Parte introdutória Nos propusemos aproximar Edward René David Goldsmith (1928-2009), conhecido por Teddy no seio dos amigos, e Michel Serres (1930-), ambos franceses, sobre a necessidade da tomada de responsabilidade (consciência) pela parte do homem perante os problemas ecológicos que tendem a ser mundiais. A primeira razão que nos leva a aproximar e comparar os dois autores é a contemporaneidade, ambos são do século XX e pelo facto de possuírem a mesma preocupação: a responsabilidade do homem frente aos problemas ecológicos que tendem a ser mundiais. A segunda é para vermos se existe analogias ou diferenças entre eles. Em relação ao dever do homem perante os problemas ecológicos, Goldsmith escreve obras sob ponto de vista da ecologia profunda , lançando assim as bases de um novo conhecimento e propõe uma verdadeira mudança dos valores que interfere até com os fundamentos sociais, éticos e metafísicos do homem. Essas obras que ele produz não têm nenhuma referência extrínseca que possa relacionar com as de Serres; pois Goldsmith faz referência muitos autores ligados a filosofia ambiental mas não menciona Serres nem se quer ocasionalmente. Goldsmith fala da necessidade da interdependência entre todos os seres vivos e a capacidade dos sistemas naturais para preservar a sua instabilidade; apela a necessidade de se reconhecer a ordem da natureza; propõe a revisão do relacionamento homem/natureza, como desafio para o solucionamento do problema ecológico; reconhece de que a ciência e a técnica proporciona ao homem o poder de domínio e posse da natureza, provocando assim problemas ecológicos. Por outro lado, Serres também propõe a redefinição da relação do homem consigo mesmo e com a natureza, através dum vínculo ético entre o homem e a natureza; pensa que este vínculo ético será uma fonte de equilíbrio da natureza e para que tudo isso se efective é necessário integrar a humanidade no mundo natural. Frente a tudo isso surge a seguinte questão de partida: qual é a responsabilidade humana perante os problemas ecológicos? Daqui, a nossa tese é de que, apesar das diferenças de fundamento, as duas formas de pensamento ético ambiental se complementam e completam, em função da problemática comum porque partem das respostas aproximadas que dão aos desafios ecológicos. Complementam-se e completam-se por se convergirem no apelo a uma consciência ecológica, quer dizer, nos actos responsáveis dos homens para com a natureza com vista a um digno relacionamento entre o homem e a natureza. Numa abordagem descritiva – analítica, e a partir de um procedimento hermenêutico-filosófico, este artigo passa por três momentos: primeiro, a ecologia profunda de Goldsmith, no segundo momento iremos ver o pensamento ecológico de Serres e na parte conclusiva vamos cruzar as duas formas de pensar para vermos o paralelismo existente entre eles. Edward Goldsmith Necessidade Duma Ordem Da Natureza Pretendemos expor as ideias de Goldsmith relacionadas com a questão da ordem específica da natureza; Nesta questão mostra que há leis morais que regem a natureza, existe uma interdependência entre os seres da natureza e finalmente propõe a necessidade de reintegração da humanidade no mundo natural, para que de facto se tenha a ordem específica da natureza. Comecemos por conceituar o que seja a natureza; e para melhor compreendermos o que seja ela vamos recorrer ao pensamento iluminista. Os iluministas concebem a natureza como sendo não tanto um conjunto de fenómenos (natureza materialmente considerada) mas um sistema de leis (natureza formalmente considerada) regido pelos seguintes princípios: Regularidade: a natureza nada faz em vão; continuidade: a natureza não dá saltos; Conservação: na natureza nada se cria ou se destrói, apenas se transforma (massa, quantidade de movimento, energia); Estrutura: tudo está ordenado em vista a uma integração e propósito de estabelecer-se harmonia. Segundo a concepção iluminista da natureza, podemos dizer que ela, a natureza, é uma estrutura de tal modo consistente que o conhecimento das suas leis e ou princípios permite-nos preservá-la para o nosso bem e para as gerações vindouras, por isso podemos dizer também que ajuda-nos a predizer o futuro. A natureza tem suas leis e para que haja harmonia, estabilidade, equilíbrio na natureza é preciso que todo aquele que se encontra nela respeite, cumpra e não esteja acima delas. Respeitar e cumprir com as leis da natureza implica uma certa responsabilidade do homem perante tudo o que existe na natureza inclusive a ele mesmo. Isto é, ser capaz de responder pelos seus actos e atitudes que realiza perante a natureza e tutelá-la. Uma pequena infracção duma lei da natureza implica uma alteração significativa da ordem natural da natureza provocando desestabilização, desequilíbrio, devastação, desonra, feiura, desarmonia, violência e desagregação no seio dela. Significa que na natureza encontramos uma ordem, quer dizer, tudo o que existe na natureza e se efectiva nela não é por acaso, ela está ordenada de tal maneira que haja estabilidade, equilíbrio, honra, beldade, harmonia e paz no seio dela. O problema central não é de violar ou não violar mas é de desequilibrar a ordem da natureza. Afirmamos isso porque somos livres de violar estas leis, mas teremos então as consequências disso, como por exemplo o de perigar a nossa própria existência como seres que fazem parte desta natureza. Sem se esquecermos de outras espécies que se encontram também neste mundo. Por isso, o apelo é de sermos responsáveis perante a natureza de modo que amanhã não se tenha consequências nefastas a escala mundial que irão perigar a nossa própria vida e a de outras espécies existentes neste planeta. Insistimos por outras palavras afirmando que com a violação das leis da natureza, de certeza, irá provocar violência para com o mundo e causará o desaparecimento da beleza do mundo; dado que a beldade só se pode encontrar num local onde existe harmonia, estabilidade, equilíbrio, respeito e paz. Apesar disso, actualmente é visível, através dos problemas ecológicos de carácter global, que nos afectam notar, que o homem está cada vez mais a desrespeitar as leis da natureza, provocando massacres, secas, fomes, epidemias, transformações climatéricas cada vez mais graves e em suma está enfraquecendo os recursos naturais. Como referimos acima, esses problemas ecológicos tendem a ser mundiais porque as consequências não só afectam nos locais onde acontecem, mas também noutros pontos do mundo. Um problema ecológico local estende-se para o resto do mundo. O exemplo que temos é o aquecimento global provocado provavelmente a partir duma indústria dum determinado canto do mundo como a MOZAL - Maputo. Segundo a visão empirista, o desrespeito das leis da natureza acontece no momento em que o homem procura determinar-se, fazer-se, construir-se, traçar o seu percurso e destino, legitimar o progresso e do desenvolvimento económico. Em suma, diríamos que é pelas acções do homem que se desrespeitam as leis da natureza em nome do progresso e desenvolvimento económico que acabam provocando problemas ambientais globais. Mas Goldsmith insiste dizendo que o mundo vivo, a comunidade global ou a natureza têm uma ordem estabelecida e que só se pode manter se for submetida ou imposta a leis. As tais leis da natureza que Goldsmith refere são aquelas que em Michel Serres, como veremos no segundo capítulo, servem de base para a celebração do