A SOCIALIZAÇÃO ATRAVÉS DAS BRINCADEIRAS LÚDICAS NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL

 

ANDREA CORRÊA LIBONI[1]

BEATRIZ FERRARI ROSA¹

FABIANA A. LORENZATO¹

GISELE GOMES RESENDE¹

GISLAINE FÉLIX DA SILVA¹

GIULIA MUNHOZ RIZIERI¹

LARA IZABELA REIS¹

ANA PAULA BARBOSA[2]

RESUMO

O presente artigo tem o intuito de abordar o tema “A socialização através das brincadeiras lúdicas nas escolas de Educação Infantil”. As atividades lúdicas que ocorrem no ambiente escolar facilitam as relações sociais entre as crianças, criam vínculos de afetividade e amizade, é muito importante no momento de adaptação escolar. O uso de jogos e brincadeiras em grupos é uma forma de contribuir com o processo de aprendizagem, socialização e estruturação da personalidade como também para os processos cognitivos, sobretudo para facilitar a dinâmica relacional e comunicacional.  Metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, que é um tipo de pesquisa feita em livros, artigos e publicações. Chegamos à conclusão que a fase do brincar nas escolas de educação infantil é primordial na formação dos conceitos e valores. É neste período que a criança começa a construir um ser social em um ambiente fora do contexto familiar.

Palavras Chaves: Socialização; Jogos; Aprendizagem; Educação Infantil.

ABSTRACT

 

This article aims to address the theme "Socialization through playful banter in Early Childhood Education schools." The recreational activities that occur in the school environment facilitates social relationships among children, create bonds of affection and friendship is very important when school adjustment. The use of games and play in groups is a way to contribute to the process of learning, socialization and structuring of personality as well as cognitive processes, particularly to facilitate relational and communicational dynamics. Methodology used was literature, which is a type survey in books, articles and publications. We concluded that the phase of play in preschools is crucial in the formation of concepts and values. It is in this period that the child begins to build a social being in an environment outside the family context.

Key Words: Socialization; Games; Learning; Child education.

  1. INTRODUÇÃO

Atualmente as escolas estão deixando de lado o modelo tradicional de ensino e procurado novas praticas pedagógicas que auxiliem no aprendizado, na integração e socialização das crianças na educação infantil, e uma das práticas utilizadas é a da ludicidade.

Os professores, aos poucos, estão buscando informações e enriquecendo suas experiências para entender o brincar e como utilizá-lo para auxiliar na construção do aprendizado da criança. Quem trabalha na educação de crianças deve saber que podemos sempre desenvolver a motricidade, a atenção e a imaginação de uma criança brincando com ela. O lúdico é parceiro do professor (MALUF, 2003, p. 29)

A ludicidade pode ser manifestada de diversas formas, através de jogos, histórias, musicas, dramatizações, canções, danças, pinturas e outras manifestações artísticas.

Através das manifestações lúdicas criam-se espaços nos quais as crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas e os sentimentos.

A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e  cognitivas.  Ampliando  suas  relações  sociais,  interações  e  formas  de comunicação,  as  crianças  sentem -se  cada  vez  mais  seguras  para  se expressar,  podendo  aprender  nas  trocas  sociais  com  diferentes  crianças  e adultos  cujas  concepções  e  compreensões  da  realidade  são  diversas.                (BRASIL, 1998, p. 21, vol. 2)

Antes  de  ingressarem  na  escola,  as  relações  sociais  das  crianças  são basicamente  centradas  na  família, é dentro da família que a criança faz suas primeiras representações e  ao  entrarem  para  o  mundo  escolar,  os  alunos  têm  a  oportunidade  de  ampliar  tais  relações,  progredindo  em  suas  aprendizagens sociais. Um exemplo desta situação é o de que durante as brincadeiras, as crianças vivenciam  concretamente  a  elaboração  e  negociação  de  regras  de  convivência, aprimoram as relações, assim como  a  elaboração  de  um  sistema  de  representação  de  diversas  situações, sentimentos, e emoções humanas.

