COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL

Professora Jociene Silva de Melo Reis

Co- autoria - Mestre Maria José de Azevedo Araujo

RESUMO

Esse texto monográfico aborda um tema bastante discutido na atualidade: a educação à distância, também conhecida como EAD. No âmbito educacional, o papel das novas tecnologias da informação implicou em mudanças radicais e sob diversos aspectos, pois se constituem como suporte educacional que, adequadamente utilizado, permite que o mundo do conhecimento seja amplamente acessível, correspondendo a obter respostas fáceis e imediatas para aquilo que poderia ser de difícil explanação didática.Para os professores, o uso das novas tecnologias serve como auxílio na tarefa de transmitir conhecimentos, de forma mais criativa e dinâmica, tendo a pesquisa como possibilidade de que os alunos façam suas investigações e descobertas, apenas de ainda existir alguns profissionais que resistem a se atualizar. Portanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa e bibliográfica para analisar a "Educação a distância: ferramenta de inclusão social". Objetivou - se ampliar a visão sobre a educação, com sua pluralidade de informações contínuas que são incorporadas e afetam diariamente o comportamento dos alunos.A sociedade, a educação e a escola, no atual modelo, estão em crise. Precisamos redefinir a educação segundo os padrões da sociedade pós-moderna, pois a escola como detentora e promotora do saber e do conhecimento organizado, é fundamental para a reconstrução social. A escola deverá trazer consigo as novas tecnologias presentes na sociedade, ampliar definitivamente as modalidades de conhecimento dos estudantes, valorizar a heterogeneidade como fonte do trabalho em grupo para o compartilhamento de informações e desenvolvimento, redimensionar todas as relações e os papeis daqueles que atuam sobre ela e trabalhar com projetos político-pedagógicos que tenham começo, meio e fim envolvendo a família e a sociedade.

PALAVRAS - CHAVE:

Sociedade,Educação a Distância, Conhecimento.

ABSTRACT

This monographic text addresses a topic widely discussed at present: distance education, also known as EAD. In education, the role of new information technologies resulted in radical changes in several respects and therefore constitute themselves as educational support that, properly used, allows the world of knowledge is widely available, corresponding to gain immediate and easy answers to what could be difficult didactic explanation. For teachers, the use of new technologies serves as an aid in the task of imparting knowledge in a more creative and dynamic, with research as the possibility that students do their research and discoveries, only there are still some professionals who resist it update. Therefore, we carried out a qualitative research and literature to examine the "Distance education: tool for social inclusion ". Aimed to broaden the view of education, with its plurality of continuous data that are embedded and affect the daily behavior of students. The society, education and the school, the current model, are in crisis. We must redefine the educationby the standards of post-modern society, because the school as the holder and promoter of knowledge and organized knowledge is fundamental to social reconstruction. The school will bring in new technologies present in society, definitely expand the modes of knowledge of students, valuing diversity as a source of group work for sharing information and development, resize all the relationships and roles of those working on it and work with political and pedagogical projects which have a beginning, middle and end of the family and society.

WORDS - KEY: Society,Distance Education, Knowledge.

INTRODUÇÃO

Tema bastante discutido na atualidade, a Educação a Distância, ao contrário do que muitos pensam, é bastante antiga. Desde os primórdios bíblicos neotestamentários, onde foi evidenciada por meio das cartas paulinas, até os dias de hoje por meio das tecnologias da informação e da comunicação, ela apresenta-se como forma alternativa de suprir as carências socioeducacionais da humanidade na aquisição de conhecimento.

Diante das constantes mudanças que regem o planeta, observa-se que a relação entre os povos está cada vez mais estreita. Nas sociedades "modernas" essas relações são muito aceleradas, sobretudo no que diz respeito às tecnologias da informação e da comunicação as quais provocam mudanças estruturais no campo da educação. O impacto desses avanços têm sido, percebidos e estudados a partir de diferentes abordagens.

