A VERDADEIRA RELIGIÃO

Na conclusão do seu mais longo e famoso Sermão, que a Cristandade intitulou de Sermão do Monte, ou Sermão da Montanha, como muitos preferem, o Senhor Jesus Cristo fez um magistral chamamento à obediência.

Apesar  de Jesus saber o que havia no homem (Mt.9:4; Mc.2:8; Jo.2:25; 6:64; 16:30; At.1:24), pois até os seus discípulos achavam duro o seu discurso (Jo.6:60); apesar de Ele saber das dificuldades dos homens em obedecê-lo, Ele fez um apelo à incondicional obediência a este Sermão, em toda a sua inteireza.

Até mesmo os nossos contemporâneos, que se dizem seguidores de Cristo, torcem o nariz às prédicas de Jesus. Há quem diga, como os chamados pré-milenistas, que é impossível alguém praticar tudo o que Jesus ordena neste Sermão, tendo em vista acharem nele pontos de difícil aceitação, para a consequente obediência; destarte, transferem a sua obediência total, que julgam impossível para o presente momento, para o período que eles chamam de “milênio”, pois, segundo eles, as pessoas já estarão transformadas e poderão, finalmente, praticá-lo, na íntegra...

Doutrina o Senhor, neste Sermão, que começa em 5:1 e termina em 7:29, no Evangelho de Mateus, sobre o imprescindível dever que tem o seu lídimo discípulo de: ser humilde de espírito (5:3); ser manso (v.5); ter fome e sede de justiça (v.6); ser misericordioso (v.7); ser limpo de coração (v.8); ser pacificador (v.9); ser o sal da terra (v.13); ser a luz do mundo (vv.14-16); não violar os mandamentos do Senhor (v.19); ter uma justiça excedente à dos falsos religiosos (v.20); não se encolerizar contra o seu irmão (vv.21,22); não adulterar nem sequer olhar para uma mulher para a cobiçar (vv.27,28); não repudiar sua mulher, dando-lhe o divórcio (vv.31,32); não jurar de maneira nenhuma (vv.34-36); não revidar a uma agressão física (vv.38-41); não negar nada a quem lhe pedir, e não dar as costas ao que quiser emprestado (v.42); amar aos seus inimigos e orar por eles (v.44); não dar esmolas diante dos homens (6:1-4); não orar publicamente, feito o hipócrita (vv.5,6); não se mostrar contristado e desfigurado quando estiver jejuando (vv.16-18); não ajuntar tesouros na terra, e sim no céu (vv.19-21); ter os olhos bons, e não maus (vv.22,23); não servir a dois senhores, simultaneamente: a Deus e às riquezas (v.24); não ficar ansioso pela comida, bebida e vestuário (vv.25-34); não julgar o próximo (7:1,2); não dar aos escarnecedores imundos o que é santo (v.6); buscar a eficácia da oração (vv.7-12); renunciar aos prazeres do mundo, rejeitando a porta larga e o caminho espaçoso (vv.13,14); e, finalmente, guardar-se dos falsos profetas, que são lobos devoradores (vv.15-20).

Não obstante considerarem alguns a impossibilidade de alguém pôr em prática este Sermão, convém atentarmos para o que disse Jesus, exatamente na conclusão do mesmo: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as PÕE EM PRÁTICA, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. (...) Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia.” (vv.24-27)

No culto da noite do Domingo de 02/07/2000, o Professor e Pastor Eliézer, da Igreja Batista XVI de Setembro, de Luziânia-GO, apresentou-me, num minúsculo papel, que ainda guardo com muito carinho, a anotação de Quatro Classes de Religião, extraídas de Mt.7:21-27. São elas: Religião de Profissão, Religião do Mérito, Religião de Ouvido e Religião de Prática.

Tendo, pois, eu empreendido um estudo sobre essas Quatro Classes, surgiu-me a idéia de escrever este artigo. Assim, quero demonstrar, aqui, as atitudes do homem para com a Religião, nessas Classes.

1. RELIGIÃO DE PROFISSÃO: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (v.21)

Quantas pessoas hoje estão praticando a Religião de Profissão, chegando ao absurdo de mercadejar a Palavra de Deus!

Não vou agora entrar no bojo da questão, visto que este assunto dá matéria para um livro inteiro, e de espesso volume. A existência dos profissionais da religião, mestres na tática de iludir a fé dos incautos, é sobejamente sabida por todos...

Mas não fiquemos tristes por causa dessa gente, pois a Palavra de Deus tem que ser cabalmente cumprida. Sobre eles, a Bíblia nos adverte: “Estes são os escolhos em vossos ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas;” (Jd.12). São “homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada.” (1Tm.4:2)

2. RELIGIÃO DO MÉRITO: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu Nome? e em teu Nome não expulsamos demônios? e em teu Nome não fizemos muitos milagres?” (v.22)

Como se vê, os amantes da Religião do Mérito tentarão lembrar algo ao Senhor, no Dia do Juízo, como se Ele não soubesse ou se esquecesse dos seus feitos, aqui na Terra.

