Pensei em escrever algo diferente, vistoso, chamativo, talvez intrigante ou trágico. Mas depois me veio a cabeça um pensamento furtivo, rápido como um tiro certeiro na minha inspiração: resolvi escrever sobre a vida como ela é. Nada de mentiras, invencionices sem pé nem cabeça ou aquelas mesmices dos romances das novelas das oito: um mocinho e uma mocinha apaixonados, lutando contra uma corja de vigaristas gananciosos, sem qualquer escrúpulo.

Não. Nada disso! Chega de florir a vida com riquezas que só existem para uma pequena e seleta minoria do povo brasileiro. Não quero compactuar com essa calhordice, com esse faz-de-conta de estória de trancoso. A vida tem que ser retratada como ela é, do jeitinho em que acontece, sem tirar nem pôr.

Só que agora não sei o que fazer, por onde começar. Tem tanta vida diferente acontecendo lá fora, tanta dor e miséria, tanta violência absurda, tanta injustiça sem punição. Apesar de saber que a vida também não é só feita de coisas ruins, ou melhor, de pessoas ruins, porque as coisas, boas ou ruins, só existem por causa do homem, que também é cheia de amor, coragem, alegria, beleza e fé, ainda assim, nem se eu fosse uma grande escritora conseguiria esconder a vida de si mesma.

Como não sou poetisa, pra escrever lindas palavras sobre a vida, tampouco filósofa, pra falar sobre os seus mistérios insondáveis, não me sinto capacitada pra narrá-la em verso ou prosa. Só sei que a vida é como ela é: um misto de fruta doce e azeda, amarga e macia, fina e dura, mas muito... saborosa.