INTRODUÇÃO

O ponto de partida dessa pesquisa é o desenvolvimento dos armamentos através dos conflitos. Os avanços tecnológicos foram maiores no decorrer do século XX, pois neste século houve as duas maiores catástrofes mundiais: a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

A Segunda Guerra Mundial é um tema complexo, com uma variedade imensa de objetos de estudo. Um tema não muito explorado é a importância estratégica da Base Aérea do Amapá nesse conflito. A maior parte das fontes disponíveis na internet, por exemplo, não foram sequer escritas por pesquisadores brasileiros, e sim por norte-americanos. Os livros apenas citam a base aérea, deixando de destacar os acontecimentos que construíram a sua história. Aos poucos, está sendo construído, através de trabalhos acadêmicos, o resgate da história da Base Aérea, mas ainda há a necessidade de esclarecer sua importância na história amapaense e, principalmente, na vida dos moradores remanescentes dos tempos da guerra.

A Segunda Guerra dividiu-se em dois momentos: A ofensiva do Eixo e a contra-ofensiva dos aliados. O primeiro é marcado pelo rápido avanço da máquina de guerra alemã sobre os países da Europa Continental. Este período teve início com a invasão da Polônia pelas tropas alemãs e teve seu ponto crítico durante as investidas alemãs contra a Inglaterra, principalmente pelo mar, com os ataques de submarinos a navios mercantes que dirigiam-se aos portos ingleses. Este período áureo da hegemonia da Alemanha sobre a Europa Continental conheceu seus primeiros grandes revezes em 1942 no norte da África e durante o início da contra-ofensiva soviética em Stalingrado no final do mesmo ano. O segundo período teve como marcos iniciais a rendição do Sexto Exército alemão em fevereiro de 1943 e as primeiras grandes vitórias aliadas na Batalha do Atlântico. Mesmo assim, os submarinos alemães ainda causavam prejuízos aos aliados até o início de 1945.

A Batalha do Atlântico trouxe enormes perdas para o Brasil, fazendo-se necessária a implantação de bases aeronavais em pontos estratégicos no nordeste, no Pará e no Amapá. O local escolhido para a construção de uma base aérea no território amapaense foi uma área próxima ao município de Amapá.

Este trabalho tem como objetivo principal apontar a importância não só estratégica, mas também social da Base Aérea de Amapá, relatando as missões da Força Aérea Brasileira em conjunto com a força aérea norte-americana nas costas do Amapá, bem como descrever como se deu a construção da base aérea e identificar as razões que levaram o governo brasileiro e o governo norte-americano a construírem uma base aérea no Amapá.

No primeiro capítulo, será abordada a problemática do pré-guerra: a trajetória de Adolf Hitler: de pintor sem sucesso a ditador da Alemanha; as pretensões de Hitler; as concessões anglo-francesas, com o intuito de evitar uma nova guerra; e o início do conflito que, assim como a Primeira Guerra, teve início na Europa e arrastou nações de outras partes do globo para o abismo, tornando-se a guerra mais destrutiva da história.

Também será explanado o decorrer do conflito na Europa: o rápido avanço nazista sobre a Polônia, Noruega, a Dinamarca, a Bélgica, a Holanda e a França; a resistência britânica e a invasão da União Soviética.

O segundo capítulo abordará o governo totalitário de Getúlio Vargas, inspirado no fascismo italiano, considerado Estado Novo. Apesar dessas semelhanças, o governo Varguista e de Benito Mussolini, na Itália, tais semelhanças não impediam as relações do Brasil com os Estados Unidos, que deu-se em clima de desconfiança e hostilidade. Até que o Brasil se envolvesse no conflito, o país manteve-se na neutralidade a fim de evitar conflitos maiores internos dentro do território nacional.Ainda neste capitulo relata-se questão da Amazônia envolvida neste conflito mundial. Com o recrutamento dos "soldados da borracha" o governo brasileiro procurava sanar o problema da seca no nordeste, por isso os nordestinos foram a principal mão-de-obra. Grande parte deles morreu de doenças como malária ou por influência das atrocidades da selva. Os sobreviventes ficaram na Amazônia por não ter dinheiro para pagar a viagem de volta, ou porque estavam endividados com os seringalistas (donos do serigais).

No terceiro capítulo, serão apontadas as medidas que resultarão na construção da Base Aérea de Amapá: o decreto que autorizou a construção da base, bem como as desapropriações necessárias para se estabelecer uma base norte-americana nas proximidades da vila de Amapá. Logo depois, será tratada a visão da população perante a situação, além da convivência entre norte-americanos e a população local; as modificações na paisagem em decorrência da construção da base; o progresso da região; o contato da população com novos modos de vida, mais especificamente, outros tipos de alimentos; a tensão constante (ou não, conforme veremos) vivida pela população local.

Ainda serão destacadas as ações militares em que efetivos da base atuaram, como por exemplo, o afundamento dos submarinos alemães U-590 e U-662 já no contexto da reviravolta dos aliados na Segunda Guerra. Serão salientados testemunhos de pessoas que vivenciaram os acontecimentos.

Por fim, veremos o que o fim da guerra representou para as pessoas, como se deu a entrega da base aérea para o governo brasileiro, o destino dos trabalhadores que vieram do nordeste para trabalhar na base, que agora, com a desativação da base, tinham que procurar outro emprego, e o que foi feito para preservar as instalações da base.

CAPÍTULO I

UM HOMEM ARRASTA VÁRIAS NAÇÕES PARA UMA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

O século XX foi marcado por duas grandes guerras de proporções mundiais que devastaram a Europa. Foram 31 anos de conflitos com um intervalo de 20 anos. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi uma guerra nunca antes vista, em que as nações envolvidas mostraram o resultado trágico da Revolução Industrial. A Segunda Guerra (1939-1945) foi uma continuação da Primeira Guerra, porém foi a guerra mais destrutiva da história. Nos seis anos de conflitos da Segunda Guerra entre as forças do Eixo e os Aliados, ou seja, o fascismo da Itália e o nazismo alemão, ambos apoiados pelo Japão, contra o capitalismo liberal dos franceses, ingleses e norte-americanos, e ainda contra o socialismo da União Soviética.

Com um número de mortos de cerca de 50 milhões de pessoas, inúmeros feridos durante os combates, sem contar com as mortes por epidemias, fome e exaustão (no caso do holocausto), inúmeras casas, fábricas, igrejas, monumentos importantes, prédios públicos e plantações indispensáveis ao consumo humano foram total ou parcialmente destruídos. Podemos visualizar o psicológico das mães que viram seus filhos e maridos encaminharem-se para frente de batalha. Com isso, famílias foram desfeitas e cidades ficaram arrasadas com a vasta destruição por causa dos constantes bombardeios. Havia, por exemplo, na URSS em 1959 sete mulheres para cada quatro homens. Por outro lado, a guerra gerou emprego, já que foi necessária uma vasta mão-de-obra para produção em massa de armas e outros suprimentos necessários à guerra.

Não foi o fim da humanidade, embora houvesse momentos, no curso dos 31 anos de conflito mundial, entre a declaração de guerra austríaca à Sérvia, a 28 de julho de 1914, e a rendição incondicional do Japão, a 14 de agosto de 1945 – quatro dias após a explosão da primeira bomba nuclear –, em que o fim de considerável proporção da raça humana não pareceu muito distante. Sem dúvida houve momentos em que talvez fosse de esperar-se que o deus ou os deuses que os humanos pios acreditavam ter criado o mundo e tudo que nele existe estivessem arrependidos de havê-lo feito (HOBSBAWM, 1995, p. 30).

O uso de meios de comunicação, como é o caso do rádio, aprimorado durante as duas guerras, diminuiu as distâncias e facilitou o comando entre superiores e soldados. Uma vasta propaganda foi usada como meio de propagar o nacionalismo, incitando a população à guerra. Os relatos da guerra feitos por soldados, jornalistas e até mesmo civis deixaram uma vasta literatura contendo memórias de fatos que marcaram para sempre suas vidas na construção de uma história que tragicamente marcou o século XX.

1.1O PRELÚDIO DA GUERRA

As guerras provocaram estímulos no que diz respeito aos inventos e avanços tecnológicos. Durante as guerras de Secessão (1861 – 1865) e Franco-prussiana (1870 – 1871), já se utilizava o telégrafo sem fio e a estrada de ferro. Nas duas grandes guerras, além destes, também foram usados submarinos, aviões, tanques de guerra e carros de combate. A metralhadora já utilizada antes agora aparece veloz e letal. Gases foram produzidos para matar, além de lança-chamas que foram muito usados durante as duas grandes guerras.

O maior conflito da história da humanidade teve suas raízes nas ambições de Adolf Hitler, que desejava anexar territórios para a prosperidade da "raça ariana", era a chamada "ideologia do espaço vital" (Lebensraum), e as humilhações impostas pelo Tratado de Versalhes embasaram os argumentos do Führer e garantiram o apoio de uma considerável parcela da população alemã. No inicio, as exigências territoriais de Hitler foram atendidas pelos representantes anglo-franceses para evitar, a toda custo, a guerra, mas quando o ditador alemão exigiu o corredor polonês, ingleses e franceses viram que não podiam fazer tantas concessões à Alemanha Nazista.

Com as mais raras exceções, nenhum historiador sério jamais duvidou de que a Alemanha, Japão e (mais hesitante) a Itália foram os agressores. Os estados arrasados à guerra contra os três, capitalistas ou socialistas, não queriam o conflito, e a maioria fez o que pôde para evitá-lo. Em termos mais simples, a pergunta sobre quem ou o que causou a Segunda Guerra Mundial pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler (HOBSBAWM, 1995, p.43).

Adolf Hitler nasceu em Braunau, na Áustria, às 18h 30m do dia 20 de abril 1889. Um suposto artista assimilou parte do anti-semitismo de Viena e parte do patriotismo de Munique. Alistou-se no exército e combateu na Primeira Guerra Mundial, com o dever de levar mensagens a outros abrigos, por tal feito foi condecorado por bravura, já que sua tarefa era das mais arriscadas. Vale ressaltar que, para Hitler, "a declaração de guerra de agosto de 1914 foi um dos mais belos momentos de sua vida" (KERSAUDY, 2009, p. 81).

O Tratado de Versalhes assinado em 28 de junho de 1919 na França pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Este tratado impôs à Alemanha total responsabilidade pelo conflito. Dentre as imposições impostas à Alemanha destacam-se alguns pontos:

  • Proibição de construção de qualquer tipo de fortificação nas proximidades do Reno;
  • Devolução da Alsácia-Lorena à França;
  • Respeito e reconhecimento a independência da Áustria;
  • Reconhecimento das fronteiras e da independência da Tchecoslováquia;
  • Reconhecimento da independência dos territórios que fazem parte do antigo Império Russo;
  • O exército Alemão deverá ser reduzido a sete divisões de infantaria e três de cavalaria, não podendo exceder a um efetivo de cem mil homens;
  • A Alemanha não poderia ter marinha de guerra;
  • Aceitação da responsabilidade pelos danos causados durante a guerra.

