Sinais dos tempos ou de quem manda no mundo dos negócios?

"A Microsoft se movendo para abrir os códigos do Windows!"

"A IBM abrindo seu desenvolvimento à colaboração inovadora!"

Afinal, o que essas inquestionáveis potências buscam com tais iniciativas tão paradoxais aos seus perfis históricos?

É evidente que qualquer empresa pode colher sucesso quando percebe a necessidade de certo valor ou demanda em seu mercado e a preenche com seus produtos ou serviços, garantindo níveis de qualidade diferenciada. Teoria atendida, resta-nos entender o porquê dessas iniciativas.

É evidente que a geração de valor exige alto custo. Normalmente podemos enxergá-la em duas vertentes: na primeira, o custo da inovação ou da melhoria no produto ou serviço – pesquisa, desenvolvimento, timing, funcionalidade, abordagem, convencimento e influência; na segunda, apesar de muito importante, no entantonormalmente desprezada pelas empresas, está a estratégia de análise e interpretação dos sinais do mercado, retroalimentando as áreas de produtos ou serviços, continuamente.

Uma inovação é tão duradoura quanto um cubo de gelo: estática e potencialmente energética, guarda todo o seu apelo ao lançamento, mas cede ao processo de "derretimento" a partir do momento em que se encontra disponível nas prateleiras, aguardando a próxima cópia ou cedendo à mudança volátil do comportamento de compra de seu ex-sedento consumidor.

As pequenas empresas sucumbem à ausência de Pesquisa e Desenvolvimento. As médias lançam-se em quedas e sofrem em busca de sobrevivência, por não "pensarem" ou "não darem o braço a torcer" à análise contínua de tendências do mercado – suas necessidades e expectativas.

As grandes empresas – bem, esses enormes e multibilionários seres que se arrastam, dada a lentidão do poder de ação e reação – sabem tudo, enxergam e antecipam macro-tendências, mas conseguem agir ativamente apenas até certo ponto.

Por quê? Porque isso tudo custa muito! Não pelos processos técnicos envolvidos, mas pela incapacidade de mobilização no tempo e nos cenários necessários.

Dessas empresas desenvolvem-se, crescem e lideram até o momento em que sucumbem à própria inércia estratégica e operacional. Custa muito a quem não tem; custa muito mais aos que limitam seus escopos, imaginando-se líderes incontestes e inalcançáveis. Até que surja a primeira pedra no sapato...

Ao tomarmos uma abordagem mais aprofundada na análise dos vários estágios de maturidade de um dado empreendimento – Business Lifecycle Management - e extrapolarmos essa abordagem às diversas iniciativas de negócios da empresa, assim como aos seus produtos ou serviços, veremos que a percepção do descompasso de atendimento da expectativa do cliente (mercado) ou da inadequação de um produto ou serviço é muito lenta. Ou seja, um negócio que busca a manutenção de sua posição de sucesso (note-se que aqui dizemos manutenção e não alcance!), caracterizado por um mercado que admite um ciclo evolutivo de produto ou serviço de médio-longo prazos, deve buscar a mobilização de desenvolvimento de inovações ou melhorias, assim como de recursos, com uma antecipação mínima de 12 meses. Desta forma, na data do lançamento de um novo produto ou serviço, a empresa já deverá estar totalmente mobilizada na análise e no desenvolvimento de suas futuras evoluções ou melhorias. Nas demais empresas, aquelas atuantes em segmentos que apresentam elevados avanços tecnológicos em curtíssimo espaço de tempo – o que gera alto índice de obsolescência, esse prazo de análise estratégica pode ser resumido a algumas poucas semanas.

Ao projetarmos essa visão em um gráfico de relação custo x tempo, teremos a clara percepção da necessidade do alto nível de investimentos contínuos e antecipados, a fim de que a eventual posição de liderança inovadora dessas empresas possa ser mantida. Desta forma, começa a ficar um pouco mais fácil compreender a surpresa e o porquê desses dois gigantes, Microsoft e IBM, abrirem-se à colaboração externa – o fazem para manterem-se no jogo!

Toda essa movimentação se dá ante a clara e gigantesca lentidão com que se podem mover. Em meio a um mercado célere e inovador, tal lentidão poderia congelá-los frente à concorrência de empresas ágeis e absolutamente focadas em suas disciplinas de negócios. Por outro lado, qualquer tentativa de aceleração mais brusca em suas estruturas envolveria investimentos adicionais, extremamente altos e impactantes aos seus custos operacionais e aos resultados esperados por seus acionistas.

Portanto, essa suposta atitude benevolente para com seus eventuais parceiros colaborativos na busca de inteligência, está muito mais para sobrevivência do que para o altruísmo empresarial, sem contar que, assim agindo, reconhecem a tremenda incapacidade de reação no timing dos seus negócios.

Sem, absolutamente, qualquer juízo de valor sobre os exemplos citados – amplamente noticiados pela mídia, vemos aí, de um lado, uma necessidade premente de mobilização dos pequenos e médios, a fim de que possam preencher as lacunas de desenvolvimento e inovação e, de outro lado, uma "nova" saída competitiva aos grandes, que assim assumem a inércia de suas organizações ante as expectativas de mercado.

Claro sinal dos tempos para os grandes, manifestado com entediante atraso. Basta lembrar os modelos cooperativos amplamente verificados há anos: as alianças colaborativas de desenvolvimento de sistemas e peças que a indústria automotiva sustenta com seus fornecedores, Wikipédia, Google, Linux, a própria Internet, e poraí vamos, em milhares de outros casos.

Temos aqui apenas dois relevantes pequenos exemplos dos sinais implacáveis do senhor dos negócios – o mercado, bem como a importância fundamental do entendimento das forças de expectativa e demanda dos segmentos compradores, antecipando perfis e características que deverão ser transformadas em melhorias e inovações dos produtos e serviços, de forma a garantir a oportunidade de andarem à frente de seus concorrentes.

Andar à frente não significa, necessariamente, apenas ostentar o título de líder, mas sim promover o fortalecimento ante a concorrência, mantendo ao largo as armadilhas de gestão e a ilusão de solidez, que começam a deteriorar as bases do negócio, aumentando exponencialmente as chances de quedas bruscas e, por vezes, irrecuperáveis.

Roberto A. Trinconi
CEO
EdgerSense Consulting
The Business Management Intelligence Company