Clenio Tomaz de Aquino Júnior[1]

RESUMO:A Escola dos Maridos (1661) é uma comédia feita para criticar o estilo de vida aristocrático (gênero criado por Molière) que trata sobre as peripécias de uma garota (Isabel) que está prometida a um velho ciumento e, também, um [2]"Cornudo imaginário" (Sganarello.).Um comédia sarcástica que critica os hábitos da sociedade francesa, como vestir as desconfortáveis roupas cortesãs, e também atacar o super conservadorismo aristocrata, hipocrisia e estupidez, que está temente a qualquer suposta revolução contra os valores da sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Molière: Comédia: Sociedade.


[2]Sganarello, personagem principal de A escola dos maridos, foi criado por Molière em 1660 e faz parte da obra "O cornudo imaginário".

ABSTRACT:The School for Husbands (1661) is comedy done in order to criticize the aristocracy lifestyle (gender created by Molière) what handles about a girl's adventures (Isabel) Who is required to marry with a old jealous manand also a [3]"Cornudo imaginário" (Sganarello.). A sarcastic comedy what criticizes the french society habits, like wearing a uncomfortable preppy clothing, and also to criticize the aristocraticy super conservative, hypocrisy andstupidity, who is scared by any supposed revolution against the social values.

KEYWORDS: Molière: Comedy: Society.



[3]Sganarello is the 'School for Husbands' protagonist ,but He was written byMolière in 1660 in order to be a character of The Imaginary Cuckold.

1. Introdução: Teatro Francês durante o século XVII

Durante a virada do século, o modo de se fazer dramaturgia na França era baseado no renascimento italiano. Jean Vauquelin de la Fresnaye (1536-1606 ) com L'art poétique (1605) e Pierre de Laudun d'Aygaliers (1575-1629) com sua obra L'art poétique fraçoys (1598) eram os expoentes da teoria crítica francesa nesse período. Laudun apresentava um caráter menos rigoroso diante dos modelos clássicos, priorizava a tragédia em detrimento da comédia – o que é comum à época. Por exemplo, não concordava com o rigor da unidade espaço-temporal e nem com a forma com a qual se metrificava os versos.

Já Vauquelin representava o oposto de Laudun, era conservador e se mostrava fiel aos modelos clássicos. Afirmava ele: "O teatro nunca deve ocupar-se de um argumento que requeira mais de um dia para ser concluído". Além das unidades, ele defendia veementemente um número limitado de atos para a tragédia (cinco) e de personagens falantes em cena (três). Para ele, enquanto a tragédia divulgava atos heróicos que viriam a servir como instrução aos nobres, a comédia só propagava "ações dignas de censura".

Quase vinte anos depois, a França adquiriria novos fôlegos diante das publicações dos Dramas Pastorais de Giovanni Battista Guarini. O êxito de suas peças estimulou o estabelecimento definitivo das regras neoclássicas italianas, por exemplo, a mais famosa delas, a regra das três unidades: ação, tempo e lugar. Com a propagação desses valores, a classe artística francesa se divide entre os mais radicais e os mais flexíveis em relação a tal movimento.

Nessa linha de fogo entre argumentações prós e contras as regras neoclássicas, Pierre Corneille (1606-1684) publica Le Cid e causa revolta nos dramaturgos rivais, levando-os a publicar uma série de críticas, como Observation sur Le Cid [Observações sobre o Cid] por Geroges de Scudéry. Este, na crítica, reafirma os conceitos Aristotélicos de limite de tempo de uma revolução solar e acusa o autor de atentar contra a moral (justiça poética) e a verossimilhança por apresentar uma filha satisfeita em casar com o assassino do seu pai.

Contemporâneos a Corneille, houve outros dois grandes nomes da dramaturgia francesa no séc XVII: Racine e Molière. Destaque para Molière cujo aparecimento "ofuscara" Corneille, tomando para si a lista de críticos ferrenhos do dramaturgo em razão das inúmeras novidades (leia-se reavoluções) que trouxe para o teatro na época.

2. Molière: mestre da comédia satírica

Em 1661, Jean-Baptiste Poquelin (Molière) já era um nome conhecido da arte de dramatizar na França.O Dramaturgo também exercia funções de ator, diretor e era dono da própria companhia de teatro (troupe): L'Illustre Théâtre. Nesse mesmo ano, ele publica a obra Escola dos Maridos (L'école des Maris) cuja temática era zombar com os costumes da sociedade cortesã parisiense – o que é próprio do autor. A obra é considerada a sua primeira composição escrita em Paris.

Nasceu em Janeiro de 1622, teve uma vida confortável e uma educação convencional. O seu sucesso definitivo veio em 1658, quando a companhia pôde representar diante do rei Luís XIV a obra Nicomède, de Corneille, e uma peça curta de sua própria autoria, Le Docteur amoureux. O duque Filipe de Orleans, irmão do rei, tomou o grupo sob sua proteção e, sete anos mais tarde, o próprio monarca concedeu-lhe seu favor e deu à companhia o nome de Troupe du Roi.

