Autor: Carlos Gilberto de Almeida Júnior

Resumo

            O presente artigo tem como objetivo demonstrar como podemos atuar de forma diferenciada visando alcançar os mesmos objetivos da educação tradicional. Utilizar-se de métodos alternativos para a educação já não é mais uma novidade no atual quadro educacional, porém está longe de ser uma prática comum adotada pelos profissionais de educação. Ainda é necessário uma quebra da barreira que tampa a visão do educador e impede que uma gama maior de estudantes possam gozar da totalidade do ensino passado a eles.

 

 

Introdução

            Como podemos perceber no atual contexto da educação, os professores acabam se deparando com diversas dificuldades no dia a dia de educador. Uma das principais dificuldades percebidas é a complexidade que muitos assuntos acabam tendo para muitos dos educandos, não pelo seu conteúdo em si, mas sim pela forma que o mesmo é tratado pelo educador que muitas vezes não consegue se utilizar dos recursos didáticos que estão ao seu dispor para a prática do ensino.

            Um desses recursos didáticos que poderia ser empregado pelos educadores, e que será analisado em nosso artigo a partir de alguns textos e pesquisas, é a utilização de recursos didáticos alternativos como a música para o ensino da disciplina Geografia ou outras disciplinas desejadas.

            Realidades Urbanas podem ser encontradas em diversas músicas de temas e estilos diferentes que podem ser tratadas de diferentes maneiras pelo educador para a formação do educando, trazendo assim a realidade que o aluno presencia para dentro da sala de aula de forma que esse ensino deixe de ser maçante, e passe a ser prazeroso e dinâmico, logo, criando maior facilidade e interesse do educando para com o assunto desenvolvido em aula.

            A bibliografia consultada oportunizou maior compreensão e importância do uso de recursos didáticos alternativos no dia a dia do Professor, em especial a música que pode ser considerada uma forte aliada no ensino principalmente da Geografia.

 

A Utilização da Música como facilitador no Ensino da Geografia.

O professor tem um papel na sociedade primordial para que a mesma esteja sempre em um movimento progressivo, o de Provedor de Conhecimento. Muitas vezes nos deparamos com situações onde nos vemos despreparados para enfrentá-la e acabamos agindo como um veículo de propagação de informação aos alunos, porém sem se importar se essa informação está sendo assimilada pelo educando ou se ela simplesmente está sendo ouvida e descartada. Cabe ao professor então tentar meios que façam que essa informação chegue ao aluno de maneira agradável e dinâmica, sendo absorvida, interpretada, assimilada e armazenada. Para que isso aconteça nem sempre podemos nos utilizar somente de discursos e prancheta, é preciso inovar e buscar a atenção necessária e voluntária, não somente forçar que o aluno interaja em uma explicação nada interessante. Devemos criar novos veículos para atrair esta atenção. Um desses veículos que podemos utilizar e que é o tema deste texto é a utilização da música em sala de aula.

Quando pensamos em música, logo imaginamos o ouvido como órgão importante de sentido, mas é o cérebro que interpreta as ondas sonoras recebidas pelo ouvido. Assim como todos os sentidos externos do corpo humano (audição, olfato, tato, paladar e visão) a audição é resultado de uma interpretação cerebral. Quanto mais rica for uma música em seus diferentes sons (agudos, médios e graves), timbres (cordas, sopro e percussão), ritmos (pulsações), velocidades (notas longas, médias e curtas), intensidade (forte, média e fraca) com harmonia (combinação de sons simultâneos), mais o cérebro de quem a ouve será estimulado.

            Recursos alternativos são cada vez mais ativos em sala de aula, tendo em vista que assim como os tempos mudam os métodos de ensino devem evoluir de acordo com a necessidade que o professor encontra de modificar seus métodos de ensino visando um melhor aproveitamento de suas aulas pelos alunos. Os recursos didáticos convencionais, tais como slides, livros, debates, etc., são muitos importantes e devem ser utilizados sempre que possíveis, porém não são totalmente eficazes, pois, muitas vezes eles acabam sendo um tanto quanto maçante para alguns alunos que exigem um pouco mais de dinamismo e de interação com a realidade vivida por ele ou por entes próximos que remetem a quase vivência do fato.

            Com a evolução da tecnologia e dos recursos audiovisuais, as práticas de sala de aula passam a adotar esses recursos como forma de tornar as aulas mais motivadoras, bem como, para contribuir para o ensino-aprendizagem aos estudantes.