Essas mudanças impostas à Alemanha causaram modificações no mapa da Europa. A população ficou indignada e revoltada diante das humilhações impostas pelo tratado que causou danos à sua economia e um sentimento de revanche tomou conta da Alemanha que promoveu sua vingança na Segunda Guerra.

O Tratado de Versalhes beneficiou apenas a Inglaterra e, principalmente, a França, deixando de lado outras potências que participaram do conflito. Dentre essas potências destaca-se a Itália, vítima da falta de compromisso dos ingleses e franceses, conseguindo apenas uma pequena porção de terra que pertencia ao desmembrado Império Austro-Húngaro, pois as colônias alemãs foram divididas entre a Inglaterra e a França.

A Itália vivia sob o jugo fascista de Benito Mussolini desde 1922. Os poderes de Mussolini aumentaram ainda mais com o resultado das eleições de 1924, quando os fascistas obtiveram 403 das 599 vagas e Mussolini declarou que as eleições não eram mais necessárias. "As jovens e aparentemente fortes raízes da democracia foram arrancadas da nação. Mas a própria democracia, pode-se dizer, ajudou a destruir a si mesma" (BLAINEY, 2008, p. 117).

A Alemanha vivia tempos difíceis no pós-guerra, e mesmo assim armava-se secretamente a partir de 1925. O comunismo crescia cada vez mais na Europa, principalmente na Alemanha. A Itália já havia encontrado uma solução: um regime totalitário, um combate direto ao comunismo. Foi justamente no fascismo italiano que Adolf Hitler inspirou-se para sugerir uma alternativa para aqueles tempos de crise.

Carismático e com espírito de liderança fundou o partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, iniciado com um pequeno grupo de bávaros. Tentaram várias vezes as eleições, porém alcançavam poucos votos, assim ficando atrás dos socialistas e comunistas.

Segundo Geoffrey Blayney (2008 p. 130):

Hitler ofereceu patriotismo e ações firmes. As pessoas então correram para se filiar ao seu partido, e o número de membros saltou para cerca de 200 mil, dos quais metade desejava desfilar vestindo as camisas marrons que o simbolizavam... em janeiro de 1933, foi convidado para o cargo de chanceler-primeiro-ministro, na verdade - em um governo de coalizão. Em agosto de 1934, com a morte do encanecido presidente da república, Hitler foi eleito com 88% dos votos para o posto que combinasse os cargos de chanceler e presidente.

A massa desiludida com as instituições democráticas após a derrota da Primeira Guerra ansiava por uma liderança forte. Foi nesse fértil terreno que Adolf Hitler, através de propaganda e de sua ideologia de unir os povos germânicos a fim de controlar a Europa institui um regime totalitário de extrema direita.

Ao assumir o poder, pôs fim aos demais partidos e sindicatos. Promoveu um rápido crescimento econômico e correspondeu aos anseios do povo alemão. Porém, tudo estava sob o controle do governo, incluindo as igrejas e demais esferas da sociedade.

Neste momento a Alemanha rearmava-se, preparando uma nova guerra. Não pretendia cumprir com o "acordo" firmado no Tratado de Versalhes que proibia a fabricação de armamento pesado. A Comissão Militar Internacional de Controle retirou-se do território alemão em 1927 por concluírem que estava desprovido de armamentos.Em 30 de setembro de 1938 é firmado o Acordo de Munique, onde os representantes da Grã-Bretanha (Neville Chamberlain), da França (Eduard Daladier), da Alemanha (Adolf Hitler) e da Itália (Benito Mussolini, como mediador), assinaram um acordo de não-agressão e a cessão da região dos Sudetos, na Tchecoslováquia, à Alemanha.

1.2 O INÍCIO DA GUERRA

Derrotados na Primeira Guerra, os alemães tiveram seus aviões de combate destruídos e confiscados, porém seria difícil vencer uma revanche sem aviação. A Alemanha investiu em montagens de aeronaves e treinamentos de pilotos na União Soviética. O comandante da Luftwaffe, Hermann Göring (1893-1946) era responsável por organizar e expandir as forças da aeronáutica, fazendo da Luftwaffe a maior força aérea do mundo. Em 1939 contavam com 3.575 aeronaves, contra 3.562 da Inglaterra e da França juntas, mas toda a máquina de guerra alemã não suportaria uma guerra longa, por falta de suprimentos.

As potências que ainda se recuperavam dos danos causados na Primeira Guerra não queriam um novo conflito, tanto que França e Inglaterra deixaram Hitler à vontade, só intervindo quando este pretendeu anexar a região de Dantzig, que pertencia à Polônia. Hitler tinha pretensões de reconstruir e expandir o território Alemão a qualquer custo, para o desenvolvimento da "raça ariana", criando a ideologia do "espaço vital" (Lebensraum).

Não satisfeito, Hitler, mesmo sendo declaradamente contrário ao Comunismo, fez um pacto de não-agressão com a União Soviética (Acordo Ribbentrop-Molotov), e lançou o poderio da Wehrmacht contra a Polônia. "Era o equivalente, em nossa época, a um acordo secreto assinado por Israel e seus vizinhos muçulmanos para declarar guerra a um inimigo inesperado e dividir seu território" (BLAINEY, 2008 p. 137).

A Polônia, com cerca de 30 milhões de habitantes, possuía uma grande quantidade de judeus que residiam na Europa, estes desejavam ter uma nação forte e unida, este último projeto era impedido devido à grande variedade de nacionalidades ali existentes. Apesar de uma invasão ser pouco provável, foi exatamente o que Hitler fez. Em 1º de setembro de 1939, tropas alemãs cruzaram a fronteira com a Polônia. Diante de tal feito, França e a Grã-Bretanha enviaram um ultimato exigindo o fim da agressão alemã. Como Hitler não respondeu, os dois países declararam guerra à Alemanha, porém não intervieram de imediato. Também participou desta invasão a União Soviética, que duas semanas depois da invasão alemã enviou seu exército a fim de ocupar parte do território polonês, como havia sido combinado em uma cláusula secreta do pacto Molotov-Ribbentrop entre Alemanha e União Soviética, esta que também havia perdido territórios durante a Primeira Guerra e que agora tinha pretensões de expandir seu território. Com a divisão, a Alemanha ficou com a Watherland, maior parte, segundo o pacto esta recebeu o nome de Governo Geral e ainda a região da Boêmia e Morávia, que antes pertenciam à Tchecoslováquia. A União Soviética anexou parte da Lituânia, cumprindo boa parte do acordo firmado.

O ataque à Polônia ficou conhecido como guerra relâmpago (Blitzkrieg), pela rápida e eficiente estratégia alemã, que usou desde a disciplina de seus soldados, ao seu poderio bélico em ação contra as forças polonesas que pouco puderam fazer frente à brilhante coordenação entre as forças aéreas e terrestres. A ação foi rápida e precisa, deixando as forças polonesas sem condições de resistir. Diante do inesperado ataque, os generais poloneses não tiveram tempo para planejar um contra ataque, sem contar que as forças alemãs estavam em maior número.

Depois de mais de vinte dias do inicio da invasão, os comandantes poloneses assinavam a rendição. A Polônia deixou de existir como Estado independente. Era considerado um território anexado à Alemanha, cujos habitantes deveriam simplesmente trabalhar para os alemães. Daí em diante, iniciou-se a superexproração de mão-de-obra de trabalhadores judeus, poloneses e outras etnias. Nasciam também os famigerados campos de concentração, onde judeus e opositores dos nazistas eram internados. Posteriormente, aplicou-se a política da "solução final", ou seja, a pura e simples eliminação dos judeus. (TOTA, 2007, p. 364)

Após a conquista da Polônia, Hitler avançou sobre a Dinamarca e a Noruega (grande produtora de aço, matéria-prima essencial para sustentar a máquina de guerra nazista), para finalmente voltar-se contra as potências ocidentais.

1.3 A INVASÃO DA FRANÇA

Para atacar a França, Hitler precisava ultrapassar uma extensa linha de fortificações, com arsenais, depósitos subterrâneos, linhas férreas conectadas e abrigos para o exército, que ficava na fronteira entre os dois países, a Linha Maginot. A fortificação protegeria os franceses de possíveis ataques ou pelo menos daria tempo ao exército de preparar sua estratégia de defesa. A tarefa seria muito difícil e as forças alemãs ficariam muito desgastadas para uma guerra com a Inglaterra. Eis que surge o Plano Manstein, uma cópia do famoso Plano Schlieffen, que consistia em atacar a França pelo norte, invadindo a Bélgica e dominar o litoral francês para isolar a França da Inglaterra.

Os alemães, seguindo o Plano Manstein, vieram contornando a linha Maginot, penetrando na região florestas das Ardenas, onde o nono exército, inferior aos demais havia se fixado para proteger a região. O general Charles De Gaulle já previa que a estratégia de defesa era ultrapassada, os soldados ficavam até 9 dias sem ação, esperando autorização superior, enquanto que as forças alemães usavam de rapidez e agressividade. As forças francesas haviam se fixado na fronteira com a Bélgica esperando um possível ataque vindo desta fronteira, já que dali houve um embate durante a Primeira Guerra. A população migrava para o sul levando seus pertences como uma procissão de pessoas apavoradas pela incerteza e pelo medo.

A Luftwaffe promoveu uma investida feroz, como fizera com a Polônia. O então primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que já havia lutado em três batalhas anteriores e que tinha preparado a maior marinha de guerra, prevendo futuros embates, saiu em defesa da França, porém tanto a marinha francesa quanto a marinha britânica tiveram que ser escoltadas por aviões até as proximidades de Dunquerque, já que os alemães estavam vencendo. Em 14 de junho de 1940 os soldados alemães entram na destruída cidade de Paris e no dia 22 de junho uma cerimônia numa floresta francesa chamada de Rothonde, a 80 km de Paris é assinada a rendição da França com a presença de Hitler e o representante Francês, general Huntziger. O ápice da vingança alemã se deu quando soldados alemães encontraram em um museu o vagão de trem onde foi assinada a rendição da Alemanha na Primeira Guerra. Hitler mandou quebrar a parede do museu e trazê-lo até o local onde o armistício seria assinado, desta vez os derrotados eram franceses. Quando os franceses chegaram e reconheceram o vagão ficaram pasmos com o gesto extremo de vingança.

