ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA  –CARL ROGERS

 

Introdução

O Humanismo tem sua base na Filosofia, ciência “mãe” da Psicologia, é uma doutrina ou atitude que se situa expressamente numa perspectiva antropocêntrica, em domínios e níveis diversos, assumindo com maior ou menor radicalismo as conseqüências daí decorrentes, manifestando-se o Humanismo nos domínios da lógica e da ética. No aspecto lógico aplica-se às doutrinas que afirmam que a verdade ou a falsidade de um conhecimento se definem em função da sua fecundidade e eficácia relativamente à ação humana; no aspecto ético, aplica-se àquelas doutrinas que afirmam ser o homem o criador dos valores morais, que se definem à partir das exigências concretas, psicológicas, históricas, econômicas e sociais que condicionam a vida humana. Essa capacidade do homem é que o torna capaz de modificar seu auto-conceito, suas atitudes e seu comportamento auto dirigido e que para mobilizar esses recursos basta proporcionar um clima de atitudes psicológicas facilitadoras, passíveis de definição. Dessa forma ele tira o “poder” das mãos do terapeuta o coloca nas mãos do próprio cliente (Rogers, 1977).

 

 

 

 

 

 

1 PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS

 

 trabalho desenvolvido pelo psicólogo americano Carl Ransom Rogers

teve diferentes vertentes ao longo de sua vida, sendo que suas idéias e sua teoria foram se alterando em virtude de seu próprio amadurecimento profissional e pessoal. Pode-se dizer que uma característica que se manteve constante durante toda essa trajetória foi seu interesse pelo ser humano e pelo seu desenvolvimento, condições que o impeliram à pesquisa e à investigação científica e sistemática que pudessem vir a comprovar ou refutar suas hipóteses acerca do fenômeno humano, uma vez que sua visão de homem distanciava-se cada vez mais das teorias que conhecera no começo de sua carreira..

Uma característica marcante de Carl Rogers era sua abertura à observação dos fatos. Essa atitude científica presente desde seus tempos de criança refletiu-se no rigor de suas pesquisas. Na palestra proferida na Clínica Menninger (EUA) em 1946, Rogers afirma que a Abordagem Centrada no Cliente possibilitaria melhor compreensão do processo de psicoterapia.

           

Progressivamente a filosofia de base humanista, a que está subjacente o quadro conceitual da Abordagem Centrada na Pessoa, foi encontrando eco em pessoas de horizontes profissionais diversos, nomeadamente no domínio da Educação, acabando por se constituir um Movimento que é conhecido atualmente como Abordagem Centrada na Pessoa.

Rogers (1977, pg. 31), firmou-se em seis passos para fundamentar essa abordagem:

Em primeiro lugar, devido a experiências difíceis e frustrantes vividas por Rogers, na utilização das técnicas usuais na época, ele mudou sua forma de atendimento, passando a apenas ouvir de maneira compreensiva o cliente tentando transmitir-lhe esta compreensão, o que ele considerou ser uma força poderosa na mudança terapêutica da pessoa.

  • Em segundo lugar, ele percebeu que a atenção empática constituía uma das janelas menos nubladas de acesso ao funcionamento do psiquismo humano, em todo o seu complexo mistério.
  • Em terceiro lugar, a partir das observações faz-se inferências simples e formulação de hipóteses testáveis.
  • Em quarto lugar, testando tais hipóteses houve descobertas sobre as pessoas e as relações interpessoais, cujos dados e teorias levantados, mudavam à medida que surgiam novas descobertas, num processo dinâmico que continua até este exato e preciso momento.
  • Em quinto lugar, Roger descobriu que os aspectos básicos que propicia mudanças nas relações interpessoais de cada indivíduo, era inerente à própria pessoa. Através de dados obtidos em diversas experiências que realizou, ele chegou à conclusão de que esses aspectos eram de ampla aplicabilidade, podendo promover ou destruir mudanças auto dirigidas, quando liberados.
  • Em sexto lugar, as situações abrangem pessoas, mudanças em seu comportamento e efeitos de diferentes tipos de relações interpessoais estão presentes em quase todos os empreendimentos humanos, o que para Rogers significou que sua abordagem poderia ter uma aplicação universal. Para ele, essa abrangência da sua abordagem é que pode explicar a sua espantosa disseminação.