As atividades lúdicas que ocorrem no ambiente escolar facilitam as relações sociais entre as crianças, criam vínculos de afetividade e amizade, o que é muito importante no momento de adaptação escolar.

O presente trabalho tem como objetivo, buscar através da pesquisa bibliográfica, materiais teóricos que tragam informações sobre o processo de socialização infantil, feito através de atividades lúdicas, como ferramenta de aprendizagem e socialização.

Este trabalho se justifica pelo aprendizado dos alunos do 5º semestre do Curso de Psicologia da Universidade de Franca, que farão uma pesquisa bibliográfica sobre o tema “A socialização através das brincadeiras lúdicas nas escolas de educação infantil”, através da pesquisa bibliográfica, os alunos vão adquirir conhecimentos importantes sobre o tema. Um conhecimento também muito importante que será adquirido vem a ser o de aprender a elaborar corretamente um projeto de pesquisa e toda metodologia envolvida no processo.

  1. REFERÊNCIAL TEÓRICO

A escola é um vasto espaço para a socialização, pois é neste espaço que o aluno sai de sua zona de conforto e começa a se relacionar com pessoas diferentes, culturas diversificadas e a partir daí acontece o choque cultural, porém essas relações devem abarcar o sentido mais amplo da questão, ou seja, respeitar e entender as diferenças.

Para Maranhe e Moraes (2009), a educação centrada apenas no respeito e boa convivência com o semelhante a nós mesmos, ou seja, centrada na “identidade”, soa cada vez mais estranha num mundo em que nosso próximo é cada vez mais diferente de nós.O mundo de hoje exige que cada vez mais as pessoas, consigam se relacionar com as outras respeitando seus princípios e valores, não cabendo nesse diálogo, qualquer forma de discriminação.

Segundo Morin (1999), “é justamente, mostrar que ensinar a viver necessita não só dos conhecimentos, mas também da transformação, em seu próprio ser mental, do conhecimento adquirido em sapiência, e da incorporação dessa sapiência para toda vida”.

Conforme Teixeira (2002), tudo no indivíduo é, com efeito, social: a sua ação, o seu pensamento, a sua consciência. E se assim não fosse, impossível se tornaria a direção do processo educativo.

Uma das características que os seres humanos adquirem pela educação é a individualidade, ou seja, a capacidade de pensar e de viver de modo diferente uns dos outros. A humanidade sempre ganha com a troca de experiências entre culturas, e com o intercâmbio em todos os setores da vida social. As conquistas e invenções podem ser compartilhadas, com ganhos para todas as partes.

Nenhuma cultura é estática, portanto sempre existe algo novo a ser compartilhado, neste sentido compreender uma civilização e sua cultura é importante para compreender a si mesmo, porque sempre que reconhecemos o outro; reforçamos nossa identidade, tanto como indivíduo somo ser social.

Para Durkheim (1975), as representações que os indivíduos e os grupos elaboram sobre a realidade e a vida é essencialmente coletiva e compõe uma visão de mundo, uma forma de compreender, de conhecer, estabelecendo relações entre as coisas no interior do pensamento, expressas por meio de conceitos e símbolos. Ele propõe que se reconheça a origem social das categorias, que traduzem estados da coletividade.

O que cada indivíduo expressa carrega essa marca. Os conceitos constituem modos como as sociedades e os grupos sociais, em certas épocas, representam a natureza, os sentimentos, os objetos, as relações e as ideias.

Deve-se observar que uma das características mais marcantes da socialização é exatamente a possibilidade de haver uma troca entre culturas diferentes, quando grupos sociais explicitam seu modo de pensar, de viver de agir.

Para Vygotsky (1986),  esse compartilhar de significados é comum aos grupos e é internalizado ao longo do processo de aprendizagem, isso significa uma constante e renovação dessa cultura, na medida em que possibilita a percepção do outro.

A imaginação seria o brinquedo em ação. Dentro deste contexto do brincar, a criança aprenderá a lidar com situações diversas, desafios que muitas vezes a criança terá que mudar sua proposta da brincadeira, possibilitando além da imitação, a imaginação e a regra.

Para Winnicott (1975), o brincar satisfaz, é excitante, envolve o corpo, pois a criança vive numa realidade concreta ou compartilhada.

