No Filebo, Platão denomina inteligência ou nous o princípio de organização que se faz do mundo um cosmos, uma totalidade ordenada; em Schelling e Hegel, o nous é denominado razão. [...] o universo é permeado por inteligência criadora. Entendo por inteligência ou razão o modo de organização universalíssimo inerente ao ser e ao pensamento, ou seja, o Princípio da Coerência. (LUFT, 2005, p. 14)

A Filosofia é o pensamento para a totalidade, buscando definir um conceito de linguagem produzido dentro de seu contexto de mundo. O pensamento regional não pode ser entendido, se não ter um conhecimento universal; Sem esse conhecimento não é viável um regionalismo sem um universalismo. A totalidade é uma complexibilidade que possibilita conceituar e definir padrões.
A razão busca definir as especulações e peculiaridades que se apresentam, como um texto do mundo, ou a vida demonstrando conforme realmente é; a realidade diante de nossos olhos, no dia-a-dia de cada ser humano, enfim, faz a leitura de mundo.
Para se chegar a uma leitura racional, a observação dessa totalidade baseia-se em pensamentos que conceitue um entendimento além do que realmente se apresenta. Como olhar em um espelho e perceber em sua própria face, às mudanças que estão ocorrendo, como sua pele mais enrijecida pelo passar do tempo. Assim o pensamento filosófico deve perceber o que o texto do mundo está querendo dizer, ou melhor, que linguagem está sendo usada?
Essa leitura da totalidade pode também ser recortada como um objeto observatório, que estará possibilitando novos conceitos, pois os leitores somos nós, e somente através do pensamento do leitor é que conseguiremos denotar um regionalismo particular que está incutido na totalidade de mundo ou pensamento.
Toda essa totalidade complexiva, vem de uma estruturação natural para o mundo e uma filosofia estruturada e baseada a partir do estudo do mundo como princípio dos saberes – para Aristóteles (LUFT, 2005) , "Filosofia Primeira àquela disciplina que tematiza os primeiros princípios do ser e do pensamento, portanto, do mundo em sua totalidade". –, que se legitima na universalidade.

Dentro dessa complexibilidade filosófica de estrutura, onde, aspectos importantes como inteligibilidade, totalidade e integridade, estão dizível como mundo, ainda existem dentro dessa estrutura, subdivisões que se estruturam com base na filosofia.
A filosofia se compõe de padrões de pensamentos baseados pela razão; ou seja, lança a questão e se manifestas sobre ela, com propriedade e conceitos complexos, deixando assim, perceber o conhecimento sobre a linguagem, ou melhor, ter domínio completo.
Segundo Aristóteles:

O aprendizado apraz não só os filósofos, mas também aos demais homens, embora a estes ele seja menor. Se olhar as imagens proporciona deleite, é porque a quem contempla sucede aprender e identificar cada uma delas; dirão, ao vê-la, "esse é fulano". Se acontecer de alguém não ter visto o original, nenhum prazer despertará a imagem como coisa imitada, mas somente pela execução, ou por alguma outra causa da mesma natureza (Aristóteles, 1999, p. 40).

A linguagem tem por objetivo descrever como as relações se apresentam, de que forma se faz um entendimento do texto exposto que é apresentado pela totalidade, ou seja, o pensamento que compõe a construção do universalismo está confeccionado em uma linguagem filosófica que foi construída, mas não unificada, pois o pensamento não é uma coisa estática, está em constante movimento, e busca confrontar verdades. Mas existem verdades? Quais conceitos formam a verdade como absoluto? Aquilo que chamamos de verdade é verdade?
Dois conceitos na mesma frase – em primeiro o censo comum, que tem uma verdade de tudo que vê e sua limitação, na realidade exposta. Segundo, a verdade construída a partir de conceitos.
As perguntas não possuem uma relação com a linguagem, pois cada resposta pode ser uma linguagem mais ou menos confencitiva, onde cada resposta possibilita uma outra resposta mais completa.
A relação com a linguagem, como modalidade de estar na linguagem, pois a relação do dizer que é interessante, onde o dizer é o antes do dizer. Na formula – o que é – condiciona o dizer; ou seja, deixa a condição de simples conceito, para se propor a busca de conceitos sobre a universalidade do mundo.
O pensar projeta interfaces, que fomenta a interdisciplinaridade com outras interfaces, onde tenta encontrar a episteme do pensamento, ou pensamento simples como origem.
A linguagem tem esse embasamento de construir uma aproximação do pensamento as realidades totalitárias, onde possibilita o pensar, modos de viver e modos de vida; formando estílos de linguagens – são todos os processos de constituição de sentidos como fatos concretos ou não –.
Segundo Aranha:

A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela é, antes de mais nada, uma prática de vida que procura pensar os acontecimentos além da sua pura aparência. A filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida (ARANHA, 1992, p. 69).