A partir dos seis passos acima, é possível verificar que, sendo o homem considerado como um todo, um ser biopsicossocial, tudo o que envolve sua vida, seus sentimentos, crenças e, sendo esse ativo, ele é produto e produtor da sua história,  sendo também considerado por este motivo, o momento cultural em que está inserido. Optar pela filosofia humanística, significa chegar às mudanças sociais a partir do desejo humano de mudança e da potencialidade para realizá-la, e não a partir do condicionamento, o que resulta numa filosofia política profundamente democrática, ao invés da administração a cargo de uma elite, e obviamente essa postura traz conseqüências, por ser “revolucionária”. (Millollan e Forisha, 1978)

A construção teórica de Rogers gira em torno da construção do “eu”, de suas relações, interações, capacidades, habilidades etc. Acreditando por constatação, que o homem é capaz de lidar consigo mesmo, com sua situação psicológica, com auto compreensão e auto direção inteligente, é que o psicoterapeuta que se utiliza dessa abordagem é um profissional “facilitador” para que o cliente tenha seus sentimentos reelaborados, levando-o a um crescimento contínuo.

Trinta e sete anos após Rogers ter falado isso pela primeira vez,  e provocado um alvoroço, ele faz uma avaliação do quanto fora ousado, pois isso era exatamente o oposto de tudo na época, mas que o tempo se encarregou de mostrar  como essa “política” foi tão melhor sustentada empiricamente ao longo dos anos. O tempo fortaleceu sua posição e seus pressupostos ganharam cada vez mais, maiores números de adeptos. Rogers descreve  seu pressuposto como: a hipótese gradualmente formada e testada de que o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar seu conceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido – e que esses recursos só podem emergir se lhe for fornecido um determinado clima de atitudes psicológicas facilitadoras” (Rogers, 1983).

 

2 TENDÊNCIA ATUALIZANTE

 

Para Rogers (1975) há no homem uma tendência natural para o crescimento, o que ele chamou de Tendência Atualizante, que o leva naturalmente ao desenvolvimento completo, e que está presente em todos os organismos vivos. Essa é a pedra fundamental na qual se apóia  a Abordagem Centrada na Pessoa. Essa Tendência pode ser impedida, mas não pode ser destruída sem que se destrua o organismo. Ele cita como exemplo, plantas que nas condições mais adversas, buscam uma fresta de luz, na direção da qual crescem mesmo que isso a deforme. Qual é o clima que pode favorecer um indivíduo que por diversos motivos viveu em ambientes que de certa forma lhe distorceram o comportamento? Há três elementos chaves para que isso possa acontecer:

 

 

 

3- CONCEITO DE NÃO DIRETIVIDADE

 

O método psicoterapêutico desenvolvido por Rogers ficou conhecido inicialmente por Terapia Não Diretiva, tendo posteriormente evoluído para Terapia Centrada no Cliente e mais tarde Abordagem Centrada na Pessoa. A definição de não diretividade passa, segundo Rogers, pelo acreditar que "o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar seu autoconceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido" (Rogers, 1989: 16). Em oposição a outros modelos de intervenção, Rogers propõe um que acredita na autonomia e nas capacidades de uma pessoa, no seu direito de escolher qual a direção a tomar no seu comportamento e sua responsabilidade pelo mesmo (Idem:28).

 

Relativamente ao segundo e terceiro pressupostos atrás enunciados, Rogers deu um relevo particular à forma como a pessoa entra em relação com outra. Assim, enumerou e definiu um conjunto de atitudes que considerou facilitadoras do processo de comunicação inter-humana. No caso específico da temática em referência, a qualidade de relação que se estabelece no contexto pedagógico, nomeadamente as atitudes do professor para com o aluno, determinam não só o nível qualidade da aprendizagem, como também o próprio desenvolvimento pessoal do aluno. Apesar de, na perspectiva de Rogers estas atitudes fazerem parte de um conjunto que deve estar integrado na pessoa do professor, iremos defini-las cada uma, como forma de melhor explicitarmos.

 

3.1 Congruência

Ou seja, autenticidade absoluta da parte do terapeuta para com o cliente. O terapeuta deve ser ele mesmo, sem “fachada” de profissional. O termo transparência dá um maior significado a esse conceito. O terapeuta deve expressar completamente seus sentimentos positivos, sejam de compaixão, compreensão, como também seus sentimentos negativos, como medo, e nunca suas opiniões ou julgamentos sobre o cliente. Quando o cliente percebe que o terapeuta se dá o direito de ser autêntico, ele pode descobrir essa mesma liberdade.

 

3.2 Aceitação Incondicional

O terapeuta deve mostrar uma atitude de aceitação que permita ao cliente vivenciar qualquer sentimento. Isso exige o não envolvimento do julgamento e da manipulação, ou do rotular o cliente. Quando isso flui de uma maneira natural a probabilidade de sucesso no processo terapêutico é maior. O terapeuta não pode encarar isso como uma obrigação,  deve fazer parte do seu processo de relacionamento com as pessoas, principalmente com o cliente.