Para entender certos comportamentos de conduta e socialização de uma criança, é necessário observar suas brincadeiras, assim saberemos se está feliz, angustiada, triste, se tem medo, raiva, se está doente, ou sofre de algum tipo de violência.

 A criança transfere suas emoções e sentimentos no momento da brincadeira, e a partir daí ela manifesta tudo aquilo que adquire através de suas experiências sociais e culturais.

É a partir da brincadeira que as crianças começam a ficar independentes, e lidar com sentimentos de angústia e aflição, e consequentemente enriquecem sua percepção em relação ao mundo e as pessoas que convive.

Segundo Vygotsky (1986) os processos de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de internalização e ao papel da escola na transmissão do conhecimento, que é diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana.

E a escola, enquanto espaço de socialização e integração de crianças na Educação Infantil, tem contribuído para a construção de valores relacionados ao respeito, segurança, amizade, o compartilhar, aprender a ouvir e respeitar o outro, através dos jogos simbólicos.

O uso de jogos e brincadeiras em grupos é uma forma de contribuir com o processo de aprendizagem, socialização e estruturação da personalidade como também para os processos cognitivos, sobretudo para facilitar a dinâmica relacional e comunicacional. Deste modo possibilita a compartilhar com o outro, experiências lúdicas significantes, há um senso de pertencimento, de acolhimento e aceitação.

A criança atravessa determinados estágios de seu desenvolvimento cultural, cada um dos quais se caracterizando pelos diferentes modos pelo qual a criança se relaciona com o mundo exterior; pelo modo diferente de usar os objetos; por formas diferentes de intervenção e diferentes técnicas culturais (VYGOTSKY, 1986).

Constata-se que Vygotsky, realizou uma análise do brincar infantil em sua obra, compreendido como uma atividade social da criança, cuja natureza e origem específica seriam elementos fundamentais para o seu desenvolvimento cultural.

O brincar é uma compreensão e imitação da realidade. A imaginação seria o brinquedo sem ação, possibilita à criança conhecimentos apreendidos, não constituindo uma atividade mecânica, perceber o que está sendo aprendido, reproduzido, imitado pela criança no brincar, constitui uma forma de averiguar como a criança está pensando, construindo seu conhecimento através das relações sociais.

As experiências vivenciadas no brincar possibilitam à criança uma interface entre o domínio de si e a construção da alteridade, construção interna que implica reciprocidade.

Conforme Winnicott (1975), a experiência da brincadeira adquirida na infância, às experiências com a diversidade, são fundamentais para a vida adulta, alicerçando a personalidade da criança para a vida adulta.

Para melhor compreensão do brincar na Educação Infantil, conhecer o universo da criança, é ferramenta básica na construção de um olhar reflexivo para realização de atividades que contribuam para o desenvolvimento do grupo.

A criança pequena tem sua própria linguagem, que traz para o grupo conforme influência do contexto social onde está inserida.

De acordo com Lima ( 2003, p. 3):

Para se comunicar, o ser humano usa linguagens diversas. Para construir e utilizar linguagens, o ser humano depende da função simbólica. A possibilidade de construir símbolos é dada pela constituição genética da espécie e a realização efetua-se por um complexo e longo processo de natureza cultural e biológica. Esse processo efetua-se, também, como realização social e individual.

O primeiro contato da criança com o ambiente escolar vem acontecendo cada vez mais cedo devido à necessidade financeira da família, pois atualmente as mulheres contribuem com a renda do lar, ou são as provedoras da casa.  Acumulam para si várias tarefas: trabalho, administração da casa, educação dos filhos, entre outras atividades que atingem diretamente sua convivência direta com a criança. Em muitos casos, a criança fica o dia todo no ambiente escolar, onde desenvolve vínculos de amizade e convivência com os demais alunos, e neste contexto o confronto da diversidade acontece então novos parâmetros de convivência e respeito são elaborados através do brincar em sua totalidade.

