Por: Jorge Schemes
A Proposta Curricular de Santa Catarina é um documento norteador para a prática pedagógica, e está embasada na concepção teórica do materialismo histórico, sendo a sua concepção de aprendizagem histórico-social. Neste contexto, encontramos a teoria da atividade como proposta de ação didática e metodológica. Mas o que é a teoria da atividade? Para iniciarmos uma resposta devemos considerar que os fundamentos da concepção de aprendizagem e os elementos constituidores do processo de elaboração do conhecimento são: Linguagem; Mediação; Interação; Apropriação; Conceitos. Considerando que os conceitos fazem parte de uma fundamentação histórico-cultural e são parte de um processo. Mas qual a diferença entre conceito cotidiano e conceito científico? Vejamos o seguinte esquema:

Podemos definir conceito como sendo a idéia de (...), que pode ser reformulado para chegar o mais próximo possível do real. Segundo a teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), a motivação para a atividade de aprendizagem deve ter uma finalidade, ou seja, as operações e ações vinculadas a atividade devem possuir uma finalidade relacionada com a vida do sujeito. As ações não têm finalidades em si mesmas, mas sua finalidade é a aprendizagem significativa, ou seja, devem ter uma relação com a vida. De acordo com a ZDP, não aprendemos o que já sabemos, ou seja, aquilo que está no nível de desenvolvimento real. Também não aprendemos sem estabelecer relações, ou seja, partindo do nível de desenvolvimento potencial, aquilo que não sabemos. Desta maneira a construção do conhecimento é universal (humanidade) e pessoal (indivíduo). Vejamos os esquemas a seguir:


Conceitos são elaborações dinâmicas abstratas e genéricas, que nos permitem lidar com o real, assumem diferentes tipos e/ou funções. A construção do conceito é um processo que ocorre no sujeito. O professor como mediador, deve levar seus alunos a construir e elaborar a idéia do objeto e formular o conceito. Esta construção é mediada pela palavra e pela materialidade. Quanto mais rica as relações estabelecidas com representações da materialidade, mais mediada pela palavra a construção do conhecimento deve ocorrer. A materialidade não deve ser ignorada, principalmente quando a teia de relações, de informações e abstrações for pouco construída. Ninguém pensa a partir do nada. Os conceitos estão em duas dimensões, ou seja: 1º. Conceitos cotidianos, os quais estão fundamentados no senso comum e experiência de vida enquanto prática social; 2º. Conceitos científicos, os quais são teorias científicas fundamentadas no método científico enquanto processo de interação que necessita de pautas interacionais específicas, o que pressupõe maior abstração. Há duas formas complementares para a elaboração de conceitos, ou seja: coletiva e individual. Significando respectivamente os conceitos cotidianos (espontâneos) e os conceitos científicos (reelaborados). Por exemplo:

A abstração do conceito científico é a síntese do que foi elaborado historicamente pela humanidade. O conceito científico foi dividido em áreas do conhecimento. O critério de validade universal do conhecimento científico é que ele ajuda a lidar com a realidade. Ele facilita a relação com o real. Os conceitos relacionados com as disciplinas ajudam a trabalhar com a realidade, ou seja, atuam como facilitadores. Cada área do conhecimento tem por objetivo socializar aquele conhecimento. O conhecimento científico é universal. O conceito é uma representação, uma idéia que precisa de uma pauta interacional específica. Neste sentido, a escola deve ser o cenário para a construção das representações feitas pelo sujeito. As informações podem ajudar o aluno na construção pessoal de representações ou conceitos. A representação não é transmitida, mas o professor pode ajudar os seus alunos na construção pessoal das representações. Não se ensina o conceito, mas deve-se levar os alunos a comparar, discutir e estabelecer relações para chegar ao conceito. Significa partir do concreto para o abstrato. As informações e experiências servem para reelaborar e ampliar o conceito que está sempre em movimento espiral. Se de um lado menor deste movimento em espiral temos os conceitos espontâneos, do outro lado ampliado de maneira abstrata encontramos a elaboração de conceitos científicos. Este é um processo em constante movimento. Dentro deste movimento em espiral ocorre uma constante reelaboração e sistematização da cultura, adquirindo caráter de universalidade e se efetivando como uma construção histórica. Todavia, como educadores, não podemos ficar nos lados extremos. Pois um conceito complementa e impulsiona o outro formando um verdadeiro processo de elaboração conceitual (conceitos mínimos).

