A tecnologia encontra-se entre os movimentos que pretendem reverter o indigesto quadro da qualidade da educação no Brasil, situado na 88ª posição entre os países avaliados pela Unesco. Segundo os partidários desse movimento, a tecnologia pode ampliar os limites da aprendizagem dos alunos de hoje. Para alguns, a Internet representa hoje o que a TV representou na educação há algumas décadas. Já nos aproximamos de 200 mil escolas de educação básica, situadas em contextos e realidades diferentes, com seus problemas específicos, com suas gestões que variam do crítico ao muito bom, pois seria pretensão dizer que chegamos ao ótimo em termos de gestão escolar, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares.

           Entre os otimistas que apostam na tecnologia como forma de ampliar os limites da aprendizagem de nossos estudantes encontra o jornalista e cientista social Fernando Rossetti. Segundo ele, as tecnologias das quais dispomos atualmente forçarão uma mudança na qualidade da educação. Desculpem-me a redundância, mas “forçarão” é muito forte. Por que digo que utilizar esse termo é muito forte? Vou me basear na própria afirmativa de Rossetti: “O educador tem de ensinar o aluno a navegar criticamente num oceano de informações na web e a capacitá-lo a ser um produtor de informações e de comunicação”[1]. Vou discorrer um pouco sobre isso.

           Primeiro, grande parte das escolas públicas não dispõe de tecnologia. Muitas não possuem internet, algumas têm internet a rádio e outros tipos que caem sempre, são lentas e que se tornam ainda mais lentas devido aos equipamentos obsoletos ou bastante simplificados.

           Segundo, falta em uma quantidade bastante significativa de escolas públicas – estaduais e municipais – infraestrutura adequada, com condições mínimas inclusive de espaço físico, para que as diversas tecnologias, não somente a internet, sejam utilizadas.

           Terceiro, e para mim o principal de todos, é necessário, antes de tudo, “ampliar os limites da aprendizagem” dos professores sobre tecnologia, haja vista que alguns nem e-mail sabem utilizar; é preciso ampliar os limites da didática utilizada pelos professores, cuja maioria não passa do "feijão com arroz" por motivos vários; e, além disso, também é fundamental que se deem melhores condições de trabalho para nossos tão sofridos professores, como uma carga horária menor, em apenas uma escola, para que tenham tempo de preparar melhor suas aulas com a utilização das tecnologias. É necessário também capacitar os educadores a navegarem criticamente nesse oceano de informações da web e a serem produtores de informações e de comunicação, fazendo filtros, sabendo entender e interpretar textos, dados, figuras, o que é fato e o que não é, pois o mundo virtual é muito complexo e capcioso. Como vão ensinar isso aos seus alunos se muitos deles mesmos não são capazes de fazê-lo?

           Quarto e último, também coordenadores pedagógicos, diretores de escolas e secretarias de educação precisam entender o mínimo de tudo isso e evitarem ao máximo ideias mirabolantes e modismos pedagógicos, teorias sem fundamentação prática.         

Destarte, a verdade é que entre o que os integrantes desse movimento da tecnologia na educação pretendem – a maioria voltada para escolas particulares – e o real há uma distância enorme, e as coisas não acontecem assim, numa tacada de caneta, num estalar de dedos. Educação é coisa muito séria. É muita utopia pensar que a utilização das tecnologias das quais dispomos atualmente forçarão uma mudança na qualidade da educação.

 *Prof. Maurício Apolinário  é autor do livro “A arte da guerra para professores” e. "Limites na sala de aula: emoções, atitudes e ações".