 

3.3 Compreensão empática 

O terapeuta “entra” no campo fenomenal do cliente, sente seus sentimentos, e procura entender seus significados pessoais como estão sendo vivenciados pelo cliente. Ser empático não é uma técnica, é uma atitude desenvolvida ao longo da vida da pessoa, que leva o terapeuta a vivenciar o mundo interno do indivíduo para ajudá-lo a expressar o que está sentindo, não pensar “pelo” cliente e sim “com” o cliente.

À medida que o cliente sente que existe um momento, e uma pessoa, que acredita nele,  o aceita,  o escuta com atenção,  o aprecia, ele se torna mais capaz de abandonar suas fachadas e se mostrar mais claramente como  realmente é. Ao se ouvir, o cliente começa a se entender, muda suas percepções, e o poder que os outros tinham sobre ele começa a diminuir e ele passa a ter mais controle sobre si mesmo. Quanto mais aberta ao próprio crescimento, a pessoa se sente mais segura, menos defensiva, e mais propensa a crescer e mudar em direção ao seu desenvolvimento. Este tem que ser um processo natural na vida do cliente, sem que o terapeuta o direcione, o sugestione. O poder é do cliente e não do terapeuta, esse só deve criar o clima favorável para que esta capacidade interna do cliente se manifeste.(Rogers, 1961)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 CONCLUSÃO

 

 

Carl Rogers desenvolveu uma teoria com base humanista, que permite ao cliente ser o sujeito do seu próprio processo, buscando as soluções de seus conflitos, uma vez que só ele sabe o que sente e a intensidade do que sente.

 

            Cabe ao terapeuta, denominado por Rogers de “facilitador”, fornecer, subsidiar os meios necessários para que o cliente consiga encontrar suas próprias respostas.

 

A abordagem centrada na pessoa é muito utilizada nos dias atuais, por que sendo de base humanista e fenomenológica leva o sujeito a reflexão e a busca de suas respostas.

 

Pode-se afirmar que a psicoterapia da forma como fora concebida por Carl Rogers, passava de uma terapia centrada no cliente, para uma terapia Centrada na relação.   Para  tanto   uma   maior   expressividade, por   parte do

terapeuta, passava a fazer parte de seu comportamento. Segundo Cury (1987):

“A comunicação pelo terapeuta de aspectos de sua própria experiência, ao estar com o cliente, permite considerar esta teoria não mais como exclusivamente centrada no cliente, mas bi-centrada ou bi-polar, consistindo num esforço para explorar dois mundos fenomenais e fazê-los interagir em benefício do cliente. O cliente torna-se consciente do mundo fenomenal do terapeuta como o incluindo, e isto restitui-lhe o sentido de ser compreendido” (pp.39-40).

O novo comportamento que os terapeutas precisaram adotar, mais ativo e expressivo, era orientado pela vivência experiencial subjacente à relação terapêutica. Segundo Gendlin, (1967c) trata-se de uma forma de psicoterapia que desloca a ênfase do conteúdo verbal discutido para a vivência das pessoas envolvidas na relação terapêutica, pois mais importante do que o conteúdo da comunicação é o modo de emprego do que se verbaliza. “Se empregado numa ‘referência direta’ à vivência, praticamente qualquer vocabulário pode ser bem empregado” (p.138).

5  REFERÊNCIAS

 

CURY, V.E. Psicoterapia Centrada na Pessoa: Evolução das Formulações sobre a Relação Terapeuta-Cliente. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1987.

 

_________. Abordagem Centrada na Pessoa. Um estudo sobre as implicações dos trabalhos com grupos intensivos para a Terapia Centrada no Cliente. Tese de Doutorado. Universidade de Campinas. Campinas, 1993.

 

FORGHIERI, Y.C. (org) Fenomenologia e Psicologia. São Paulo: Cortez Editora,1984.

 

FRICK, W.B. Psicologia Humanista. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1975

 

MACEDO, S. Relação Terapêutica na Abordagem Centrada na Pessoa.

Dissertação de Mestrado. PUC – Campinas, Campinas, 1998.

 

MORATO, H.T.P. Eu supervisão: em cena uma ação buscando significado

sentido. Tese de doutorado. São Paulo: USP, 1989.

 

_____________. Experiências do serviço de aconselhamento psicológico do IPUSP: aprendizagem significativaem ação. Boletim de Psicologia. Sociedade de Psicologia de São Paulo. Vol. XLVII, n.106, 21-39, 1997.