A Escola e sua luta pela autonomia: na história e no presente, como memória e produção do saber, como agente da formação e transformação da vida social (ética, política, emocional e produtiva). A Escola como agente da inclusão e da integração sociais, como agência socializadora das linguagens. tem papel fundamental no uso dessas tecnologias em prol da transmissão de conhecimento. Para Libâneo[1]

A escola continuará durante muito tempo dependendo da sala de aula, do quadro-negro, dos cadernos. Mas as mudanças tecnológicas terão um impacto cada vez maior na educação escolar e na vida cotidiana. Os professores não podem mais ignorar a televisão, o vídeo, o cinema, o computador, o telefone, o fax, que são veículos de informação, de comunicação, de aprendizagem, de lazer, porque há tempos o professor e o livro didático deixaram de ser as únicas fontes do conhecimento. Ou seja, professores, alunos, pais, todos precisamos aprender a ler sons, imagens, movimentos e a lidar com eles.

O que percebemos no contexto escolar é o despreparo dos profissionais da educação e de discentes para a utilização das tecnologias. Muitos não lidam com os instrumentos tecnológicos porque desconhecem como funcionam e muitas vezes ignoram porque é mais cômodo trabalhar com o mesmo. Essa postura de comodismo retarda o desenvolvimento da escola. Além disso, muitos dos profissionais da educação não tiveram em seu curso de formação para professor disciplinas que contemplassem a instrumentalização para o uso das tecnologias em sala de aula.

Sabemos que cabe aos cursos de formação de professores prepararem os profissionais para a atuação docente e é fundamental estudar disciplinas que contemplem as tecnologias. O ensino superior deve promover uma educação adequada desenvolvendo habilidades e competências que prepare o docente de forma eficaz para a atuação no mercado de trabalho.

Neste sentido, a Educação a Distância surge como solução plausível, porém exige do estudante-usuário competências de auto-estudo e auto-gestão, que talvez muitos dos que procuram essa modalidade não tenham desenvolvido. A EAD a partir das décadas de 70, 80 e 90 ajudou as universidades nos países em desenvolvimento a canalizarem um crescente número de alunos que não tinham outras possibilidades/perspectivas, para a educação superior. Desenvolveu novas formas de combinação de trabalho e estudo e inspirou e efetuou inovações pedagógicas.

Para uma melhor compreensão deste universo da educação a distância buscamos realizou-se o presente estudo, o qual pretendeu examinar a importância da EAD como ferramenta de comunicação e da inclusão, bem como sua trajetória histórica no mundo, através da efetivação de pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica. Segundo AZEVEDO,[2]

A pesquisa bibliográfica é basilar para todos os tipos de pesquisa e é a mais comum na preferência dos estudantes de nível superior. Construída a partir das leituras e análises de textos de livros, artigos, documentos pertinentes ao tema, leva à reconstrução de idéias baseadas em concepções de teóricas, considerando o objeto de estudo selecionado pelo pesquisador. Observe-se que este tipo de pesquisa não se refere à junção de informações, mas, à análise metódica e sistemática de determinado tema objetivando a argumentação construtiva, a partir do embasamento teórico construído pelo pesquisador no seu percurso científico.

BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A educação a distância[3]

As primeiras experiências de educação a distância foram isoladas e ímpares. Tinham como conteúdo a religião e suas controvérsias, porém, foram significativas para as pessoas envolvidas: são as famosas cartas paulinas.

Em meados do século XIX, com a industrialização e as modificações nas condições tecnológicas, profissionais e sociais, os sistemas educacionais depararam-se com seu despreparo frente às mudanças. Esse despreparo foi notado pelos empresários da revolução industrial, principalmente editores, que decidiram lucrar em cima dessa deficiência. Surgiram as escolas por correspondências na Inglaterra, França, Alemanha e em outros países europeus.

O ensino por correspondência em alguns países, contou com o apoio do rádio e até do avião. O ensino a distância tornou-se ainda mais importante para pessoas que moravam em colônias, como os britânicos por exemplo, que tinham nessa modalidade a oportunidade de se prepararem para os exames da Universidade de Londres.

Nos anos 70, teve inicio uma nova era na educação a distância que pode ser caracterizada pelo uso de dois meios eletrônicos analógicos: o rádio e a televisão, e logo depois do vídeo e das fitas cassetes e de centros de estudo.

As universidades de ensino a distância desenvolveram materiais didáticos de alta qualidade que eram suplementados pela transmissão em massa. Verifica-se, nessa época, novas características da EAD: progresso no acesso à educação superior para grupos maiores de adultos, experimentação pedagógica, introdução do aprendizado aberto, maior aplicação de tecnologias educacionais e início da educação superior em massa.

