa-se um exacerbado nacionalismo.
Obviamente existe uma miríade de pessoas que apreciam e ouvem Heavy Metal. Da mesma forma que filmes e histórias em quadrinhos podem servir para melhor fixar ideias e conceitos a respeito de aspectos histórico-geográficos de determinado povo, nação ou época, músicas de algumas bandas de Heavy Metal configuram-se também como promissoras possibilidades, inclusive em caráter multidisciplinar, visto que tanto professores de línguas quanto de história ou geografia podem explorar as possibilidades de sua utilização.


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