            A música está muito ligada à cultura brasileira, tanto por influência indígena, quanto por influência negra e européia. Convivemos com a música ao longo de quase todo o nosso dia-a-dia, no trabalho, em casa, na rua, em vários momentos estamos cantarolando alguma música que apreciamos. Podemos considerar que a música ouvida no dia-a-dia é instrumento educador, já que difunde idéias em letras e sentimentos em melodias. E por estar presente quase que integralmente na vida de cada um, a música pode se tornar um recurso eficaz na educação formal.

            Faça uma pesquisa rápida entre seus colegas, professores: Quantos ouvem música enquanto trabalham em casa, corrigindo provas, por exemplo? A grande maioria, com certeza. Ora, você está lendo uma matéria escrita em parte ao som de Compositor Popular. Seus alunos também fazem suas lições, em seus quartos, com um CD ou rádio ligado ao lado. Alguns professores e pais de alunos reclamam desse hábito. Mas se é algo que normalmente fazemos, é difícil proibir ou botar a culpa do baixo rendimento escolar no Sepultura, Titãs ou Legião Urbana.

Está cada vez mais difícil perceber se os alunos levam ou não um rádio para sala de aula. Eles estão cada vez menores. E a ameaça não vem só dos pequenos receptores. A Internet nos trouxe o formato de música MP3, que pode ser gravada diretamente em chips, dispensando fitas e CD’s. Foi o bastante para que uma empresa japonesa desenvolvesse um relógio de pulso com um toca-MP3 embutido. Ou seja, seus alunos podem levar a música preferida para a sala de aula dentro do relógio. Como proibir está cada vez mais complicado, a saída é usar a música como um atrativo para sua aula.

            A música, arte de combinar os sons, é uma excelente fonte de trabalho escolar porque, além de ser utilizada como terapia psíquica para o desenvolvimento cognitivo, é uma forma de transmitir idéias e informações, faz parte da comunicação social. Na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, usa-se a música há muito tempo em sala de aula, mas normalmente de uma forma lúdica, sem cobrança pedagógica do conteúdo aos alunos, salvo algumas exceções. No Ensino fundamental II a música é raramente utilizada, mas ao professor interessado em enriquecer a sua prática pedagógica com música cabe estar atento à pertinência do tema musical à matéria lecionada e fazer um planejamento que permita ao aluno desenvolver análise e interpretação da letra, defendendo-a, rebatendo-a e/ou lhe acrescentando algo.
Antes de apresentar a música aos alunos, deve-se ter consciência do tema a ser trabalhado e do conhecimento prévio dos alunos.

            Ao utilizar as letras de músicas no ensino-aprendizagem, possibilita-se a análise e reflexão de fatos do nosso cotidiano, por isso devem-se buscar músicas de cunho correspondentes a realidade vivida pelos estudantes, para que assim o resultado possa ser satisfatório. Há também a possibilidade de se utilizar de letras que contenham significativo valor de fatos importantes para a compreensão de possíveis assuntos que venham a estar englobados na grade curricular. Nem sempre será possível integrar a realidade vivida a um assunto a ser tratado, porém esse assunto pode ser abordado dinamicamente se houver uma música que o relate.

            Uma das propostas de utilização da música é apresentada nos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) de arte (BRASIL, 1998). Segundo o documento citado, a música pode ser utilizada no ensino tendo como referência três eixos:

  1. O eixo da produção - "expressão e comunicação em música, improvisação, composição e interpretação";
  2. O eixo da fruição/apreciação - "apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical";
  3. O eixo da reflexão/contextualização - "música como produto cultural e histórico: música e sons do mundo" ou compreensão da música como produto cultural e histórico.

Com base nesses três eixos é possível sugerir três objetivos do uso de músicas no ensino de geografia:

  • a apreciação de músicas de forma crítica e não apenas como lazer;
  • a contextualização da música, levando em conta que esta é um produto cultural e histórico-geográfico;
  • a produção (composição e interpretação) de músicas que tenham relação com os conteúdos de geografia.

            Se analisarmos ao longo dos tempos, encontraremos enumeras músicas com contextos “histórico-geográficos”, muitas vezes com palavras de protesto contra um fato ocorrido, relatos de eventos e até mesmo com ensinamentos que podem ser utilizados no dia a dia. Temas políticos e de protestos, foram os preferidos de muitas bandas nascidas em meados dos anos 80 quando a censura dominava e a ditadura ainda estava ativa, assim foi criado um vasto conteúdo de letras que podem ser abordadas em muitos assuntos tratados em sala de aula. Ainda podemos nos utilizar de uma enorme gama de letras com âmbito ambiental, globalização e fatos extremamente importantes, como a ida e volta dos exilados da ditadura, tratado na música O Bêbado e o Equilibrista de Elis Regina.

