A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM O MENINO MARROM DE ZIRALDO[1]

Elinea Souza Nascimento da Silva[2]

Suely Santos Santana[3]

Resumo: Esse artigo objetiva analisar a representação das relações étnico-raciais na literatura infanto-juvenil tendo como córpus o livro O Menino Marrom de Ziraldo, o qual, apesar de vislumbrar a denúncia do preconceito racial, acaba corroborando para reforçá-lo, quando apresenta, de maneira sutil, uma visão racista e etnocêntrica, permeada pela criação de estereótipos, escamoteação do preconceito ao mesmo tempo em que colabora para a propagação deste.

Palavras-chave:relações étnico-raciais, literatura infanto-juvenil brasileira, estereótipo, ocultação, racismo, falsa democracia racial.

Abstract: This article objective in analyzing the representation of the ethnic-racial in theBrazilian infant-youthful literature having as corpus the book "The brown boy "of Ziraldo, which although to glimpse the denunciation of the racial prejudice it finishes corroborating to reinforce it when it presents, in subtle way, a racist and ethnocentric vision permeated by the creation of stereotypes, to conjure the prejudice and propagation of this.

Key-Words: Ethnic-racial relations, Brazilian infant-youthful literature, stereotypes, occultation, racism, false racial democracy.

Um olhar atento sobre a realidade do povo brasileiro mostra uma sociedade multirracial e pluri-étnica que faz de conta que o racismo, o preconceito e a discriminação não existem. No entanto, afloram a todo o momento, ora de modo velado, ora escancarado, e estão presentes na vida diária. (LOPES apud MUNANGA, 2005, p. 186).

INTRODUÇÃO

A temática das relações étnico-raciais me chama a atenção e me inquieta há algum tempo. Durante minha trajetória acadêmica, fiz vários trabalhos relacionados a essa temática e acredito que cabe também a nós, acadêmicos e intelectuais, o dever político e moral de combater o racismo à brasileira que vem sendo propagado e cristalizado pelo mito da democracia racial.

Esse dever, entretanto, não decorre apenas da sanção da Lei 10.639/2003, que muitos "ingênuos" afirmam "estar na moda", pois este discurso instituído é um desrespeito a uma luta que começou desde a escravidão com Zumbi dos Palmares e que perdura até os dias atuais com as constantes buscas dos movimentos negros por uma sociedade onde o negro tenha papel participante e legítimo. Mas, sobretudo, pelo dever, se não obrigação, de desconstruir a estereotipia que nós, descendentes daqueles que seguraram a chibata, ajudamos, com a ideologia do branqueamento e com o mito da democracia racial, a cristalizar.

Diante disso, esse artigo visa analisar criticamente a representação das relações étnico-raciais na literatura infanto-juvenil brasileira, com o objetivo de analisar a imagem que emerge dos personagens negros em livros que tinham como objetivo fazer uma representação mais realista do negro.

A partir da análise, constatei que, fugindo ao objetivo de alguns autores, há ainda, em algumas narrativas, a predominância de uma visão racista e etnocêntrica camuflada em tendências que visam manter o mito da democracia racial. Portanto, muitas narrativas que pregaram a inovação na representação do negro deixaram a desejar.

I. UM POUCO DE HISTÓRIA

De acordo com o pensamento de Darcy Ribeiro (1995), o Brasil é formado por uma sociedade multirracial e pluricultural, constituída de três raças. O índio, originário da terra, o africano escravizado e o branco colonizador que se encontram na predeterminação histórica no período colonial escravista para conviverem numa sociedade que até hoje nunca se integrou socialmente, haja vista que na sociedade brasileira persiste ainda uma população estratificada por posições de classe e origens étnicas.

Historicamente, os negros sempre ficaram à margem dessa sociedade e eram vistos, pelos senhores brancos, apenas como capital humano que se comprava com um bom dinheiro que seria restituído a eles, em dobro, pelo trabalho escravo.

As marcas da verdadeira história do negro no Brasil continuam sendo ocultadas, assim como sua importante contribuição na formação desse país.

A epígrafe "O segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias", usada por João Ubaldo Ribeiro (1984, p. 07), em seu romance, Viva o povo brasileiro, revela que nunca temos acesso direto aos fatos, pois eles nos são transmitidos por uma linguagem. Logo, só a linguagem tem existência real, mediatizando nosso contato com o mundo. E visto que quem domina a linguagem é a classe dominante, conclui-se que os fatos se transformam em histórias ao bel prazer da classe, dita dominante.

Assim, fica claro que a verdadeira história do Brasil vem a séculos sendo escamoteada, passando para as gerações histórias onde predominam representações inventadas ou ocultadas do negro. Suas conquistas continuam sendo associadas a "presentes", como o mito da libertação dos escravos pela Princesa Izabel.