Essa Religião é má, porque ela atua exatamente nos pontos fracos, nas principais carências dos necessitados: a profecia, o exorcismo, a cura física e a prosperidade material. E seus líderes estão por aí, difundindo-a, sempre com a mesma arenga e o mesmo vazio espiritual, e com muita avidez em fomentar, cada vez mais, a malfadada indústria da fé!

Esses líderes, guias cegos, querem a todo muque o seu séquito de materialistas buscando seus mirabolantes programas de prosperidade; eles odeiam ao que Jesus ensina, exatamente no Sermão do Monte: “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e TODAS ESTAS COISAS vos serão acrescentadas.” (Mt.6:33)

Ou seja, quem busca primeiramente o Reino de Deus, tem como garantia o acréscimo automático das demais coisas, as coisas necessárias para o nosso bem-estar. O Salmista, bem antes de Jesus, já se antecipou em informar-nos: “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nEle, e Ele tudo fará.” (Sl.37:5)

Mas não fiquemos tristes por causa dessa gente, pois o versículo 23 revela-nos o que acontecerá a esses lobos devoradores, que praticam as Religiões da Profissão e do Mérito: “Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.”

3. RELIGIÃO DE OUVIDO: “Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia.” (v.26)

Este ensino de Jesus significa a pessoa que ouviu ou leu todas as palavras deste Sermão, TODAS, sem exceção, e não as coloca em prática, ficando tão-somente no campo da teoria. Praticar é fazer, realizar, executar.

A Religião de Ouvido goza de muita aceitação neste contexto do fim. Muitos são os religiosos que vão aos cultos vazios e deles voltam mais vazios ainda. São incapazes de pôr em prática o que Jesus ensinou porque lhes falta o novo nascimento (Jo.3:3); e, faltando-lhes a bênção primeira, o novo nascimento, faltar-lhes-á o fruto do Espírito, descrito em Gl.5:22,23. Faltando-lhes o fruto do Espírito, é óbvio, a Religião dessas pessoas só pode mesmo se restringir ao ouvido.

Chama-se Religião de Ouvido porque seus adeptos só pensam na prosperidade material, na cura de suas mazelas, no exorcismo e no inútil rótulo de religiosidade; por isso são “levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro;” (Ef.4:14). Aonde quer que o vento dos “milagres” sopre, correm eles às pressas para lá. Assim, uma espécie de “maria-vai-com-as-outras”...

4. RELIGIÃO DE PRÁTICA: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha.” (v.24)

Eis a bênção!

A Rocha é Jesus Cristo. Ele é o “Rochedo de Israel” (Gn.49:24); a “Rocha Eterna” (Is.26:4); a “Rocha minha e Libertador meu” (Sl.19:14); a “Rocha da nossa salvação” (Sl.95:1).

Uma casa edificada sobre a Rocha Inabalável, que é Jesus Cristo, só pode ser absolutamente firme e incólume de quaisquer perigos de ruína, pois ela é sábia e desveladamente edificada pelo homem prudente, que é o próprio “edifício de Deus” (1Co.3:9). Ela é deveras diferente da que foi edificada sobre a areia, pelo homem insensato, que é o crente superficial, o crente da crista da onda, o crente do momento, o crente top model, o crente que está “bombando”, o crente do louvorzão pop-rock, o crente do “papo-cabeça”, o crente dos arrebatamentos mil, o crente da prosperidade material, o crente do “pare de sofrer”, o crente do “isto é tremendo!”, o super crente...

O Apóstolo Pedro diz que Jesus é a “Pedra Viva, (...) vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo.” (1Pd.2:4,5)

No Livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 4, este mesmo Apóstolo, falando aos religiosos que odiavam ao Senhor Jesus Cristo, isto é, falando aos “sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, (...) as autoridades, os anciãos, os escribas, e Anás, o sumo sacerdote, e Caifás, João, Alexandre, e todos quantos eram da linhagem do sumo sacerdote (...) Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: (...) seja conhecido de vós todos, (...) que em Nome de Jesus Cristo, o nazareno, (...) ELE É A PEDRA que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta como PEDRA ANGULAR.” (vv.1,5,6,8,10,11)

O que Pedro fez, na verdade, foi tão-somente confirmar o que dizem as Escrituras Veterotestamentárias: Que Jesus Cristo é a PEDRA (Gn.49:24; Sl.118:22: Is.28:16).

O Apóstolo Paulo também fez esta confirmação (Rm.9:33; Ef.2:20).

Jesus Cristo, por sua vez, declarou ser Ele mesmo a PEDRA (Mt.16:18; 21:42; Mc.12:10; Lc.20:17)

O Senhor Jesus Cristo, E SOMENTE ELE, é a Pedra, a Rocha Eterna, em que se firmam os verdadeiros crentes da Religião de Prática - A VERDADEIRA RELIGIÃO -, e “A RELIGIÃO PURA E IMACULADA DIANTE DE NOSSO DEUS E PAI É ESTA: VISITAR OS ÓRFÃOS E AS VIÚVAS NAS SUAS AFLIÇÕES E GUARDAR-SE ISENTO DA CORRUPÇÃO DO MUNDO.” (Tg.1:27)

Que o bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos abençoe (Ef.1:3)!

Lázaro Justo Jacinto