contrato entre o homem e os outros da comunidade global ou da natureza, mais ou menos aquilo que Serres designa por ‘contrato natural’- que restabelecerá a ordem da natureza (especialmente entre o homem e os outros seres que fazem parte da comunidade global [natureza]); de maneira a haver equilíbrio, harmonia, interdependência e paz que garanta a sobrevivência de todos os seres que se encontram neste mundo vivo. Em suma irá manter sustentáveis e saudáveis as formas de satisfação material, da acção, atitude, liberdade e actuação do homem perante o meio ambiente. Se Goldsmith tivesse que encontrar-se com Michel Serres diria a ele que as leis da natureza devem ser base do contrato natural e como tal, não podem ser aleatórias, mas sim devem ser aquelas que impulsionem o homem a respeitar e preservar a natureza; devem ser leis que nos levem a uma responsabilidade moral perante a natureza. Porque desde a antiguidade o homem reconheceu leis que governam o seu próprio comportamento, sua sociedade, o mundo natural e o cosmos; Essas leis sempre impuseram o seu dever moral em esforçar-se por respeitar escrupulosamente. Mas a uma dada altura o homem, através das suas acções impulsionadas pelo progresso e desenvolvimento económico, deixou de respeitá-las, provocando desequilíbrio no seio da natureza. Goldsmith apela que, para se manter a ordem natural da natureza é preciso que o homem respeite as leis da natureza submetendo-se a elas. E como as leis da natureza são base do contrato natural de Serres então se Goldsmith estivesse com Serres diria que o respeito das leis da natureza passa pelo respeito do pacto entre o homem e a natureza. Goldsmith diz que o respeito pelas leis da natureza não passa apenas por uma decisão consciente, racional, passa sim por um contimento emocional. É necessário contermos as nossas emoções descobrindo o curso dele para que de facto elas possam ajudar-nos a preservar a ordem natural da natureza. Na nossa óptica, contimento emocional passa por um uso ou consumo apenas do que é necessário e não abusivamente em nome da emoção económica e ou capitalista selvagem, porque a ser assim iremos manter o equilíbrio da natureza e contrariamente estaremos a condenar a nós mesmos e as gerações vindouras. Também para ter o espírito de consumir o necessário é preciso que tenhamos consciência de que nós fazemos parte da natureza. Por isso, é importante a nossa responsabilidade perante ela e sobretudo uma moral proveniente da lei moral da natureza. Concordamos plenamente com Westbroek como este também concordou com Vaclav Havel, ambos citados por Morin (2010: 123), ao afirmar que “O nosso respeito pelo outro, por outro povo, por outra cultura nasce do respeito pela ordem do universo e sobretudo pela convicção da nossa pertença a essa ordem.” Quer dizer que quem respeita o seu semelhante, os outros seres existentes na natureza esta respeitar as leis da natureza e respeitando as leis da natureza está a respeitar a ordem da natureza. Natureza fonte de inspiração moral A natureza está cheia de bens; tudo o que existe nela é um bem, os seres vivos incluindo o homem são um bem, a terra, as pedras, o capim os rios, os animais, as árvores, etc. são um bem; sendo um bem algo moral, então a natureza é uma ordem moral. Por isso há necessidade de respeitá-las e respeitando estaremos a manter a ordem natural da natureza, o equilíbrio natural e harmonia ambiental. A concepção de que a natureza é governada por leis morais não é algo que foi abordado apenas por Goldsmith, a história diz-nos que na antiguidade clássica as leis da natureza eram essencialmente leis morais. Pensamos que foi por causa desta concepção que naquela época o respeito pela ordem da natureza era uma realidade e assim mantinham a estabilidade, harmonia da ordem da natureza Nos nossos dias, encontramos indivíduos como Goldsmith que tem a consciência de que o homem deveria também ter a responsabilidade moral perante o mundo natural; essa responsabilidade passa pelo respeito das leis morais da natureza, pela conservação e preservação da natureza para que os seres vivos incluindo a ele não tenham uma consciência “pesada” e sofram consequências nefastas. No meio de tudo isso, filósofo como Goldsmith descobriu que a moral hoje já não liga o comportamento do homem ou a sociedade para com a natureza, porque ele, o homem, não constrói a sua ética a partir da natureza ou por outras ao construir a sua ética não se inspira na moral ou ética da natureza. É por isso que a ética do homem de hoje é individualista e progressista, porque ele quando faz a sua ética se inspira nos bens materiais, no progresso e desenvolvimento económico; é moral, aquilo que é um bem material e aquilo que lhe leva a um progresso e desenvolvimento económico. A ética individualista e progressista não ajuda a preservação da ordem natural da natureza, dado que considera a natureza e tudo o que existe nela como uma mercadoria, propriedade do homem e que vai-lhe dar ganhos/lucro. Esse tipo de moral leva à degradação do meio ambiente, a uma exploração exacerbada dos recursos naturais provocando sérios problemas ecológicos que afectam a humanidade inteira (mundial). Mas, se passarmos a olhá-la como uma comunidade ou “casa” que pertencemos (onde nos interagimos, nos relacionamos, convivemos), então provavelmente usaremos com amor, respeito e uma certa responsabilidade. Portanto a ética da natureza é princípio base da ética ecológica. Sendo assim, o homem deve-se inspirar nas leis morais da natureza, e como a natureza é fonte de inspiração moral deve ser vista como cooperativa e não lugar de conflito; deve ser vista como um lugar de convívio, de interdependência e de harmonia e paz. A respeito disso, Hans Jonas (1995) já se pronunciou dizendo que as acções do homem devem assegurar a possibilidade de uma existência digna as gerações vindouras passando pela salvaguarda da qualidade de vida, preservação, cuidado da natureza e sobretudo pelo respeito pelas leis morais da natureza. O homem deve olhar os outros seres que constituem a natureza não como realidades que lhe beneficiam – que beneficie o interesse próprio, mas sim como aqueles que lhe inspiram moralmente a manter a ordem específica da natureza. A interdependência dos seres do mundo natural Tudo o que existe na natureza está interligado e é interdependente. Quer dizer, os seres que constituem a natureza não são independentes uns dos outros mas sim são dependentes entre eles; mesmo o homem como um dos seres da natureza é dependente dos outros seres da natureza e vice-versa. Esta interdependência dos seres da natureza se circunscreve num imperativo moral segundo a qual a tua vivência depende da vivência do outro e vice-versa. Para tal é preciso que o homem olhe a natureza com olhos de interdependência recíproca e de responsabilidade perante ela. Só assim é que haverá uma preservação eterna da ordem do mundo vivo e da natureza em geral. A ideia de interdependência não é uma realidade que está sendo reconhecida apenas nos nossos tempos, na antiguidade houve esta concepção; só para ilustrar, os homens da antiguidade clássica sabiam que o mundo é uno, que é um ser vivo, que está organizado segundo uma certa ordem e uma certa hierarquia, e que todos os seres vivos que o habitam são estreitamente interdependentes e cooperam a fim de lhe conservarem a integridade e a estabilidade. Esta ideia de interdependência, leva-nos a pensar que a natureza ou o