A professora Aurora Nascimento foi uma ótima diretora da Escola Job Pimentel, em Mantenópolis. Dentre tantas coisas boas, a diretora sempre dava um jeito de conseguir com algum politico de plantão uma excursão para os alunos formandos. Ela sempre ganhava o ônibus e o local para a estadia. Eu, mesmo sendo um aluno mediano, após concluir o segundo grau fui contratado pela diretora para ser professor. Passei a ser o Prof. Creumir Guerra, responsável por ensinar aos alunos do curso de técnico em contabilidade o mais importante: a contabilidade. Atuei oito anos como professor e fui acusado por alguns colegas professores de estar fazendo “bico na educação”. Foi uma injustiça, pois amava exercer a profissão e gostava da sala de aula. O que me afastou da educação foi o plano de cargos e salários do governo estadual. Quando eu vi que o Estado pagava mais aos fiscais de renda, aos procuradores, aos promotores e etc. eu decidi fazer o curso de direito, que não dava direito à licenciatura como professor no ensino fundamental e médio. Era final de ano e a diretora conseguiu com um deputado estadual o ônibus e uma casa para os formandos visitarem o balneário de Conceição da Barra. Não estou lembrando o motivo, mas nesta excursão nem a diretora e nem os professores veteranos se interessaram em ir. Eu penso que todos já conheciam o lugar e perderam o interesse. Fui enviado como professor responsável por cuidar dos alunos. O problema é que eu era muito novo e não era diferente dos alunos. Tinha aluno até mais velho que o professor. Chegamos ao nosso destino e fomos para a casa alugada pelo nobre deputado. A dona da casa era uma senhora de idade e com cara de poucos amigos. A mulher me faz lembrar a “Bruxa do 71, do seriado Chaves. A senhora alugou a sua residência, no térreo, de porteira fechada, e se mudou provisoriamente para o apartamento construído em cima da casa. Creio que éramos em torno de quarenta pessoas, instalados em três quartos, sala, copa, cozinha e as varandas. É evidente que quando uma pessoa aluga um imóvel ele não quer ver o dono dentro do seu espaço. O senhorio abre mão de seus direitos sobre o imóvel em troca do aluguel. Aquela dona não quis saber desta história e toda hora ela estava dentro da casa para ver se os seus quadros estavam certinhos na parede; se não havia riscados nos móveis; se a torneira não estava pingando; etc. e tal. Afinal, a mulher era um saco. Os alunos não gostaram nada da invasão ao domicilio, ainda que ali fossem ficar somente por uma semana. Assim começou o contra-ataque. Os quadros foram trocados de lugar e colocados de “cabeça pra baixo”. Tapetes foram escondidos dentro de armários. Vasilhas e talheres migraram da cozinha para o guarda roupa. Edredons e roupas de cama se mudaram para os armários da cozinha. A dona da casa entrava e ficava doida. Será que estas pestes não vão roubar as minhas coisas? Não houve vandalismo, até por que eu estava de olho. O mais grave foi a quebra de alguns pés de couve que foram jogados na caixa d’agua reserva que ficava no chão, ao lado da horta. Não suportando mais a pressão a mulher foi procurar o motorista do ônibus. Senhor! Esta turma não tem um professor responsável? Tem sim, respondeu o chofer. É aquele lá. O magrinho de óculos e cabelo liso? É! o nome dele é Creumir. O que? Aquele rapaz é o pior de todos. Quando o Plinio Pertel, o motorista, veio me dizer que a dona havia me colocado no mesmo nível dos alunos. Ou melhor, pior que os alunos, eu me enervei e pensei que a coisa não iria ficar assim. Eu estava deitado na varanda da sala e fiquei observando uma trepadeira que começava de um lado, subia a parede e atravessava até o outro lado, descendo a parede até ao chão. Verdade tem que ser dita. A mulher tinha bom gosto. A planta era linda. No ultimo dia, casa toda arrumada, coisas nos devidos lugar, com exceção de dois peixes que alguém pescou na segunda e se esqueceu no armário até o último dia. O ônibus já estava no lugar e as bolsas sendo colocadas no porão. Eu, que pecado! Peguei uma faca de cortar pão, afastei uns dez centímetros a terra em torno do pé da trepadeira, e discretamente serrei próximo de onde se espalhavam as raízes. Voltei a terra para o lugar e compactei. Nada de errado foi visto e as chaves entregues a proprietária, que não via a hora de ver a nossa gente longe dali. Dentro do ônibus eu conversava com os alunos e fiz uma profecia: Diletos alunos, aquela mulher foi injusta com a gente, mas eu não dou dois dias para aquela trepadeira bonita começar a amarelar. A mulher vai aguar e colocar adubo, mas a planta não sobreviverá. Hoje, na fase da vida que estou, experiente e maduro, penso que eu não faria aquilo de novo. Porém, se eu ainda tivesse a idade da época, acredito que era possível piorar as coisas. Peço mil perdões a dona “Bruxa do 71”. O que me conforta é que já deu tempo para ela plantar e reconstituir a paisagem anterior. OBS. Amiguinhos do facebook que estão na escola, não faça isso. A vítima pode ser a sua vovó.