Para Kauffer (2008, p. 17) "o III Reich tinha tudo para perder a guerra e muito pouco para ganhá-la". Entretanto, a queda da maior democracia se deu não só pelas rápidas investidas do inimigo, mas também à falta de preparo dos aliados, que usavam de táticas da Primeira Guerra e tinham um número menor de aviões. O general Charles de Gaulle exilou-se na Inglaterra e formou a FFL (Forças Francesas Livres) para que seus companheiros pudessem resistir. Com cerca de 500 mil homens, através de mensagens via rádio, começaram a estudar o inimigo para depois informar aos aliados sobre suas prováveis estratégias de ataque.

1.4 A INESPERADA VITÓRIA BRITÂNICA

Depois da rápida e fácil vitória contra os franceses, Hitler voltou-se contra a Grã-Bretanha. De início, pensava que os ingleses pediriam a paz, porém não foi o que Churchill fez. Jodl, general alemão, assegurou a Hitler que a vitória era só uma questão de tempo. Em 8 de agosto de 1940, iniciou-se a investida contra os alvos militares ingleses numa guerra basicamente entre a RAF (Royal Air Force – Real Força Aérea) e a Luftwaffe . Apesar de os alemães estiverem em vantagem quanto ao número de aviões, não estavam preparados com bombardeiros estratégicos, armamento pesado, adequada blindagem, além da desvantagem quanto ao abastecimento, já que lutavam nos ares ingleses, com isso pretendiam destruir a aviação para facilitar a invasão por terra.

O comandante-em-chefe da Luftwaffe, Hermann Göring, não conseguiu destruir as forças da RAF, a mais alta tecnologia de guerra da época se fez presente nesta batalha. Os britânicos já contavam com um avançado sistema de radares que os permitia saber com precisão onde estavam as aeronaves alemãs e assim tiveram vantagens sobre o inimigo. Mesmo assim, em setembro de 1940, Londres foi bombardeada muitas de suas construções antigas, como igrejas e monumentos históricos, foram destruídas, bem como as fábricas de aeronaves. No entanto, a RAF resistiu bravamente. Os bombeiros londrinos lutavam contra as chamas da cidade e os civis lotavam as estações de metrô numa tentativa de se protegerem, os subúrbios da cidade foram drasticamente atacados e muitos civis perderam suas vidas.

Em pouco mais de três meses de batalha, a Grã-Bretanha perdeu cerca de 900 aviões e a Alemanha, 1.700. Os planos da invasão da Grã-Bretanha foram adiados e a chamada Batalha da Inglaterra terminou com a vitória dos britânicos, pelos menos no ar. (TOTA, 2007, p. 367).

Em 25 de agosto, em represália ao ataque aos civis ingleses, Churchill ordena uma investida contra alvos militares alemães em Berlim, uma cidade considerada intransponível pelos alemães. Em contrapartida o ditador alemão ordena ataques às cidades inglesas que somaram um saldo de 250 mil desabrigados e 15 mil mortos. Enquanto os alemães desviaram seu foco sob alvos militares, o Comando de Caças da RAF teve tempo de recuperar as torres de radar e as pistas de pouso.

1.5 O AVANÇO ALEMÃO CONTRA A UNIÃO SOVIÉTICA

Apesar de terem assinado um pacto de não-agressão, Hitler e Stalin não confiavam um no outro, porém, este último duvidou até o último momento de uma invasão vinda da Alemanha. Como as demais investidas, esta veio sem aviso, a fim de pegar o inimigo desprevenido. As investidas começaram no dia 22 de junho de 1941, numa operação que ficou conhecida como Operação Barbarossa, em homenagem a Frederico I Barbarossa, imperador do antigo Império Germânico no século XII.

O comunismo e o socialismo já haviam sido derrotados na Alemanha nazista e esta era a hora de derrotá-las desde sua origem. O ditador soviético já havia sido alertado de uma possível invasão, mas não deu crédito. Para a invasão, os alemães enviaram cerca de 150 divisões (o equivalente a 4 milhões de homens), 2.770 aviões, um grande número de blindados e canhões, que seriam divididos para cercar Leningrado, ao norte da URSS e tomar Moscou. Hitler deu ordens de extermínio imediato, sem conceder à intelligentsia Stalinista, aos russos remanescentes e aos comunistas capturados direito a julgamento. Apesar da firme resistência, 4 mil aviões soviéticos foram destruídos ainda no início dos embates. O líder soviético chegou a fazer um pronunciamento público incitando a população a resistir, porém se não fosse possível, estes deveriam fugir com seus pertences ou ainda destruí-los para que o invasor não fizesse uso destes e de que o inimigo era cruel e pretendia fazer-lhes de escravos, ou seja, um retrospecto da estratégia da terra arrasada.

O Exército Vermelho consegue deter os alemães em uma pequena cidade ao sul de Smolensk em 5 de setembro de 1941. A população moscovita começou a construir obstáculos ao longo da cidade, numa tentativa de resistência. Mas foi com a chegada das chuvas que os veículos ficaram parados e os soviéticos aproveitaram para atacar, obtendo significativa vitória contra as forças alemãs.

1.6 A BATALHA DO ATLÂNTICO

Em 1906, os alemães já tinham submarinos que carregavam um único torpedo, estes não operavam em longas distâncias. Os U-boats (barco que afunda), como eram chamados, promoveram verdadeiros estragos já na Primeira Guerra, em que os alemães destruíram vários navios mercantes. As pretensões de Hitler quanto à conquista de territórios não se detiveram somente à Europa, este também promoveu batalhas no Atlântico Norte, a fim de dominar os mares.

Os franceses e ingleses não imaginavam que os alemães voltariam a investir, desta vez com mais força, em submarinos, confiando em uma das cláusulas do Tratado de Versalhes. Hitler, em segredo, não só investiu na fabricação, mas também na capacitação de homens que pudessem operar os submarinos em uma escola no norte da Alemanha. O almirante Karl Dönitz foi quem convenceu Hitler a investir pesado em submarinos. O objetivo era promover um bloqueio naval contra a Inglaterra.

Como "lobos em volta de sua presa", assim ficaram conhecidos os U-boats, que amedrontaram o primeiro-ministro britânico. A Inglaterra teve um prejuízo de 3,5 mil toneladas. Mas nem só de glória viviam os submarinos, pois eram freqüentemente destruídos pelos inimigos ao serem atingidos com bombas de profundidade, ou até mesmo sumiam sem deixar rastros. Atacavam não só navios, como também portos, hidrelétricas e qualquer tipo de alvo suspeito. Agora os U-boats não agiam sozinhos como na Primeira Guerra, mas agora em conjunto para ter maior chance de vitória. Mesmo longe uns dos outros o rádio foi um instrumento indispensável para a comunicação com os demais. Essa batalha não aconteceu só no ar, mas também no mar, onde a os ingleses tiveram muitas perdas desde o início da guerra, quando os submarinos alemães investiam em ataque aos seus navios trazendo terror até mesmo a população civil primeira a ser atacada quando o navio mercante Athenia foi torpedeado e afundou, este evento foi o que faltava para a Grã-Bretanha declarar guerra a Alemanha.

Acuada pelos U-boats, a Marinha Real britânica viu-se obrigada a criar uma escola em Liverpool para tripulantes de barcos de escolta. O idealizador desse treinamento foi o almirante Max Horton. Ele foi pioneiro, ao sugerir que os navios se organizassem em comboios, cercados por navios sentinelas para evitar afundamentos.

Além de submarinos os alemães usaram navios corsários com poderosas armas de guerra a bordo para dificultar o comércio marítimo do inimigo, bem como o transporte de material bélico para os países Aliados. Após a conquista da França em 1940, a costa atlântica francesa serviu de base para submarinos abastecerem sem precisar contornar o Atlântico Norte, diminuindo assim distâncias que mais tarde fizeram a diferença.

CAPÍTULO II

A CONTRADITÓRIA PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA

Enquanto estourava a guerra no mundo, o Brasil vivia sob regime ditatorial varguista, conhecido como Estado Novo (1937-1945), inspirado no fascismo italiano. Porém, as semelhanças existentes entre o governo Vargas, no Brasil, e Benito Mussolini, na Itália, não impediram as relações do governo brasileiro com os aliados, principalmente com os Estados Unidos, pois as relações entre EUA e Brasil nas condições vigentes eram de suma importância para serem desconsideradas. Por exemplo, em janeiro de 1941, apesar da política de Vargas manter neutralidade, estabelecia-se bases navais norte-americanas em muitas cidades do Brasil: Belém, Amapá, Natal, Recife, além da localidade de Fernando de Noronha. Vale salientar a importância estratégica das mesmas para aliados de guerra.

No momento em que a Segunda Guerra Mundial foi desencadeada, Getúlio Dornelles Vargas era o presidente do Brasil. Estava no poder desde 1930, baseado no totalitarismo. Entre os brasileiros havia simpatizantes da Alemanha e da causa anglo-francesa. Os Estados Unidos, então oficialmente neutros, vinham, no entanto, apoiando o esforço antinazismo. Navios da Marinha americana chegavam com regularidade aos portos brasileiros em missão de patrulha, para preservar a livre navegação do Atlântico Sul, um corredor marítimo abundante em matérias-primas vitais para a indústria bélica dos países envolvidos na guerra (DRUMOND, 2008 p.66).

Vargas sugeriu, no fim de 1940, ao presidente Norte-Americano Franklyn Roosevelt, que fosse mediador entre os beligerantes, mediante a ameaça soviética. Nessas ocasiões, os Estados Unidos preparavam-se para declarar guerra contra os países do Eixo, com ou sem ataque a Pearl Harbor. Em 1939, o conflito continuava. Dessa forma, Hitler introduzia elementos da contra-revolução, acabando com os focos da democracia proletária, na burguesia ocidental. Os caminhos da guerra fugiam, portanto, das aspirações dos dirigentes do Brasil. Não interessava ao país prioritariamente, a defesa da democracia, como forma possível de desenvolvimento do capitalismo, o Estado Novo, mostrava-se mais interessado com o Terceiro Reich, nos métodos de conter a classe operária, apesar de haver um compromisso firmado com os Estados Unidos, a Vargas só restava lutar pela neutralidade.

Consistia o plano do tenente-coronel Miller em conseguir do governo Vargas, colocar à disposição das forças armadas dos Estados Unidos, se necessário, as bases aeronavais, juntamente as estradas de ferro e de rodagem, em especial as que serviam àquelas regiões: rádio, telégrafo, cabos e telefones, bem como usinas de energia elétrica, alojamentos, hospitais e armazéns, enfim, todos os setores do Estado brasileiro. Porém, ele não conseguiu a colaboração que gostaria, daí recriminou o governo brasileiro, lamentando que nada estivesse resolvido, através de seus esforços e expectativas. De certa forma, havia mesmo má vontade pelo governo brasileiro. Àquela altura, um incidente conturbou ainda mais a situação. A Inglaterra aprisionou um navio brasileiro, Siqueira Campos, que transportava do Rio de Janeiro armas compradas da Alemanha. Então, Vargas ao término do ano de 1940, emitiu o violento discurso: "em defesa do direito fundamental que nos cabe de provermos a nossa a nossa própria segurança, libertando-nos da tutela que se arrogam os grandes em face dos pequenos desarmados". De acordo com Vargas, o Brasil não encontrava, esta era a dura verdade, portanto, o país não encontrava outra fonte que pudesse atender as necessidades do seu rearmamento. Por fim, o departamento do Estado mediou a questão e conseguiu liberar o Siqueira Campos, porém, a Inglaterra advertiu que não deixaria outro navio, o Bagé, atravessar o bloqueio.