Dentro dessa linha de pensamento de constituição da totalidade, surge um outro pensar, uma outra forma de analisar as questões apresentadas, o pensamento cético ou ceticismo; uma outra postura diante do mundo.
O ceticismo busca confrontar as informações conceituais que a filosofia define como verdades, indo ao encontro e questionando tais conceitos sem o uso da razão. Assim o questionamento cético faz surgir uma nova perspectiva de entendimento do pensamento filosófico, perfazendo o filosofo um caminho mais rude em busca de verdades construídas a partir de pensamentos originais.
O cético explora a falta de argumentação, busca legitimar tais conceitos em verdades fúteis, não realizáveis e sem fundamentos que possa acrescentar um entendimento lógico.
O ceticismo não só é como também tem sua função, de desmontar o seu potencial de compreensão, pois quando critica, está buscando novas formas de compreensão do pensamento através dos filósofos.
O cético busca dentro da razão relativisar o conhecimento, se embasando no contexto biológico e cultural de cada sujeito. Mas dentro da compreensão de mundo ou totalidade, todos buscam distinguir o seu conceito sobre como vêem o mundo; assim, o que legitima essa maneira de diversidade e não relatividade cética, e a formação cognitiva de cada sujeito e seu pensamento próprio. A tese do relativismo coloca o conhecimento como uma igualdade, e todos os pontos de vistas são iguais, não havendo a discordância e a possibilidade de uma nova forma de pensamento elaborado.
Dentro desse processo de ceticismo, Agripa formulou conceitos que estruturam o ceticismo como corrente filosófica, como destaca Luft:

[...], o cético Agripa condensou sua posição em cinco tropoi, ou pontos de vista: 1) o conflito entre opiniões diversas; 2) o regresso ai infinito na procura por um primeiro principio; 3) o caráter relativo das percepções; 4) o fato de que todas as premissas são hipotéticas; 5) o círculo vicioso na argumentação (LUFT, 2005, p. 24).

Referindo-se aos conceitos de Agripa, podemos destacar que: o cético pergunta qual é a verdade do dizer? E quando o esgotamento de provas? O cético diz: é uma opinião! Pode ser verdadeira ou não. A busca na cadeia de provas, tentando encontrar a verdade. Na percepção, o relativismo da linguagem – o conhecimento se da na percepção da linguagem, em duas fases; fase dogmática e fase cética – tudo é hipotético. E a busca do conhecimento verdadeiro, idealismo subjetivo. O conhecimento se dá no psicologismo, através da percepção onde corresponde ao objeto concreto, ou seja, realismo ou solipsismo.
Quando há dúvidas, deve haver um ponto mínimo de diversidade entre perspectivas, pois existe uma possibilidade de ter diferenças de pensar, já que o próprio cético já está conceituando a sentença em pensamento. O cético busca através de um discurso universal, a origem da organização comum a todos que acreditam a uma uniformidade de construção de conhecimento.
O discurso nada mais é que uma maneira de conceituar os modos ou pontos de vistas de quem olha o mundo, ou o seu mundo, nesse caso, o mundo como ponto de partida; a verdade é colocada em xeque, quando suponhamos o que significa verdade. Visto que, o conceito de verdade apareça como absoluto dentro do discurso.
O cerne do discurso, onde achamos que não é plausível uma argumentação, é na verdade, vulnerável ao entendimento cético, pois viabiliza um conflito de opiniões. Assim vai se construindo o discurso cético, onde infinitamente caminha uma dúvida sobre a verdade do discurso.
Coerência e organização são o principio de qualquer forma de discurso, da mesma natureza universal. Mas tudo que podemos conhecer está no próprio discurso. Assim Luft (2005) destaca: "O ceticismo tem que ser levado a suas ultimas conseqüências, até que se converta não em seu contrário, o dogmatismo, mas em uma posição mais alta e mais rica do que ambas, o criticismo".
Para Descartes, não poderia haver uma crítica ao ceticismo sem um método, pois isso elevaria os padrões de discursos não desejáveis, postulando assim as verdades que não estão emanadas no discurso cético. Dessa forma, o método traduz uma linguagem mais ampla que possibilita uma lógica dentro de padrões estabelecidos na totalidade regional.
Segundo Descarte:

[...], convenci-me de que realmente não seria razoável que um cidadão privado tentasse reformar um Estado, mudando-o em tudo desde os alicerces e derrubando-o para em seguida reerguê-lo; nem tão pouco reformar o corpo das ciências ou a ordem estabelecida nas escolas para ensiná-las, mas que, a respeito de todas as opiniões que até então acolhera em meu credito, o melhor a fazer seria dispor-me, de uma vez por todas, a retirar-lhes essa confiança, para substituí-las em seguida por outras melhores ou então pelas mesmas, após te-las ajustados ao nível da razão (DESCARTES, 10 Ed, p. 23).

A razão como forma de padronizar o pensamento, não ficando um pensamento abstrato, sem fundamento no que realmente se quer encontrar, sempre embasado em conceitos que dêem origem formal e comprobatória ao pensamento e suas variações como uma regra, um método pensante.
O dizível é mais abrangente, não envolve apenas o discurso humano, mas a totalidade e seu princípio de organização. O dizível é importante dentro da concepção filosófica, pois efetua o pensamento dentro do pensamento, isto é, faz pensar e repensar o que é dizível, buscam na totalidade e universalidade, as respostas que se formam no texto que se apresenta no mundo.


Referências.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
ARISTÓTELES, Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultura, 1999.
DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: 10 Ed. Escala.
LUFT. Eduardo. Sobre a Coerência do Mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.