            O professor pode também não somente utilizar as letras de músicas já existentes, como pode propor aos alunos a produção de novas músicas a partir do tema desenvolvido, a fim de formar uma integração do assunto proposto e a opinião do aluno sobre o mesmo. Além de estimular que o aluno estude sobre o tema haverá uma fixação do conteúdo, uma vez a música escrita poderá ser uma forma mais fácil de compreensão do conteúdo abordado.

Toda canção é um gênero discursivo, que é uma forma de enunciado produzido historicamente e realizado de maneira diversa mediante o interesse, intencionalidade e finalidade do ser humano. Assim, atua como instrumento dinâmico de ação criativa fundamental para a socialização, pois por meio deles indivíduos se inserem nas mais diversas atividades comunicativas e se capacitam a interagir com o mundo

            Um fato de importante relevância também, citado em um dos textos analisados para elaboração desta resenha, o autor relata que na pesquisa muitos alunos percebem a importância da música não só como arte, mas também como veiculadora de informação o que mostra mais uma vez a importância da utilização desse recurso em salas de aula.      Vale ressaltar que a música como agente veiculadora de educação acaba por levar a educação a todo lugar, não somente em sala de aula. A partir do momento em que o professor começa a demonstrar para seus alunos que as músicas retratam valores importantes para o estudo da geografia, eles próprio irão começar a se atentar para novas músicas e novos assuntos que nelas estarão contidos.

            Sabe-se da importância do papel do professor na aprendizagem dos jovens, pois é através dele que acontece a mediação, ou seja, o professor proporcionará um momento onde suas relações produzirão resultados significativos para a aprendizagem, deixando o ensino mais proveitoso, estimulante e por que não, de fácil compreensão. Para que este processo aconteça, é necessário o olhar atento do professor a todos os alunos, pois através de seus gestos, sua fala, as construções coletivas do conhecimento, considerando que a interação que ele proporciona levará a perceber o processo de aprendizagem do aluno ou as dificuldades geradas por ele. O professor deve ser um amigo, alguém que está na sala de aula por inteiro, percebendo as relações e nelas intervindo quando necessário. Para isso, o professor deve ter conhecimento dos conteúdos a serem trabalhados com os alunos, deve levar a sério à palavra Educador, enfim, que trabalhe com profissionalismo.

            No Brasil atualmente podemos notar uma grande crise principalmente na rede pública de ensino, onde muitas vezes o professor está repleto de boa vontade para educar, porém, diversas vezes essa boa vontade não é retribuída por parte dos alunos que em muitos casos vê o estudo somente como obrigação, e não percebe que o seu futuro depende daquele momento. Por isso é preciso agir de forma diferenciada para obter a atenção desses alunos. Mas o que ainda se vê é muita timidez quando o assunto é aplicar didáticas pedagógicas alternativas. A escola, assim como o professor, contribui no processo de construção do papel do professor quando constrói o Projeto Político Pedagógico. 

                Devemos notar que trabalhar com música na sala de aula , além da folga das tensões que nos deparamos muitas vezes em sala de aula, propicia o desenvolvimento de potencialidade fundamentais no bom desempenho das atividades escolares e, mais importantes, facilitam a compreensão do mundo, pois lhes é dado a oportunidade de discutir, inventar, criar e transformar.

 

 

 

 

Conclusão

            Podemos notar que a música se torna uma forte aliada do professor em sala de aula, quando se é usada corretamente. Obviamente que a intenção desse texto não é apontar as falhas que podemos encontrar no dia a dia do professor exaltando o uso de atividades metodológicas alternativas e denegrindo os meio tradicionais, mas mostrar que podemos e devemos nos utilizar de todos os métodos possíveis a fim de melhorar a interação educando - educador. 

            Apesar de ainda não ser um método comumente usado pelos educadores em sala, esse texto prova que pode ser aplicado sem problemas e que muitas vezes se torna até uma opção mais atraente para aqueles alunos que dificilmente se interessam pelos assuntos tratados em sala, uma vez que o novo sempre causa curiosidade e desperta o interesse nesse aluno que irá tomar uma nova postura diante de um novo desafio. Podemos dizer que o educador e o educando saem ganhando com a adoção de novos métodos pedagógicos, não só o uso da música em sala de aula, mas a execução de outras atividades que não são aplicadas no cotidiano da sala, pois a quebra da rotina cria sempre uma atmosfera renovada e cheia de descobertas que devem ser encaradas pela integração aluno-professor a fim de nutrir a aprendizagem.

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