Como conseqüência, veio o reconhecimento e posteriormente, o financiamento do governo; companhias de equipamentos eletrônicos oferecem seus aparelhos para teleconferências e a integração no uso das novas tecnologias.

No campo inicial dos estudos da Educação a Distância, Otto Peters[4] destaca-se pela definição dada à modalidade incitando assim, discussões entre outros estudiosos. Segundo ele, EAD é:

[...] um método racionalizado (envolvendo definição de trabalho) de fornecer conhecimento que (tanto como resultado da aplicação de princípios de organização industrial, quanto pelo uso intensivo de tecnologia que facilita a reprodução da atividade objetiva de ensino em qualquer escala) permite o acesso aos estudos universitários a um grande número de estudantes independentemente de seu lugar de residência e de ocupação.

A análise de Peters foi duramente criticada por membros da Open University inglesa e segundo ele, é uma experiência exemplar desenvolvida com base em práticas fordistas. Desde os anos 80, duas orientações teóricas coexistem no campo da EAD: o estilo fordista de educação de massa e a educação aberta e flexível; mas a partir dos anos 90 o modelo fordista começa a perder espaço pois, é percebida como ameaça as "qualidades menos tecnocráticas e mais humanistas".Sewart, um importante dirigente da Open University, criticou esse modelo como passíveis de: "... destruir os fundamentos da vida neste planeta e de desempenharem um papel de desintegração de nossa sociedade pois, contribuem para o isolamento e evitam a interação pessoal e crítica."[5]

Independente disso é notório que às diferentes fases da produção (pré-industrial, industrial pré-fordista, fordista e pós-fordista) correspondem quatro estágios do setor educacional: o modelo artesanal, a educação elementar de massa, a educação secundária de massa e a superior e continuada de massa. Evans e Nation (1989 e 1996) criticam o "industrialismo instrucional" defendendo a importância do diálogo entre mestres e alunos e propondo explorar "novas formas de educação aberta", consideradas por eles como características emergentes da EAD típicas da "modernidade tardia" (late modernity).

As transformações sociais e econômicas em ritmo acelerado aprofundam ainda mais a defasagem entre o ensino oferecido pelos sistemas educacionais e as demandas sociais a partir dos anos 90, e era nítida a necessidade de competências múltiplas do trabalhador (modelo fordista).

É nesse contexto que a EAD torna-se mais difundida e objeto de interesse. Dentro dessas perspectivas, forma-se o perfil do aluno dessa modalidade e a autodidaxia é a principal característica. Com as mudanças nas demandas de formação inicial e continuada, que pressionam a educação, duas grandes tendências são apontadas: a reformulação dos currículos e métodos no sentido da multidisciplinaridade, e a formação continuada ligada ao ambiente de trabalho.

Após esse período, a informação informatizada sobressai-se e nos permite reagir e lidar com as principais mudanças sociais. Por oferecer condições de contribuir para o desenvolvimento da universidade do futuro com suas técnicas, abordagens e estratégias, assume uma maior importância.

Desde a sua introdução no cenário educacional até hoje, a EAD passou por diversas transformações e aperfeiçoamentos. Os avanços tecnológicos e as mudanças nos paradigmas da aprendizagem informatizada, os currículos pós-modernos, a influência das ferramentas da informação e outros.

Sendo assim, a Educação a Distância vem atingindo um alto grau de expansão em todo o mundo bem como grande interesse, visto que "... se tornou uma nova forma de educação vinculada ao contexto histórico, político e social de natureza cultural."(SILVA, 2005).

Além disso, passou a ser vista como uma modalidade de ensino que apresenta melhores condições de atender às demandas urgentes por maior qualificação profissional. Hoje, ela é uma ferramenta muito poderosa para a globalização e democratização da educação dos povos.

ASPECTOS LEGAIS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O ensino

Vista com desconfiança e tratada como uma forma complementar do ensino presencial, a EAD foi quase sempre ignorada no que diz respeito à sua regulamentação no Brasil. Questões como sua definição, distinção entre EAD e ensino presencial, avaliação de suas práticas, eram desafios para aqueles que iriam elaborar aprovar e implementar propostas legislativas para o setor.

