A VIDA EM CINEMASCOPE

SÔNIA MARIA DE AZEVEDO VIANA

Casa de espetáculo
Magnífica e gloriosa
Feita de encanto e magia
Diversão e glamour
No hall de espera
Eleva-se inesquecível
O cheiro de chiclete de canela
Vendido em caixinhas delicadas
Vitrines cativantes
De guloseimas coloridas e bem sortidas
E o destaque das pastilhas e balas de anis e hortelã
Casais jovens e galantes
Ainda iniciantes na arte do amor
Aguardam ansiosos e enamorados
O anúncio do final da primeira sessão.
A entrada é triunfal
Vencendo o labirinto das cortinas de veludo vermelho
E eis que se apresenta o poderoso salão
E é tão bom...
Acomodar-se para ouvir o som estereofônico
Anunciando a breve espera
Músicas clássicas e suaves ? Al Di Lá...
Depois... O farol de luz sobre a tela grande
Em cinemascope (achava chic esse nome)
Ao rugido do leão da Metro
Todos se aconchegam
Nas cadeiras estofadas
Embora às vezes nem se veja a tela
O filme se revela na platéia
A meia luz se torna cúmplice
Incentiva intimidades ingênuas e contidas
Na tela a história humana e comovente
Na sala de projeção o espetáculo da vida
Renascendo em chamas da paixão
Lembranças que ficarão guardadas
Imagens que refletem (em cinemascope)
O sabor da história de ontem
Feita entre o mundo concreto e a fantasia
E todo meu corpo sente uma saudade reagente
Gravada em minh?alma e para sempre
Está inscrita a palavra: cinemascope
E a imagem glamorosa vem à mente
Cinema Vitória, Cine Rio Branco, Cine Aracaju
E o maior de todos: o Cine Palace
- será possível voltar no tempo?
Viver de novo a tarde de matinê
Ou, melhor ainda, a soirée em noite de estréia...
Apreciando a festa da vida
Em tela cinemascope.