universo basta-se a si próprio, ela alimenta-se a si própria e nutre-se. Ou por outras, cada Ser do mundo natural está necessariamente ligado ao conjunto de outros Seres da natureza. Por isso, o fim último dos Seres vivos é proteger essa ordem natural, a estabilidade circunscrita na interdependência. Goldsmith está de acordo com Ferry (1993:27), que diz que o homem deve prioritariamente proteger a si próprio e outros seres no momento em que estiver a defender a natureza contra os homens como forma de manter a interdependência entre os seres que habitam neste mundo. No entender de Goldsmith, o homem até certo ponto apropria-se do mundo natural ao urbanizar uma determinada área geográfica, ao poluir as águas e o ar, fazendo queimadas descontroladas etc; porque na altura em que ele polui a água, o ar, a terra e outros animais que se encontram nela morrem ou desaparecem; eliminando nesta área a interdependência, a cooperação e o ecossistema ecológico. Portanto o ar, água e terra poluída tornam-se cem por cento humanos; ficam vedados por completo à coexistência e à interdependência com outras espécies no mesmo espaço. É necessário que nos esforcemos para que haja coexistência, interdependência e sobretudo simbiose. Na verdade como o homem se comporta como parasita neste mundo é por isso que usa a natureza abusivamente, considera-se sujeito de direito e dono da natureza, violentando-a e destruindo-a. No nosso entender, o homem deve passar a reconhecer outros seres vivos como também possuidores de inteligência. Deve eliminar o egoísmo e o espírito de desenvolvimento a todo custo optando por um desenvolvimento sustentável. A ordem do universo é específica O homem tradicional tinha a noção de que o mundo tem uma ordem específica; tendo esta consciência preocupava-se em mantê-la. Ela, a ordem específica do universo, permite harmonia e equilíbrio, característica essencial do universo. O ocidente tem um princípio segundo o qual tudo o que existe no mundo vivo deve ser reciclado. Este princípio tem como objectivo a preservação da harmonia ou equilíbrio da natureza. Mas o que estamos a verificar nos nossos dias é a perturbação da ordem específica do mundo natural em nome do progresso económico, causando sérios problemas ecológicos de carácter mundial. A medida que se formou a visão do mundo modernista e o paradigma científico, desenvolvido para racionalizar, e assim legitimar, essa atitude anti-evolutiva, as noções de equilíbrio e de harmonia foram sendo cada vez mais relegados para o segundo plano. Nasce a ecologia e rapidamente procura reviver e reavivar o conceito de equilíbrio da natureza como reacção ao paradigma científico e da nova visão do mundo modernista. Nesta tentativa de fazer ressurgir o conceito de equilíbrio e harmonia da natureza, na década de 1930/40, a ecologia foi sistematicamente transformada em conformidade com o paradigma científico dominante e da nova visão do mundo modernista. Começou-se a aceitar a transferência ou mudança de uma árvore ou planta de um sítio para outro ou de uma região para outra; muitas vezes quando se transportavam levavam consigo ovos ou larvas dos insectos; o que acontecia é que as larvas tornavam-se insectos e passavam a devastar as plantas e campos de cultivo, matando não só as espécies vegetais mas também animais inclusive o próprio homem (de fome). Isto acontecia porque os pássaros específicos que se alimentam das larvas, ovos e até de insectos ficaram lá onde foram tiradas aquelas plantas ou árvores e na região onde foram transplantadas não existe esse tipo de pássaros. Portanto, o que aconteceu é que houve um rompimento do equilíbrio específico dos ecossistemas. E quando acontece uma praga de insectos, nós hoje, em vez de combate-la restaurando o equilíbrio específico dos ecossistemas atingidos, enveredamos por uma batalha química através de campanhas de pulverização (por exemplo campanha da PIDOM - Pulverização Inter domiciliaria contra o mosquito - caso Zambézia). Esta forma de solucionar o problema é tipicamente e conveniente à mentalidade da indústria agro-química e a economia global, própria das organizações mundiais. Portanto, não estamos a solucionar mas estamos a adiar. Na nossa óptica a solução seria sim combate-la restaurando o equilíbrio ecológico; isto é, desenvolver ou introduzir um bicho que se alimente de mosquitos, de certeza esta seria uma solução ecologicamente válida. “Os ecossistemas apresentam uma ordem específica. Devem incluir plantas verdes, capazes de captarem, através da fotossíntese, a energia solar; herbívoros que se alimentam dessas plantas verdes; predadores que comam os herbívoros e regulem assim quantitativamente e qualitativamente as suas populações. E decompositores capazes de reduzir os materiais biológicos nas suas componentes, sendo a matéria – prima que permite ao conjunto dos ciclos perpetuarem-se” (GOLDSMITH, 1995:261). Mesmo os ecossistemas terrestres que são concebidos no mesmo plano básico, são singulares em muitos aspectos. A singularidade é dependente da espécie ou sistema de cada um deles. Por exemplo espécies diferentes desempenham funções ecológicas diferentes, graus variados de complexidade, de diversidade de cooperação e de competição. Também a ecosfera tem uma ordem específica, se não tivesse, segundo Lovelock, citado por Goldsmith (1995), o gás carbónico específico se for baixo a terra seria fria se for forte haveria um calor insuportável. Mesmo o teor do oxigénio é específico se for fraco, haveria insuficiência respiratória para todos os seres e se for forte igualaria a gasolina que é inflamável. Por isso, qualquer variação adaptada que se faz num sistema natural, na ordem natural, diminui ou aumenta a ordem específica, causando-a perturbações locais e até globais. A outra ideia que explica melhor a variação que provoca perturbações ecológicas de ordem local e mundial são turismo massificado realizado nas praias e as imigrações que acontecem entre campo/cidade, como forma de encontrar boas condições de vida. Por causa destes fenómenos verifica-se expansão acelerada e desordenada das urbes e zonas sub-urbanas (bairros periféricos da cidade de Quelimane) causando degradação de infra-estruturas e ambiente, tais como falta de saneamento, falta de transporte das zonas suburbanas para a urbana e vice-versa, falta de limpeza urbana (lixo acumulado na estrada e fora do “contentor” ou caixa de lixo) e suburbana (charcos, pneus velhos, fecalismo ao céu aberto, etc.). É de reconhecer que a degradação ambiental do século passado e este e a sua respectiva mundialização reduziu muito a diversidade vegetal e animal. Cada vez mais com a perda da biodiversidade se coloca como um problema mundial grave a ser enfrentado pelas gerações actuais e futuras. Os animais selvagens cada vez mais estão a desaparecer. E isso afecta o ecossistema natural, causando desequilíbrio e desordem na natureza. A outra principal razão da extinção de espécies vegetais e animais na actualidade é o aumento das actividades humanas (corte e abate de árvores, caça furtiva, mineração levada a cabo pelos garimpeiros, etc.) e o seu impacto sobre os sistemas naturais. A preservação dos sistemas naturais e consequentemente das espécies que eventualmente ali vivem deve ocorrer como responsabilidade moral do homem perante a natureza, que passa pelo respeito das leis morais da natureza, para criar harmonia, beleza; dado que o mundo foi criado e ordenado de maneira a