A vida de José Basílio da Gama autor da obra “O Uruguai”

 

Introdução

 

            José Basílio da Gama situa-se no grupo dos escritores mineiros do século XVIII, sendo contemporâneo, portanto, dos chamados “poetas da Inconfidência”. Enquanto estes asseguravam seu lugar na Literatura Brasileira principalmente através de sua atuação política, Basílio da Gama imortalizou-se através de sua primeira obra, sendo sempre lembrado como o autor de o Uruguai.

            Basílio da Gama já se encontra na corte de Lisboa sob a proteção do ministro Marquês de Pombal, quando o Uruguai vem à luz. Esta circunstância certamente influência para dar à narrativa uma totalidade lusitana. Na voz que narra os episódios bélicos de seu poema, reconhece-se a fala do português dominador, fiel e submisso ao seu rei e às leis ditadas pela Europa. Nisto difere dos poemas inconfidentes, que propugnam pelo rompimento com a metrópole, empenhando-se nessa luta até as últimas conseqüências.

            Em o Uruguai, Basílio da Gama se empenha em adotar uma postura ilumionista na análise dos conflitos gerados pelo Tratado de Madri no Sul do Brasil, assumindo uma posição abertamente pombalina em seu poema. Porta-voz do governo iluminista do ministro Pombal, o poeta, pela forma de tratar o tema histórico e pelas falas que põe na boca de seus personagens, impressiona com uma voz portuguesa e colonizadora, em vivo contraste com os assomos nacionalistas de seus contemporâneos inconfidentes mineiros.

            O poema épico tem por definição a  exaltação do heroísmo nacional. Contudo, apesar de o Uruguai ser considerado um poema épico e da admiração do autor pelos índios, o herói da história não é brasileiro. O que se lê na obra é uma louvação ao índio latino-americano com suas virtudes naturais. Será que este fato não faz com que tenhamos uma outra visão a respeito do gênero desta obra?

O Arcadismo no Brasil

            Em meados do século XVIII, mais precisamente em 1768, é publicada “Obras” de Cláudio Manoel da Cosa, cuja obra marca o início de um período literário, O Arcadismo.

O Arcadismo, ao contrário do período que o antecede, vem recuperar a simplicidade, o clássico, prima o absoluto, a razão, cultiva-se o sentimento, a sensibilidade, o racional. Em geral, o Arcadismo brasileiro sofria influências do europeu, portanto, as características seriam quase as mesmas.

            No Brasil, suas principais manifestações se deu em Minas Gerais, devido a descoberta do ouro naquela região, onde o foco econômico e também cultural se centralizou.

            O movimento Arcádio vingou os poetas da chamada “escola mineira”: Cláudio Manoel da Costa, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga. De todos os árcades, o único a pertencer realmente a alguma corporação Arcádia foi Basílio da Gama, filiado à Arcádia brasileira, já que não há nenhum documento idôneo até hoje que comprovasse a existência da Arcádia Ultramarina. Cita-se que seria apenas uma designação genérica ideal, em referências aos poetas arcádicos brasileiros ou suas “reuniões acadêmicas”.

            Porém, o mais importante é que o Arcadismo mineiro é o início da intelectualização do povo brasileiro, oferecendo condições para o aparecimento de grupos intelectuais. O Brasil (mais especificamente Minas Gerais), passou a agasalhar homens de maior cultura literária (não contendo apenas com escritores, mas também com leitores mais interessados) com grandíssima divulgação da cultura e de livros.

            O Arcadismo marca, ainda, uma certa independência literária, é a transição da fase puramente portuguesa, a fase brasileira, é o momento em que a literatura portuguesa recebe puramente portuguesa, a fase brasileira, é o momento em que a literatura portuguesa recebe um impulso de renovação da parte dos brasileiros. Nessa fase, o Brasil não passava apenas por transição literárias, mas também políticas, sociais e econômicas.

