A VERDADEIRA RELIGIÃO 
 
 Neste livro, Agostinho escreve no período de sua conversão até a sua ordenação sacerdotal, ele tinha como objetivo trazer seu amigo Romaniano para o cristianismo, pois ele mesmo o levou para o maniqueísmo. Com efeito, Agostinho mostra numerosos argumentos sobre Deus sendo este: uno e trino. Nestes argumentos é visível a questão sobre o amor, um amor caracterizado ao próximo e pela caridade.
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 Mas antes de falar propriamente do amor, Agostinho lança uma pequena introdução sobre o desejo como sentimento. Em um argumento ele relaciona o orgulho, visando que o mesmo homem possuindo uma carne fraca, é possível buscar a felicidade, desta forma, a busca pela felicidade se resulta em simplesmente na busca do alto estima, sendo esta como algo visível, algo que possa mostrar para os outros, ou seja, a busca da soberba do mundo. Para Agostinho o orgulho pode ser visto como uma busca de onipotência e coisas temporais, sendo assim um "efêmero como sombra" (AGOSTINHO,1987,p111). Consequentemente, o desejo do orgulho pode se tornar um anseio de ser invencível, porque todo o homem por natureza não gosta de perder, porém o homem necessita compreender que a vitória vem de Deus e assim, como criaturas, a imagem e semelhança de Deus, sempre seremos vitoriosos. Infelizmente o pecado nos faz sentir com que acabemos derrotados, a partir deste ponto surge o sentimento de não querer perder, por isso nos causa vergonha. Com efeito, surgem algumas paixões, dentre elas a inveja, que por sua vez é uma paixão desprezível e assim o desejo para possuir tudo é cada vez maior.   Mas Agostinho mostra que para quebrar este sentimento repugnante, é preciso amar a Deus e ao seu próximo, "Pois não poderá ser vencido por homem algum aquele que vence suas próprias paixões."(AGOSTINHO,1987,p112) o homem que se ama propriamente dito, não pode ser deslumbrado, este será um invencível, por mais que ele seja perseguido pela inveja, esta não será capaz de atormentá-lo, e o homem será capaz de ver os demais que amam igualmente, consequentemente estes é os que amam a Deus, de todo coração, alma e espírito, também ama ao próximo como a si mesmo. Os homens não sentiram inveja, pelo contrário, se doaram pelo o outro, pois para estes são todos são iguais. Com efeito, este amor não será visto com olhos da sedução e do desejo, mas um amor da beleza interior, onde o caráter humano é sincero.    Nesta visão, Santo Agostinho elabora então uma regra de caridade, ela se constitui em querer o bem de si próprio para o outro. Com isso, tudo que ele não quiser para si mesmo não pode querer para o outro, ou seja, um homem não pode desejar o mal, porque não se deve fazer o mal a ninguém. Para afirmar e relatar este pensamento, Santo Agostinho uma usa um versículo bíblico (RM, 10,13), se cumprides tudo isso, todos serão invencíveis, mas não por si próprio, é graças a lei imutável, pois esta os libertam. Haja vista, se há algum homem que ama o próximo não como a si próprio e sim como um animal a ser explorado, tanto por questões trabalhistas quanto sexuais, este homem pode ser considerado o pior do ser humano da face da terra, consequentemente ele será escravo de seus vícios até que um dia chegue sua morte.  Um amor que não pode ser esquecido é o amor aos familiares, sendo: irmão, pai, mãe, filhos e a mulher (companheira), este amor também é temporal, sendo assim amar estes como assim mesmo, é amar o que eles são, pois nós não somos apenas este corpo, desta forma, o desejo e a atração não devem ser apresentados, porque quem apenas foca isso comete cobiças, portanto o que se deve amar é a natureza humana a qual está no caminho da perfeição. Os que alcançam esta missão,amam a Deus e fazem a sua vontade e assim unem-se a sua família, cujo Deus é o pai e assim somos irmãos em que devemos cuidar um dos outros, para um dia sejamos dignos da herança de Deus.  Conclui-se que Agostinho lança neste contexto que o amor ideal é o de entrega, doação para o próximo que se resume no amor de Deus. E quem ama a liberdade é aquele não quer buscar amores passageiros, este é submisso a Deus, ama mais a Deus do que a si próprio. Chega-se então a uma justiça perfeita, onde amamos mais o que vale mais, e amamos menos o que vale menos. Por isso quando o homem estiver no caminho da sabedoria, será capaz de suportar a fraqueza de seu próximo, mas suportar de forma que não lhe aborreça, resultando um suporte a sua própria condição. Lembrando que o orgulho é a sobra da liberdade e do alto domínio, porém é instrumento da divina providência, pois ela nos lembra que nossas paixões são sinais e o objetivo final é nos corrigir. 

SANTO, Agostinho, A Verdadeira Religião. Trad. de Nair de Assis de Oliveira. São Paulo: Paulinas, 1987.