criar uma certa beleza e harmonia, por isso tudo o que existe nela está em vista do belo. Cada coisa, mesmo aquela aparentemente mais insignificante, tem o seu sentido e a sua razão de ser, que é entre outras a estabilidade, harmonia, paz e equilíbrio na natureza. Ehrlich e Ehrlich (1992) dividem essas razões em quatro tipos de valores: éticos, estéticos, económicos directos e económicos indirectos. Eles não são excludentes e incorporam um valor e que por isso devem ser preservados. Um dos maiores desafios de preservação ambiental é conciliar as necessidades das comunidades humanas envolvidas e a necessidade de preservar a diversidade biológica e os sistemas naturais como também forma de manter o equilíbrio no ecossistema natural. Portanto, ao nosso ver os maiores problemas para a conservação da diversidade biológica não estão na biologia das espécies, mas sim no âmbito ético, político, social e económico das pessoas envolvidas. Necessidade de reintegração da humanidade no mundo natural A estrutura e comportamento dos Seres vivos podem ser diferentes mas os sentimentos não o são. Isto é, o homem tem os mesmos sentimentos como os outros Seres vivos da natureza. Nisto, os que matam, exploram, submetem às torturas nos laboratórios os outros animais em vista a satisfazer os seus interesses económicos e provas científicas, consideram os outros seres como estando desprovidos de consciência e dor; diferentemente do homem têm comportamento maquinal e cego, como feras, brutos, desprovidos de qualquer fim, criatividade, inteligência e sentimento. Quer dizer que na concepção ecológica do mundo, não há qualquer barreira essencial que nos separa de todos outros seres vivos na companhia dos quais vivemos neste planeta - as particularidades da sua estrutura e do seu comportamento poderão ser diferentes como já referi acima, mas os seus caracteres fundamentais são como os nossos. Nisto, a humanidade precisa de favorecer a cooperação em benefício de todos os seres vivos, estratégia de sobrevivência das mais correntes no quadro dos sistemas naturais. Para tal, o homem deve estar e sentir-se integrado no mundo natural. Deve estar ligado à natureza - a todos os seres do mundo natural; quer dizer, o homem deve aliar-se a terra e a todos os seres que nela habita. Uma árvore que cresce isoladamente perde a perfeição, mas quando ela cresce no meio das outras, numa floresta por exemplo, prospera com as outras ou auxiliam-se e preservam as suas condições de sobrevivência. Por isso mesmo, levar uma planta da floresta e plantar noutro sítio (em casa) isolada das outras a probabilidade de morrer é maior. Goldsmith percebe que a floresta é conjunto de espécies mutuamente dependentes. Na nossa percepção ele quer dizer que tudo aquilo que existe na natureza está de tal maneira organizado, ordenado para interagir mutuamente. Por isso mesmo, o homem como sendo um dos elementos ou membro desta natureza não pode abster-se desta integração no mundo natural sob o risco de provocar desequilíbrio nele. Portanto, pequeno desvio que possa acontecer durante a integração dum certo Ser na natureza provocará desequilíbrio na ordem cooperativa ou interactiva. Exemplo, gado que pasta numa lagoa, fornece alimento aos insectos e os insectos servem em alguns casos de alimento aos peixes. Na falta desta cadeia alimentar o ecossistema fica debilitado e surge o desequilíbrio na ordem da natureza. As hortícolas, se forem plantadas num meio ambiente próprio que lhe favorece a cooperação, as suas folhas ficam intactas do ataque das lagartas e caracóis e até parece terem veneno nas suas folhas. Quer dizer que a cooperação entre espécies diferentes numa determinada área geográfica está em vista a um fim comum: preservação da sua ordem específica, estabilidade e continuidade. Qualquer cooperação só tem sentido se ela tiver uma certa teleologia ou se for um processo em vista a um fim comum: promover a integridade e a estabilidade do conjunto. Nenhuma árvore tem existência independente, ela se dilui no meio de outras realidades; assim como o homem não tem existência independente, ela também se dilui no meio de outros seres que formam a natureza. O homem ou a árvore tem relações com a chuva, tempestade, vento, terra, luz solar, animais. Portanto, tudo no universo contribui para fazer a árvore crescer. Por isso nunca isolar qualquer realidade das outras. O crescimento, desenvolvimento e o bem-estar do ser vivo depende de muitos factores externos (meio ambiente) que entram em cooperação com ela. Portanto, o meio ambiente governa o comportamento dos sistemas naturais. O homem deve procurar maneira de modo a manter uma relação de responsabilidade com a natureza; porque o homem para além de fazer parte da natureza ao se relacionar eticamente com a natureza está a preservar a sua sobrevivência, a das gerações vindouras e de outros Seres da natureza. A nova ética, a ecoética, exige o respeito das leis da natureza porque elas são intrínsecas a vida do homem. Só assim irá permitir ao homem integrar e preservar a vida do outro a partir da preservação de outros elementos da natureza que são vitais para o outro. Cada elemento da natureza poderá ser percebido como ser no respeito e educação em relação aos outros seres constituintes da natureza. Porque a natureza é fonte da sua força que lhe permite viver. Em palavras simples podemos traduzir isto dizendo o seguinte: cuidar bem dos outros implica em primeiríssimo lugar cuidar do ambiente em que estão vivendo. O homem, como um ser, não tem como não interagir ou integrar com o ambiente ou com a natureza porque ele faz parte da natureza e quando procura a sua auto-conservação indirectamente está a conservar o universo como uma totalidade. Michel Serres Necessidade de um vínculo ético entre o homem e a natureza Este capítulo constitui uma breve análise e exposição das ideias de Michel Serres sobre a relação Homem/Natureza. Primeiramente, iremos apresentar a forma como o autor apela para uma nova relação do ser humano com o mundo natural, como relacionar-se o homem com a natureza. Na tentativa de dar uma resposta a essa questão e fazer um contrapeso às nossas relações com o planeta no qual vivemos, Serres examina a possibilidade de um pacto e vínculo ético entre o homem e a natureza; um pacto revestido de uma convicção moral. Neste pacto e vínculo ético ele define os direitos relativos à natureza, sempre a partir da premissa que ela é algo vivo, sujeito de direitos e que interage. Partindo daquilo que constatou de que a natureza foi esquecida, maltratada, violentada e dominada no processo de construção da civilização científica e tecnológica, denunciando assim o nível de violência levado a cabo pelo homem contra a natureza e como solução de tal atitude Serres propõe que ela passe a ser vista como sujeito com direitos intrínsecos, impondo assim uma nova noção de engajamento e responsabilidade para com a natureza. Quer dizer que o pacto natural tem como propósito estabelecer um equilíbrio, harmonia entre o homem e a natureza. Pensamos que o fim último do pacto entre o homem com a natureza seja o estabelecimento do equilíbrio entre a sociedade e a natureza. Portanto o ‘Contrato Natural’ que ele propõe é o garante da continuidade dos organismos vivos através da simbiose e da reciprocidade, na qual todas as espécies têm os mesmos direitos de viver. É por isso que podemos ainda afirmar que ele, o contrato natural é um pacto que dá uma larga