Basílio da Gama (1741 – 1795)

O autor

            Poeta brasileiro cujo nome completo é José Basílio da Gama, nasce a 8 de abril de 1741 no então arraial de São José do Rio das Mortes, depois São José Del Rei, hoje cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, e morreu a 31 de julho de 1795 em Lisboa. Seu pai foi Manuel de Costa Vilas-Boas, capitão-mor do novo Descobrimento, e sua mãe era uma neta do oficial militar Leonel da Gama Belles.

            Já órfão de pai, 1757, graças a um protetor, o Brigadeiro Alpoim, segue para o Rio de Janeiro e ingressa no colégio dos Jesuítas. Quando dois anos depois, em 1759, Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, manda fechar o colégio, como parte da campanha de perseguição movida pelo governo de Portugal contra os jesuítas. A lei de 3 de setembro de 1759 suprimiu a Companhia de Jesus em Portugal e seus domínios, acabou com os seus institutos e mandou expulsar de todo o território português os seus padres.

            A lei isentava da expulsão os não-professos, que não quisessem acompanhar os seus mestres. Basílio da Gama, que não havia ainda professado, ficou e terminou seus estudos no Seminário Episcopal de São José. Depois, mantendo-se fiel a sua vocação, segue para Roma, à procura de apoio da Igreja para sua fé.

Entre os anos de 1760 e 1766, Basílio da Gama é admitido na Arcádia Romana e adota o pseudônimo de Termindo Sipílio. Teria criado nessa altura o enredo de O Uruguai. As Arcádias foram sociedades artísticas e, sobretudo, literárias que floresceram na Europa do século XVIII de onde vieram para o Brasil. O fato de um poeta da Colônia ter sido admitido numa Arcádia importante como a Romana pressupõe, quase certamente, que ele teria sido recomendado pelo clero jesuítico português.

            No princípio de 1767 voltou à Colônia do Brasil, no Rio de Janeiro. Em 1768 volta a viajar para a Europa, se dirigindo a Lisboa, no intuito declarado na relação dos passageiros da nau que o levava, de freqüentar a Universidade de Coimbra. Parece que só o fato de ter pertencido, embora apenas como noviço, à Companhia de Jesus, o fez suspeito à “desconfiada política” de Pombal, de sorte que mal chegando a Lisboa foi preso e condenado pelo tribunal da Inconfidência, acusado de simpatia para com as causas jesuíticas. Em troca de liberdade, promete às autoridades ir viver em Angola. Logo a seguir, contudo, buscando evitar o degredo para a África, ele se rende ao grande poder exercido pelo Marquês de Pombal, o responsável direto pela perseguição movida contra os jesuítas.

            Nesse espaço de tempo casou-se uma filha do Marquês de Pombal, na prisão, Basílio da Gama escreve então um Epitalâmio dedicado à filha do Marquês. As congratulações e a gúrios de felicidade ao próprio Marquês na busca de, com isso, cair nas boas graças de Pombal. Conseguiu assim livrar-se da pena de degredo à Àngola, no ano de 1769.

            Ainda em 1769 Basílio, dá forma a seu poema o Uruguai, publicado pela Régia Oficina Tipográfica de Lisboa, sob o patrocínio do Marquês de Pombal, pois aderia perfeitamente à campanha governamental de denegrinação da Companhia de Jesus.

            Por essa época aproxima-se ainda mais do Marquês de que se torna oficial administrativo e secretário. Contudo, em 1777, com a morte do rei D. José I e a conseqüente queda política de seu protetor, Basílio da Gama passa a sofrer perseguições políticas, sendo obrigado a se deslocar da Corte para a Colônia do Brasil, e vice-versa, como forma de se livrar das arbitrariedades cometidas contra ele. Nesse período, fundou no Brasil uma Academia Literária, porém esta teve curta duração. Num dos períodos em que se encontrava em Lisboa, já membro da Academia Real, veio a falecer, no dia 31 de julho de 1795, tendo sido sepultado na Igreja da Boa Hora.