A inclusão da EAD no texto do PNE (Plano Nacional de Educação) ainda que sem uma seção específica, retira a mesma do mundo das sombras e confere o reconhecimento de sua importância no processo educacional. No Decreto Federal 2.494/98, que regulamenta a matéria, trata a EAD como "uma forma de ensino", colocada em pé de igualdade com as demais, restando excluído apenas o ensino regular.

A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB[6] estabelece que "o poder público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância em todos os níveis de ensino e de educação continuada".

Isso fez com que a educação a distância perdesse sua condição de mero recurso suplementar da educação formal, geralmente voltada para as classes menos favorecidas. Superar o preconceito e temor de que a EAD fosse uma manobra para "baratear" o ensino, para privatizá-lo ou esvaziar o ensino regular à medida que atrai mais "clientes", foi o grande desafio. Educadores e legisladores tiveram então que enfrentar outro desafio: o surgimento das novas tecnologias, entender a velocidade da informação e adaptar-se a ela, bem como integrar-se à globalização visando a competitividade. A EAD exige uma ação do poder público. Sua avaliação demanda um marco normativo que:

[...] estabeleça critérios claros e cristalize uma 'cultura da avaliação' a que não estamos acostumados. Isso significa estabelecer critérios para o funcionamento de cursos e instituições de ensino a distância, com base no seu projeto pedagógico (...) sua infra-estrutura tecnológica, nos seus recursos materiais e humanos.[7]

O poder público deve também estabelecer instrumentos de fiscalização e intervenção, se necessário, como também um sistema adequado de avaliação externa que possa estimular a análise e atualização dos cursos para garantir a qualidade do ensino e o reconhecimento profissional dos envolvidos.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ainda no art. 80, prevê a aplicação da EAD em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada. Esse artigo foi regulamentado pelo Decreto Federal 2.494 de 10 de fevereiro de 1998 que por sua vez teve sua redação alterada pelo Decreto Federal 2.561 de 27 de abril de a998. No artigo 12, lemos:

Fica delegada competência às autoridades integrantes dos demais sistemas de ensino de que trata o artigo 8º da Lei 9.394/96 para promover os atos de credenciamento de instituições localizadas no âmbito de suas respectivas atribuições, para oferta de cursos a distância dirigidos a educação de jovens e adultos, ensino médio e educação profissional de nível técnico.

O Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais (FNCE)[8], existe desde 1990 e possibilita que estes implementem a colaboração prevista pelo art. 211 da Constituição. Foi na XI Reunião do Fórum, em 1998, que se cogitou pela 1ª vez, o ensino a distância, mas foi na XIV reunião, em 2000, que a EAD foi tratada com profundidade principalmente sobre a autorização de funcionamento de cursos a distância em seus limites territoriais.

Como resultado dessa reunião foi elaborado um protocolo de intenções que estabelecia procedimentos comuns para a busca de colaboradores entre órgãos normativos dos estados. Esse documento recomendava a garantia de atuação das instituições credenciadas e autorizadas para arquivamento de documentação escolar, expedição de diplomas, certificados ou declarações de escolaridade dentro dos limites territoriais e ainda que, no caso de filiais ou atendimento ao público em outro território, ingressará com pedido para as devidas autorizações.

Com base nesse documento síntese, a XVI Reunião de julho de 2001 chegou ao entendimento de que a implantação da EAD rompe o paradigma da "territorialidade". Sendo assim, sua autorização não pode (ou não deve) ficar restrita aos limites territoriais de um sistema de ensino.

Finalmente, em 2002 na XVIII Reunião, foi formalizado um texto que estabelece as bases do processo de colaboração maior entre os Conselhos Estaduais. Esse documento recebeu o nome de "Pacto de São Luís" a ser homologado pelos Conselhos.

O ensino de graduação

A revolução tecnológica digital dos últimos 25 anos atingiu várias, senão todas, as áreas de trabalho que se tem conhecimento. Hoje, não se pode imaginar uma área de trabalho sequer que não tenha sofrido alterações após o avanço da tecnologia digital. Isso ampliou de forma considerável o desempenho dos fatores de produção, aumentando a competitividade do mercado.

Consumidores tornaram-se mais exigentes e isso levou a uma busca, por parte das empresas e empregadores, de mão-de-obra mais qualificada. Dentre todas as tecnologias, a aplicação da informática é a que mais tem influenciado na qualificação profissional. Segundo Fragale[9]

Os limites de adoção e divulgação de uma inovação, contudo, são a necessidade social, os recursos sociais e um ambiente social favorável. A maior ou menor confluência desses elementos, determinam o maior ou menor grau de evolução numa sociedade e a direção da mesma.