possibilidade de criar laços entre todos os sistemas existentes na natureza. Também é bem visível que o pacto natural almejado por Serres apela directa ou indirectamente uma interligação e interdependência de tudo o que existe no universo, principalmente entre homem e outras espécies da natureza. Por isso ele chega a afirmar que temos duas saídas: “ou a morte ou a simbiose” com outras espécies. Não se trata de qualquer pacto, mas de pacto natural de simbiose e reciprocidade. Nisto, não temos como contornar a proposta Serriana. A única possibilidade que temos é de aderirmos a ideia e todos em conjunto assinarmos o contrato. Mas deve ficar muito claro que a assinatura do contrato deve ser por convicção moral. Ao nosso ver, a maneira como Seres propõe o pacto natural de simbiose e de reciprocidade é preciso que reeduquemos as nossas ideias, consciências, práticas e sociedade. Mais do que isso diríamos que é preciso que o homem seja responsável das suas práticas, ideias e consciência para com este mundo natural; em suma é preciso que o homem tenha um pensamento engajado para com a natureza e o pensamento engajado deve ser fruto da convicção moral. Para Serres, a responsabilidade pela natureza passa por uma educação política e social; essa educação irá formar um juízo moral prudente em cada homem. “Tracemos, pois, um retrato, nunca exemplificado, para que ele possa suscitar imitadores;” Serres, designa este “retrato” por “terceiro instruído”. O terceiro instruído equilibra seu saber, actos e condutas (cfr. SERRES, 2003: 45). Quer dizer o terceiro instruído é aquele que age moralmente para com a natureza. É preciso, sim, um ser humano educado para poder celebrar o ‘contrato natural’ que estabeleça a paz entre o homem e a natureza através da reciprocidade. Um contrato natural de amor e respeito pela natureza. Um contrato que suscita responsabilidade perante a natureza. Serres, considera que a educação ambiental é um instrumento fundamental na preservação do meio ambiente. Para tal, os homens capazes de firmar o ‘pacto natural’ deverão ser fruto de uma nova prática educativa política e social, uma vez que, segundo Serres não podemos apenas confiar na capacidade da consciência, razão e juízo, nem nos conceitos ditos fundamentais; é preciso inventar novo homem através da educação, um homem que age moralmente. A educação terá que ter um novo modelo porque na perspectiva de Serres, o modelo antigo está ultrapassado, precisamos uma educação que faça intercessão entre as ciências naturais e sociais e que permita uma vida de convivência e de paz. Serres, constatou que para se efectivar de facto um pacto entre o homem e a natureza é necessário um vínculo ético entre o homem e a natureza. Mas antes de desenvolvermos esta ideia interessa-nos colocarmos primeiro o nosso ponto de vista em relação a ética antiga e a actual, para depois fazermos uma espécie de ‘juízo de valor’. A ética, desde a sua origem esteve unicamente vinculada ao homem. Isto significa que nunca se falou da ética de outras realidades e ou seres a não ser do próprio homem. Como é óbvio, nunca houve ética ligada a outros animais diferente do homem, isto é, ética ligada à natureza. A ética antiga limitava-se ao comportamento dos homens. Nunca se pensou numa ética que pudesse olhar o comportamento do homem para com a natureza; não havendo qualquer ligação ética entre o homem e a natureza, chegamos a um dado momento em que a natureza demonstra estar a reagir frente às múltiplas intervenções antiéticos da humanidade. Na verdade, a natureza emite sinais, sinais bem visíveis (efeitos de estufa, poluições, calamidades naturais de ordens planetárias etc.). Esses sinais emitidos pela natureza são resultado da exclusão da natureza ao longo da história ética. O homem frente a essas situações é chamado a repensar ou inventar outras formas de como interagir eticamente para com a natureza. “No exacto momento em que fisicamente reagimos pela primeira vez sobre a terra global, e ela reage sem dúvida sobre a humanidade global, menosprezamo-la tragicamente” (SERRES, 1994:52). Só mais tarde é que aparecem indivíduos como Edward Goldsmith, Michel Serres, Hans Jonas e Edgar Morin apelando um relacionamento ético entre o homem e a natureza. Na óptica deles, sobretudo de Serres, a única saída e a mais viável é de nós homens fazermos ligação, misturarmo-nos, num diálogo sincero com a natureza. Isto é, necessita-se de um vínculo ético entre o homem e a natureza para que exista uma relação entre o homem e a natureza. É quando surge a proposta de um contrato entre o homem e a natureza na pessoa de Michel Serres. Dá-se assim o início daquilo que chamamos da ética universal, isto é, uma ética que não só engloba o homem mas também a natureza, uma ética vinculada à responsabilidade a tudo o que existe neste mundo – Ética actual. Em relação a ética universal também como vimos no primeiro capítulo é almejada por Goldsmith quando ele diz que devemos olhar a natureza como fonte de inspiração moral e lugar de cooperação e interacção. A ideia de se efectivar um pacto entre o homem e a natureza surge quando Serres descobre nas suas investigações que nunca houve um tratado que aborda sobre relação do homem com a natureza mas sim houve uma teoria contratualista direccionada à convivência entre os homens, isto é, a comunidade humana apenas, aquilo que conhecemos por ‘contrato social’ teorizado por Rousseau. Nisto, Serres propõe que se faça um outro contrato, totalmente diferente do “Contrato Social.” O argumento que ele apresenta ao propor um novo contrato é de que as preocupações que estavam em volta das relações humanas do tipo ético, político e sociais já estão resolvidas neste contrato social, sendo assim há necessidade de se celebrar um novo pacto entre a humanidade e a natureza. “Imerso no contrato exclusivamente social, o homem subscreve-o, reescreve-o e fá-lo observar até hoje, unicamente como perito de relações públicas e ciências sociais. (…) Nenhum dos seus discursos falava do mundo, ocupando-se indefinidamente dos homens. (…) Tudo acaba de mudar. (…) A partir de agora, o governante deve sair das ciências humanas, das ruas e dos muros da cidade, tornar-se físico, emergir do contrato social, inventar um novo contrato natural, devolvendo à palavra natureza o sentido original das condições em que nascemos – ou devemos renascer amanhã” (SERRES, 1994: 72 e 73). É bom perceber-se muito bem que, para Michel Serres o novo pacto, o natural é algo que não se confina apenas ao homem como aconteceu com o contrato social, ele se estende para tudo o que existe no mundo, engloba todos os seres existentes na natureza, por isso é universal e mundial na sua dimensão. Serres reconhece que o contrato natural que está propondo tem um cunho ético como o anterior proposto por contratualistas o que difere daquele é de ser entre os homens e este é entre o homem e a natureza, e irá num futuro próximo, criar responsabilidade moral pela parte do homem perante a natureza e isso trará estabilidade, equilíbrio, harmonia e paz entre o homem e a natureza. Com o contrato natural proposto por Serres, o homem será engajado com a natureza, será a condição primordial para a boa convivência neste mundo natural. A constatação mais forte de Serres é de ter descoberto que o homem se esqueceu da natureza ao fazer o contrato social e acabou entrando em conflito e /ou em guerra com a natureza, passou a explorá-la violentamente