O mundo dos negócios é instável, a maior riqueza das empresas é um bem inatingível (o conhecimento), a economia está globalizada, as relações de negócios e trabalho são marcadas pela flexibilidade, o ritmo das inovações desafia as mais brilhantes estratégias e a sociedade exige mais das empresas. Neste cenário quem será capaz de dirigir uma empresa? Que qualidades deverá ter o líder do futuro? Como descobri-lo? Como formá-lo?

Antes até de responder a estas questões, convém talvez nos perguntar se devemos nos preocupar com elas. Será que o líder do futuro é de alguma forma diferente do líder do passado? Ou mais: haverá um líder do futuro?

Isto é uma questão interessante, pois temos vários líderes do passado que atuavam com todas as características que hoje especificamos como as perfeitas para líderes do futuro. Então chegamos à conclusão que não se trata de uma condição de tempo, passado, presente ou futuro, depende sim da visão de quem está no comando. Aí temos vários exemplos positivos, como William Mcknight, um quase desconhecido que dirigiu a 3M por quase 52 anos e se tornou famoso e admirado por empresários de todo o mundo. Ou Bill Allen, diretor executivo mais importante da história da Boeing, era um advogado pragmático, afável e tímido. Já Harry Cohn, da Colúmbia Pictures, tinha a imagem de tirano, mantinha um chicote perto da mesa e às vezes dava uma chicotada na madeira para enfatizar seu ponto de vista. Dizem que as 1300 pessoas que compareceram ao seu enterro não foram lá para se despedir, mas sim para se certificar de que ele estava realmente morto.

Então não existe esta história de líder do futuro, existem sim pessoas que não sabem liderar e que mais que o tempo passa não procuram adequar sua metodologia de trabalho ao perfil da equipe que lidera.

Desta forma, o surgimento de líderes carismáticos não é uma condição imprescindível para a construção de uma empresa de sucesso. A própria palavra ?chefe? mudou completamente de sentido nos últimos tempos. Ela não mais significa realização e autoridade, mas sim distância dos outros, dureza irracional e outras conotações não muito atraentes. As organizações estão substituindo o título de gerente pelo de líder de equipe, coordenador de processos, facilitador, etc . . . Isso significa que não haverá mais líderes? Não. Significa que estilos de liderança adotados anteriormente se desgastaram e precisam ser substituídos. Pelo estágio atual das coisas (rapidez, inovação, concorrência, flexibilidade, funcionamento em rede,...), a liderança salvadora, quase religiosa, tem poucas chances de sobreviver.

Liderança parece ser mais necessária quanto mais instável for a situação. Mas o líder não pode ser alguém que dê esperanças à equipe, líder não é chefe de torcida, nem propagandista de causas inglórias. O papel da liderança depende da situação particular, da tarefa e das características dos subordinados. E não adianta rotular, pois ninguém é igual a ninguém. Uma fórmula que deu certo aqui provavelmente não dará certo lá. Não faz sentido traçar o perfil do líder, se não se levar em conta a organização que vai ser liderada. Não existe a figura do líder ideal, aplicável a qualquer caso. Para perceber isto basta compararmos grandes líderes como Jesus Cristo, Átila, Huno, Hitler, Martin Luther King, Gandhi, ... O que eles tinham em comum? A única coisa é que tinham eram seguidores. E esta é uma boa definição para líder.

Ora, se não existe líder ideal, o que estamos fazendo aqui? Perdendo tempo? De certo modo sim, pois cada empresa terá de encontrar sua própria fórmula de liderança, adequada à sua cultura, ao seu negócio, ao seu mercado. Os líderes mais aptos a lidar com essas tendências farão um trabalho melhor. O líder do futuro, assim como o líder do passado, será simplesmente aquele que tiver seguidores.

Ser líder não é uma tarefa fácil, pois exige paciência, resignação e monitoramento constante de atitudes. Isto não quer dizer que líder não possa ficar doente, sentir depressão, ficar triste ou decepcionado com as coisas. O que ele não pode é agir segundo estes sentimentos. É como qualquer pessoa que pode sentir raiva e vontade de matar alguém, mas que não pode decidir e ir matar alguém. Líder não é Deus, assim como pensavam e agiam antigos imperadores. O asteca Montezuma nunca punha os pés no chão. Quando ia a algum lugar, nobres o carregavam nos ombros e, quando parava, eles lhe estendiam tapetes para que não tocasse o solo. Guardadas as proporções, alguns líderes atuais seguem esses parâmetros. Gostam de se ver como seres especiais, de natureza diferente daqueles a quem lideram. Os tapetes os quais eles andam têm de ser puxados.

A lógica de frisar as diferenças entre chefes e subordinados está ultrapassada. Líderes têm de ter um olho na mudança e uma mão firme para dar a visão e a segurança de que a mudança pode ser administrada, uma voz que articula a vontade do grupo e a molda para fins construtivos e uma habilidade para inspirar pela força da personalidade. Um líder não pode erguer barreiras, ele tem que construir pontes.

Enfim, liderar é fazer com que as pessoas façam aquilo que tem que ser feito. Para isso são precisos ingredientes como: conhecimento, transparência, comunicação eficaz, delegação, dedicação e persuasão. Aliás, liderança baseada em habilidades nem é privilégio da raça humana. Entre os chimpanzés, o líder do grupo não é necessariamente o mais forte, é sempre o que melhor sabe manipular as alianças. Mas ninguém quer uma empresa de chimpanzés, gatos, cachorros ou qualquer outro animal. Portanto, trate de dar voz à sua equipe e fazer parte dela o mais rápido possível, do contrário o líder estará fadado à solidão e a extinção.

É claro que não é só a inteligência que faz um líder. A verdadeira liderança requer pessoas que assumam riscos consideráveis e façam coisas que os outros não estão dispostos a fazer. Líderes são como heróis, que incorporam os valores mais fundamentais e duradouros de uma sociedade. Quando eles desaparecem, substitutos têm de ser criados. As pessoas precisam disto. Mas porque heróis? Porque, além da inteligência, do poder, do carisma, o líder deve ter um desejo de assumir um compromisso maior com a organização. Um líder é aquele que tem garra para ir mais longe, para fazer o que os outros não estão dispostos a fazer. Em outras palavras é aquele que se oferece para um sacrifício maior e para uma responsabilidade maior.

Não se trata de um heroísmo de filmes de ação, o que conta não é o valor dos atos heróicos, mas a coragem de fazer e dizer o que se acredita ser verdadeiro, mais do que conveniente, familiar ou popular. Deve-se ter a coragem de agir sobre a visão que se tem da organização. Essa disposição cria a base da liderança, porque é reconhecida pelos outros. Além de retornar em forma de melhor remuneração, poder de decisão, participação nas definições de estratégicas e melhores oportunidades.

Em suma é deixar-se levar pelo mar, é fazer não o que se quer, mas o que deve e precisa ser feito.