Não sei se todos concordam, mas vivemos um tempo de superficialidade do pensamento. Às vezes me pego envolvido em opiniões tão superficiais que eu mesmo me assusto. É claro que ninguém deve considerar-se perito em tudo, mas emitir juízos e opiniões sobre determinados assuntos não pode ser algo vago e fundado apenas no senso comum. Aliás, o senso comum norteia a maior parte das opiniões que circula em nossa sociedade, seja no âmbito das notícias veiculadas nos telejornais, seja aquelas comentadas por muitos “especialistas”.

Penso que essa situação está ligada a nossa formação filosófica, marcada por uma herança gerada nas entranhas do pensamento filosófico ligada à idade média, quando tudo era explicado pela fé, pelos mitos e pelos fenômenos da natureza, explicação essa controlada pela Igreja Católica, e logo depois pela razão, parida pelo Iluminismo, movimento filosófico centrado na razão, que se contrapôs ao teocentrismo da idade medieval, tomando corpo depois, no século XVIII/XIX, no Positivismo,ou seja, num modo de ser e conceber a vida e o progresso  social segundo as leis da natureza, neutralizando qualquer outra forma de ser, conhecer e viver, visto que tudo é explicado pelo método científico, pela linearidade das leis científicas.

Aprendemos assim a olhar tudo compartimentadamente, isolado do todo e das relações que caracterizam qualquer fenômeno. Acostumamo-nos a tomar tudo a partir de si mesmo, desconectado da história, dos processos sociais e culturais, bem como algo externo a nós, seres humanos. Separamos tudo: nós de nós mesmos e nós da natureza.

O resultado dessa herança foi a geração de um ser humano que mal sabe olhar para si mesmo, pois pouco se conhece; um ser humano que não aprendeu a conceber a vida como algo relacionado a tudo e a todos. Nossas opiniões são descontextualizadas, pois não consideram a história social e cultural; nossos juízos são unilaterais, exploram apenas aspectos isolados da realidade ou do fenômeno social; nossas análises sofrem de falta de complexidade, isto é, não consideram a dimensão objetiva e subjetiva dos sujeitos envolvidos e da sociedade de maneira integrada e articuladamente, são reflexões que atentam apenas para um lado da realidade ou que se preocupam  com uma  ou outra variável dos contextos em questão.

Concluindo...

Numa sociedade que se intitula “sociedade do conhecimento”,  precisamos enfrentar um desafio fundamental: potencializar nossa formação filosófica, superando a perspectiva positivista, dando-nos conta dos novos paradigmas, sob pena de continuarmos sendo seres superficiais e de uma única opinião.