A sociedade brasileira, hoje, exige que essas alternativas atinjam também a educação. O uso dessas tecnologias no processo educativo não é uma utopia. As experiências mostram que ele é algo possível e altamente positivo do ponto-de-vista de resultados e metodológico.

Os fundamentos legais que autorizam sua implementação e aplicação encontram-se Lei Federal 9.394/96 cujos regulamentos estão disciplinados nos Decretos 2.494/98, 2.561/98 e na Portaria Ministerial 301 de 07 de abril de 1998. Além dessas, a Portaria 2.253 de outubro de 2001 entrou em pós-graduação.[10]

A legislação atual retira o caráter supletivo que as anteriores lhe atribuíam, ficando tal restrição apenas para o ensino fundamental onde é utilizado como complementação da aprendizagem.

Qualquer instituição legalmente credenciada para o ensino superior poderá oferecer a modalidade a distância, desde que autorizada e reconhecida pela União, que também a supervisiona e avalia os cursos e os estabelecimentos do seu sistema de ensino conforme o Art. 9º, IX. As instituições credenciadas são avaliadas após cinco anos para fins de recredenciamento.[11] As instituições estrangeiras, mesmo conveniadas com as brasileiras, têm seus diplomas revalidados para gerarem efeitos legais.[12]

O ESTUDANTE DA EAD – QUEM É ELE?

Do ponto-de-vista dos paradigmas econômicos, as tendências mais fortes apontam para uma Educação a Distância focada no estudante e que atenda as exigências do mercado capitalista. A sociedade contemporânea possui características que têm impacto sobre a educação, pois exige um trabalhador multiqualificado, mais autônomo e informado. Por conseguinte, o cidadão tem cada vez menos tempo para o ensino presencial e cada vez mais necessidade de estar preparado para a competitividade. Diante desse impasse, a EAD oferece a oportunidade de qualificação com a adequação de tempo e lugar, tão necessárias ao cidadão estudante. A aprendizagem autônoma é a saída para a sociedade moderna e imediatista e entende-se por:

[...] um processo de ensino e aprendizagem centrado no aprendente, cujas experiências são aproveitadas como recurso, e no qual o professor deve assumir-se como recurso do aprendente, considerado como ser autônomo, gestos de seu processo de aprendizagem, capaz de auto-dirigir e auto-regular este processo.[13]

Porém, a imagem que se tem do estudante EAD não corresponde ao ideal. Muitos estudantes desenvolvem o papel de passividade, digerindo conteúdos e regurgitando-os na avaliação. O que foi idealizado para esse modelo de estudante, é aquele que pesquisa, busca informações, questiona a si e aos outros, instiga, descobre.

Estudos feitos na Austrália (1993) relatam segundo WALKER, a imagem do estudante a distância, que em sua maioria são mulheres casadas, com filhos, casa e trabalho: no silencio da noite, enquanto os filhos já dormem e o serviço doméstico do dia seguinte já está adiantado, ela inicia seus estudos. Tal visão, no entanto, tende a evoluir em vários aspectos e a EAD vai deixando de ser a opção da dona-de-casa que não possui tempo para freqüentar uma escola de ensino regular. A clientela tende a modificar-se, abrangendo todas as camadas socioculturais. Além disso, essa clientela tende a se tornar mais reflexiva e consciente do papel da educação, a despeito da defasagem do ensino presencial.

O mercado de trabalho requer pessoas capazes de tomar iniciativas, de buscar soluções, de construir caminhos, e a EAD proporciona àqueles que a buscam, oportunidades para desenvolver essas e outras habilidades.

O conceito de estudante autônomo, ainda que embrionário, reflete uma realidade: o aluno autodidata é exceção em nossas universidades, seja ela convencional ou a distância. A cultura da busca racional pelo conhecimento atrelada a necessidade do saber é, ainda em nossos dias, muito jovem; está em desenvolvimento e em muitas das vezes, tem sido instigada no espírito do estudante, à medida que ele se aprofunda em seus estudos.