e continuadamente e imediatamente se instala um clima e relação conflituosa entre o homem e a natureza. Por um lado o homem luta para continuar a existir e, por outro, a natureza também; em suma cada um puxa para o seu lado, segundo os seus interesses. é aqui onde encontramos o homem ecologicamente egoísta – aquele que pensa que é preciso conservar a natureza porque se não o faz poderá massivamente outros seres da natureza inclusive a ele mesmo. Afirmamos isso porque essencialmente, o contrato social tinha sim como objectivo evitar a agressão do outro; o outro era visto como um potencial inimigo que eventualmente impunha a sua vontade forçosamente. O contrato social, eventualmente pode dizer que veio unicamente para pôr termo à insegurança que uns homens causavam nos outros homens. E por sua vez também podemos afirmar com viva voz que o contrato natural de Serres, veio para pôr termo a exclusividade de o homem ser senhor de direito ético. Sendo assim com o pacto natural quer o homem assim como a natureza passaram a ter os mesmos direitos e deveres e nenhum deles está acima da lei. “O primeiro sujeito conhecido designa igualmente o sujeito de direito. Como consequência disso o contrato natural trata quase exclusivamente dessa questão: quem tem o direito de se tornar o sujeito de direito? A história do direito demonstra a universalização progressiva do direito de se tornar sujeito de direito: isso aconteceu, antigamente, com os escravos e, mais recentemente, com as crianças e as mulheres, decisão tão tardia, que envergonha a humanidade. No futuro, em relação à natureza raciocinaremos com a mesma vergonha que sentimos hoje pela demora em compreender, pelo menos desde a fundação do mundo, que nossos companheiros poderiam ter sido convertidos em nossos parceiros.” (SERRES, 2003:164) Ora vejamos, no ‘contrato natural’, o “outro” é a natureza; só que este “outro” não é agressor, é sim algo oposto aos intentos do homem. Aqui não há temor de agressão ao outro como acontecia com o outro do contrato social, mas o medo reside na capacidade destrutiva da humanidade. Isto é, quando destruímos o opositor (natureza), o perigo é a eliminação da própria humanidade. Eliminação da natureza implica nossa própria exterminação, portanto será uma auto-eliminação. Nunca devemos lutar contra as outras espécies existentes na natureza porque isso poderá um dia transformar-se em nossa derrota ou morte. Mas mais do que temer que amanha se extinga a humanidade a nossa batalha na conservação da natureza deve ser por motivos morais - como forma de manter o relacionamento entre o homem e a natureza. É importante saber que o contrato natural de Serres não pode ser de lado nenhum relativizado e nem pode depender no que concerne a sua aplicabilidade de uma espécie, nação ou fronteira política, mas sim deve ser global/universal. Como refere Hans Jonas (1903-), filósofo alemão, no seu livro “Princípio de responsabilidade,” a regulamentação da relação homem /natureza deve ser universal. Jonas disse isso para que se superem as responsabilidades individuais ou mesmo locais a favor das responsabilidades universais (cfr. JONAS, 1995:40 e 41). O nosso dever actualmente é de antecipar as consequências nefastas do nosso poder científico-tecnológico e começar a impor limites à sua dinâmica suicida. Isto é, é preciso que tenhamos conhecimentos das consequências dos nossos actos: uma vida humana digna de ser vivida. Isso também passa por começar a formar ideias dos efeitos longínquos da actividade tecnológica; mobilizar as sociedades sobre o sentimento de perigo; deixar de adoptar comportamentos irresponsáveis, de optimismo e de suicidas. Devemos cuidar da natureza como é dever dos pais cuidar dos seus filhos, assegurando o desenvolvimento. A natureza está nas nossas mãos, nisto a ideia de responsabilidade ecológica não corresponde a um contrato entre iguais, porque entre a natureza e o homem, este último é que de facto responde pela natureza; ele pode destruir ou preservar, mas não tem esse poder e dever. A responsabilidade que Jonas apela é como a de Serres, ela consiste em ser humano na natureza, isto é, o homem actuar humanamente e ser responsável pela possibilidade real de continuidade da espécie humana como membro do mundo natural. Cada geração deve lutar no sentido de responder pela natureza, de modo a preservar e deixa-la habitável para a futura geração. Serres ao propor um vínculo ético entre o homem e a natureza não pretende pôr fim outros vínculos éticos teorizados por outros pensadores mas sim ele quer ajustar o quadro jurídico para que se restabeleça o equilíbrio da natureza. No vínculo ético entre o homem e a natureza não se trata de uma ampliação dos direitos humanos a outros seres da natureza mas coloca ambas partes como sujeitos de direitos; algo que outrora não era reconhecível. E o homem não está sendo reduzido em favor da natureza mas põe-lhes em pé de igualdade; quer dizer que o homem e a natureza têm os mesmos direitos. Michel Serres (1994) apela que se troque o contrato social por contrato natural ou então assinar-se um novo contrato, o natural, como a única saída para colmatar a ‘violência objectiva’ que os ‘objectos – mundo’, como por exemplo as fábricas como a da MOZAL, centrais atómicas fazem à natureza, espalhando imundice. Sem o contrato natural não haverá mais paz com a natureza. Serres, constatou que a Declaração dos Direitos do Homem é meramente antropocêntrica, no sentido de que tudo o que nela contém é apenas humano (são Direitos dos Homens e nada mais). Então a partir daqui pode-se dizer que ela, a Declaração dos Direitos do Homem, tem como fim proteger apenas o Homem, como aconteceu com o contrato social. Provavelmente, é por isso que o Homem nega redondamente direitos aos objectos e outros animais. E a respeito disto, Serres diz o seguinte: “…é preciso proceder a uma revisão dilacerante do direito natural moderno que supõe uma proposição não formulada, em virtude da qual o homem, individualmente ou em grupo, se pode tornar por si sujeito do direito. E aqui reaparece o parasita. A Declaração dos Direitos do Homem teve o mérito de dizer: «todos os homens» e a fraqueza de pensar: «apenas os homens» ou os homens sozinhos. Não estabelecemos ainda nenhum equilíbrio em que o mundo entra em linha de conta do balanço final. Os próprios objectos são sujeitos de direitos e já não simples suportes passivos de apropriação, mesmo colectiva. O direito tenta limitar o parasitismo abusivo entre os homens, mas não fala dessa mesma acção sobre as coisas. Se os próprios objectos se tornam sujeitos do direito, então todas as balanças tendem para um equilíbrio” (SERRES, 1994:63 e 64). Aqui está a revolução do contrato natural de Serres, ao reconhecer as coisas como sujeitos de direito. Como outrora reconheceu Ngoenha, no seu livro “O retorno do bom selvagem; uma perspectiva filosófica – africana do problema ecológico,” dizendo que a escola naturalista reconhece a existência de direitos da natureza e esses direitos são primordiais e inalienáveis; por isso é importante que se regulamentem as ‘interacções entre o homem e a natureza’. Pensamos que isso poderá ser possível se houver não só a outra Declaração universal que seja da natureza e não apenas do homem como outro aconteceu mas também se o homem mudar de comportamento e se cultivar outras atitudes morais perante a natureza. (cfr. Ngoenha, sd, 36) Outro mérito do contrato natural de