Em matéria de escatologia, não há tema mais falado e ao mesmo tempo mais desconhecido da maioria dos cristãos evangélicos do que a volta de Jesus. Quando se pergunta a um cristão médio, sobre a volta de Cristo, o tal, certamente responderá com toda aquela certeza dogmática que recebeu de forma muito elementar, ou até deturpada, segundo a qual, a volta de Jesus consistirá no seu retorno para buscar sua igreja, para levá-la ao céu, ao mesmo tempo que destrói o mundo com todos aqueles que não obedeceram ao evangelho da salvação.Mas no tocante a este conhecimento de senso comum evangélico, existe correspondência com o ensino correto das escrituras? O estudo em consideração pretende demonstrar que tal perspectiva é ingênua e incompleta. Mas, o que é mais alarmante é que, a maioria daqueles que tem o dever de alimentar as ovelhas com o leite não falsificado, para que os crentes cresçam de forma salutar, estão igualmente num estado de ignorância, ou mesmo de insuficiência, no que tange ao conhecimento teológico da segunda volta de Cristo.

No que tange ao tema do advento de Cristo, a ortodoxia protestante a divide em duas fases distintas, a saber, a parusia e a epifanéia.

A parusia, é a primeira fase da segunda vinda de Cristo, que abrange o arrebatamento da igreja, a ressurreição dos santos, início da grande tribulação, e, por conseguinte o tribunal de Cristo. Não pretendo aprofundar os temas precedentes, pois, suponho que meus leitores estejam familiarizados com todos estes conteúdos; meu objetivo é destacar os problemas envolvidos nesta interpretação, e não ensinar os elementos básicos da escatologia. Primeiramente, esta divisão não é clara na bíblia, pelo que também, é doutrina desenvolvida na modernidade, e nunca antes nomeada ou pensada pelos teólogos antigos. Cristo nunca fala de forma objetiva de duas fases distintas, mas de uma só.Qual então é o motivo pelo qual a distinção em duas fases é feita? Certamente foi pra conciliar dois pontos contraditórios entre os teólogos, a saber, a vida dos crentes com Cristo nos céus, e seu reino terrestre de mil anos. É patente em toda a bíblia, as promessas referentes ao reino terrestre de Cristo, tanto no antigo quanto no novo testamento, e é um fato teológico neo-testamentário o arrebatamento dos santos e sua ida para a glória de Deus, para serem recompensados e estarem para sempre com o Senhor. Surge então a parusia, palavra grega que quer dizer, chegada rápida. Segundo tal interpretação, Cristo ao retornar, arrebata a igreja, ressuscita os mortos justos desde Caim, que é a primeira ressureição, e ruma ao terceiro Céu. Na terra inicia-se a grande tribulação, período no qual o mundo será julgado pela ira de Deus, o qual irá durar sete anos, e no final destes, Cristo retorna para terra com sua igreja para reinar por mil anos.

A epifanéia, é a segunda fase “quando todo o olho o verá”, pois epifanéia quer dizer manifestação; se a parusia é invisível, num período de tempo indivisível, a epifanéia é visível e para todo o mundo.O texto que descreve este evento está no capítulo 19 de apocalipse, o qual fala da manifestação do cavaleiro do cavalo branco.

Se esta interpretação “resolve” o problema da conciliação entre o céu e o reino milenial terrestre, cria outro, talvez mais difícil, a saber, se o arrebatamento se dará, no começo, no meio, ou no fim da grande tribulação. Se ocorrer no começo, consoante a defesa da corrente pré-tribulacionista, os crentes não serão perseguidos pelo anticristo,   o que é um pouco estranho quando se estuda a história de perseguição contra a igreja de Cristo, pois parece que os crentes do arrebatamento serão melhores que os crentes do primeiro século, como também em relação aos da idade média, os quais e ambos os períodos, deram sua vida pelo testemunho de sua fé em Cristo – eis o primeiro problema. Se cristo vier no final da grande tribulação, segundo os pós-tribulacionistas defendem, como é que os crentes irão para os céus? Eis o segundo problema. Restam os midi-tribulacionsitas, segundo os quais, Cristo virá no meio da tribulação para arrebatar a igreja, utilizando muito consistentemente o texto de Paulo aos Tessalonicenses (2 Tessalonicenses2.1-7), no qual o apóstolo alerta os crentes para não serem ansiosos quanto a volta de Cristo, afirmando que a volta não irá realizar-se antes que se manifeste o Anticristo, o qual irá exigir adoração no templo de Deus que, com efeito, terá de ser reconstruído segundo esta profecia. Ora, se a grande tribulação é de sete anos, o período em que Deus irá tratar com Israel, ao fim da dispensarão dos gentios, ou tempo da graça, e se o Anticristo exige adoração no meio de semana de sete anos, ao colocar sua imagem no templo sagrado dos judeus, rompendo com o pacto estabelecido com estes, e com base na declaração de Paulo, segundo a qual o retorno não se dará antes que o Anticristo exija adoração, logo, o arrebatamento deverá acontecer no meio da tribulação. Se partirmos da interpretação de que a segunda volta de Cristo terá duas fases é verdadeira, a corrente de interpretação midi-tribulacionista, parece ser a mais coerente com o conjunto das profecias bíblicas. Poderia falar muito mais pormenorizadamente sobre tudo quanto foi exposto nestas breves linhas, mas espero que a pesquisa tenha continuidade pelos leitores, conquanto, nunca devemos nos acomodar com o que pensamos que sabemos sobre a bíblia; que a pesquisa em busca do conhecimento perfeito de Deus tenha movimento contínuo em nossas vidas, como o caminho do justo, que vai brilhando e brilhado até ser dia perfeito.