Fui promovido de promotor substituto para promotor de justiça titular e me dirigi para a minha primeira Comarca, feliz por saber onde seria meu trabalho doravante. Recebi um inquérito em que a Maria Alicate havia matado a Elizangela. As duas prestavam serviços na Boate Vem Que Tem e o móvel do crime foi por que dez reais de Maria haviam desaparecido. Esta, sem provas, presumiu que a autora do furto era a colega da vida fácil. A discussão teve fim e as duas damas da noite sentaram no banco do lado de fora à espera dos eventuais clientes. A Maria Alicate, de surpresa, cravou uma faca no peito de Elizangela, produzindo nela uma lesão corporal que evoluiu a óbito. No interrogatório Maria contou com riquezas de detalhes o crime, discordando apenas que tivesse assassinado Elizangela por causa dos dez reais. A discussão começou em razão do dinheiro que havia sumido, mas foi por que ela me rebaixou muito que eu a matei. As minhas pernas são embodocadas e elas me botaram esse apelido de Maria Alicate, mas todo mundo sabe que eu não gosto. A acusada foi condenada. Os jurados reconheceram que ela agiu por violenta emoção logo em seguida a provocação da vitima, causa considerável de diminuição da pena. No júri eu bati bastante na acusada e falei que não houve a violenta emoção e sim um ato de covardia, pois a discussão tinha cessado e Maria se armara com uma faca e de inopino esfaqueado a vitima. Antes do julgamento de Maria eu estive visitando a cadeia publica algumas vezes. Ela se mostrava sempre simpática, bem arrumada e cheirosa. A delegacia funcionava sem a presença integral do delegado e eu era atendido pela escrivã. Pensei que Maria estava tentando me impressionar e então eu pegaria mais leve contra ela no Tribunal do Júri. Comentei com a policial este detalhe e ela me disse que não era nada disso. Falou que era só falar que o promotor iria à cadeia que Maria se aprontava toda. Contra-argumentei dizendo que eu iria pedir a condenação da acusada por homicídio duplamente qualificado e a escrivã veria que Maria me odiaria depois de sua condenação. No júri fiz o meu trabalho e Maria foi condenada a dez anos de reclusão. Decorrido certo tempo eu voltei a Cadeia Publica para a inspeção de rotina. Sempre entrava no corredor e falava com os presos pelas grades. Cheguei diante da cela exclusiva para as mulheres e me deparei com Maria como dantes: vestia um vestido vermelho e parecia que sairia dali para ir ao baile. – Bom dia Maria. Tudo bem? Bonito vestido vermelho você esta usando! – Doutor, por baixo também as roupas são vermelhas. – Pensei que você estaria com cara feia depois do júri, Maria. – Eu sei que o doutor tava fazendo o seu trabalho. Quem deve tem que pagar. Fui embora pensando que Maria não tinha perdido o amor pela profissão, continuava agindo como se estivesse na Boate Vem Que Tem.