Serres é de reconhecer que a partir deste se poderá alcançar uma unidade entre o homem e a natureza. Luc Ferry diz que o que Serres propõe não passa de uma modificação do modelo contratual já em vigor do homem com a natureza, portanto uma passagem de parasita a simbiótico (cfr. FERRY, 1993:117). “O parasita agarra tudo e não dá nada; o hospedeiro dá tudo e não agarra nada. O direito de dominação e de propriedade reduz-se ao parasitismo. Pelo contrário, o direito de simbiose define-se pela reciprocidade: aquilo que a natureza dá ao homem é o que este lhe deve dar a ela, tornada sujeito de direito” (SERRES, 1994: 66). Quando Serres (2003) diz que o nosso corpo ouve, grita e se lembra não só refere o corpo humano mas também de outras espécies existentes na natureza (plantas e outros animais) marcam sua presença e, cada um, à sua maneira, percebe o ambiente; sem essa troca de energia e de informação nenhum organismo sobreviveria e a natureza não existiria. Aqui Serres apela a cooperação entre os seres como condição para a sobrevivência não só entre eles mas também a natureza em geral. Hans Jonas, assim como Serres apelam-nos para uma responsabilidade ecológica; para tal é necessário que as acções da sociedade actual assegurem a possibilidade de uma existência digna às gerações vindouras e isso passa também pela salvaguarda da qualidade de vida; lhes leguemos um planeta habitável e que não alteremos as condições biológicas da humanidade e a preservação e cuidados da natureza. É preciso que olhemos a natureza como possuidora de leis morais e cooperativa e interactiva. Ngoenha (SD) na sua análise sobre os problemas ecológicos nota que o homem actual se relaciona com o mundo a partir de mediações simbólicas e técnicas. Este tipo de relacionamento cria até certo ponto uma nova cultura específica que contém algumas lacunas dado que na ordem natural não se enquadra. No processo de interacção ser humano/natureza, o homem tem um papel específico e preponderante por causa da sua capacidade de cognição, escolha de alternativas, acumulação de experiências na vida. Por isso mesmo, julgamos que ele pode muito bem, usando dessas qualidades acima descritas, entrar na cadeia ecológica com uma atitude participativa e humanizante ou com uma atitude intervencionista depredadora. Comecemos por explicar como acontece a intervenção predadora do homem perante a natureza. Quando ele concebe a natureza como algo que se pode conhecer e objectivar experimentalmente, manipulado e utilizado tecnicamente, como por exemplo, cortar árvores para aproveitar a madeira, usar adubos químicos na agricultura e outras praticas técnicas. A consequência disso é a desnaturação e desumanização, fissura entre a natureza e o homem, causando crise ecológica que parte do local para mundial. Não existe paz sólida entre os homens sem uma parcela de justiça social. Não haverá justiça social se o homem consumir duma maneira desordenada os recursos da natureza. Não existira paz entre os homens sem paz com a natureza. Do mesmo modo, não existirá paz com a natureza sem paz entre os homens. Para tal é necessário que o homem controle o progresso científico e tecnológico para que não fuja das suas mãos. “A relação errada do homem com a natureza é o resultado de uma atitude que o homem adoptou em relação a si mesmo” (NGOENHA, SD:54). Os filósofos ambientalistas devem incutir uma nova dimensão ética que se baseie no altruísmo e que incite para acções em favor da Natureza sem esperar ganhos. É preciso ultrapassar o limite humano tecnológico para o ético porque o homem não tem o direito de destruir a natureza, a natureza faz parte do homem. O seu desaparecimento comprometerá não só os que vivem nela mas também o homem. Como a partir da revolução industrial a nossa relação com o mundo mudou completamente, Serres pensa que o antigo contrato social deveria se reforçar com um contrato natural como única saída viável. Essa aposta na assinatura de um novo acordo passará pela parte dos homens, repensar a sua forma de interacção com o resto do mundo. Serres só vê a saída dessa situação, por meio de uma conexão, de um terceiro lugar, de uma miscigenação, de um diálogo aberto e de um sistema que em rede se reforce e se interpenetre, seja entre os homens e a natureza ou entre os diversos ramos do conhecimento. Serres, reconhece que a natureza nos fala em vários modos (em termos de forças, de ligações e de interacções), essa falar da natureza é suficiente para nós entendermos e procurarmos uma saída viável que nos possa manter neste equilíbrio ecológico. E a solução segundo ele é de assinarmos um pacto com a natureza. Quer dizer cada um de nós, voluntariamente e conscientemente deve assinar o contrato porque cada um dos parceiros em simbiose neste mundo deve, de direito, a vida ao outro, sob pena de morte. Parte Conclusiva Goldsmith e Serres e a consciência ecológica Neste trabalho, sobretudo na parte introdutória, sustentamos que o que há de comum entre Goldsmith e Serres é a questão da ecologia. Ambos estão preocupados em despertar a consciência ecológica no homem. Goldsmith desenvolve esta ideia mostrando que há na natureza uma ordem estabelecida e regida pelas leis da própria natureza; Para a preservação desta ordem específica da natureza é preciso que o homem seja responsável nas suas acções para com a natureza e isso passa pelo respeito e reconhecimento da interdependência dos seres da natureza; preservação da natureza. Este pensamento de Goldsmith é subsidiado por Serres quando propõe um contrato entre o homem e a natureza; como forma de manter a ordem, equilíbrio e harmonia da natureza. Os dois autores defendem a preservação, equilíbrio e harmonia na natureza, mas diferem na maneira como cada um propõe para que isso aconteça ou se efective. Voltemos para a questão de reedificação da relação homem e a natureza; percebemos que redefinir a relação significa definir de novo usando novas formas, neste contexto introduzindo novas regras que regulam tal relação; as novas regras que Serres introduz são regras morais, aquelas que Goldsmith chama de leis morais da natureza. As regras morais proporcionam o vínculo ético entre o homem e a natureza. Seguidamente Goldsmith diz que os constituintes da natureza são interdependentes, no sentido de que há interligação, cooperação e interdependência de tudo o que existe na natureza; e o homem não deve ficar alheio a essa interdependência e aliança porque ele faz parte da natureza. Nisto, a humanidade precisa de entrar nesse sistema cooperativo e interactivo como forma de completar o sistema de interdependência de todo o que existe na natureza. Serres, acredita que com o pacto natural a questão de cooperação, simbiose e mestiçagem entre o homem e a natureza se efectivará; quer dizer que o homem poderá estar integrado, ligado e religado a todos os seres do mundo natural através do contrato natural. Goldsmith acha que devemos olhar a natureza como uma comunidade a que pertencemos, onde portanto nos interagimos, nos relacionamos, convivemos com outras realidades que fazem parte da natureza. Pensamos que normalmente numa interacção, relacionamento e convivência de duas ou mais realidades existem normas e ou regras estabelecidas que regulam tal relacionamento, convivência e interacção. Para que de facto exista ou aconteça uma boa interacção, convivência e relacionamento Goldsmith diz que é preciso respeitar a ordem da natureza, e Serres, diz que