O símbolo da imoralidade vigente na política do Brasil é retratado através das feições de cada criança à mercê de sua própria sorte, vítimas de um governo e uma população que só tem a demonstrar o desprezo como forma de sentimento por estes. Aos ditos "cidadãos", são atribuídos as criações das mais diversas expressões literárias, para emitir juízo e estabelecer distinção a estas crianças que sofrem das mais diversas mazelas impostas por uma sociedade discriminatória e opressora. Trombadinha, Pivete, Flanelinha, Engraxate, estão entre as mais diversas palavras criadas e proferidas em nosso digníssimo idioma. Palavras as quais são dirigidas a indivíduos que vagam em nossas cidades sem nome, endereço, destino ou futuro. Dentre os diversos termos utilizados para dar definições à realidade vivenciada pelas nossas crianças, um dos que mais chamam a atenção pelo seu atenuante de choque é o da prostituta-infantil. Realidade a qual ainda é muito comum em nossa sociedade, porém que continua chocando os ouvidos mais sensíveis, os quais em sua maioria preferem fingir que não ouviram, deixando tudo como está. E não bastante, vários desses termos pejorativos acabam adquirindo variáveis, dependendo da situação a que se é referida, dando assim uma maior singularidade ao "objeto" de depreciação. E assim são tratados esses menores, como meros objetos incômodos, que sujam a paisagem das nossas metrópoles e atrapalham a vida de nossos cidadãos.
A riqueza presente em nossa língua acaba sendo diminuída pela criação de tantos termos medíocres e de mau gosto criados pela nossa população, que priorizam a utilização de palavras que tenham caráter excludente ao invés de termos agregadores. A falta de senso, preocupação e vergonha por parte dos cidadãos se torna tão grande, que é bem mais fácil culpar os políticos por todas as mazelas ocorridas em nossa sociedade do que enxergar um pouco ao nosso redor e perceber que todos fazemos parte da formação dessa realidade do descaso com as crianças em nosso país.
Ao invés de perdermos tempo com a perpetuação desses termos, deveríamos estar perpetuando a sua abolição, mas não através de leis que tornem passível de crime a utilização de tais palavras, mas através da punição dos responsáveis por tais casos e da extinção desses tipos de atos, onde nenhuma criança tenha mais de ser chamada de nenhum outro nome se não de "criança-cidadã".
Nos parece mais fácil criar novos nomes e dar novas definições às nossas crianças, do que descobrir soluções para acabar com este imenso abismo de disparidade social que assola nosso país e que contribui cada vez mais para denegrir nossa imagem e deteriorar o futuro da nação.