Em 1941, o clima de expectativa continuara, o embaixador José de Paula Rodrigues Alves, de Buenos Aires, avisou que havia um plano dos nazistas para subverter o Paraguai, na Argentina Misiones e Corrientes, e também o Sul do Brasil. O Estado-Maior do exército brasileiro temeu tal ataque e planejou deslocar tropasdo Sul, onde situava-se uma colônia alemã, para então defender o Norte e Nordeste brasileiro.

O governo de Roosevelt, ao que tudo indica, procurou contornar a situação. Não lhe interessava a deflagração de um conflito na retaguarda, que poderia precipitar a intervenção dos nazistas, acompanhados do outro lado do Atlântico. Preferia esgotar todos os recursos, atendendo as reivindicações do Brasil, a fim de obter, pacificamente, a concessão das bases. O governo dos Estados Unidos manifestou-se disposto a abrir-lhe um crédito de 100 milhões de dólares (80 milhões para o exército e 20 para a Marinha) destinado à compra de material bélico. (BANDEIRA, 2007 p. 388)

Entre Estados Unidos e Brasil desenvolviam-se a colaboração nos projetos de defesa do Continente, porém, havia dificuldades e desconfianças. Lehmam W. Miller, promovido ageneral-de-brigada, pediu para fazer um levantamento aerofotográfico do Norte e Nordeste do Brasil. O Exército brasileiro, em resposta, solicitou-lhe quatro aeroplano afirmando que possuía o pessoal e o equipamento necessário para a execução da tarefa. Acreditavam as autoridades militares de Washington, que o Exército brasileiro não recebia favoravelmente o auxílio dos americanos, apesar de o General Góis Monteiro o tivesse pedido em sua visita aos Estados Unidos. Os chefes militares norte americano, de certo modo, ficavam impacientes e a partir disso pretendiam de qualquer forma, até pela força, a concessão das bases. Em maio de 1941, o General Marshall, chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, sugeriu que as tropas americanas participassem das manobras, planejadas no Nordeste, pelas forças armadas brasileiras. O governo Vargas não demonstrou o menor entusiasmo pela idéia, talvez desconfiado dos seus verdadeiros objetivos.

No dia 24 de junho de 1941, em meio a dúvidas e desconfianças entre os dois governos, os Generais Dutra, ministro da Guerra do Brasil, e Miller, chefe da missão militar americana, assinaram um acordo para a criação do Brazilian-American Joint Goup of Staff Officers (Grupo comum Brasileiro-Americano de oficiais de equipe de funcionários). Sendo assim, o governo de Washington obteve do Brasil a concessão para utilizar as bases aéreas e navais por outros países americanos, especialmente pelos Norte Americanos que ajudariam, material e tecnicamente, na sua construção.

Em 7 de dezembro de 1941, Peal Harbor sofre um ataque, isso proporcionou a Roosevelt o motivo que ele esperava para acabar com as resistências e isolamentos, e assim lançar os Estados Unidos, diretamente, no conflito contra o Eixo. Quanto ao Brasil, não restava mais a medida de permanecer neutro. Então, Roosevelt agradeceu a solidariedade de Vargas e pediu-lhe para enviar a cada base do Nordeste, cerca de 50 militares americanos, alegando que os Estados Unidos já não podiam mais usar a rota do Pacífico e, queassimseria importante aos vôos para a África a escala em Natal. Os nazistas, por outro lado, estavam acompanhando todo o trabalho dos americanos no Nordeste. Foi divulgado pela rádio de Berlim pormenores exatos das obras que a Panair realizava nos aeroportos de Recife, Maceió e Natal.

Oliveira Salazar, presidente de Portugal, tentou ainda evitar, talvez inspirado por Von Ribbentrop, chanceler da Alemanha, que o governo Vargas entrasse no conflito alinhado com os Estados Unidos. Esperavam as autoridades nazistas, que o governo brasileiro não evitasse o rompimento de relações com a Alemanha, devido a seus interesses comerciais. Os diplomatas alemães esperavam que o Brasil tomasse uma atitude semelhante a da Espanha, que se solidarizava com o Eixo, porém, não rompera as relações com a Inglaterra e Estados Unidos. De certa forma, Vargas hesitou até o ultimo momento. Ele mantinha relações cordiais com Mussolini, por meio do embaixador da Itália Luís Sparano, fascista declarado.

Em meio à reunião dos chanceleres, Vargas remeteu um bilhete a Oswaldo Aranha, que o rasgou, depois de tê-lo. Ainda queria recuar. Mas a decisão, previamente, tomada. A embaixada do Brasil em Berlim, seguindo as instruções do Itamaraty, começou os preparativos para o rompimento de relações, na manhã de domingo, 11 de janeiro de 1942, quatro dias antes da data marcada para o início da 3ª reunião de consulta dos Chanceleres Americanos. Os Estados Unidos ganharam a batalha da diplomacia (BANDEIRA, 2007 p. 394).

Os Estados Unidos aumentaram os créditos para aquisição armamentos militares no Brasil de 100 para 200 milhões de dólares. O presidente Vargas orientava, diretamente, os seus representantes em Washington, não esquecendo projetos como industrialização e desenvolvimento econômico. Negociava-se a encampação da Estrada de Ferro Vitória, Minas e das jazidas de ferro da Itabira, um programa para a extração da borracha e uma maior prioridade da maquinaria destinada a siderúrgica. Enquanto as negociações em Washingtoncontinuavam, o torpedeamento dos navios brasileiros pelos submarinos alemães exaltou o ânimo da mocidade.

Ao Brasil, não restava mais a postura da neutralidade. O país a abandonou quando se envolvera no conflito, a partir do momento em que permitia que os Estados Unidos utilizassem as bases militares no Nordeste, para o ataque aos nazistas, em Dacar e outros pontos da África. A atitude dos alemães, torpedeando os navios mercantes brasileiros, frustrou o jogo de Vargas, inclusive a política interna. A indignação aumentou o clamor popular, daí em diante cresceu a agitação em todo país, aumentou a luta pela participação do Brasil na guerra contra o Eixo, na qual efetivamente o mesmo já se engajara, voltava-se na verdade contra o as correntes fascistas do próprio governo. Em 21 de agosto de 1942, a declaração de beligerância, somente formalizou uma situação de fato, evitando que o regime caminhasse para a derrocada, com uma nação em dissidência, e mais uma vez os interesses Norte Americanos foram beneficiados. Com o Estado em guerra, o governo brasileiro liquidou o Banco Germânico da América do Sul, o Banco Francês e o Banco Alemão Transatlântico.

No encontro com Roosevelt em 1943, Vargas cogitou aos Estados Unidos o apoio sem restrições e discutiu a possibilidade do envio de tropas para a África. O Brasil não tinha objetivos diretos e imediatos de guerra. Seu objetivo se alinhava com os Estados Unidos, que pelo qual era, exclusivamente, aliado. Por tanto, ele não podia ter uma estratégia própria, sendo assim, as necessidades de desenvolvimento modificavam, entretanto, o caráter de sua participação no conflito de 1939. O Brasil não mais se conformava com o papel de mero escudeiro dos Norte Americanos, mas com um participante ativo.

A cooperação entre Estados Unidos e Brasil não se desenvolveu sem algumas dificuldades. Alguns aviões viajavam, às vezes sem identificação e as autoridades americanas não prestavam ao menos uma informação. O general Zenóbio da Costa estranhou esse procedimento. O brigadeiro Eduardo Gomes, que foi o comandante no litoral brasileiro teve em alguns momentos, desavenças com as autoridades americanas e principalmente com o vice-almirante Jonas H. Ingram, sendo ele comandante das Forças navais do Atlântico Sul, ele queixou-se de que a Força Aérea brasileira não estava fazendo o progresso no que se refere a treinamento e operações, embora no começo o mesmo julgasse excelente a sua colaboração.

A questão da remessa de tropas arrastou-se por algum tempo. Muitos oficiais brasileiros cogitavam de que não se deveria mandar um corpo expedicionário para o estrangeiro, sem antes assegurar-se dos elementos necessários à defesa do país. Outros eram favoráveis ao envio imediato e entre eles o major Juraci Magalhães, "mui belicoso", que era cheio de entusiasmo pelos Estados Unidos e sua democracia. Da parte dos norte americanos também havia um posição definida: Roosevelt desejava que o Brasil mandasse forças para Açores e Madeira. Depois decidiu-seem Washington, que 60.000 brasileiros partiriam para o Norte da África.

No final de abril de 1943, o então embaixador do Brasil no México, Carlos de Lima Cavalcanti, comunica ao Itamaraty o esforço de Roosevelt para que todos os governos americanos voltassem com suas vidas normais, a fim de que, tantos os vencidos como algumas nações não associadas do continente americano, não tivessem pontos vulneráveis que enfraquecessem ou permitissem a contestação da autoridade moral de todos, essencial aos compromissos da paz.

Roosevelt visava, particularmente, à ditadura de Vargas, de conotação totalitária, e preparava os Estados Unidos para o confronto com a União Soviética (Nação Associada não-continental), no pós-guerra. Havia, na sua atitude, um misto de messianismo nacional e de farisaísmo democrático. Os Estados Unidos ainda guardavam o pudor da vestimenta com que encobriam sua dominação. (BANDEIRA, 2007 p. 405)

Latejavam as contradições no continente, com a aproximação do término da Segunda Guerra. A Grã-Bretanha articulava ajudar a Argentina, fornecendo-lhes armamentos, para contrabalançar a influência que os Estados Unidos, por meio do Brasil, adquiriam na América do Sul e que poderia aumentar de forma destrutiva para os seus interesses. O embaixador José de Paula Rodrigues Alves falou este fato ao Chanceler Oswaldo Aranha, em maio de 1943. Sendo assim, continuaram os preparativos militares de lado a lado. O governo de Washington comprometeu-se a entregar ao Brasil, rapidamente material para uma divisão motorizada. Enquanto a crise da Argentina evoluía, com a luta de facções, no Rio Grande do sul se desenhava o quadro para um conflito.

