A volta da inflação

Se observarmos o gráfico acima, e ainda os mais recentes na mídia mundial, veremos que as curvas de tendências de inflação na União Européia e nos Estados Unidos para 2008 são as mesmas, ou seja, de alta.

Aqui no Brasil a situação não é diferente. A projeção, a meta oficial era de 4,5% (quatro e meio por cento) para 2008, já temos um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) na faixa de 4,96% (quatro e noventa e seis por cento) e o BC (Banco Central) já revê as metas para 5,12% (cinco e doze por cento) em 2008. A questão já é enfrentada nos meios oficiais que sempre fazem o máximo para esconder, ou dissimular a inflação, até porque o fator psicológico pode influenciar esta tendência altista.

A situação é mais séria e grave do que parece. A FGV ( Fundação Getúlio Vargas) já sinaliza indicadores de preço na faixa de 10% em 2008. Se considerada somente a cesta básica, o aumento este ano já beira 32% (trinta e dois por cento), isso mesmo, a inflação dos alimentos é real, aqui e acolá.

O que está acontecendo? Para onde iremos? Vão voltar os famigerados indexadores?

Precisamos entender algumas causas e situações correntes no contexto mundial. O primeiro ponto diz respeito à prosperidade global que ocorre desde a década de 90 com inflação baixa que só corroborou esta abundância, criando crescimento, gerando emprego e renda e recolocando excluídos sociais em diversos países do mundo.

A liquidez mundial está em expansão desde 1990 e com isso, dentro da riqueza gerada, um aumento da demanda, principalmente nas commodities. Resultado: aumento de preços. Princípio básico da economia, mais compradores do que vendedores, preços tendem a subir.

Somando-se a explosão de consumo em países como China e Índia, com quase um terço da população mundial e crescimento econômico médio acima de 7% ao ano, encontramos as defesas criadas no mercado, os fundos de "hedges". Os fundos originalmente criados para proteger, deram enorme liquidez com a rotatividade dos negócios acima da produção física das "commodities". O mercado futuro retira dos produtores a prerrogativa da oferta nos moldes tradicionais. Os casos da soja e do petróleo são exemplos com a clareza da luz solar. O giro dos negócios futuros exerce uma força maior na pressão compradora.

Com este cenário, a inflação dá sinais de vida. Não poderia ser diferente.

Não devemos assistir a volta do fenômeno inflacionário da década de 70 e 80, salvo raras exceções de países completamente anacrônicos. A inflação será diferente, com mais ferramentas de gestão por parte dos bancos centrais e menos impactos talvez, mas da mesma forma do passado danosa a sociedade. O pior tributo que existe é a inflação no bolso dos mais pobres, principalmente.

O consenso é geral, a inflação ronda o mundo, principalmente na questão dos alimentos. O preço do petróleo é só mais lenha na fogueira e sem ironia, mais um verdadeiro combustível inflacionário.

Algumas coisas diferentes têm ocorrido, primeiramente, assistimos um fato inédito no mercado das commodities, a pressão no preço pelo aumento da demanda. Até aqui então, só assistimos a oferta aumentando e derrubando os preços, agora é o contrário. Isso significa oportunidade para muitos países como o Brasil. Nós temos área, temos tecnologia e vocação, podendo nossa produção dobrar em 10 anos e chegar a 300 milhões de toneladas de grãos em 2018. Palavras da Embrapa com toda legitimidade de sua história de sucesso.

Como a opulência mundial deve continuar, mesmo com a sinalização de um ponto de inflexão da curva de crescimento, a crise que vivemos pode ser oportunidade para muitos.

Acredito muito na força de mercado quando preços sinalizam por aumento da demanda, é a melhor forma de incentivo a produção. Da mesma forma, a oferta busca ajustes com a substituição de produtos e alternativas ao consumo. Outro dado relevante da questão oportunidade é a tecnológica. Preços altos aliados a revolução tecnológica incentivam a criação e aparecimento de inovações e alternativas.

Com o petróleo a na faixa de US$ 135,00 o barril, com poucas chances de recuar, muita coisa nova vai aparecer em termos de combustíveis, é questão de tempo.

Estamos assistindo a luta de diversos países contra o monstro da inflação que parece querer despertar. A luta deve ser feroz, as armas e os encaminhamentos serão outros, dos até aqui conhecidos, mas acredito no sucesso da empreitada.

A consciência e a tecnologia são nossas melhores armas, da mesma forma que elas nos auxiliam na luta pela preservação da humanidade na guerra ambiental, elas serão mecanismos de luta contra a inflação que se avizinha.

Dizem que a história se repete e alguns preconizam que viveremos algo parecido com a década de 70 em termos econômicos. Discordo integralmente.

Como nos anos 70, até vivenciamos atualmente uma crise do petróleo, a inflação desperta e nos assusta, mas o mundo é outro, as premissas atuais da economia global, velocidade, intangibilidade e conectividade são as mandatárias das ocorrências econômicas modernas. Os fenômenos socioeconômicos jamais serão iguais aos do passado, mas todo cuidado é pouco com as conseqüências nefastas dos problemas que já são velhos conhecidos da humanidade. A inflação é um deles.