Mortes inusitadas que se tornariam cômicas se não fossem trágicas.

 

Cena da minissérie: O Auto da Compadecida escrita por Adriana Falcão, Guel Arraes e João Falcão.

 

Que ideia escrever sobre a morte em plena terça-feira, em São Paulo, num dia ensolarado, onde tantas coisas acontecem....

Já disse Mario Sergio Cortella, que os únicos seres vivos que pensam na morte e sabem que morrerão são os humanos. A prova disso é que basta esse assunto ser mencionado para começarmos a pensar sobre a morte de alguma maneira. Enquanto que nossos cães e gatos vivem a vida tranquilamente sem nunca precisarem se preocupar com o inevitável.

 Pois bem, por mais polêmico e desagradável que tal assunto seja, há uma face intrigante e cômica que devemos observar. Anna Virginia Balloussier, da Folha de São Paulo, dedicou em 26/02/2017 uma página inteira a obituários, com anedotas que ela encontrou no livro de Katie Roiphe: “The VioletHour - The Great Writers at the End” (A hora Violácea: os grandes escritores no fim).

 No artigo há uma história interessante: por décadas cinco obituaristas do jornal “New York Times” atualizaram o obituário de David Rockfeller: “Todos morreram antes dele”. O mesmo aconteceu com o de Fidel Castro, que estava pronto 57 anos antes de ele morrer.

Em meio a tantas histórias curiosas, há aquelas que duvidamos da veracidade. Conversando com Maria do Carmo, de 69 anos, cujo marido faleceu recentemente de forma atípica, ficou claro que algo pode ser trágico e cômico ao mesmo tempo. “Meu marido costumava beber de segunda a segunda, mas acabou que não foi a bebida que o matou, ele morreu engasgado com um pedaço de frango”. 

 Outro caso incomum, é o da russa Fagilyu Mukhametzyanov, de 49 anos, que acordou no meio de seu próprio funeral. A mulher tinha sido declarada morta de ataque cardíaco e sua família e amigos estavam reunidos sobre seu caixão aberto, quando, de repente, ela despertou e começou a gritar! Infelizmente, mesmo tendo sido levada de volta ao hospital imediatamente, só sobreviveu por mais 10 minutos.

Mas as histórias de mortes bizarras atravessam os milênios e podem ser facilmente encontradas na internet. No ano 500 a.c. havia um escritor grego chamado Ésquilo que foi considerado por muitos historiadores como o pai das tragédias gregas e também teve uma morte nada comum. Certa vez estava caminhando quando uma tartaruga atingiu sua cabeça matando-o na hora.

Mas como uma tartaruga, animal terrestre e dócil poderia atingi-lo tão violentamente?

Na verdade, ela havia sido capturada por uma águia que pretendia abri-la arremessando-a em uma rocha e, diz a lenda que, como Ésquilo era careca, foi confundido com uma pedra.

Enfim, morte natural, morte comum, morte trágica, cômica ou não, inusitada ou não.... Tudo isso são apenas detalhes de um fim inexorável.

Já definiu, de forma certeira, nosso grande escritor, Ariano Suassuna, em seu texto para O Auto da Compadecida quando descreve a morte da cachorrinha:

 “Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre”.