A era JK é positiva aos olhos da maioria.

Enquanto um governo planejado que fortaleceu o capitalismo e a indústria nacional, com uma rápida modernização e inserção em uma lógica internacional, tendo como principal referência os EUA, o Brasil de JK foi promissor. A construção de Brasília foi o exemplo máximo de tal modernização. Mas tal visão é limitada à um grupo. As elites empresariais nacionais e os interesses externos foram os mais beneficiados pela Era JK. Mas o Brasil, enquanto um país de muitas realidades, também viveu diferentes  efeitos desse período.

 

Depoimentos de trabalhadores nordestinos em Brasília. Mesmo com relatos que mostram a exploração do trabalho, as más condições..., a visão geral é positiva. Isso porque esses personagens têm o nordeste e sua realidade seca e pobre como referência.

 

Mas, sobre essa mesma questão, cabe o questionamento. E para os nordestinos que não foram trabalhar e viver em Brasília? Como foi a Era JK? E para os mineiros do interior? Para os pequenos agricultores do Brasil afora? Para os trabalhadores urbanos fluminenses e paulistanos? Para a população afrodescendente e migrantes nordestinos que se aglomeravam nas favelas? E para os pequenos comerciantes? Como foi a Era JK para os diferentes setores da sociedade?

 

Os anos 50, e toda a administração populista de JK, coincidiram com um período internacional favorável ao plano de então. Uma efervescência cultural que vinha dos Estados Unidos e da Europa trouxe uma sensação de plena paz e felicidade as camadas economicamente favorecidas, que por sua vez, era retratada pela mídia como realidade nacional. Começa ali um intenso processo de maquiagem da realidade brasileira.

 

A industrialização promovida, principalmente pelo capital externo, implanta um capitalismo monopolista selvagem que impõe bens de consumo à população e à toda a infra-estrutura. A substituição da rede ferroviária já existente pela rede rodoviária, impulsionou o consumo de automóveis e de combustível pertencentes aos setores privados internacionais.

 

O famoso Plano de Metas possibilitou o forte enrijecimento da máquina burocrática e corrupta que o Brasil apresenta hoje. Quanto mais obras, mais verbas. Quanto mais verbas, mais burocracia. Quanto mais burocracia e mais verbas, mais corrupção. Tal processo resume a lógica “malufiana” de “eu roubo mas faço”.

 

Um efeito mais ligado ao âmbito político é a questão do fortalecimento da esquerda brasileira. A “liberdade” política do governo JK em plena Guerra Fria, abriu brechas para a reorganização da esquerda socialista e anarquista no Brasil, após as perseguições durante a ditadura de Vargas. Isso irá culminar nas eleições de Jânio Quadros com o apoio do esquerdista João Goulart e na posterior Ditadura de 1964, que volta a reprimir e caçar socialistas. Em outras palavras, enquanto o capitalismo industrial se reforça de um lado, a esquerda se fortalece de outro. E quando entram em conflito a força das armas e do capital prevalecem sobre a esquerda. Enquanto isso a massa é levada a acreditar que estão vivendo anos dourados, iguais às pornochanchadas e novelas filmados em Copacabana.