Antes de experimentar a glória e o reconhecimento, Molière foi preso por não ter pagado as dívidas contraídas pela sua companhia. Naquele período, era difícil ganhar prestígio e fama apresentando comédias. Pois a tragédia costumava ser encarada mais seriamente, do que a comédia, por ser considerada "a única forma digna de homens sérios fazerem dramaturgia". John Gassner na sua obra Masters of the drama (Mestre do Teatro) introduz o capítulo dedicado ao dramaturgo francês, fazendo uma referencia à relação de Molière com a comédia, mostrando o quão revolucionário e iconoclasta ele foi por seguir esse estilo:

"É uma curiosa indicação da complexidade do homem e seu mundo que a era de Corneille e Racine tenha sido também tenha sido também a era de Molière. Pois enquanto a tragédia erigindo uma torre de poderosa dignidade, a comédia estava ocupada em demoli-la." (p.332)

A comédia da época tinha como alvo o confronto de classes e os temas das peças tinham diversas fontes: comédias antigas (Commedia dell'Arte), pastorais, contos, peças populares, eruditas etc. Muitas vezes falava de um casal apaixonado que precisava fugir para se casar, pois a mocinha já era prometida a outro (como na obra em análise). Os criados cômicos eram os personagens mais conhecidos. Em geral era uma dupla, um inteligente e ardiloso e o outro, meio idiota. As peças, geralmente, tinham três atos, precedidos de um prólogo, e muitas rixas, acessos de loucura, duelos, aparições, pancadaria, disfarces, raptos, enganos e desenganos. A estrutura, basicamente, sobreviveu e chegou até as comédias dos dias de hoje.

Molière desenvolveu sua arte de fazer comédia quando esteve Lyon, na época que as coisas ainda não estavam tão boas para companhia. Os habitantes eram consumidores assíduos de teatro renascentista, foi lá que ele achou inspiração para suas personagens que são oriundas da Commedia dell'Arte. Ali, também desenvolveu a sua produção escrita, combinando a comédia italiana com a polidez própria das obras francesas, antes de excursionar e alcançar o sucesso em Paris.

3. A escola dos maridos

Composta por nove personagens (sendo duas anônimas), dividida em três atos e rimada, tem na sua trama o cotidiano de dois irmãos que desejam se casar com suas "prometidas". Aristeu confia em Leonor, permite que a moça saia, converse e tenha a vida social que é própria da época. Entretanto, o seu irmão mais velho (Sganarello), que é conservador e ciumento, mantém reclusa Isabel - irmã de Leonor e sua prometida.

No desfecho da obra, Isabel tramará inúmeras peripécias para livrar-se do matrimônio arranjado a ela para casar-se com Valério. E, embora não possa sair, a moça consegue flertar com o "amante" e fugir das restrições que seu futuro esposo impõe, contando com a ajuda dos criados.

A obra retrata a esperteza feminina através da personagem de Isabel, que usa das mais incríveis táticas de persuasão ao ponto de fazer o ciumento Sganarello levar seus recados de amor ao rapaz (Valério), pelo qual ela é realmente apaixonada e tem um "secreto" relacionamento, acreditando que a moça na verdade recrimina as tentativas de cortejo que o rapaz faz.

Molière também satiriza o exacerbado conservadorismo da aristocracia, representado na obra pela personagem de Sganarello o qual mantém sua pupila em "cárcere" temendo o adultério, que segundo ele, era uma tendência própria do sexo feminino. Num trecho da obra, em que tomado de orgulho de Isabel (sua noiva) por ela ter lhe provado sua "fidelidade" diante dos supostos galanteios de Valério enviados através de cartas, Sganarello diz:

"Com teu gesto, Isabel, muito honraste o teu sexo;

"Na terra jamais houve amante mais perplexo

"Do que esse, quando ouviu com que desprezo tinha

"Teu brio rejeitado a ilícita cartinha;" (Molière, p. 51)

Vale enfatizar que a obra tem como fonte de inspiração a Commedia dell'Arte – como já foi posto. Tanto na temática, quanto na organização das personagens, Molière sofre bastante influência do teatro renascentista italiano. Sganarello, por exemplo, pode ser comparado ao Pantaleão, um velho fidalgo, avarento e eternamente enganado, que fazia parte dos espetáculos da Commedia dell'Arte. Outra característica presente é a participação do criado no desfecho. Em ambas as comédias, há a figura do criado astuto que ajudava a destacar o seu patrão seja nas cenas cômicas, ou nos finais românticos.