Estava nas previsões do Estado Novo brasileiro, invadir a Argentina. O General Góis Monteiro, que estava em Montevidéu, falou o Itamaraty sobre a existência de um plano, traçado em 3 de outubro de 1940, por meio de carta escrita a bordo de um navio uruguaio, e recomendou uma adoção ou de uma variante, sempre tendo como base a rapidez. Então, o governo do Brasil aconselhou que devia prever mudança da corrente de transportes, que tivera sido planejada pela FEB, da Europa à África, para a bacia Ocidental do Rio da Prata, construir no Sul depósitos e bases de operações, para as forças aéreas e mecanizadas, e assim, favorecer a instalação, em Santa Catarina o em Montevidéu, de bases aéreas e navais, para os Estados Unidos. Não se acreditava que a Argentina pudesse iniciar uma agressão, mesmo assim, entendia-se que era preciso que o Brasil adotasse atitudes cautelosas para o futuro, levando em consideração a possibilidade de intervir na Bacia da Prata, de acordo com os Estados Unidos.

Não cessavam as intrigas, de Berna, chegou a notícia de que a Argentina se preparava para atacar o Brasil. Isto no momento em que a primeira Divisão da Força Expedicionária Brasileira (FEB) se preparava para embarcar com destino a Europa. Na Suíça, o representante do Brasil, Rubens Ferreira de Melo, informava que Espanha trocaria com a Argentina toneladas de ferro e aço por trigo e algodão. Todavia, parte desse material, ferro e aço, iria sobe forma de armamentos. Nesse ínterim, meados de 1941, o Departamento de Estado redobrou a pressão contra o governo de Buenos Aires. Roosevelt sugeriu ao governo de Vargas o estreitamento entre Brasil e Estados Unidos, isso significaria uma associação contínua nas atividades de defesa dos Exércitos, Marinha e Força Aérea dos países.

Acenou com a possibilidade de examinar a participação brasileira em entendimentos extracontinentais. A embaixada americana, imediatamente, formalizou aquela proposta em memorândum, oferecendo, concretamente, um acordo de segurança militar, para a hipótese de agressão a qualquer dos dois países ou ao hemisfério. Os Estados Unidos renunciavam, definitivamente, à tradição de George Washington. Pela primeira vez, não só aceitavam como convidavam outro país do continente à formação de uma aliança defensiva, recusada pelo Departamento de Estado, desde os tempos da independência do Brasil. (BANDEIRA, 2007 p. 409).

Em tais circunstâncias, a situação do Brasil não mais oferecia tranqüilidade aos interesses americanos. O Estado Novo, por sua vez, ainda se rejubilava, por sua forte coloração nacionalista, uma vez que os acontecimentos da Argentina tendiam a reanimá-la. O retorno do embaixador Carlos Martins ao Rio de Janeiro, motivou os rumores de que o Brasil repudiaria a política de Washington, aproximando-se da Argentina. Vargas imediatamente desnudou essa história, na abertura dos trabalhos da Comissão Militar Mista Brasil-Estados Unidos.

Vargas achava natural que a Inglaterra, por motivos interesseiros na Argentina, procurasse defendê-la. De certa forma, a City, o centro financeiro de Londres, impedia que o Foreign Office apoiasse a adoção de severas medidas contra aquele país. A atitude de Buenos Aires em relação aos países do Eixo não passava, portanto, de pretexto, que os Estados Unidos detinham, numa tentativa de romper as tendências nacionalistas e também erradicar do Continente os redutos do Capital europeu. É importante ressaltar, que a influência nazista existia tanto no governo Argentino como no governo brasileiro. Porém, a Argentina, ao contrário do Brasil, tinha condição de resistir, dentro de um sistema capitalista, ao governo Note Americano. Seus principais produtos exportação se faziam presente em qualquer país. Por outro lado, o Brasil, café e algodão, dependiam exclusivamente dos Estados Unidos. A Argentina estocava trigo, carne e laticínios. O Brasil, por sua vez, só estocava algodão, produto do qual a reserva existente nos Estados Unidos dava para suprir o mundo todo.

Em meio aos sacrifícios existentes na Guerra, muitos foram cruéis e devastadores. Todos os Estados brasileiros se achavam representados na FEB e, entre todos, São Paulo foi o que teve maior número de mortos, 92. Minas Gerais perdeu 80 homens; o Estado do Rio, 63. O então Distrito Federal chorou a morte de 50 cariocas; 29 paranaenses e 28 catarinenses ficaram no cemitério de Pistóia, ao lado de 21 gaúchos, 17 goianos, 13 pernambucanos, 12 capixabas. 11 baianos, 6 cearenses, 6 paraibanos, 6 rio-grandenses do norte, 6 sergipanos, 5 alagoanos, 4 paraenses, 2 piauienses, 1 acreano e 1 amazonense. Apenas um Estado, o Maranhão, foi mais feliz: não teve um só morto na campanha da Força Expedicionária Brasileira.

2.1 A SOMBRA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ALCANÇA A AMAZÔNIA

Quando ocorreu a Segunda grande Guerra, houve uma expansão do exército militar japonês pelo território asiático do extremo oriente, ocupando antigas áreas coloniais européias. Daí em diante, em pouco tempo, exatamente em 1942, os japoneses já haviam conquistado importantes áreas do sudeste asiático ricas em matéria-prima, principalmente a borracha, obtendo os japoneses o monopólio de 95% da produção mundial da borracha devido às conquistas realizadas. Então houve a queda das colônias européias que estavam em poder dos japoneses, esse processo afetou muito o abastecimento da borracha, que era por sua vez necessário aos esforços de guerra dos países aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França e URSS), assim também como as demandas de borrachas através das indústrias não-bélicas, onde a demanda em função da própria guerra havia aumentado. Neste contexto, cresce a produção da borracha silvestre amazônica, tornando-se uma alternativa das demandas desvalorizadas devido a perda dos territórios do Sudeste Asiático para os japoneses, afinal, nas primeiras décadas do século XX, a Amazônia já havia sido a grande empreendedora e fornecedora de borracha em nível mundial. Em meio a Segunda Guerra, as populações da Região Amazônica conheciam uma época mais difícil ainda. Estavam eles isolados pela via terrestre do restante do território brasileiro, os amazônidas viam seus portos atingidos pelo bloqueio arremetido pelos submarinos alemães, com isso deixando de receber indispensáveis alimentos de outras regiões.

Para alcançar esse objetivo, iniciaram-se intensas negociações entre as autoridades brasileiras e americanas, que culminaram com a assinatura dos Acordos de Washington. Como resultado, ficou estabelecido que o governo americano passaria a investir maciçamente no financiamento da produção de borracha amazônica. Em contrapartida, caberia ao governo brasileiro o encaminhamento de grandes contingentes de trabalhadores para os seringais – decisão que passou a ser tratada como um heróico esforço de guerra. No papel, o esquema parece simples, mas a realidade mostrou-se muito mais complicada quando chegou o momento de colocá-la em prática (NEVES, 2004 p.75-76).

Com o recrutamento dos "soldados da borracha" o governo brasileiro procurava sanar o problema da seca no nordeste, por isso os nordestinos foram a principal mão-de-obra. A chamada "batalha da borracha" se iniciava no transporte desses trabalhadores do Nordeste para a selva amazônica. Primeiro os trabalhadores encaminhavam-se até as estações de trem para serem transportados até São Luís do Maranhão. Depois eram transportados de navio pelas costas brasileiras e depois pelo rio Amazonas até a selva amazônica. O primeiro desafio estava justamente no transporte dos trabalhadores pelas costas brasileiras, pois a qualquer momento os navios poderiam ser atacados por submarinos alemães, e isso provocava um terror nas famílias dos "soldados da borracha".
                                       
















                                        CAPÍTULO III

A SOLUÇÃO VEM DO AR

3.1 A CONSTRUÇÃO DA BASE AÉREA DE AMAPÁ

Para Neto (2008), apesar da política de neutralidade, o governo brasileiro aproximava-se cada vez mais dos Estados Unidos, permitindo pelo Decreto Federal nº 3.462 de 25 de julho de 1941, a construção de bases aeronavais em Recife, Salvador, Fortaleza, Natal, Belém e nas proximidades do município de Amapá. Para os Estados Unidos, a construção dessas bases facilitaria o envio de tropas e material bélico para as forças aliadas que enfrentavam os alemães e italianos no norte da África, além de garantir a segurança aos navios mercantes que transitavam pelo Atlântico Sul. As bases também foram construídas com o intuito de fornecer aviões que apoiassem os navios de guerra no combate aos submarinos alemães e evitar o colapso da Grã-Bretanha, que dependia do comércio marítimo.

A construção dos campos de aviação para a utilização de aeronaves de grande porte no norte e nordeste do Brasil ficou sob a responsabilidade da Panair do Brasil, subsidiária da Pan American Airways, que de acordo com o art. 1º desse Decreto, foi autorizada a "construir, melhorar, aprimorar e aparelhar os aeroportos de Amapá, e outros, com o fim de permitir a sua utilização por aeronaves" (SOUZA, 1999, p. 124). A Panair ainda tinha deveres específicos, tais como: realizar benfeitorias nos aeroportos sob sua responsabilidade, ampliando as pistas além de mil metros, reforçar o piso para que pudesse suportar as aeronaves de grande porte, instalar faróis rotativos, luzes para assinalar os limites dos aeroportos e holofotes para iluminar pistas e usinas de emergência para a geração de energia elétrica. Também deveria submeter à aprovação do governo todos os projetos relacionados às obras (plantas, orçamentos e especificações) e por fim entregar ao governo, mediante termo de entrega, as obras, pistas, aparelhamentos e instalações em geral, assim que concluídas. Ao Ministério da Aeronáutica coube construir edifícios necessários aos contingentes tanto da Força Aérea Brasileira quanto da força aérea dos Estados Unidos. "Assim, grandes áreas privadas foram consideradas de utilidade pública e por isso, desapropriadas para ali se construir as bases aéreas e aeroportos" (SOUZA, 1999, p. 124).

