A resistência da mosca branca a inseticidas ultimamente tem sido um dos problemas mais graves a ser enfrentado pelos produtores agrícolas em cultivos anuais. A mosca branca passou a ser uma das pragas polífagas mais terríveis desses cultivos . Pertencente ao gênero Bemisia, é um Hemiptera da família Aleyrodidae, excelente sugador de seiva e, além dos danos diretos que provoca pela sucção contínua das folhas, depauperando rapidamente a planta, é um terrível vetor da virose do mosaico comum do algodoeiro.

Um inseto praga na condição de polífago tem o potencial de dano relativamente maior. Nos diferentes sistemas agrícolas, geralmente ocorre migração da mosca branca de culturas em final de ciclo, como soja, feijão, etc, para o algodoeiro. As infestações são sempre crescentes a partir do florescimento das plantas, atingindo grande intensidade no final do ciclo. Ao se alimentar, este inseto excreta uma substância açucarada que favorece o desenvolvimento de fungos de coloração escura (fumagina) sobre as folhas e maçãs do algodoeiro. A fotossíntese das plantas é prejudicada e o açúcar que é depositado junto com a fumagina acaba depreciando industrialmente a fibra. Em condições de altas infestações tem sido relativamente difícil o controle da mosca branca, não apenas no algodoeiro mas também em diversos cultivos anuais.

ENTENDENDO O PROBLEMA DE RESISTÊNCIA

O problema da resistência da mosca branca nos cultivos anuais tem sido objeto de estudos e debates constantes. Existem vários casos documentados de resistência desta praga a inseticidas em diferentes cultivos no mundo todo. Em nosso país, o histórico da aplicação de agrotóxicos contra essa praga agrícola mostra que se tem empregado inseticidas dos principais grupos químicos, organofosforados, carbamatos e piretróides, tão logo estes produtos se tornaram disponíveis no mercado e foram autorizados pelo Ministério da Agricultura. A utilização indiscriminada de inseticidas sem muitas bases técnicas de manejo parece ter provocado desequilíbrios nos agroecossistemas, favorecendo a aparição de estirpes resistentes. Os agricultores se recordam de que até meados da década de oitenta a mosca branca não se mostrava como uma praga chave para os principais cultivos e o seu controle químico era relativamente fácil, empregando-se os inseticidas padrões daquela época, nas dosagens recomendadas nos rótulos ou nos catálogos dos fabricantes. Atualmente a mosca branca ganha o título de praga chave dos principais cultivos anuais e o controle passa a ser muitas vezes um quebra cabeças de alto custo que envolve uso de novos produtos com novas recomendações de dosagens e de estratégias, devido ao problema da resistência quese agrava.

O CONCEITO DE RESISTÊNCIA

Do ponto de vista toxicológico, considera-se a resistência como sendo o desenvolvimento de uma habilidade em uma determinada linhagem de tolerar doses de agrotóxicos que seriam letais para a maioria dos indivíduos suscetíveis da população. É exatamente isto que vem ocorrendo ao longo dos anos com a mosca branca em diversas regiões. Trata-se de um processo darwiniano de seleção natural. A aplicação constante e sistemática de um mesmo produto químico aumenta a freqüência relativa de alguns indivíduos geneticamente pré-adaptados presentes em uma população. A resistência é, portanto, de caráter hereditário, com tendência a aumentar sempre se não for planejado um manejo coerente do agroecossistema em questão.

PROBLEMAS ADVINDOS DA RESISTÊNCIA

Na prática agrícola, o aumento da resistência de uma população de inseto praga frequentemente resulta na necessidade de incrementar a dose ou o número de pulverizações com a finalidade de se obter níveis aceitáveis de controle. Medidas deste tipo podem agravar ainda mais o problema, favorecendo o desenvolvimento de mecanismos de resistência ainda mais eficientes, além de incrementar os problemas técnicos, toxicológicos e econômicos. Outro problema que pode ocorrer é a atitude improvisada em se misturar inseticidas sem a devida recomendação técnica que inclusive ficaria sem o devido amparo legal. Muitos programas de manejo integrado de pragas que foram desenvolvidos durante vários anos de pesquisas, ficam comprometidos com a mudança drástica e sem critério do componente químico pulverizado.

O MANEJO DA RESISTÊNCIA

Como a resistência é uma questão de seleção natural darwiniana, ela não pode ser controlada totalmente, mas pode ser manejada com o intuito de se prevenir e se retardar o desenvolvimento ao longo das safras agrícolas. Uma das estratégias de manejo da resistência bastante discutida atualmente chama-se "ataque múltiplo". Neste caso procura-se empregar vários agentes de controle independentes e ainda fazendo-se uso de rotações de inseticidas de grupos químicos diferentes e até aplicando-se misturas de produtos compatíveis e com algum grau de sinergismo. O uso de misturas para se retardara resistênciabaseia-se na consideração de que a resistência a cada um dos inseticidas é independente e inicialmente rara, de modo que o inseto que sobrevive a um inseticida da mistura será eliminado pelo outro inseticida. Saliente-se que qualquer mistura deve ser elaborada pelo fabricante em conformidade com todos os aspectos técnicos e legais. Na prática agrícola de rotina, misturas improvisadas são proibidas conforme a legislação atual dos agrotóxicos. O uso de rotações de inseticidas se sustenta na idéia de que a freqüência de indivíduos resistentes a um inseticida "A" pode declinar durante a aplicação de um inseticida alternativo "B", pelo menos durante algum período. A recomendação para a alternância de inseticidas pode ser conseguida em uma consulta no site do Comitê Internacional para o Estudo da Resistência IRAC-BR, que disponibiliza gratuitamente informações para os principais cultivos.

O PROBLEMA DA RESISTÊNCIA CRUZADA

Realmente é difícil ter uma certeza, na rotina das práticas agrícolas, sobre qual a melhor estratégia para a mosca branca. Existe a possibilidade de ocorrer resistência cruzada ou resistência múltipla quando vários tipos de inseticidas são usados com freqüência por anos e anos seguidos. O agravante ocorre porque a mosca branca tem capacidade de se alimentar, de se reproduzir e de se refugiar em um grande número de plantas hospedeiras, onde poderia escapar do ataque com os produtos por algum tempo e assim continuar produzindo descendentes resistentes. O fato de a mosca branca ser muito polífaga é sem dúvida um agravante do problema.

A ROTAÇÃO DE INSETICIDAS

A rotação de inseticidas é uma estratégia que vem sendo aplicada em muitas regiões, por ser um método mais prático e mais lógico quando se usa inseticidas que possuem grupos químicos ou modo de ação distintos, sempre com a dosagem de rótulo. Na prática agrícola não se consegue nunca um controle absoluto e permanente do problema da resistência. Mas consegue-se pelo menos retardar o problema por alguns anos. Muito provavelmente a saída no futuro será por intermédio da pesquisa com novos produtos, que serão combinados com novas estratégias e técnicas mais apuradas de controle. Saliente-se que o inseticida a ser empregado no programa de rotação deve estar devidamente registrado pelo Ministério da Agricultura para uso no cultivo em questão.