O estímulo inicial para a busca dessa modalidade ainda é a mobilidade por ela dispensada, a qual atende aos anseios mais urgentes de sua clientela. Entretanto, tem ela a capacidade de fazer brotar no íntimo do estudante, o aluno em potencial adormecido pelo convencional.

Na aprendizagem autônoma, o estudante é, ao contrário da maioria que se tem conhecimento, e do modelo fordista, é sujeito ativo da aprendizagem. Para RENNER, o aluno EAD deve estar apto a "entrar no reino da compreensão profunda, que implica ser capaz de abstrair os conhecimentos e aplicá-los em situações novas." (1995, p.292).

Cabe lembrar que a clientela EAD é adulta e em sua maioria, trabalha. Conseqüentemente, tem menos tempo para estudar regularmente como qualquer outro. Isso muda o foco da educação necessária a esse alunado, que passa a ser voltado para a formação ao longo da vida. Esse é o caminho para manter condições de competitividade em nível geral no mercado de trabalho. O número de estudantes dessa modalidade tem crescido cada vez mais.

O aumento do número de aprendentes e sua crescente diversidade devem-se à conjugação de três fatores: aumento demográfico da população jovem, especialmente nos países menos desenvolvidos de formação contínua da população adulta; e crescente consciência da importância do nível de educação da população para o desenvolvimento econômico e social. Daí estar ocorrendo uma explosão de aprendentes, que acarreta, uma pressão sobre os sistemas, não preparados para atender a uma significativa demanda quantitativa e extremamente diversificada.[14](

Para Charles Wedemeyer[15] "... aprender vai muito além do espaço escolar: as salas de aula". As transformações do mundo da educação causam efeitos que impulsionam um olhar diferenciado sobre as questões educacionais e em especial, a de adultos. O estudante-usuário necessita desenvolver auto-direção e autodeterminação no processo de aquisição do conhecimento.[16]

As instituições precisam realizar a difícil tarefa de ensinar a aprender e formar o aprendente autônomo. Para isso, é necessário atentar para as necessidades da clientela que pretende atender.

Para apoiar o aluno EAD, a tecnologia, principalmente a informatizada, tem papel fundamental. Com a globalização também a informática e o acesso à internet, o aluno-usuário EAD tem uma ferramenta potente, atual e imediata para auxiliar seus estudos. Além disso, conta com tutorias, material impresso, vídeo-conferências e o que mais a instituição e/ou sua capacidade e motivação forem capazes de oferecer e buscar.O sucesso ou insucesso dessa modalidade de estudo depende de como o usuário utiliza os meios, ferramentas e tempo a favor do conhecimento.

O PROFESSOR E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: NOVO PAPEL, NOVAS COMPETÊNCIAS

Quando se pensa no papel do professor em cursos a distância, surge um questionamento quanto à possibilidade de se ajudar pessoas a aprender. E os questionamentos tornam-se maiores se a visão de educação que se tem, favorece o desenvolvimento de competências e não as de memorização, de pensamentos críticos e próprios.

O educador precisa ter bem clara a idéia de que a educação é um processo que se desenvolve num tempo dinâmico com transformações constantes. Sendo o ensino o elemento de ação, precisa ser repensado. O uso das TIC's é uma necessidade iminente da atual conjectura educacional, e o professor precisa acompanhar essa evolução. Diante das novas demandas, das novas formas de produzir, da necessidade de estar preparado, os alunos buscam um atendimento de qualidade. Nesse sentido, o professor é peça importante na condução do conhecimento.

Em se tratando de educação a distância, o professor precisa desenvolver competências necessárias ao acompanhamento do educando. Para PERRENOU[17], , " o uso das novas tecnologias na educação ocupa a oitava competência do educador." Embora alguns enxerguem a presença das novas tecnologias como uma ameaça à continuidade na sala de aula, a EAD mostra que é possível instruir fazendo uso delas (e em especial as da informatização), sem necessariamente eliminar a presença do professor.

Essa experiência tem sido vivida pelos professores/tutores da UNIT com êxito.Com as exigências da globalização, a tecnologia passou a ser utilizada também como meio de aprimoramento de outros modos de entender e compartilhar conhecimentos.

