A Tragédia na Poética de Aristóteles*

Maria Luzirene Morais de Sousa**

 

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre a tragédia na Poética de Aristóteles, descrevendo suas partes constituintes: enredo (mythos), caracteres (ethe), elocução (lexis), pensamento (dianoia), espetáculo (opsis) e música (melopoiia), bem como a sua estruturação e por fim ver os efeitos e os meios que a eles conduzem.

PALAVRAS-CHAVE: Poética, Tragédia, Aristóteles.

 

INTRODUÇÃO: A tragédia surgiu juntamente com a comédia, no teatro grego, sendo que a primeira possuía um caráter nobre dentro das comemorações ao deus da fertilidade, captura a essência humana e a sua relação com os sentimentos profundos do amor, ódio, medo, traição, etc.

             O referido trabalho tem como tema “A Tragédia na Poética de Aristóteles” e cujo objetivo é discorrer sobre a tragédia na então Poética, e descrever também suas partes constituintes: enredo (mythos), caracteres (ethe), elocução (lexis), pensamento (dianoia), espetáculo (opsis) e música (melopoiia), bem como a sua estruturação e por fim ver os efeitos e os meios que a eles conduzem.

             Tal trabalho pretende-se contribui de tal maneira, oferecendo uma breve explanação de alguns destes pontos centrais da teoria da tragédia de Aristóteles a partir das afirmações que ele faz em sua Poética.

Definição de Tragédia

             A tragédia surgiu juntamente com a comédia, no teatro grego, sendo que a primeira possuía um caráter nobre dentro das comemorações ao deus da fertilidade, captura a essência humana e a sua relação com os sentimentos profundos do amor, ódio, medo, traição, etc.

           Aristóteles define a tragédia da seguinte forma:

A tragédia é a imitação de uma ação elevada e completa, dotada de extensão, numa linguagem embelezada por formas diferentes em cada uma das suas partes, que se serve da ação e não da narração e que, por meio da compaixão (eleos) e do temor (phobos), provoca a purificação (katharsis) de tais paixões. (Arte Poética, 1449b p.24-28)

            O autor constitui a tragédia de acordo com as seguintes partes: enredo (mythos), caracteres (ethe), elocução (lexis), pensamento (dianoia), espetáculo (opsis) e música (melopoiia). De todos os elementos citados, aqueles em que a tragédia exerce maior atração são as partes do enredo, isto é, as peripécias e os reconhecimentos.

            O enredo é, pois, o principio e como que a alma da tragédia, e em segundo lugar vem, os caracteres. Em terceiro lugar, está o pensamento, este, consiste em ser capaz de exprimir o que é possível e apropriado, o que, na oratória, é função da arte política e da retórica.

            O quarto componente é a elocução: que é a comunicação do pensamento por meio de palavras, e o seu valor é o mesmo em verso e em prosa. Das restantes partes constituintes da tragédia, a música é o maior dos embelezamentos, e o espetáculo, é, contudo o mais desprovido de arte e o mais alheio à poética.

            O primeiro e mais importante elemento da tragédia é a estruturação dos acontecimentos. Já então estabelecido que a tragédia seja a imitação duma ação acabada e inteira, de alguma extensão, pois pode uma coisa ser inteira sem ter extensão. Inteiro é o que tem começo, meio e fim. Começo é aquilo que, em si mesmo, não sucede necessariamente a outra coisa, mas depois do qual apareceu naturalmente algo que existe ou virá a existir. Pelo contrário, fim é aquilo que aparece depois de outra coisa, necessariamente ou na maior parte dos casos, e a que não se segue nada, meio o que de si vem após outra coisa e após o que outra coisa vem.

           Quanto às partes em que se divide a tragédia são estas: prólogo, episódio, êxodo, canto coral e, dento desta, o párodo e o estásimo, que são comuns a todas as tragédias. Prólogo é a parte completa da tragédia que precede a entrada do coro; episódio é a parte completa da tragédia entre dois cantos completos do coro; êxodo é a parte completa da tragédia depois da qual não há canto do coro. Dentro das partes cantadas, o párodo é a primeira intervenção do coro em conjunto; o estásimo é o canto do coro sem anapestos nem troqueus.

            Visto as partes constituintes e a estruturação da tragédia, passemos então para os efeitos e aos meios que a eles conduzem.

Compaixão e temor

          Para alcançar a Katharsis, os meios são a compaixão (eleos) e o temor (phobos). Tem-se discutido muito o motivo da seleção destas emoções, a maior parte das vezes sem reparar que as duas referidas já tinham antecedentes na Literatura Grega.       

             Às vezes, os sentimentos de temor e pena procedem do espetáculo; às vezes, também do próprio arranjo das ações, como é preferível e próprio de melhor poeta.          

Katharsis

             Duas são as aplicações principais deste lexema, anteriormente a Platão: uma vem da área das praticas rituais, designadamente das religiões de mistérios, como os dos Coribantes, que, por meio de danças violentas conducentes ao esgotamento, obtinham uma “purificação pelo delírio” outra é o do domínio das Ciências Médicas.

          Contudo, Aristóteles não chegou a desenvolver a noção de Katharsis na Poética, por achar supérflua, com realce para as aplicações médicas e religiosas, podemos concluir que a Katharsis da Poética apenas tem um efeito comparável ao da terapêutica médica, e é uma doutrina com a natureza e efeitos psicológicos da experiência emocional da tragédia.

          Enfim, na Grécia do século V a.C acreditava-se que ao assistir as apresentações das tragédias, saía-se do teatro purificado. Os autores mais conhecidos com suas tragédias no período clássico são Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

           Por fim entendemos que a tragédia é uma simulação de ação humana, elevada e completa. O efeito da tragédia é despertar compaixão e temor, mas o prazer da tragédia consiste em sentir tais emoções, e sim reconhecer aos fatos que levam a elas, tal prazer é de natureza cognitiva, ou seja, os efeitos próprios da tragédia, compaixão e temor, proporcionam prazer porque as emoções trágicas passam pelo processo de Katharsis, entendido como classificação, compreendendo-se assim tais angústias.          

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

            Aristóteles, 384-322 A.C. A poética clássica / Aristóteles, Horácio, Longino; introdução por Roberto de Oliveira Brandão; tradução direta do grego e do latim por Jaime Bruna. 3. ed São Paulo: Cultrix: 1980.

             Poética I. Horácio, 65-B A.C II. Longino, 2137-273. III, Brandão, Roberto de Oliveira, 1934- IV. Bruno, Jaime. 1910- V Título.

           Aristóteles de Arte Poética Liber. R. Kassel; traduzido por Maria Helena da Rocha Pereira. Oxford 1965, reimpr. 1968.