Tive um sonho estranho (tenho vários assim). Desta vez, sonhei que bilhões (talvez trilhões) de anos haviam se passado. O Universo estava decadente. Eu era uma espécie de “super herói”, viajando pelo espaço em busca de soluções para o caos que se instalara. Pretensioso, não? Bem, foi apenas um sonho.

Eu tentava descobrir a razão de existirmos (minha mente está sempre repleta de perguntas desse tipo) e um meio para continuarmos a existir. O Universo expandira-se demais, estava congelando. Sóis explodiam; planetas morriam. Tudo que se via era desolação, destruição e morte. Entrei em pânico.

Em minha nave, confuso, tracei um novo destino. Busquei vida em lugares distantes, novos lares. Mas tudo que encontrava era mais do mesmo: o Universo revelava-se uma triste repetição. Por todos os cantos que meu engenho conseguiu me levar, só encontrei apatia. Decepcionei-me.

Viajei para um futuro ainda mais distante. Resolvi buscar, no fim de tudo, ao menos uma explicação. Em todos os cantos, no entanto, o Universo estava escuro como breu. Tudo se resumira a um vazio imenso, avassalador. Revoltei-me.

Restara apenas uma tímida anã vermelha, anunciando o fim da Era Estelífera (*). Ao menos, a pequena estrela era simpática, mas não me trazia respostas (cadê Deus?). Era apenas mais uma vítima, uma prova de que até mesmo a longevidade é efêmera.

Percebi que o fim estava próximo; não sabia o que fazer. Dentro de meu sofisticado engenho, sentia-me responsável por cada criatura viva no Universo (um herói deve ser um salvador!). O peso sobre minhas costas era enorme. Pensei em soluções mágicas; fiz uma prece. Não adiantou.

Imaginei, então, o seu abraço. Senti-me um idiota (um abraço imaginário para evitar o fim de tudo?). Sorri nervosamente, fechei os olhos e esperei pelo fim. Surpreso, notei uma luz diante de mim: parece que aquele instante de ternura iluminara a escuridão. A vida, aos poucos, brotava novamente. Emocionado, chorei.

Ouvi aplausos e gritos de euforia, que ecoaram em meus ouvidos como um mantra de gratidão. Não sei de onde vieram, acho que de todos os lugares. Empolguei-me.

Fiquei feliz, mas não compreendi o que acontecera. Perguntei-me se salvara o Universo, se você me salvara, ou se o amor é que salvara todo mundo. Mais uma vez, no entanto, não havia respostas. Ou talvez houvesse, mas fossem tão óbvias que eu não fora capaz de entender.

Acordei tão confuso quanto estava em meu sonho, mas com um novo brilho nos olhos. De alguma maneira, eu não apenas acordara; renascera. Mas não sabia a razão. Só entendo o que é complicado...

 

(*) Segundo os cientistas Fred C. Adams e Gregory Laughlin (livro “Uma Biografia do Universo: do Big Bang à Desintegração Final”; Jorge Zahar Editor; 2001), o universo pode ser dividido em cinco eras: a Era Primordial, a Era Estelífera, a Era Degenerada, a Era dos Buracos Negros e a Era das Trevas. Afirmam estes autores que estamos na chamada Era Estelífera, a qual chegará ao fim num futuro muito distante, quando a última anã vermelha se apagar. No glossário deste livro, Fred C. Adams e Gregory Laughlin definem anã vermelha como sendo “Outro nome dado às estrelas de massa reduzida, com cerca de 10-40% de massa solar. Afirmam eles que “As anãs vermelhas são as estrelas mais numerosas e de vida mais longa dentre todas as estrelas possíveis” (obra citada, página 253).