Hoje não podemos trabalhar o conhecimento fragmentado, mas trabalhar na construção de representações (conceitos). Por exemplo: na disciplina de português os conteúdos fragmentados aparecem dentro do conteúdo programático separadamente: na primeira semana estuda-se verbo, na segunda, advérbio, na terceira, artigo, na quarta, provérbio, e finalmente o texto. Na perspectiva da elaboração conceitual o texto é o conteúdo como um todo, assim, o conceito (texto) contém os conteúdos (representações). Desta maneira, se a atividade de aprendizagem for feita a partir da elaboração conceitual, não será necessário trabalhar os conteúdos de forma isolada. Também é interessante notar que um conceito pode abarcar muitos conteúdos e não necessariamente de uma única disciplina. As disciplinas da área das exatas (matemática, física e química), por estarem muito fragmentadas são mais difíceis ou complicadas para trabalhar por elaboração de conceitos (tema multidisciplinar). O trabalho interdisciplinar por meio de conceitos não exclui necessariamente o trabalho sistemático. O educador deve ter o cuidado para não aderir os extremos da generalização e da sistematização, deve desenvolver um trabalho por conceitos de modo equilibrado (inter/multi/trans/disciplinar). É interessante que ao final de uma atividade de aprendizagem por conceitos faça-se uma síntese. Vale considerar que a função social da escola é oportunizar a apropriação e elaboração dos conceitos científicos como meio de exercício da cidadania. Na elaboração de conceitos deve-se levar em consideração a relação espaço/tempo, e o contexto das relações do sujeito com a natureza e com o seu universo social. Considerando ainda que todos estes aspectos são interdependentes. Observe o diagrama a seguir:

É papel do professor organizar e pensar as atividades. Fazer propostas interessantes para os alunos baseando-se no que eles estão interessados. Daí surge a necessidade de uma inter-relação afetiva que se aproxime do grupo de alunos e de cada um individualmente. O professor precisa estar junto, próximo, e saber ouvir os alunos oportunizando falas. Deve reconsiderar o termo ensino e aprendizagem para atividade de ensino e aprendizagem. A primeira motivação necessária ao professor é a inquietude de querer melhorar. Faz-se necessário pensar algumas formas de mudança de relação com os alunos (motivação com entusiasmo). O trabalho docente deve ser organizado por meio do planejamento da atividade de ensino e aprendizagem. Isso pode ser feito definindo primeiro os conceitos e depois os objetivos. Levantando a problematização, a qual está relacionada com a motivação utilizada. Apresentado ações, propostas de trabalho que serão feitas aos alunos subsidiadas na teoria da atividade. Neste ponto deve-se ter o cuidado para não propor operações apenas, mas ações planejadas com intencionalidade, pois as operações serão decorrentes das ações. O professor deve ainda considerar que a totalidade é o todo composto de partes. Quando estudamos as partes isoladas acabamos estudando a totalidade. Dentro da concepção do materialismo histórico, a totalidade é muito mais do que a soma das partes. É mais complexa e um processo dinâmico em construção, composta das múltiplas especificidades no contexto dialético. O todo só existe porque é resultado de múltiplas especificidades produzidas a partir da totalidade. Deste modo, a visão do todo ficará o mais próximo do real, pois há uma interferência, onde um interfere no outro, há uma complexidade. Para entender esta complexidade das especificidades faz-se necessário usar áreas diferentes do conhecimento no contexto de uma atividade de ensino e aprendizagem norteada por uma prática inter/trans/multi/disciplinar.