Hoje, ainda há poucos profissionais preparados para trabalhar com educação a distância e grande parte das pessoas envolvidas são oriundas do ensino presencial ou formal. Espera-se, então, do professor/tutor que ele desenvolva habilidades pertinentes à modalidade para assumir o papel de educador a distância, e a principal delas é entender a natureza e filosofia da EAD. A importância que as TIC's vem tendo, juntamente com a EAD, as faz funcionar como um verdadeiro rolo compressor, levando professores a sentirem-se pressionados a desenvolver atividades para as quais não se sentem ou não se encontram preparados. Por outro lado, uma vaga sensação de culpa invade o íntimo de alguns professores em pensar que estão negligenciando o uso das TIC's, e prejudicando assim, o educando.

Em se tratando de EAD, e de aprendente autodidata, surge a questão: Quem ensina EAD? Segundo KEEGAN[18]"Em EAD quem ensina é uma instituição." Diante dessa premissa, o papel, as funções e tarefas do professor serão definidas diferentemente do ensino convencional. A aprendizagem EAD torna-se mais complexa, uma vez que faz uso das TIC's e por esta razão. Exige a segmentação do ato de ensinar em tarefas múltiplas.[19].

Esse modelo, desligado da pessoa do professor, torna o processo independente e teoricamente, mais objetivo. Essa divisão do trabalho permite um planejamento mais próximo do alcance de objetivos e, portanto, mais eficaz. As funções docentes vão separar-se e compor um processo de planejamento e execução dividido no tempo e espaço. O selecionar, organizar e transmitir conhecimento correspondente à preparação e autoria de unidades que irão subsidiar ou mesmo servir como base do material pedagógico dos cursos.

Na Universidade Tiradentes, em Aracaju, a orientação é feita em tutorias a distância, individualizada, mediada por diversos meios de acesso. Mas não é apenas o professor/tutor que participa na função de ensinar. O autor, o editor, o tecnólogo educacional, o artista gráfico, responsáveis pelas tarefas de administração, planejamento e organização e outros, também fazem parte do processo de ensino.

A maioria dessas funções fazem parte do trabalho cotidiano do professor presencial só que organizadas de forma intuitiva e artesanal. Embora essa divisão de trabalho docente possa evoluir, acompanhando as tendências do setor econômico, não modifica fundamentalmente a principal característica da educação a distância: transformação do professor de uma entidade individual em uma entidade coletiva.

Podemos afirmar que o professor é um parceiro dos estudantes no processo de construção do conhecimento (atividades de pesquisa e busca da inovação pedagógica). É essa mudança do professor para o aprendente, do ensino para a aprendizagem, que precisa ser absorvida de forma a tornar possível a criação de novos métodos para o trabalho docente. O professor passa também a professor/aprendente à medida que assume a formação continuada como requisito básico para atuação docente EAD. Sobre essa formação BLANDIN enfatiza:

As três unidades da tragédia clássica, a unidade de tempo, a unidade de lugar e a unidade de ação, que regem ainda hoje a maioria das ações de formação, vão, pois, deixar de ter sentido. O papel do docente e do formador também, que ora transmitirá a sua mensagem a um público destinado e só recebê-la a algum tempo depois, ora poderá gozar de um dom de ubiqüidade e participar ao mesmo tempo de várias ações ocorrendo em diferentes lugares.[20]

Numa metáfora teatral, podemos dizer que, o professor deixa de atuar no papel principal de uma peça que ele mesmo escreveu e dirige, e dá lugar a outros vários atores – os estudantes – que também são co-autores da obra que ele – o professor – poderá até continuar a dirigir. Surge então um novo perfil de professor que atua diante de um novo tipo de aluno: o professor/parceiro, prestador de serviços, recurso do qual o aluno/cliente recorre quando necessário.

Por esta razão, a necessidade do professor estar em atualização constante tanto em disciplina específica quanto em metodologias e novas tecnologias. E em se tratando de formação de formadores, ainda segundo BLANDIN, os profissionais da educação terão de desenvolver competências em quatro grandes áreas: cultura técnica, competências de comunicação, capacidade de trabalhar com método e capacidade de "capitalizar" (traduzir), sendo a competência da cultura técnica, provavelmente, uma das mais difíceis de desenvolver no contexto atual do ensino superior.

Assim sendo, podemos ver que a EAD apresenta-se como desafio também para professores que pretendem trabalhar nessa modalidade, sendo necessário um amplo estudo e conhecimento, por parte destes, dos fatores que implicam em seu funcionamento de modo satisfatório.

