A REPRODUÇÃO ASSISTIDA E O TRATAMENTO DADO PELA MÍDIA 

            O termo “meio de comunicação” é utilizado para definir o instrumento ou a forma de conteúdo empregado para a realização do processo comunicacional. Quando referente a comunicação de massa, pode ser considerado sinônimo de mídia. Contudo, diferentes meios de comunicação, como o telefone, não são maciços e sim individuais. No tocante a proliferação do conteúdo referente a procedimentos médicas, consideraremos como relevante os meios de comunicação em massa, mais especificamente provenientes do instrumento televisivo. 

            Por ser um tema relativamente atual e não efetivamente propagado com a devida eficiência, a Reprodução Assistida é matéria que gera perplexidade e questionamentos a grande parte da sociedade contemporânea. Visando atender a esta parcela de indivíduos, diversos meios de comunicação estão buscando trazer ao cotidiano do homem médio o presente assunto, seja por meio de debates, artigos e até programas de ficção, como novelas, entre outros métodos que possam ser explorados pela mídia. 

            Recentemente, o supracitado objeto de estudo obteve elevado destaque ao ser abordado na telenovela “Fina Estampa”, exibida em horário nobre, por emissora nacional de grande repercussão. Nesta, uma das personagens recorre à uma clínica de fertilização de uma profissional renomada, mas acaba sendo vítima da própria especialista que, ferindo a ética médica, realiza a fertilização com o material genético do irmão falecido e de sua respectiva namorada.Fora, deste modo, observada pela trama não apenas a Reprodução Assistida propriamente dita, mas também questões que, a partir desta, podem ser analisadas, como ética profissional, doação de material genético e efeitos jurídicos. Sobre a utilização desse meio de entretenimento para tratar de assuntos relevantes a atualidade, aduz Roberta de Almeida[1]:

 

Parece ser consensual a percepção de que a televisão em geral e a telenovela, em particular, sem abrir mão de sua linguagem sedutora, é um excelente meio para a difusão de conteúdos culturais e educativos junto às populações carentes de alternativas, como é o caso de grande parcela da população brasileira. As telenovelas constituem um gênero televisivo independente, sendo o mais popular e de público mais fiel, entre todos os tipos de programas veiculados na TV brasileira, chegando ao ponto de existirem programas e revistas, cadernos de jornais dedicados em parte ou em seu todo, para tratar exclusivamente sobre o assunto. Elas lideram a audiência em diferentes regiões, segmentos sociais, sexo e faixas etárias. 

            Ainda, explora Nilton Xavier, em entrevista dada a Vivian Vergilio[2]: 

A novela do horário nobre é a que apresenta mais condições para tratar de temas polêmicos e de reflexão da sociedade, por ter maior audiência. As outras são reservadas aos romances e comédias, mas também podem servir como pano de fundo para essas discussões. 

            Entretanto, nem sempre meios de comunicação, ao tratar leigamente do tópico em análise, o faz de forma concisa, em algumas situações por visar maior audiência em sua programação sem medir consequências que posteriormente refletirão na sociedade. Ressaltando ainda a telenovela já mencionada, em notícia de autoria de Lilian Ferreira[3], explana: 

[...] Raul Eid Nakano, diretor clínico e médico da Ferticlin, Clínica de Fertilidade Humana, de São Paulo, diz que se sente ofendido com a novela. “A novela retrata como quer e confunde nossas pacientes”. “A novela está na contramão da ética para depois apresentar um revés”, acredita Arnaldo Schizzi Cambiaghi, diretor do Centro de reprodução humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia (IPGO). A principal questão apontada pelos especialistas (alguns, inclusive, consultores da novela) é o anonimato. Pela ética, a médica não poderia deixar a funcionária ter acesso a dados sigilosos e ela, por trabalhar na clínica, também não poderia contar à doadora quem recebeu o óvulo e nem com que sêmen foi fecundado. O problema é consequência de outra infração cometida pela médica: usar material genético de parentes e pessoas de seu círculo social. 

            Ademais, no referente a telenovelas, a mistura de ficção e realidade pode levar o espectador a cometer erros quanto ao assunto por essas abordado. Na trama “Insensato Coração”, também exibida em horário nobre, uma das personagens rouba camisinha utilizada em uma relação sexual e, com o material genético nesta condita, faz a inseminação em casa, vindo a engravidar. Médicos ressalvam que a técnica é praticamente impossível, todavia não é raro localizar em redes sociais relatos de pessoas que procuraram se valer deste método, muitos desses publicados após a transmissão da novela, o que, mesmo que nem sempre comprovada haja ligação, demonstra fortes indícios de que o conteúdo repassado ao público pode influenciar de forma negativa em seu julgamento. 

            Portanto, no caso específico, é claro perceber a ocorrência de um confronto entre o que é exposto pela teledramaturgia e a realidade de padrões éticos e legais divulgada por profissionais da área médica. 

            Sobrevém que, a falta de coerência existente entre as informações transmitidas ao público pelos meios de comunicação, como se sucedeu com os programas anteriormente mencionados, e a veracidade decorrente das técnicas de reprodução assistida é prejudicial à sociedade, que por sua vez fica a deriva de dados equivocados, resultantes de tentativas, que de certa forma, podem ter sido pouco elaboradas ou aprofundadas para abordar uma situação que deveria merecer um parecer técnico mais abrangente, fazendo com que seu conteúdo de caráter tão relevante ao universo contemporâneo fosse propagado de formar coerente. 

             Assim, conclui-se que, mesmo sendo a mídia o meio mais eficaz para conectar os entes sociais aos avanços da medicina, esta ligação deve ser feita de forma cuidadosa, buscando abranger todos os pontos de forma verídica, visando transmitir a realidade e instruir aos cidadãos quanto as consequências das técnicas a eles oferecidas.


[1] ALMEIDA, Roberta de. Telenovela, historia, curiosidades e sua função social. Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-televisao/telenovelas-3.php. Visualizado em: 19.jan.2013.

[2] VERGILIO, Vivian. Canal da Imprensa. Disponível: www.teledramaturgia.com.br/canaldaimprensa. Visualizado em: 19.jan.2013

[3] FERREIRA, Lilian. Médica de Fina Estampa é antiética ao fazer fertilização e preocupa médicos. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/02/09/medica-de-fina-estampa-e-antietica-ao-fazer-fertilizacao-e-preocupa-medicos.htm. Visualizado em: 19.jan.2013.