Obras do autor (publicadas em vida)

 

            Epitalâmio às núpcias da Sra D. Maria Amália, filha do Marquês de Pombal. Lisboa: Oficina de José da Silva Nazaré, 1769.

            O Uruguai, Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1769.

            A Declamação Trágica, poema dedicado às Belas Artes. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1772.

            A Liberdade do Sr. Metastásio. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1773.

            Os Campos Elíseos. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1776.

            Soneto à Aclamação de D. Maria I (folha avulsa). Lisboa: 1777.

            Lenitivo da Saudade. Lisboa: Oficina de Godinho, 1778.

            Quitúbia. Lisboa: Oficina de Galhardo, 1791.

O Uruguai

            Obra de maior destaque de Basílio da Gama, descreve as lutas entre espanhóis e portugueses, de um lado, e Jesuítas e indígenas de outro.

            Pelo Tratado de Madri, assinado entre Portugal e Espanha, em 1750, a Colônia dos Sete Povos das Missões do Uruguai, que pertencia à Espanha, passaria a ser de Portugal, que, como contrapartida, cederia à Espanha sua colônia do Santíssimo Sacramento.

            Aconteceu que, no momento de se por em prática esta cláusula do Tratado, os índios, habitantes dos Sete Povos das Missões, orientados pelos Jesuítas, se negaram a passar para o domínio dos portugueses. Por isso, em 1752, foi organizada uma expedição militar, formada por portugueses e espanhóis, para dominar Jesuítas e índios. Sob o comando de Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, as tropas guerrearam até 1756, sem o sucesso esperado.

            Este poema épico O Uruguai faz a descrição desse episódio, no qual, o autor enaltece os feitos de Gomes Freire de Andrade, num elogio à política pombalina e em profundo ataque aos Jesuítas, enquanto os índios recebem tratamento positivo do autor. Está implícito no poema, também, o conflito entre a ordem racional da Europa, representada pelos portugueses, espanhóis, Jesuítas, e a vida primitiva, sensorial, intuitiva do índio.

            O Uruguai possui especial valor histórico. Do ponto de vista estético, deixa muito a desejar. Uma das causas é a pobreza do tem, incapaz de sustentar um poema épico. O exagerado intuito de elogios do governo de Pombal, tendo por contrapartida o ataque direto aos Jesuítas. O fator mais significativo da fraqueza do poema é a falta do “sopro” épico. Nesta obra, apenas uma cena consegue se destacar, por seu contorno lírico: a morte de Lindóia. Passa por esta cena uma aura de comovido sentimento amoroso e, mesmo humanitário que a faz sobressair ao comum.

            Existem algumas características, histórico-literárias, que enobrecem O Uruguai e lhe dão a grande importância, de que goza até hoje como: a paradoxal visão idealista do índio dentro do ponto de idealista do índio dentro do ponto de vista do Rousseau o “bom selvagem” em grande uso no século seguinte; a liberdade criadora e reformadora; a intenção de renovar a tradição épica em língua portuguesa.

            A linguagem empregada por Basílio da Gama nesta obra, é discreta e sem artifícios, o que proporciona ao leitor o prazer de lê-la sem dificuldade, ao contrário de obras que lhe foram contemporâneas e até posteriores, cuja leitura, não apresenta a naturalidade de O Uruguai.

            O Uruguai é na literatura da língua portuguesa o que precede o romantismo, o iniciador do americanismo e como brasileiro, o criador do indianismo. É o único entre os seus contemporâneos épicos a não imitar Camões. É a primeira obra brasileira a anuncia com antecipação da chegada de uma literatura independente.

            É considerado um dos clássicos da literatura brasileira e possui a principal característica do neoclassicismo que é a imitação dos gêneros literários renascentistas.

Referências

FARACO e MOURA, Língua e Literatura. Vol. 1 36ª ed. São Paulo: Ática, 1996.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 36ª ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

GAMA, Basílio da. O Uruguai. Rio de Janeiro: Record, 1998.