Compreender a criança em seu mundo sócio emocional é o primeiro desafio dos educadores ao elaborar um planejamento que contemple a diversidade e a faixa etária do grupo. Os objetivos e metas têm de estar de acordo com a fase em que se encontra a criança, para que a atividade planejada contribua para o crescimento sócio moral do grupo.

Jaques Delours (1998) diz que o objetivo da educação não é somente transmitir conhecimentos, mas também criar um espírito para toda a vida em que ensinar é viver em transformações consigo próprio e com os outros. Aprender a conviver, é uma prática pedagógica na qual a proposta é trazer situações que contemplem a coletividade, e nada melhor que o brincar para começar a trabalhar com as diferenças no grupo.

A criança pequena tem muita facilidade em lidar com a diversidade, portanto um ponto de partida a ser explorado para a construção da formação ética e de respeito ao diferente.

Para Lima (2003, p.25):

O desenvolvimento da criança está diretamente relacionado com a diversidade e qualidade de experiências que tem a oportunidade de vivenciar, os jogos e as brincadeiras infantis foram produzidos na história da humanidade pela cultura e se mantém como práticas culturais extremamente interessantes para as crianças. As brincadeiras de roda e faz de conta, por exemplo, são atividades universais da infância.

A brincadeira além de estimular a imaginação, contribui para o desenvolvimento da motricidade, atenção, concentração e socialização.

O ser humano é cerne do ato educativo. Uma visão educacional humanista e voltada à construção do conhecimento deve considerar o homem integralmente, priorizando não somente a cognição, mas também a afetividade, o corpo e movimento.

Uma visão global e integrada na Educação Infantil considera a socialização através das ludicidade, o corpo e o movimento como essenciais para a aprendizagem da criança.

Pré-escola, berçário, creche, maternal ou qualquer espaço destinado á educação infantil, é um ambiente voltado à construção de vínculo sócio educacional, à troca de experiências e ao convívio, sendo estes mediados por metodologias e práticas pedagógicas específicas para cada fase do desenvolvimento infantil. Portanto a ludicidade na Educação Infantil, é essencial em sua formação psicossocial, além de contribuir com o processo de ensino-aprendizagem das crianças, preparando-as para vida em sociedade. 

Para Drevies & Zan, (1994, p.95):

O desafio de socializar as crianças é descobrir como ajudá-las a controla seus impulsos, pensar além do aqui e agora e tornarem-se capazes de refletir sobre as consequências de suas ações. Isso envolve descentramento necessário para considerar visões e sentimentos dos outros.

A Educação Infantil é o primeiro espaço social fora do contexto familiar, neste período existe a questão da adaptação das crianças, dos pais, e principalmente as crianças se socializarem entre si, mesmo quando são muito pequenas. Cada uma delas vem de contextos e dinâmicas sociais diferentes, o que pode gerar na vivência em grupo, conflitos e situações de angústia, medo e mudanças de comportamento que irão interferir diretamente em suas relações sociais.

Neste contexto o trabalho com a ludoterapia, o trabalho comportamental através das brincadeiras e jogos simbólicos trazem à criança uma nova maneira de se expressar, através da convivência com outras crianças e educadores. Com os jogos e as brincadeiras, a criança desperta para novas regras de condutas sociais: de respeito, amizade, solidariedade, reciprocidade, regras e desenvolvimento sócio moral.

Para Abramowicz (1996, p.45),

Como podemos perceber, a escola tem um papel fundamental na formação da identidade das crianças que são acolhidas por essa instituição, mas precisa também ter clareza da necessidade de “positivar”; a diversidade da qual é constituída [...] [A identidade] é aquilo que me identifica enquanto “eu”, uma pessoa singular, mas ao mesmo tempo, cheia de diversidade, pois tudo em “mim” varia de acordo com o que “você” possui.

A identidade depende da diferença, sendo sempre marcada a partir da diferença. Por outro lado, “assim como a identidade depende da diferença, a diferença depende da identidade, identidade e diferença são, pois, inseparáveis” (SILVA, 2000, p.75)

Dessa forma cabe notar que a diferença é marca presente e constitutiva no processo de construção identitária. A identidade é construída em oposição aquilo que ela não é, ela se constrói por meio da diferença. Esse processo de construção de identidade se desenvolve na cultura do sujeito, ou seja, a maneira de como a cultura estabelece as fronteiras e distingue as diferenças nos aspectos socioculturais.

