Artigo

A segregação pública do deficiente*

Nas últimas décadas ouvimos muito falar sobre acessibilidade. O que realmente significa essa palavra tão aclamada? Quem são as pessoas favorecidas por ela?
Quais benefícios são alcançados com a sua real aplicação?

Segundo o dicionário, acessibilidade quer dizer facilidade de acesso, de obtenção. Facilidade essa que não vemos hoje nas ruas das grandes ou pequenas cidades. O que temos hoje é uma cidade segregada, com planos errôneos sobre a Mobilidade Urbana, e não só do portador de necessidades especiais, mas de todos os cidadãos que circulam pelo município. Uma cidade onde o idoso mal consegue se locomover, sem estar sujeito a algum tipo de acidente por conta de calçadas em péssimo estado e falta de respeito das pessoas que acham que o carro vem sempre em primeiro lugar.

Vivemos em dias em que a influência das mídias nas pessoas faz com que cada vez mais elas busquem a beleza e juventude eterna, cultuando o corpo e a perfeição física de forma exagerada, dessa forma, aqueles que apresentam qualquer tipo de deficiência física independente de qual for, são postos de lado na sociedade, e são obrigados a viver uma vida de privações.

Privações não só de locomoção. Muitos portadores de necessidades especiais sofrem do chamado abandono social, aquele que os exclui quando, por exemplo, um evento realizado na cidade coloca o local destinado aos deficientes nos piores lugares, dificultando assim o acesso à cultura popular.

Desafio qualquer pessoa que venha ler esse artigo, a pegar uma cadeira de rodas e tentar dar uma volta no quarteirão de sua própria casa e sentir, assim, as dificuldades enfrentadas por portadores de necessidades especiais. Desafio você a analisar sua calçada e ver se ela realmente dá condições de passagem para uma pessoa que por algum tipo de necessidade esteja sendo amparada por um par de muletas.

Um acidente de carro que teve como consequência um tornozelo quebrado me fez vivenciar uma fase muito difícil em minha vida onde me vi portador de necessidades especiais. Mesmo que por pouco tempo, senti na pele a indiferença das pessoas quando precisam parar suas vidas, mesmo que por minutos, para ajudar alguém a atravessar a rua ou ao entrar no ônibus.

Quero terminar esse texto com a fala de um grande amigo que teve os seus movimentos das pernas interrompidos por uma pessoa que preferiu atravessar o sinal de “Pare” sem ao menos se atentar as pessoas que transitavam pela rua.

Esse meu grande amigo costuma disser que ele não se preocupa tanto com ele, pois tem um carro adaptado que dá uma mobilidade maior para sua vida, mas que ele se preocupa sim com a pessoa que mora na periferia e muitas vezes enfrenta uma calçada irregular, uma rua sem pavimentação, um ponto de ônibus inacessível, um ônibus sem adaptação e um motorista despreparado para acomodá-lo no coletivo.  Porém, o pior de tudo são os olharem das pessoas com indiferença e raiva pela demora que um deficiente causa ao tentar se acomodar no coletivo público.

(*) Welton Valerio – Arquiteto e Urbanista