A abolição da escravatura no Brasil não livrou os ex-escravos e/ou afro-brasileiros (que já eram livres antes mesmo da abolição em 13 de maio de 1888) da discriminação racial e das conseqüências nefastas destas, como a exclusão social e a miséria. A discriminação racial que estava subsumida na escravidão emerge após a abolição transpondo-se ao primeiro plano de opressão contra os negros. Mais do que isso, ela passou a ser um dos determinantes do destino social, econômico, político e cultural dos afro-brasileiros (HASENBALG, 1979; SANTOS, 1997).

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Dessa forma, é mister ressaltar que a abolição serviu mais como uma forma de manutenção e reprodução da escravidão do que libertação, haja vista que após a abolição os negros foram lançados à própria sorte sem saberem para onde ir, o que fazer ou como sobreviver.

[...] caíram, então, em tal condição de miserabilidade que a população negra reduziu-se substancialmente. Menos pela supressão da importação anual de novas massas de escravos para repor o estoque, porque essa já vinha diminuindo há décadas. Muito mais pela terrível miséria a que foram atirados (RIBEIRO, 1995 p.221).

A luta pela liberdade, então, foi apenas o primeiro passo para a obtenção da igualdade racial, pois o racismo já orientava a sociedade brasileira após a abolição e, nesse sentido, afirma Ribeiro (1995, p. 200): "a luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi, ainda é, a conquista de um lugar e de um papel participante legítimo na sociedade nacional".

Para Darcy Ribeiro (1995), as atuais classes dominantes brasileiras, feitas de descendentes de antigos senhores de escravos, mantém pelos negros o mesmo desprezo vil de outrora. Os negros continuam sendo vistos como os culpados de suas próprias desgraças, as quais eram e ainda são explicadas como características da raça e não como resultado da escravidão e da opressão.

Essa visão deturpada é assimilada também pelos mulatos a até pelos negros que conseguem ascender socialmente, os quais se somam ao contingente branco para discriminar o negro massa. Nesse sentido, é mister ressaltar que mesmo quando o negro revolta-se contra seus iguais, isso acontece em decorrência da discriminação imposta pelo branco. Em outras palavras, o negro começa a sofrer por não ser branco, na medida em que o homem branco tira do negro todo valor, toda originalidade, toda humanidade. E assim, a fim de que o branco reconheça a humanidade do negro, este tenta tornar-se branco. "A inferiorização é o correlato nativo da superiorização[...] tenhamos coragem de dizer: É o racista que cria o inferiorizado".(FANON, 1983, p. 78).

Nesse sentido, afirma Ana Célia da Silva,

Os estereótipos, a representação parcial e minimizada da realidade, conduzem o estereotipado e representado, em grande parte, à auto-rejeição, a construção de uma baixa-estima, à rejeição à seu assemelhado, conduzindo-o à procura dos valores representados como universais, na ilusão de tornar-se aquele outro e de libertar-se da dominação e inferiorização. (SILVA apud MUNANGA, 2005, p. 30).

Assim, para que o negro tenha existência numa sociedade racista, ele tem de negar-se, pois a negação de sua identidade implicará na sua aceitação pelos brancos. O branco impõe ao negro tornar-se branco ou desaparecer e, isso resulta na perda da identidade negra."A identidade tornou-se uma festa móvel: formada e transformada continuamente em relação às maneiras pelas quais somos representados ou tratados nos sistemas culturais que nos circundam" (HALL, 1997 p. 9,10).

Nesse sentido, Florentina da S. Souza assinala a grande dificuldade de o discurso nacional brasileiro lidar com a diferença, e aponta a hegemonia de um discurso nacional pautado no ideal do branqueamento, "o afro-brasileiro é posto como participante e estrangeiro nesse instável perfil nacional no qual os negros são constituídos como o outro" (SOUZA, 2000 p. 77).

Diante do exposto, pode-se dizer que o Brasil apresenta como característica o fato de uma sociedade que "se quer branca", por isso muitos afro-brasileiros "fingem" ignorar a ausência de seus rostos nos quadros nacionais. Os discursos instituídos, por sua vez, fingem não ver os afro-brasileiros que constituem um discurso identitário, pois, segundo o poema, "Efeitos Colaterais", de Jamu Minka (José Carlos de Andrade), publicado no periódico Cadernos Negros, "O Brasil nega o negro que não se nega" (CN, 19 p.82).

Estigmatiza-se, então, a imagem do negro nos domínios de classe e raça respaldando-se numa falsa democracia racial. O discurso nacional brasileiro insiste em sustentar que existem raças inferiores a outras e que esta inferioridade não é social ou cultural e, sim, inata e biologicamente determinada. Entretanto, "raça é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica" (HALL, 2003, p.63) e é ainda "um conceito comprovadamente improdutivo e equivocado para classificar seres humanos" (SOUZA, 2000, p.80).