A escola passa a ser um ambiente de construção de relações sociais através da convivência com as diferenças e a diversidade entre os grupos. O processo de socialização pode ser considerado então como um espaço plural de múltiplas relações sociais; e considerado como um campo estruturado pelas relações dinâmicas entre instituições e agentes sociais distintamente posicionados em função de sua visibilidade e recursos disponíveis, para favorecer o processo de socialização, através das brincadeiras e aprendizagem significativa em relação ao seu contexto sócio cultural e interpessoal.

As ações voltadas para o trabalho em grupo precisam ser planejadas com objetivo específico e mais amplo na Educação Infantil.

Na Educação Infantil, é comum o uso de jogos como facilitadores do processo de aprendizagem da criança, porém existem escolas e pais que contestam essa prática, pois tem a concepção engessada das tarefas, do caderno cuidadosamente montado com atividades que mostram o desenvolvimento cognitivo da criança, pois acreditam que apenas esse modelo de aprendizagem é necessária ao desenvolvimento cognitivo da criança.

Para Kamii & DeVries (1991), as crianças tem uma tendência forte, natural, de se envolver em jogos em grupo, pois os fatos dos jogos serem uma atividade humana espontânea e satisfatória, não necessitam de maiores evidências.

O que precisa ser feito é uma justificativa clara e objetiva para o uso dos jogos em sala de aula, lembrando que crianças pequenas aprendem muito mais através de jogos do que lições que não apresentam uma aprendizagem significativa. As brincadeiras e jogos contribuem para o desenvolvimento social, político, moral, emocional e cognitivo.

De acordo com Kamii & DeVries (1991) a interação social é indispensável tanto para o desenvolvimento moral quanto para o cognitivo. As crianças desenvolvem também a política, através dos jogos com regras, pois um jogo não pode começar caso não haja pleno acordo entre as partes sobre as interpretações e aplicações das regras.

É interessante que as regras dos jogos em grupo sejam elaboradas pelas crianças, pois é uma atividade política que requer escuta e respeito à opinião do outro, o que implica várias decisões.

De acordo com Kamii & DeVries (1991, p.39), o lado moral dessa legislação se relaciona com o aspecto político (apesar de nem todos os aspectos políticos serem morais ou vice-versa). Os aspectos morais implicam questões tipo “certo” e “errado”. A regra de ouro: “não faça para os outros o que não quer que façam a você mesmo” leva muitos anos para ser construída.

A prática da legislação, ou seja, a criança criar as regras oportuniza o desenvolvimento moral ao terem que se confrontar com situações morais, de justiça, e comparações em diferentes procedimentos. Neste contexto, a cognição é essencial para fazer comparações e se posicionar diante das regras estabelecidas.

De acordo com Perret Clermont (1976) in Kamii & DeVries (1991, p.45), “a coordenação de pontos de vista é um processo cognitivo que contribui para o desenvolvimento lógico”.

Ao estimular a criança a desenvolver regras e cumpri-las, ela é encorajada ao desenvolvimento da iniciativa, da mente aberta e dizer honestamente o que pensa, exercendo sua autoconfiança. Criar regras exige criar sanções, punições, que permite a criança criar soluções, tornando-as mais criativas.

Observa-se que aos poucos as crianças mesmo pequenas vão desenvolvendo sua autonomia, que não está atrelado apenas a aspectos políticos, intelectuais ou morais, mas também aspectos emocionais. Sem um forte sentido de si mesmo (autoconceito positivo e autoestima), não pode haver autonomia moral, intelectual, política e vice-versa (KAMII & DEVRIES, 1991).

Os jogos e brincadeiras em grupo desde que bem planejados podem contribuir de maneira decisiva na formação intelectual, social e moral da criança.

No município de Franca, as Creches e Escolas de Educação Infantil têm com parâmetro de organização pedagógica o REC – Referencial da Educação Infantil e do Ensino Fundamental das Escolas Públicas Municipais de Franca, onde o trabalho com jogos e brincadeiras em sala de aula é considerado essencial no desenvolvimento de habilidades e competências.