4. A Comédia do riso difícil

O método pelo qual Molière fazia comédia era seguro e límpido, ele obedecia às regras das três unidades, os versos das suas peças eram Alexandrinos. Mas, o seu diferencial estava no ato de como trazer o riso, quando combinava o engraçado e com as sensações menos jocosas que um ser humano pode ter, como citado abaixo:

"Seu estilo era lúdico mesmo nos momentos mais tensos; e contido mesmo nos momentos mais lúdicos; pois sua risada estava, no melhor dos casos, sem deixar de ser um risada, mais próxima de um sorriso"

(GASSNER, p. 322)

Em "A Escola dos Maridos", na fala final, quando Liseta (camareira de Leonor) diz:

"Quanto a vós, que ainda estás na sala reunidos,

"Se acaso conheceis, entre pais e maridos,

"Tiranos desse humor: fazei-lhes, uma esmola,

"Trazendo-os, sem tardar, cá para nossa escola"

(MOLIÈRE, p. 93)

Para a platéia, aristocrata, conservadora no séc. XVII e que partilhava das mesmas características que Sganarello, ser convidada para assistir a um espetáculo no qual ela é a piada, resume - de forma perfeita - a idéia de Gassner ao afirmar que Molière mesclava o lúdico ao tenso – A Escola dos Maridos não soava de forma tão agradável para os moralistas. Além do mais, como é próprio de uma obra na qual a piada está no costume, deve-se conhecer o costume para se apropriar da piada; piada que é repleta de fina ironia, graça e flexibilidade.

Ainda que acusado de ser vulgar nas suas obras, Molière, devido a sua educação jesuítica, desfrutava de um exímio poder de retórica e o domínio da lógica que influenciavam, também, na sua arte, exigindo do seu público um pouco mais de perspicácia e sagacidade para poder extrair o humor

5. JUSTIÇA POÉTICA

Como foi visto antes, para criticar as comédias, os dramaturgos da época se validavam dos argumentos da Poética de Aristóteles que afirmava que as obras deveriam ter um cunho moral para instruir a população. Ainda que se trate de comédias, a Justiça Poética pode ser encontrada nas obras de Molière, como disse John Palmer:

"Nas suas comédias a Justiça é sempre feita. Não há intrusão do homem de sentimentos ou preconceitos para prejudicar o tom equilibrado de sua forma cômica" (GASSNER, p. 334)

Pode-se exemplificar através da obra em análise, A Escola dos Maridos, em que, no final, ainda que não seja um tratado aos olhos do "bom costume" da época em que foi escrita - por se tratar de uma "adúltera" em potencial - tem um viés de instrução e pode ser considerado como justa e condizente com a instrução moral. Afinal, o tirano Sganarello não pode separar o apaixonado casal Isabel e Valério; e quando o "amor" vence e o "sentimento" se mostra mais forte, a "Justiça" acontece.

6. CONCLUSÃO: A ESCOLA DE MOLIÈRE

Depois de A Escola dos Maridos, Molière continuou satirizando todas as mazelas próprias da aristocracia, como a avareza, a hipocrisia e o conservadorismo. Para eles a sociedade não podia ser reformada, uma vez que a corrupção era própria da natureza humana. Porém, mesmo com uma comédia pautada na filosofia da falta de esperança, ele "atingiu o limite ao qual um homem de teatro podia chegar na era de Luís XIV" (GASSNER, p. 345).

Na escola de Molière, aprende-se a arte de combinar crítica, comédia e até um pouco de técnicas mercadológicas – foi durante as montagens do espetáculo que ele encontra no teatro um negócio lucrativo. No teatro, ele ganhou a vida, e também a perdeu.

Molière morreu em1673, enquanto representava no palco o protagonista de sua última obra, Le Malade imaginaire (O doente imaginário), Molière sofreu um repentino colapso e morreu poucas horas depois, em sua casa de Paris. Como foi dito com freqüência, não é de estranhar que o mestre do duplo sentido, da sátira e da dissimulação tenha encerrado a vida e a carreira no momento em que encarnava um falso doente.

KEYWORDS: Molière: Comedy: Society.

REFERÊNCIAS:

CARLSON, Marvin. Teorias do Teatro. São Paulo: UNESP, 1995. Tradução: Gilson César Cardoso de Souza

GASSNER, John. Mestres do Teatro I. São Paulo: Perspectiva, 1974. Tradução: Alberto Guzik e J. Guinsburg

MOLIÈRE, J. A Escola dos Maridos/ O Marido da Fidalga. São Paulo: Martins Fontes Ed., 2005. Tradução: Jenny Klabin Segall

ROUBINE, Jean-Jaques. Introdução às grandes teorias do teatro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. Tradução: André Telles

INTERNET

http://pt.wikipedia.org/wiki/Moli%C3%A8re

http://educacao.uol.com.br/artes/ult1684u14.jhtm

http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JeanBaPo.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Commedia_dell%27arte



[1]Estudante de Graduação em Jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco.