Morar na cidade é um grande desafio para a juventude e tal desafio se constitui por uma série de situações que reforçam a idéia de que não deve pensar nas questões referentes à juventude descontextualizadas dos problemas das cidades. Isto é, as políticas públicas de/para/com juventudes devem estar integradas às demais políticas públicas. Violência urbana é a expressão que designa o fenômeno social de comportamento deliberadamente transgressor e agressivo ocorrido em função do convívio urbano. A violência urbana tem alguns fatores que a diferencia de outros tipos de violência e se desencadeia mais evidente é o alto índice de criminalidade e a mais constante é a infração dos códigos elementares de conduta civilizada.
Em países como o Brasil, de instituições frágeis, profundas desigualdades sociais e econômicas, há uma tradição cultural de violência, a realidade do cotidiano das grandes cidades é violenta. São freqüentes os comportamentos criminosos graves, como assassinatos, linchamentos, assaltos, tráfico de drogas, tiroteios entre quadrilhas rivais e corrupção, além do desrespeito sistemático às normas de conduta social estabelecidas pelos códigos legais ou pelo costume. A violência urbana é determinada por valores sociais, culturais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade. Apesar de todas as causas citadas acima, a mais importante delas é a má distribuição de renda que resulta na privação da educação e melhores condições de moradia. Cada vez mais, em todo o mundo, a educação escolar passa a ter papel essencial no desenvolvimento das pessoas e da sociedade no mundo do trabalho a serviço de um desenvolvimento sócio-cultural e ambiental. A educação tem sido indicada como um dos elementos essenciais para favorecer as transformações sociais e fazer recuar a pobreza, a exclusão, a submissão e, as opressões de todas as ordens. Nas periferias das cidades, sejam grandes, médias ou pequenas, nas quais a presença do Poder Público é fraca, o crime consegue instalar-se mais facilmente. São os chamados espaços segregados, áreas urbanas em que a infra-estrutura urbana de equipamentos e serviços (saneamento básico, coleta de lixo, sistema viário, energia elétrica e iluminação pública, transporte, lazer, equipamentos culturais, segurança pública e acesso à justiça) é precária ou insuficiente, e há baixa oferta de postos de trabalhos.
Em tempos de agravamento das contradições sociais, a humanidade esta a cada dia mais desumanizada e, esta desumanização, não é um fenômeno natural, mas sim histórico, decorrente de múltiplas determinações presentes na ordem capitalista. Além da miséria material, o capitalismo constrói a miséria humana, pois o homem alienado e fragmentado é impedido de perceber-se em totalidade, muito menos, como sujeito histórico e social.
É preciso compreender-mos que o crime organizado esta inserido nas relações capitalistas, desenvolve exploração da força de trabalho e na busca do lucro, tendo em vista que as drogas são mercadorias de grande circulação na sociedade contemporânea. Como centralidade da categoria trabalho para a análise da movimentação do crime organizado, por isso, cabe esclarecer que não se deve naturalizar as ações criminosas, mas sim buscar apontar que o fenômeno do envolvimento dos jovens com a criminalidade não pode continuar sendo entendido na perspectiva da criminalização da pobreza e na defesa ideológica do aumento dos instrumentos repressivos, ao inverso disso, é preciso que observemos as relações de trabalho presentes no crime organizado e como essas exploram a força de trabalho de uma parcela da juventude. Na sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, como é a sociedade capitalista atual, a violência não só se mostra nas formas diretas e organizadas de uma violência real ou possível, como também se manifesta de um modo indireto, e aparentemente espontâneo, como violência vinculada como caráter alienante e explorador das relações humanas. Tal é a violência da miséria, da fome, da prostituição, das drogas, que já não é a resposta a outra violência potencial ou em ato, mas sim da própria violência como modo de vida porque assim o exige a própria essência do regime social. Essa violência surda causa muito mais vítimas que a violência ruidosa dos organismos coercitivos do Estado.
Sendo assim, o conceito de violência não pode ser banalizado e entendido apenas como agressões físicas ou expressões da criminalidade, pois em uma sociedade dividida em classes, a violência se materializa em diversos âmbitos, inclusive por meio do próprio Estado e, muitas vezes, as açõesdesenvolvidas para as intervenções sob a violência urbana, são pautadas simplesmente em discursos culpabilizadores e investimentos em segurança.
É importante ainda lembramos que a sociedade contemporânea é ordenada pela política econômica neoliberal, que promove desmontes do social em prol do fortalecimento econômico capaz de aumentar o acumulo de capital, a conjuntura, os direitos sociais são cada vez mais suprimidos, fazendo com que um número maior de sujeitos viva em condições de vulnerabilidades extremas. Muitas vezes utiliza-se o equívoco de fragmentar o ideológico do econômico para camuflar a realidade concreta, tendo em vista que a lógica capitalista é extremamente cruel, pois é na abundância que a disparidade aumenta, ou seja, quanto mais há acumulo de riquezas para alguns (proprietários dos meios de produção), mais cresce a pobreza para outros (trabalhadores).
Contudo, os problemas e os desafios nas cidades é grande em todo o mundo, faltam políticas públicas que realmente possam solucionar a questão da violência urbana e melhorar as condições de vida de sua população, como mais ofertas de empregos, cursos de qualificação para os jovens, o resgate da cidadania, não é um fato de ficar só no papel, é uma necessidade.
(Gilson Marcos Pagés - Professor de Geografia).