é preciso traçar regras que regulem os comportamentos; todo homem terá que subscrever essas regras como forma de responsabiliza-lo e de se comprometer a respeitar o pacto. Aqui está mais uma vez a unanimidade dos dois autores, na necessidade de um vínculo ético entre o homem e a natureza, como forma de manter a ordem ecológica do mundo. Como tentativa de solucionar os problemas ecológicos causados pelo mau uso da ciência e da tecnologia, Goldsmith e Serres propõem que se faça controlo da ciência usando-a com consciência (responsabilidade). A questão de convivência e interacção entre o homem e a natureza não foi exclusivamente tratada por Serres, muitos ecologistas já apelaram a isso. Por exemplo Leonardo Boff chegou a dizer que “O destino da terra e da humanidade coincidem: ou nos salvamos juntos, ou sucumbimos juntos” (BOFF, 2002:13); Boff apela a cooperação como também Goldsmith apelou. Apenas a novidade de Serres é de reconhecer a natureza como sujeito de direitos e ter teorizado um contrato natural. Quer Goldsmith quer Serres estão de acordo que cada indivíduo deve se reconhecer como parte integrante da natureza contribuindo significativamente para o desenvolvimento integral. O progresso através do desenvolvimento humano deve ser fundamentado com base na reposição do meio ambiente a partir de acções, valores, métodos e técnicas contra a sua deterioração. E a responsabilidade humana perante a natureza é também uma ideia comum dos dois autores em análise; ela deve ser colectiva e global que não só vale para o homem actual mas também o do futuro. Olhando o pensamento de Goldsmith e Serres podemos afirmar que já estamos num momento de despertar ecológico, porque estes dois autores, disseminam doutrinas de como assumirmos responsabilidade perante o mundo natural, como respeitar a natureza e tentam consciencializar o homem que ele não está no centro das coisas, que elas, as coisas, são sujeitos de direito e não objectos de uso, gozo e apropriação humana. A ecologia profunda de Goldsmith dá um sentido maior às estratégias convencionais de preservação; atacando as causas ocultas da devastação, projecta e estimula o surgimento de uma nova humanidade ecologicamente consciente. É por isso que ele se opõe veementemente a “ecologia superficial" – isto é, a visão convencional segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua importância para o ser humano. Porque a visão convencional coloca o homem no centro do mundo e passa a preservar os rios, o oceano, as florestas e o solo porque são instrumentos do seu próprio bem-estar. Por exemplo quando ele olha para o meio ambiente com esta preocupação, pensa nos seus próprios interesses, já que, inconscientemente, se considera a coisa mais importante que há no universo. Nisto quando olha a árvore, vê apenas a madeira. Olha o solo e vê apenas o potencial agrícola ou a possível exploração de minérios. Olha o rio e vê apenas um curso de água navegável por barcos de determinado porte. Ele sabe que deve preservar os recursos naturais, porque são preciosos. Quer dizer que a natureza para ele é um grande cofre, abarrotado de riquezas renováveis, mas que devem ser cuidadosamente preservado. Este nível da consciência ecológica almejado por Goldsmith e Serres é importante porque faz com que os seres humanos questionem seu comportamento económico e comecem a perceber mais claramente que a ética ambiental dá bons resultados. Assim a postura mais primitiva de mera pilhagem dos recursos naturais vai ser deixada de lado e as políticas públicas de meio ambiente vão reforçar o nível de consciência ambiental. As leis da natureza, base do contrato entre o homem e a natureza, não permitirão a violação por parte do homem o contrato. Ele, o contrato, irá proporcionar um ambiente saudável e habitável e trará uma espécie de auto-limitação da liberdade e satisfação material do homem. Isto é, a liberdade do homem irá exactamente terminar onde começa a liberdade da natureza. Os desafios dos problemas ecológicos Perante a visão de Goldsmith e Serres, constatamos que a crise ecológica que se verifica no mundo é por causa de não respeitar a ordem da natureza e de não existir uma relação harmoniosa entre os seres que se encontram nele. Essa desarmonia é provocada pelo homem que se intitula o único dentre vários seres existentes como possuidor de direito. E se calhar, é por isso que ele, o homem, nunca perde o juízo, nem entra em pânico perante crises globais. Ele convive e vive com os problemas ecológicos. Os sécs. XX e XXI são caracterizados pela mundialização dos problemas ligados à conservação do meio ambiente. Como desafios, precisamos de mudar padrões e hábitos, comportamentos insustentáveis e danosas ao meio ambiente. Em última instância, diríamos que é preciso uma responsabilidade acrescida por parte do homem perante o meio ambiente, dado que esses problemas partem dum certo local e chegam a serem globais. Uma das mudanças globais que se verificam no meio ambiente é o clima e a consequente temperatura, padrões de produção e consumo. Desafios: devemos proteger o sistema climático para gerações presentes e futuras, desenvolvendo políticas e programas que visem a estabilização das estações do ano e da temperatura. E devemos mudar padrões de produção e de consumo. Por causa das imigrações campo/ cidade, a procura de melhores condições de vida, assiste-se uma expansão urbana acelerada e extremamente desordenada o que provoca até certo ponto a degradação ambiental e de infra-estruturas: falta de saneamento (quando chove as águas ficam estagnadas, porque não tem valas de drenagem que as escoe; falta de saúde (cólera e doenças diarreicas); falta de transporte (caso cidade de Maputo/Matola e arredores); falta de limpeza urbana (lixo e mau cheiro nas cidades, caso Quelimane) etc. Desafios: devemos adoptar um modelo de desenvolvimento económico compatível com a preservação do meio ambiente. Mudar padrões de produção e consumo. Referências Bibliográficas GOLDSMITH, Edward; (1995) O Desafio Ecológico; perspectivas ecológicas, Lisboa, _____________________, (2003) Projecto para a sobrevivência, Perspectiva ecológica, Lisboa, SERRES, Michel, (2003) Hominesciências; O começo de uma outra humanidade? Bertrand Brasil, _______________, (1994) Contrato Natural, Instituto Piaget, Lisboa, _______________, (1986) O terceiro Instruído, Instituto Piaget, Lisboa, BOFF, Leonardo; (2002) Crise Oportunidade de Crescimento, Verus, Campinas, EHRLICH, P.R. e EHRLICH, A. H.; ( 1992) Biodiversidade e o seu valor, Ambio, FERRY, Luc; (1993) A nova ordem ecológica, S. Paulo, Brasil, JONAS, Hans; (1995) O princípio da Responsabilidade, Instituto Piaget, Lisboa, NGOENHA, severino E. () O Retorno do bom selvagem; Uma perspectiva filosófica-africana do problema ecológico, Salesianas, Porto, MORIN, Edgar, (2010) A religação dos saberes; o desafio do séc. XXI, Bertrand Brasil, Brasil,. MORIN, Edgar e TERENA, Marcos; (2001) Saberes Globais e Saberes Locais, Rio de Janeiro, Garamond, LEROI-GOURAN, (1995) O gesto e a palavra, Instituto Piaget, Lisboa, ROUSSEAU, J. J. (1993) Discurso sobre as ciências e as artes, Instituto Piaget, Lisboa, SIQUEIRA, José Eduardo de; Hans Jonas e a ética de responsabilidade. In: http://www.unopar.br/portugueses/revfonte/v3/art7/body_art7.html. Acesso a 11 de agos de 2011. RARPETH, Emmanuel; Ecologia profunda. In http://www.stanford.edu/dept/fren-mital/faculty/serres.html. Acesso a 20 de agos de 2011.