Esse perfil de professor tem sido sentido em várias das instituições espalhadas por todo o mundo e em particular, em Sergipe, através do trabalho desenvolvido pela equipe docente do NEAD da Universidade Tiradentes, já mencionada anteriormente como pioneira em Educação a Distância, em nível de graduação e agora pós-graduação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As novas tecnologias da comunicação podem ser usadas como instrumento de desenvolvimento da educação e o Brasil tem investido no acesso à informatização. O sucesso ou insucesso depende do grau de investimento feito por todos os envolvidos no processo. As novas tecnologias contribuem para o aumento da democratização da educação uma vez que possibilitam o acesso ao conhecimento de maneira diferenciada.

Hoje, as melhores universidades oferecem EAD, exclusivamente por meio da internet, o problema é ainda a falta de pessoas especializadas em educação on-line. Nessa modalidade, a presença física deixa de ser o essencial, pois, acreditasse que o candidato a aluno EAD seja autodidata. As experiências com EAD mostram que ele é possível sim e muito eficaz, desde que assumida com responsabilidade e conte comprofissionais sérios e compromissados.

O maior problema que a Educação a Distância enfrenta é o preconceito ainda existente e as resistências que lhe são feitas pela sociedade. Felizmente, as leis que regulamentam essa modalidade dão suporte à sua prática e ao seu sucesso.

Sabe-se das dificuldades enfrentadas pelo professor diante da nova realidade e também da necessidade urgente de se ajustarem a ela para que se consiga atingir o objetivo mais urgente que é o de preparar os jovens para a sociedade atual.

Sabe-se também que não se pode esperar um procedimento uniforme para todos, pois cada professor tem sua maneira particular de ser, com especificidades individuais e que o medo na maioria das vezes leva o professor ao isolamento.

Mas o trabalhar em equipe, a tomada de decisões em grupo quase sempre surte bons resultados. Necessário se faz uma gestão mais aberta e participativa. Nesse ponto se chama a atenção para o professor que assume o desafio de educar, que vai além do passar meros conteúdos aos seus alunos.

É objetivo da educação e especialmente do professor formar cidadãos que adquiram o gosto pela tecnologia da comunicação e da informação, sujeitos capazes de interpretar o mundo e também de recriá-lo, fazendo com que o processo evolutivo do ser humano não se acabe nunca e que a cada dia consigamos absorver algo novo, incorporá-lo ao nosso conhecimento anterior e transformar em um conceito bem mais aprofundado e proveitoso no decorrer do nosso viver.

A academia precisa priorizar meios e propostas diversas, valorizar professores inovadores e seus avanços para o bem estar da comunidade em geral.

SOBRE A AUTORA

Professora Jociene Silva de Melo Reis possui Curso de Pedagogia incompleto, pela Faculdade Pio Décimo de Aracaju; Graduada em Letras Português/Inglês pela Universidade Tiradentes (2009). Professora da rede Estadual de Sergipe desde 1991. Atuou em Programas de Correção de Fluxo (2005-2008) e como Coordenadora do Programa Mais Educação em uma Unidade de Ensino do Estado de Sergipe. (2009). Atualmente desenvolve trabalhos como Técnica Pedagógica na Diretoria de Educação de Aracaju (DEA). Endereço para contato com a autora - [email protected]

REFERENCIAS

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[1] LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 10ª ed., São Paulo: Cortez, 2007p. 39.

[2] AZEVEDO ett allis, 2008, p.122.

[3]Também conhecida como EAD.

[4] 1983: p. 111.

[5]SEWART, 1995, p. 128.

[6] Em seu artigo 80.

[7] (FRAGALLE, 2003, p.30).

[8] Órgão de representação dos Conselhos Estaduais de Educação,

[9] 2003, p.44.

[10] Resolução CNE/CES 1/2001.

[11] Artigo 2º,§ 4º, Dec. 2.494/98.

[12] Artigo 6º do Dec. 2.494/98.

[13]TRINDADE, 1992, p.32.

[14] CARMO,1997, p. 162.

[15] Apud ARETIO, 1994.

[16] O que não é facilmente desenvolvido pelos estudantes regulares e da EAD.

[17] 2000,p. 24

[18] 1983, p.13.

[19] Principal característica do ensino a distância.

[20] BLANDIN, 1990, p.66.