A Vida Religiosa: um “jogo no jogo da vida”

A vida religiosa é uma aposta num sentido da vida, numa esperança de que o essencial que nos torna humanos, que nos faz viver tem de entrar no “jogo” da vida. Nossos sonhos de amor não podem ser apenas os sonhos do sono, mas ensaios de realidade, de descoberta da maravilha frágil, efêmera que somos e do direito que todos temos de fazer desabrochar ao máximo a força da vida em nós.

Mas isso tudo é a vida religiosa que conhecemos, mas simplesmente a vida humana que busca seu próprio sentido, diriam vocês. Ora, é justamente isso que necessitamos. Tocar em primeiro lugar na religiosidade da vida humana, no seu mistério que se abre em sentido… Depois “montaremos” as formas de nosso “jogo” e nos apaixonaremos por ele como obra nossa, como arte nossa, como chamado da vida que habita… E seremos capazes de desmanchar o “jogo” quando ele nos levar à idolatria, sobretudo a idolatria religiosa que se crê obra dos deuses e não obra do corpo humano, obra da paixão humana pela vida.

A arrumação do “novo jogo” vai depender muito de nossa coragem interior de enfrentar a beleza e a fragilidade da vida buscando nesse efêmero e nesse frágil seu sentido, sua finalidade… Se houver mais, este mais nos escapa, este mais permanece como reserva desconhecida presente no mistério que nos envolve.

Reconheço que meu discurso é inadequado para a maioria dos religiosos, para os profissionais da religião, para os eclesiásticos porque toca nos “sonhos” tornados realidades ideais, sonhos que sustentam sua vida e os levam a impor esta visão aos outros. Meu pensamento pode parecer até anárquico, pois desarruma coisas tradicionais, adquiridas, consagradas, legalizadas, reconhecidas por muita gente. Mas, sei também que há algumas pessoas que sentem o peito oprimido, que buscam mais oxigênio, mais espaço, mais liberdade e que arriscam viver na incomoda situação de insegurança mesmo dentro das instituições as que pertencem.

Proponho um movimento de purificação interior, de enfrentamento com as construções do real que fizemos e que supostamente parecem sustentar nossa vida. Proponho a incomoda “coragem de ser” para além das cordas que tecemos para sustentar nossa vida. Proponho a coragem criadora de nos perguntarmos sobre os sentidos que construímos para nossa vida ou que simplesmente aceitamos de outros. Gebara, Vida Religiosa, São Paulo, Paulinas