Para iniciar construção da Base Aérea de Amapá foi baixado o Decreto nº 14.431 de 31 de dezembro de 1943 que declarou, para fins de utilidade pública, a desapropriação dos terrenos, inclusive benfeitorias que nele existissem, situados no município de Amapá, pertencentes a Assaid Antônio Sfair. Essa área media, de acordo com Rodrigues (2009), 6,09 milhões de metros quadrados e ficava a 12 quilômetros do município de Amapá. Segundo Souza (1999), foram recrutados cerca de 5 mil homens para trabalharem na construção da base, a maioria nordestinos, "enquanto que a mão-de-obra especializada como engenheiros, médicos, arquitetos, topógrafos na sua maioria era de origem estrangeira, todos comandados pela Marinha Americana até o final de 1945" (SOUZA, 1999, p. 144). Sebastião Soares da Silva, que nasceu em 1932, morou no local durante a guerra e que hoje reside no município de Tartarugalzinho, afirma que na época só havia três moradias nas proximidades. A base foi projetada para a ação de aviões terrestres ou anfíbios e dirigíveis contra submarinos que atuavam tanto na costa do Amapá quanto nas Guianas. As obras foram concluídas em apenas três meses, segundo Serafina Ferreira Assunção, que nasceu em 1928 e mora no local desde antes da construção da base e hoje reside em um dos alojamentos que foram cedidos à população local. Esta moradora ainda enfatiza que os norte-americanos montaram uma cantina e trouxeram doces, enlatados e outros produtos até então desconhecidos pela população local. Além disso, ressalta que "os norte-americanos ajudavam as pessoas da vila quando adoeciam e se necessário, levavam para Belém". Tanto Assunção quanto Silva dizem que o comando militar da base ficava sob a responsabilidade dos norte-americanos e o trabalho era executado por brasileiros.

Logo no início da construção sigilosa de um campo de aviação no município de Amapá, em primeira mão, funcionou de forma clandestina. Talvez por isso, nunca se propôs junto à população local o que estava ocorrendo, época em que a comunicação ali era bastante precária apesar de existir na vila, um serviço de telegrafia (SOUZA, 1999, p. 155).

Aos poucos foram aparecendo as primeiras aeronaves fazendo um ruído estarrecedor devido à potência de seus motores. No início a população da região ficou assustada ao ver a movimentação, pois, como foi dito anteriormente, a comunicação era precária e por isso a população não foi informada. Ninguém sabia que os aviões carregavam consigo equipamentos bélicos para a base de Natal, e dali enviá-los para o norte da África. Conforme o tempo foi passando a população foi se acostumando, mas o que causou mais impacto foi o Zepelim pelo seu tamanho.

A Base Aérea era considerada algo espetacular pelos moradores da região. Segundo depoimentos, a cidade de Amapá tinha somente uma rua com pouquíssimas casas, sem energia e com pouca infra-estrutura. Ao contrário da Base que era toda construída em alvenaria, tinha quinze alojamentos para 4.000 trabalhadores, além dos alojamentos para os soldados e oficiais, hospital, sistema de tratamento de água, casa de força, comércios, cinema, salões de festas e aviões constantemente (SILVA, 2008, p. 29).

Segundo Assunção, o povo se sentia seguro com a presença norte-americana, todavia essa colocação vai de encontro com a de Silva, que afirma que o medo de uma invasão era constante. Porém, de acordo com Souza (1999, p. 155), "a tensão e o medo só se instalaram mesmo na região quando o Exército brasileiro começou a convocar os jovens maiores de dezoito anos do Amapá, para se engajar nas trincheiras do Exército Brasileiro". As famílias temiam tal medida porque sabiam que essas trincheiras estavam instaladas no continente europeu, o palco principal da Segunda Guerra Mundial.

A partir daí, trataram de rezar frente aos oratórios de suas casas, intercedendo junto a Deus e seus santos padroeiros para que essa guerra estúpida e apavorante e cheia de sobressaltos viesse logo a ter fim. Assim, tornavam-se comuns nos rituais das ladainhas o pranto, o choro, a angústia estampada no seio da sociedade interiorana amapaense (SOUZA, 1999, p. 155).

Os primeiros dirigíveis de uso militar chegaram ao Brasil em setembro de 1943, o primeiro foi o K-84, enviado para a base aérea de Fortaleza e pertencia à Ala de Dirigíveis da 4ª Esquadra. Primeiramente, os dirigíveis que chegaram ao Brasil foram chamados de "blimps" e dividiram-se em dois esquadrões: o Esquadrão ZPN-41, que atuava nas bases aéreas de Amapá, Belém, São Luís e Fortaleza; e o Esquadrão ZPN-42, sediado em Maceió que também operava em Recife, Salvador, Vitória, Caravelas e Rio de Janeiro (Santa Cruz).

Após o término da construção das pistas especiais e da torre de ferro, muitos homens tiveram que ser contratados para amarrar a proa do Zepelim à torre com cabos de aço. Os Zepelins foram de fundamental importância no patrulhamento da costa brasileira por seu alto desempenho no que diz respeito ao tempo de permanência no ar (até sete dias) e pelo fato de não fazer barulho. Sua principal função era detectar submarinos. Logo no início da guerra os Zepelins apenas tinham a missão de prestar apoio no salvamento das tripulações dos navios de guerra.

Souza (1999) explica que no interior dos "blimps" toda a tripulação deveria utilizar sapatos especiais de lona para evitar faíscas em um possível atrito com os cabos que ficavam espalhados pelo interior do aparelho. Depois que a pista dos Zepelins foi desativada, os sapatos especiais foram aproveitados pelos trabalhadores brasileiros da companhia norte-americana. A antiga pista e a torre do Zepelim sofreram a ação do tempo, sem contar que, de acordo com Assunção, quando foi fundado o museu a céu aberto da base aérea a torre foi retirada de seu local original, o que desapontou tanto os antigos quanto os moradores mais recentes da região.

Os moradores das proximidades também se impressionaram com os norte-americanos. Afinal, tratavam-se de pessoas estética e culturalmente diferentes. Tanto os moradores quanto os brasileiros que trabalhavam na base tiveram que se acostumar com aqueles homens brancos, altos, de olhos azuis, falando uma língua enrolada e estranha que também tiveram que se esforçar para adaptar-se ao local. Assunção enfatiza que os norte-americanos eram gentis com a população. O mais intrigante é quando ela diz que "os americanos parecem ter sido feitos para a guerra".

A paisagem do local foi aos poucos se modificando através do saneamento, da infra-estrutura, construções de barracões de cimento na área delimitada. Os trabalhadores construíram ao redor suas moradias sem infra-estrutura. Com o tempo, estes imigrantes familiarizaram-se com os roncos dos motores dos aviões e os Zepelins.

3.2 O "TEMPO DA VACA GORDA"

É assim que Assunção define o período em que a região progrediu. Salienta que "no tempo da guerra era tudo limpinho". Os trabalhadores da Companhia desfrutaram de um modo de vida satisfatório, com salários pagos por hora de serviço e ainda recebiam por horas extras; os mantimentos básicos eram vendidos a preços reduzidos, como complemento de salários. Com isso, os trabalhadores tiveram acesso aos mais variados produtos disponíveis na cantina: balas, biscoitos, creme dental, sabonete, geléias, compotas de frutas, enlatados, etc.

No que diz respeito à economia, havia muitos fornecedores de mercadorias, muitos de Vigia, no Pará, criando um grande intercâmbio comercial pela venda de farinha de mandioca e outros produtos. O gado de corte para a alimentação dos soldados, quem fornecia eram os fazendeiros de Amapá, o coronel Arlindo, Vicente Sobrinho e outros, e o pagamento era feito na ocasião das entregas (SILVA, 2007, p. 28).

Muitas baiúcas foram montadas no local, mas o que realmente marcou a época foi o "Uirapuru", um bar inaugurado por Armando Limeira de Andrade. O proprietário incrementou algumas novidades como uma mini sorveteria, jogo de bilhar, sistema de alto-falantes para proporcionar aos clientes, a maioria composta por norte-americanos, músicas que faziam sucesso na época como "Tico-tico no Fubá".

No bar "Uirapuru", podia-se tomar sorvete, picolé de açaí, abacaxi, taperebá, graviola, cupuaçu, bacuri e outras frutas saborosas do município, que tanto fizeram a festa da garotada que na sua ingenuidade, acreditava que o sorvete era quente que, em contato com o ar desprendia uma fumacinha. Deveria ser bastante engraçado olhar a cara dessas crianças expressando espanto, medo ou satisfação ao tomar posse de uma coisa tão estranha para elas (SOUZA, 1999, p. 162).

Outros pontos de entretenimento eram os bairros da Carrapeta e da Janga, que ficavam à esquerda da base. Nesses bairros existiam salões de festas onde os rapazes tentavam arranjar namoradas. José Cajazeira (apud SILVA, 2007, p. 29), outro morador local afirma que foi lá que iniciou seus "primeiros passos de rapaz". "Nestes locais concentrava-se todo o movimento de diversão, em que trabalhadores civis, militares e estrangeiros iam às festas religiosas como a do Divino Espírito Santo de Amapá, que trazia muitas pessoas da Base para a cidade" (SILVA, 2007, p. 29).

Muitos ambulantes aproveitaram a presença norte-americana para dar início à venda de animais tropicais, tendo em vista que os norte-americanos mostravam fascínio pelos animais da Amazônia. Logo foram vendidos e exportados uma grande variedade de aves como o papagaio e até mesmo urubus recém-nascidos, além de outros bichos, como macacos. De acordo com Souza (1999, p. 165), "exatamente nesse período foi despertada a índole entreguista e desinteressada dos brasileiros que de imediato começaram a assimilar a cultura norte-americana, desprezando as riquezas naturais do Brasil".

Os norte-americanos também construíram um cassino onde se apresentavam atores, cantores (Carmem Miranda, Grande Otelo, Dinamar e Dinamor), atrizes e o tão popular – nos Estados Unidos, é claro – jazz. Este cassino foi construído para aliviar a pressão daqueles tempos difíceis.

É importante salientar que o que mais causava tensão tanto nos militares norte-americanos quanto na população era o exercício do "blecaute", isto é, quando as luzes da base eram desligadas a cada hora e tocavam as sirenes como treinamento de defesas antiaéreas. Tal exercício assustava alguns moradores, como Silva que relata que para a população das proximidades era o toque de recolher, as pessoas apagavam todas as luzes, não podiam sequer acender uma vela. Só se ouvia os roncos dos motores dos aviões. Entretanto, para Assunção o fato de tocarem as sirenes apenas indicava as horas. Ainda diz que as luzes não se apagavam, o que vai de encontro com as demais informações.

Um pouco mais distante da base surgiram inúmeras palafitas, barraquinhas, todos os tipos de moradias rudimentares que se possa imaginar para abrigar as famílias dos trabalhadores mais pobres. Nessa região também surgiram construções com uma melhor estrutura, eram os comércios, bares e casas de dança da classe média.

Todo esse aparato comercial geralmente eram construídos (Sic) nos lugares por onde circulavam as pessoas e com isso transformaram-se em pequenos bairros: a casa Santo Antonio, de propriedade do Sr. Zacarias Limeira ficava num porto de ligação entre a cidade de Amapá e a Base; o comércio do "Zé Magro"; o bar e a casa de dança do "seu Leal" comandada pela dona Hermínia; Igarapé da Carrapeta, onde a mulherada defendia alguns trocados lavando roupa; Staff House; Transmissoras; Rasa; Calafate; Cachoeira Grande e a Janga (SOUZA, 1999, p. 168).