Conforme o REC (2008, p.87), os jogos se dividem em:

Jogos de ficção ou faz de conta, que é uma atividade que a criança realiza sozinha ou em grupos, onde a criatividade acontece conforme o contexto da brincadeira, como por exemplo: fazer comidinha, brincar de profissões, criar uma situação de perigo, de defesa. Outra forma são os jogos de exploração e transformação dos objetos e materiais, que acontece quando a criança nomeia os mais diferentes tipos de objetos para a construção de sua narração, uma vez a criança constituindo conceitos sobre estes materiais, sua ação muda em relação a esses objetos.Os jogos de movimento são resultantes da importância do movimento no desenvolvimento infantil.  Essa diversidade de brincadeiras coletivas provoca na criança seu desenvolvimento psicomotor, e mesmo sendo consideradas complexas, é essencial para a socialização e crescimento sócio emocional.

Em época de internet e redes sociais, é frequente o isolamento social por conta dos jogos online entre outros atrativos virtuais, é necessário resgatar nas crianças brincadeiras significativas que possam ensinar divertir e provocá-la à criatividade e seu desenvolvimento biopsicossocial.

  • METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica que, segundo Lakatos e Marconi (2001, apud Oliveira, 2011, p. 40), busca explicar um problema a partir de estudos e análise de contribuições científicas ou culturais sobre um determinado assunto.

Este tipo de pesquisa é, segundo Gil (2007, p. 65),

“desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.”

Para realização deste trabalho, foram consultados livros, buscados na biblioteca da universidade,  tal como artigos científicos pesquisados na base de dados BVS, Scielo e Lilacs. Além do tema proposto neste trabalho, foram procurados materiais sobre metodologia científica para orientar a confecção do presente artigo.

Também foi utilizado o método dedutivo, que para Gil (2007, p. 27)

“é o método que parte do geral e, a seguir, desce ao particular. Parte dos princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica.”

Para Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 46):

“a dedução é a argumentação que torna explícitas verdades particulares contidas em verdades universais. O ponto de partida é o antecedente, que afirma uma verdade universal, e o ponto de chegada é o consequente, que afirma uma verdade particular ou menos geral contida implicitamente no primeiro.”

Gil (2007, p. 27) afirma que:

“o protótipo do raciocínio dedutivo é o silogismo, que consiste numa construção lógica que, a partir de duas proposições chamadas premissas, retira uma terceira, nelas logicamente implicadas, denominada conclusão.”

O método dedutivo, segundo Lakatos e Marconi (2011, p. 64) “tem o propósito de explicitar o conteúdo das premissas.” No método dedutivo:

“a necessidade de explicação não reside nas premissas, mas, ao contrário, na relação entre as premissas e a conclusão (que acarretam)” (Lakatos e Marconi, 2011, p. 69).

  1. CONCLUSÃO

Em virtude dos aspectos mencionados neste artigo, pretendemos mostrar a importância da socialização da criança através do brincar, nas escolas de Educação Infantil. A escola é o primeiro contato da criança com a sociedade e entendemos que esta fase é primordial na formação de conceitos e valores, que muitas vezes são construídos através das brincadeiras em grupo. É também neste período, que a criança começa a construir seu ser social em um ambiente fora do contexto familiar, onde confronta com a diversidade sociocultural. Toda essa diversidade é trabalhada nas brincadeiras, onde as crianças começam a compreender valores primordiais para convivência em grupo.  A ludicidade se tornou um grande parceiro do professor, uma prática educacional que procura auxiliar no aprendizado de maneira divertida, proporcionando momentos de integração e socialização das crianças na educação infantil, além disso, facilitam a criação de vínculos de afetividade, o que pode ser um facilitador para a adaptação escolar.

  1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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[1] Alunos do 5º semestre N do Curso de Psicologia da Universidade de Franca.

[2] Professora Dra. Orientadora do artigo, Doutora em Serviço Social pela UNESP, Mestre em Educação pela UFSCar, Especialista em Didática, Psicologia.