A sacada da constatação.

                Certo dia, acordei mais cedo que de costume e fui olhar pela sacada de meu apartamento. A minha intensão era verificar como estava o tempo e escolher a roupa para sair; essa é uma atitude sem fins nobres e quase uma perda total de tempo, já que em São Paulo é possível experimentar todas as estações em apenas um dia.

Rapidamente meu foco mudou do tempo para o trânsito, já que moro em um bairro congestionadíssimo isso também não é nobre. Comecei a pensar o quão fácil é conhecer um carro de um paulista, que está sempre entre faixas esperando uma brecha para ultrapassar além de sempre ter um guarda-chuva no porta-malas, uma malhazinha no banco traseiro, barrinha de cereal e garrafa de água. Tudo para enfrentar as agruras do dia a dia.

Quero agora então começar a falar da quantidade de carros que vi em minha rua que tem menos de 300 metros, na realidade, não foi surpresa perceber que os mesmos já se encontravam parados às 6hs da manhã, sem nenhuma razão aparente, pois as obras usuais já haviam terminado e não havia nenhum caminhão quebrado.

Minha profissão e ocupação atual demanda o deslocamento pra vários destinos ao longo do dia. Muitos poderão se identificar comigo, como por exemplo: os mais 10 milhões de habitantes que formam a população dessa cidade chamada São Paulo.

Como meus dias são sempre passados uma boa parte no trânsito indo de um lugar para o outro, resolvi fazer algo que ocupasse meu tempo com a finalidade de reduzir o estresse quando encaro essa dificuldade. Um passa tempo é fazer contas com as placas dos veículos que estão à minha frente. Uma coisa meio sem sentido. Outra possibilidade é a música...claro.  Mas também adoro olhar as pessoas nos outros carros. Algumas delas coçam os olhos, outras falam sozinhas, ou cantam não sei. Outras limpam o salão (vocês sabem ao que estou me referindo). Porém, tudo isso já estava me cansando.

Foi então que num belo dia de recorde de trânsito eu vi subir pela Rua Augusta uma pessoa puxando uma carroça, daquelas que levam reciclados ou outras coisas. Como as autoridades não fazem nada sobre isso?

Para eu trafegar por uma via preciso todo ano pagar IPVA e outros impostos, mas esse pessoal não paga nada. Sei que isso é o sustento deles, mas como as outras pessoas podem ir e vir nesse caos da cidade e ainda lidar com isso com sentimento de cidadania. Me senti sendo ruim em meus pensamentos, mas também injustiçada.

Esse problema foi encarado por mim mais que duas vezes nessa semana. Quero arrumar uma solução para isso, contudo sou apenas uma professora indo e vindo buscando uma maneira justa e agradável para encarar mais esse desafio de uma cidade grande.

Certamente você vai pensar: “Mas,  o que essa pessoa está dizendo? Tem problemas mais graves  para solucionar”.

Isso é totalmente verdade, mas enorme é o problema que nos dá nos nervos agora e que está a nossa frente.

Resolvi fazer então uma reclamação na CET e outra na Prefeitura, nem deram bola. Aí está mais um problema, quando precisamos os órgãos públicos não nos dão a devida atenção como cidadãos. Tudo foi tão cansativo e ineficiente, que no final acabei desistindo. Até me ver mais uma vez na rua dirigindo atrás de outra carroça, nela tinha até uma placa de carro. Irônico não? Voltei ao começo de tudo...minha sacada. Só que agora com uma xícara de chocolate quente para esquentar meus pensamentos de frustração.

Vou pensar em uma maneira de lidar melhor com isso, já que preciso continuar trabalhando e encarando o desrespeito de carroceiros e motoristas, que a cada dia estão mais e mais egoístas nessa metrópole que eu amo, mas que está chegando a um ponto frustrante de falta de solução. E que venha a Copa.