Inicialmente eu o vi passar por mim, indo em outra direção. Eu estava terminando o meu almoço solitário, que não costuma levar mais que quinze minutos. Estava ali, pensativa, aguardando uma porção maior de coragem que me motivasse a voltar ao trabalho. Foi então que aquele pudim passou por mim e meus olhos brilharam. A mesa a minha frente estava ocupada por três rapazes e cada um deles recebeu um belo e generoso pedaço daquela sobremesa espetacular. Se eu fosse um cachorrinho, o meu rabinho estaria abanando. Mas, sendo um ser humano, pesei as conseqüências do meu impulso gastronômico, as quais certamente acabariam indo de encontro ao meu objetivo de emagrecimento. Foi assim que uma angústia tomou conta de todo o meu ser. E a dúvida entre o prazer, de saborear o doce pecado da gula, e o objetivo imediato de virar uma “mulher magra e esbelta”, começou a invadir e perturbar cada uma das minhas células. E as tais das minhas células parecem que nem ligam para os objetivos que tenho, e começaram a gritar: pede, pede, pede, pede... O coral estava tão gracioso que esse foi o empurrãozinho que precisava para em tentação.
- Moça – chamei a garçonete – traz um pedaço pra mim...
Falei assim mesmo, como uma criança – que, no auge dos meus 25, 11 meses e 23 dias, ainda sou - que pede um doce – que era o próprio pudim (e que pudim!).
Daí por diante me deliciei naqueles que não chegaram a ser minutos seguintes. Não deu tempo. A cada colherada a maravilhosa sensação da colher penetrando naquela pele macia, lisinha e dourada. Ao chegar à boca, um sabor que se divino não for, nada mais será além de Deus. Fui ao delírio! O gosto docinho, delicado, plenamente agradável, que passeava em minha boca, me fez ir ao céu e voltar, com as tripas e tudo. E foi assim, um agradável prazer. Colher por colher. Até chegar ao fim, não desprezando sequer o melzinho que ficou no fundo do prato, é claro.
Depois do doce delírio, a culpa é o que menos importa. Retardei em mais um dia o sonho de ser magra (o que já aconteceu umas cento e oitenta vezes nos últimos seis meses). Amanhã eu retomo o meu plano de ação. Isso mesmo. Eu prometo para mim mesma! A minha palavra tem que ter algum peso para mim, além do peso que me acompanha nas visitas à balança. Espero que o dourado pudim fique bem longe de mim.