Os bairros da Carrapeta e da Janga ficavam à esquerda da base, onde moravam comerciantes. Era onde se concentrava todo o movimento e a diversão, onde trabalhadores, civis, militares e estrangeiros reuniam-se nas festas. A festa do Divino Espírito Santo atraía pessoas da base para a cidade. Nessa festa os participantes não só participavam das cerimônias como também faziam muitas doações. Manoel Pinheiro dos Santos (apud SILVA, 2007, p. 29), nascido em 1924 na localidade de Cajueiro afirma que "na Janga ocorriam as festas tocadas a violinos e era freqüentada por soldados brasileiros, americanos, oficiais, médicos e muitos civis". Foi nessas festas que muitos norte-americanos deixaram descendentes.

Muitas mulheres eram contratadas pelo administrador da Companhia para trabalharem na lavanderia e em outras funções domésticas. Os norte-americanos tiravam proveito da situação para pôr em prática algumas coisas que aprenderam com os brasileiros. Os serviços prestados eram pagos em dólar para que as mulheres pudessem manter o luxo ostentado comprando roupas da moda e jóias preciosas. As mulheres brasileiras atraíam os norte-americanos por suas "habilidades sexuais", ao mesmo tempo em que ganhavam respeito, pois o tratamento dado pelos brasileiros era censurado pelos norte-americanos, que repudiavam a violência contra a mulher.

3.3 AS AÇÕES MILITARES

O ano de 1943 foi marcado pela reviravolta dos aliados. Logo no início do ano, os soviéticos empreenderam em Stalingrado uma vitória decisiva sobre as forças do Eixo durante a Operação Urano, pois, conforme Beevor (2005), após a rendição do Sexto Exército Alemão comandado pelo marechal-de-campo Friedrich Paulus os soviéticos avançariam com ímpeto e não descansariam até Berlim ficar em ruínas. Nesse mesmo ano as tropas do Eixo foram expulsas do norte da África pelas forças aliadas e teve início a invasão da Itália. Além de que, os aliados passaram a adotar novas táticas contra os submarinos alemães que operavam no Atlântico. No final de fevereiro de 1943 os aviões e navios aliados passaram a atacar os submarinos de surpresa e a balança da Batalha do Atlântico começou a pender para o lado dos aliados devido principalmente ao uso do radar centimétrico, cujo comprimento de onda era de 10 centímetros, sendo capaz de detectar qualquer submarino navegando na superfície a uma grande distância e em mar revolto. Os U-boats eram localizados todas as vezes que enviavam uma mensagem de rádio. Os aliados passaram a acreditar na vitória, mas sabiam que estavam longe de terminar a guerra.

Apesar da reviravolta, os alemães passaram a adotar novas táticas para tentar reverter o quadro. Uma delas era a utilização de submarinos conhecidos como "vacas leiteiras", responsáveis pelo abastecimento dos submarinos de combate para que pudessem aumentar o seu alcance e atingir as costas dos países americanos aliados, principalmente os Estados Unidos e o Brasil. O problema dessa tática era que para abastecer um submarino era preciso que tanto a "vaca leiteira" quanto o U-Boat emergissem, isso os tornavam alvos fáceis, tendo em vista que os aliados àquela altura conseguiam cobrir a maior parte do Oceano Atlântico. Outra tática era bem mais ousada: o submarino, ao ser visto, não deveria mais submergir, e sim lutar, para tanto foram equipados com vários armamentos antiaéreos.

Foram afundados dez submarinos em toda a costa brasileira contra 16 navios mercantes perdidos. Próximo à costa do Amapá, o navio Antonico foi torpedeado em 28 de setembro de 1942. Dentre os submarinos, dois foram afundados próximo à costa amapaense: o U-590 e o U-662. De acordo com Souza (1999), o primeiro foi avistado na superfície em 9 de julho de 1943 pelo Catalina VP-94 que saiu da Base Aérea de Amapá, porém o avião não resistiu ao fogo cerrado do submarino alemão e um piloto norte-americano acabou morto, mas o co-piloto conseguiu levar a aeronave à base aérea Val-de-Cans, em Belém. Outro avião foi enviado de Belém para atacar o submarino. A autora ainda enfatiza que o U-590, que era comandado pelo 1º tenente Werner Krüer já havia torpedeado o navio "Pelotasloide" em 4 de julho, na barra de Belém.

Já o U-662 foi destruído no dia 21 de julho de 1943, quando aguardava para atacar o comboio TF-2, que já havia perdido a posição de lançamento no dia 19. Assim, perseguindo o grupo de navios mercantes, foi logo avistado por um avião norte-americano no exato momento em que mergulhava. Dado o alarme, saiu o avião VP-94 da Base Aérea de Amapá que logo trocou tiros com o U-662, em seguida foi auxiliado pelo avião PBY americano e, juntos destruíram o submarino que estava a cem milhas do local. Ainda encontraram o U-590, avariado e comboiando. Nesse momento quatro homens, dentre eles o comandante Müller, foram recolhidos pelo PC-494.

Além do U-590 e do U-662, ocorreu outro caso anterior em abril de 1943, quando a guarnição do avião 83-P-5, pilotado pelo tenente Robertson avistou um submarino na superfície. O submarino abriu fogo e um intenso combate teve início. Mesmo com o submarino danificado, sua tripulação continuou a atirar. Robertson pediu reforços pelo rádio e um avião que estava nas proximidades, o 83-P-12, comandado pelo capitão Bradford, recebeu a mensagem e lançou quatro bombas Mark-44 "que, ao disparar, conseguiu aparentemente arrombar o casco do submarino, um pouco a ré da torre de comando" (SOUZA 1999, p. 151). O submarino ficou gravemente avariado e afundou em poucos minutos e uma camada de óleo marrom-escuro formou-se na água, onde cerca de trinta sobreviventes debatiam-se. O avião de Bradford continuou sobrevoando o local lançando balsas salva-vidas e depois rumou para a Base Aérea de Natal com os sinais do combate em suas asas. Uma das balsas foi encontrada por dois pescadores do Bailique no dia 13 de maio de 1942 contendo um sobrevivente em estado desesperador. O sobrevivente era um sargento italiano e chefe de uma metralhadora antiaérea do submarino italiano Archimedi. Este sobrevivente ainda relatou que sua guarnição fora designada para atuar no setor Recife/Salvador, navegando sempre à superfície. Além disso, ainda informou que nas docas de Bordeaux existiam 25 U-boats e 10 submarinos italianos. Os submarinos alemães sairiam em grupos de 3 ou 4 para operarem no litoral brasileiro.

Assunção conta que em uma determinada ocasião os moradores das proximidades avistaram aviões americanos escoltando um bombardeiro alemão capturado, contudo não pousaram na base aérea. Acredita-se que tenham levado o bombardeiro para Belém. "Outros relatos dessa época, levaram o governo brasileiro a suspeitar de um barco de propriedade de um fazendeiro no Amapá, foi flagrado abastecendo submarinos alemães e italianos na costa do Amapá" (SOUZA, 1999, p.145).

A Marinha do Brasil ficou responsável pelo patrulhamento de quase todo o Atlântico Sul. Foi aprovado um plano de organização de grupos de ataque constituídos pela 4ª Esquadra, incluindo aí os contratorpedeiros brasileiros e os caça-submarinos, letra g. A marinha brasileira desenvolveu importantes serviços durante o conflito, "conduzindo nada menos de 16.482.062 toneladas brutas pelos 3.164 navios conduzidos em comboios" (SOUZA, 1999, p.145).

Os comboios confiados à guarda brasileira sofreram poucas perdas, porém navios brasileiros foram torpedeados pelo simples fato de, por serem obsoletos, não conseguirem acompanhar os comboios. Se os comboios diminuíssem o ritmo, a segurança de todos os navios estaria em risco, ou seja, se tornariam alvos fáceis para os submarinos. A organização dos comboios era protegida por forças aeronavais. Esta coordenação entre a força aérea e naval foi mais uma estratégia aliada para reverter o quadro da Batalha do Atlântico.

De acordo com Souza (1999), houveram 76 contatos entre navios brasileiros e submarinos do Eixo. 38 ataques ocorreram em 1943, 14 em 1944 e 24 até o dia 31 de julho de 1945.

O Esquadrão VP-94 teve seu batismo de fogo em 9 de julho de 1943 quando decolaram ao meio-dia da base aérea de Belém para uma patrulha e avistaram um submarino a 200 milhas do Amapá e a nordeste de Belém. De início, a tripulação do Catalina PBY-3 não sabia realmente se era um U-boat ou um simples barco, mas a dúvida foi tirada assim que avistaram a torre de comando submergindo, então se prepararam para o combate e avistaram uma mancha no mar e imediatamente lançaram uma bóia para marcar a posição onde o submarino submergiu.

Num último sobrevôo ao local, avistaram o submarino imóvel, à flor d'água. Assim, da cauda do avião fotografaram e em seguida soltaram as bombas e nisso, o Catalina quase atingiu a água. No momento em que foram lançadas as bombas o avião recuperou o mergulho, mas a tripulação toda foi arremessada contra o bojo da fuselagem e o metralhador da direita, tentando atingir o submarino, perfurou a asa com seus próprios disparos e nisso atingiu em cheio o U-boats (Sic), e até hoje não soubera quem o abatera (SOUZA, 1999, p. 153).

Após o bombardeio a tripulação pôde enxergar cinco homens se debatendo no mar, gritando desesperadamente em meio aos fragmentos, tonéis e caixotes. Três deles desapareceram e foram lançadas balsas que foram agarradas pelos dois náufragos restantes. A mesma autora não diz para onde os prisioneiros foram levados, mas Silva diz ter visto dois prisioneiros chegando à base aérea de Amapá.

Um documento detalhado informa que numa outra operação efetuada no litoral norte brasileiro foram mortos cerca de 70 pessoas ditas "inimigas" e outros 6 submarinos foram também afundados sem nunca ter sido confirmadas mas informadas através dos "actions reports", relatos estes taquigrafados pelos pilotos, durante os bombardeios dos U-Boats (barco navio), como eram conhecidos os submarinos (SOUZA, 1999, p.138).

Aos poucos, os submarinos deixaram de representar o mesmo temor de antigamente, principalmente quando teve início a organização dos comboios, que puderam, assim, ser escoltados de forma mais eficiente por toda a costa brasileira até Trinidad. As derrotas alemãs na Batalha do Atlântico possibilitaram o desembarque aliado na Itália em 1943, que culminou na derrota italiana, e o desembarque na Normandia em 6 de junho de 1944, que abriu uma nova frente contra os alemães. Agora os alemães enfrentavam ingleses e norte-americanos, agora auxiliados pelas forças da recém-libertada França no oeste e o avassalador Exército Vermelho no leste. A derrota da Alemanha era apenas uma questão de tempo, restando apenas o Japão, que já vinha perdendo para os norte-americanos no Pacífico.

3.4 O FIM DA PROSPERIDADE

A Alemanha rendeu-se em 7 de maio de 1945. No dia seguinte a notícia espalhou-se pelo mundo e ficou conhecido como o "Dia da Vitória". O Brasil só cessou as hostilidades contra as potências do Eixo em 16 de novembro de 1945 com a suspensão do Estado de Guerra entre o Brasil e o Japão através do Decreto nº 19.955. Através desse decreto, o Ministério da Aeronáutica ficou responsável pelas bases aéreas.

A Base Aérea de Amapá só foi entregue por volta de 1948. Após o término da guerra, os norte-americanos enterraram máquinas imprestáveis e outros lixos de guerra em valas. O lixo que não foi enterrado foi aproveitado pela população pobre da periferia. Para evitar o roubo de material bélico foi criado um corpo de guarda para fazer a vigilância da área. De acordo com Assunção ficaram cinco norte-americanos no local até que a base fosse finalmente entregue às autoridades brasileiras. Muitos nordestinos que foram dispensados pela companhia voltaram aos seus estados de origem, enquanto outros migraram para o município de Macapá acreditando na prosperidade do então Território Federal do Amapá e logo seguiram para Serra do Navio para trabalharem na exploração do manganês.

Para Assunção foi o fim do "tempo da vaca gorda". Dez barracos foram destruídos e a base foi abandonada, entregando o local à ação dos vândalos. A própria Escola de Iniciação Agrícola do Amapá foi abandonada, telhas e tijolos foram vendidos. Graças à base, os habitantes das proximidades conheceram novos modos de vida e novas técnicas. Todo o progresso da região desmoronou em pouco tempo como um castelo de cartas pela falta de zelo do governo brasileiro e de alguns moradores posteriores à guerra.

Permaneceram no município, apenas os velhos habitantes que continuavam sonhando com o papel histórico que a cidade tinha, abrigar ali a elite social/política do território amapaense. Mas as mudanças ocorridas ali não aconteceram apenas no plano político, econômico e social. Elas ocorreram também sutilmente no campo religioso, cultural e antropológico (SOUZA, 1999, p. 163).

A prosperidade era tanta que houve até mesmo a tentativa de transferir a sede do município de Amapá para a base pelo fato de existir uma estrutura propícia ao desenvolvimento de uma cidade, porém em Amapá moravam fazendeiros e pescadores que necessitavam do rio para o transportes de seus produtos, o que fez com que a idéia fracassasse. A base passou a ser um local pobre e sem perspectivas de progresso e a seus moradores só restou saudades daqueles bons tempos.

A guerra também trás (sic) dinheiro, a base trouxe muito dinheiro e trabalho. Naquela pista podia aterrissar qualquer tipo de avião. Quando os americanos foram embora tudo foi acabando. Hoje a cidade de Amapá podia estar lá, onde não havia problemas de expansão. Aqui no município não tem frente e é muito feio. A cidade de Amapá não tinha organização em termos de infra-estrutura, as pessoas ouvem falar de Amapá e quando chegam aqui ficam decepcionadas. Lá (na base) não havia tanta pobreza (SANTOS apud SILVA, 2007, p. 29).

A própria cidade de Amapá desenvolveu-se na época, conforme explica Miguel Galvão, ex-funcionário da cozinha da base. Não havia luz e água encanada e só existia uma pequena rua. Para muitos habitantes a base não foi apenas abandonada, foi também destruída. Tudo que antes era limpo agora mal serve de lembrança. Assunção conta que existiam duas torres de Zepelins na base, mas hoje vemos apenas uma, nem mesmo a moradora local sabe quando e como sumiu a outra torre. O curto período em que a base funcionou é definido por Souza (1999) como um pseudo progresso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início da Batalha do Atlântico, a Kriegsmarine (Marinha de Guerra da Alemanha) adotou a tática das "matilhas", onde os submarinos atacavam em grupos, isso tornava os ataques aos comboios cada vez mais devastadores. Por mais que os navios mercantes fossem escoltados, os U-boats causavam grandes danos. Os submarinos típicos da Segunda Guerra operavam mais na superfície, pois quando afundavam, ficavam vulneráveis ao sonar. Os ataques ocorriam, na maioria das vezes, à noite. Porém, os britânicos inverteram a situação com o uso do radar.

Vale ressaltar que o quadro da Batalha do Atlântico não foi mudado apenas pelo uso do radar, mas pelos vastos recursos dos aliados, principalmente dos Estados Unidos, e pelo uso de aviões, que ajudaram a cobrir a maior parte do Oceano Atlântico. Com isso, as "matilhas" não tinham descanso, sendo obrigadas a combater toda vez que fossem encontradas, e não mais submergiriam, de acordo com a tática original. Houve outra mudança: os submarinos passaram a navegar sozinhos, para que pudessem cobrir a maior área possível do Atlântico.

A guerra estendeu-se também ao norte da África, onde os aliados enfrentavam o Afrikakorps, exército alemão comandado pelo general Erwin Rommel, mais conhecido como "Raposa do Deserto". O Afrikakorps estava muito perto da vitória quando erros estratégicos de Rommel – que era admirado não só por Hitler, mas também por Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, e pelo general britânico que o enfrentou, Bernard Montgomery – deu certo alívio aos aliados. Novamente o quadro foi revertido pelos vastos recursos dos aliados. Também chegaram novos equipamentos, como os tanques Sherman e aviões de combate.

Para estes equipamentos chegarem ao norte da África, os aliados precisavam ter pelo menos a vantagem na Batalha do Atlântico. Para tanto, a aviação foi importante na caça aos submarinos. Porém, na época os aviões não possuíam uma autonomia que lhes permitisse cobrir toda a área do Atlântico. Para cumprir essa tarefa era necessário construir bases aéreas próximas ao litoral da América. Foi nesse contexto que tiveram início as conversações entre Brasil e Estados Unidos sobre os Acordos de Washington.

Um dos objetivos desses acordos era estabelecer bases aéreas norte-americanas em pontos estratégicos do Brasil para que pudessem ser enviados os efetivos necessários à campanha do norte da África e caçar os submarinos que perseguiam navios mercantes em toda a costa americana.

A Base Aérea de Amapá cobriria não só a costa amapaense, mas também protegeria as Guianas e Trinidad. Logo podemos perceber a sua importância na Batalha do Atlântico. Próximo à costa amapaense foram afundados dois submarinos: o U-590 (9 de julho de 1943) e o U-662 (21 de julho de 1943).

Além da importância militar, a Base Aérea de Amapá teve uma importância social, tendo em vista que mudou radicalmente a vida da população que vivia na região antes da instalação da base, bem como da mão-de-obra que se dirigiu ao local. Essas pessoas entraram em contato com novos modos de vida e novas técnicas.

Através de pesquisas bibliográficas para descrever os aspectos teóricos da importância da Base Aérea de Amapá e de uma leitura sistemática, acompanhada da elaboração de fichamentos de cada obra, procuramos salientar as idéias centrais defendidas por cada autor com relação ao objeto de estudo. Para reforçar o trabalho, a pesquisa de campo foi realizada primeiramente com a visita ao local que foi transformado no Museu a céu aberto da Segunda Guerra Mundial. Foram feitas entrevistas com pessoas que moravam ou que ainda moram na região e foram testemunhas dos acontecimentos relatados em nosso trabalho. O interessante, e ao mesmo tempo frustrante, é ver o conflito dos relatos, quando um diz que o medo de um ataque alemão imperava, enquanto outro diz que todos se sentiam seguros, outra pessoa diz que a população só tinha medo do recrutamento para os campos de batalha na Europa. Com isso podemos perceber que quanto maior o número de informações, mais dúvidas aparecem. Como foi dito anteriormente, isso é tão frustrante quanto empolgante, porque trabalhamos com pontos de vista dos próprios agentes históricos, aqueles que construíram a história da base aérea, assim como estão possibilitando a elaboração dos trabalhos referentes à base, que é um patrimônio histórico pouco valorizado não só pelos nossos governantes, mas por nós mesmos.

Devemos ressaltar que há um requerimento de autoria do deputado estadual Ruy Smith que propõe a reconstrução da Escola Estadual da Base Aérea que, de acordo com o documento, a instituição não está em condição de funcionamento. A escola está se deteriorando, com forros em péssimas condições, banheiros interditados, salas de aula sem cadeiras, e outras estruturas do prédio estão comprometidas. Ainda há outro requerimento, que visa pavimentar tanto o ramal que liga a BR-156 ao município de Amapá, quanto o ramal da base.

A Base Aérea de Amapá não deve ser tratada como mero resquício do passado. Seus veículos que datam da Segunda Guerra mais parecem um monte de sucata do que documentos históricos, pois estão entregues à ação do tempo e não buscaram restaurá-los no momento certo, por isso a restauração nos dias de hoje é praticamente impossível. Muitas pessoas se surpreendem quando ficam sabendo da real importância da base. A base aérea não é valorizada nem mesmo nos livros de História do Amapá, sendo apenas citada. Há apenas um livro que fornece informações mais precisas, porém houve uma pequena remessa da obra, possibilitando apenas a sua distribuição a poucas pessoas. É uma pena, mas há muitas obras "escondidas" que são preciosas, isto é, são jóias da historiografia amapaense e que poderiam ser compartilhadas. Essas obras possuem uma remessa reduzida principalmente porque seus autores não possuem recursos suficientes. O patrocínio da iniciativa privada seria uma solução, mas muitos dos que podem ajudar a propagar todo esse conhecimento simplesmente não têm o menor interesse. Outra solução seria o apoio de nossos governantes, o que não é mais do que sua obrigação zelar pela memória de nosso estado. Esta é uma parte do problema, porque ainda temos a arrogância da própria academia amapaense, que retém o conhecimento para si, ou melhor, tranca o conhecimento em suas bibliotecas para que apenas pessoas que se vêem obrigadas a pesquisar – isso mesmo, pessoas que só vão à biblioteca para fazer trabalho – tenham acesso ao seu acervo. Se esses trabalhos fossem divulgados, muitas pessoas que estão fora da cerca da academia seriam mais interessadas pela nossa história.

Não podemos simplesmente pedir que a população cuide da base. Devemos trabalhar a sua história não só nas academias, mas também nas escolas de ensino fundamental e médio e em projetos sociais voltados para o tema, para que a população tome conhecimento de sua importância na história do Amapá, e assim, finalmente, preservar. Temos que tomar a iniciativa de preservá-la, e não esperar que algum órgão declare a base como patrimônio histórico, porque esse é o dever da população amapaense: conhecer e preservar a própria memória.

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