Em contrapartida, a sociedade brasileira nega a sua pluriculturalidade, camufla a questão racial e afirma valores hegemônicos oficiais brancos anulando e subordinando a diferença cultural.

A nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, nunca fez nada pela massa negra que a constituíra. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em que pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão (RIBEIRO, 1995 p. 222).

II. A LITERATURA INFANTO-JUVENIL E AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Segundo Heloísa Pires Lima (Apud MUNANGA, 2005 p. 101), "a literatura infanto-juvenil apresenta-se como filão de uma linguagem a ser conhecida, pois nela reconhecemos um lugar favorável ao desenvolvimento do conhecimento social e à construção de conceito".

Através da literatura infanto-juvenil, mensagens são passadas através do texto escrito e confirmadas através de imagens as quais, em conjunto (texto e imagem), cristalizam as percepções sobre o mundo.

Por meio dessa literatura, a criança é levada, através de personagens, sensações, imagens, a se reconhecer e a reconhecer, ainda, as expressões culturais de uma sociedade.

Ouvir histórias - sobretudo quando ainda não se lê a palavra - de livros ou a partir deles, inventadas pelos adultos ou adaptadas, alimenta a fantasia infantil. As crianças guardarão no seu imaginário as melhores imagens, que serão símbolos em repouso na memória, para interagirem com experiências futuras (RESENDE, 1997 p. 18).

Nesse contexto, como pode a criança negra se reconhecer, se encontrar numa literatura pautada na ocultação ou depreciação dos personagens negros? Como a criança negra alimentará a sua fantasia? Que imagens servirão de símbolos para as experiências futuras? Com certeza, a primeira sensação é a de não existir ou a de inferiorização em relação ao branco, pois quando as personagens negras entram nas histórias aparecem veiculadas à escravidão, à subordinação, ou são sujeitas a qualquer outro aspecto negativo.

Assim, a forma como a história do negro no Brasil foi escrita, bem como a contribuição dos negros nos domínios literários deve ser analisada e questionada, a fim de que seja criada uma anti-história e uma contra-literatura que possam tirar ou desmistificar a clandestinidade de muitos fatos que a cultura dominante mascara.

Dessa forma, "a conformação teórica da literatura "afro-brasileira" ou "afro-descendente" passa necessariamente pelo abalo da noção de uma identidade nacional una e coesa"(DUARTE, 2002, p.47).

Isto está intimamente ligado à noção de uma falsa sociedade una e harmônica confirmada também pelo hino nacional: "[...] Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar com o braço forte"; que se objetiva na legitimação da exploração e da dominação, numa sociedade calçada na falsa igualdade entre raças.

Assim, do mesmo modo que percebemos a ineficácia e dissimulação do termo igualdade pregado pelo hino nacional, nos atentamos, então, para a existência de uma sociedade de identidade híbrida e fragmentada, a qual denuncia que no decorrer de nossa história literária a omissão ou estereotipação do negro aponta para a recusa de muitas vozes, que foram esquecidas, silenciadas ou inventadas no quadro literário nacional.

Uma literatura que se atribui a missão de articular o projeto nacional de fazer emergir os mitos fundadores de uma comunidade e de recuperar sua memória coletiva, passa a exercer somente a função sacralizante, unificadora, tendendo ao MESMO, ao monologismo, ou seja, a construção de uma identidade tipo etnocêntrica, que circunscreve a realidade a um único quadro de referenciais" (BERND, 1992, p. 17).

Ao longo da literatura brasileira, percebe-se a ocultação ou deturpação do negro, visto que este é apresentado de maneira exótica, relacionado a sua força física ou a apologia sexual da negra, "a imagem da linda mulata, numa sociedade como a colonial, em que a mulher era rara, é menos uma glorificação da cor negra do que uma glorificação da cor branca: a mulata era escolhida porque se aproximava mais da européia do que da africana" (BASTIDE, 1992, p.115).

Dessa forma, pode-se afirmar que a literatura nacional brasileira vem permeada de estereótipos depreciativos do negro desde sua origem. Nesse sentido, afirma Heloisa Toller Gomes:

O discurso literário brasileiro, no século XIX, foi impregnado pela ideologia social vigente (...). Na verdade, poucos escritores abolicionistas foram capazes de ir além da ideologia racial da época e de transcender os interesses de classe, os quais conforme se sabe, moldaram a forma como se extupou a escravidão não só no Brasil, mas na maior parte das Américas. (GOMES, 1989, p.389)

A exemplo, pode-se citar o romance, A Escrava Isaura de 1875, que, apesar de ser um romance anti-escravista, tinha como protagonista uma personagem que se aproximava mais das mulheres brancas do que das escravas da época.

O resultado de tais condicionamentos traduz-se na quase completa ausência de uma história ou mesmo de um córpus estabelecido e consolidado para a literatura afro-brasileira, tanto no passado quanto no presente, em virtude do número ainda insuficiente de estudos e pesquisas a respeito, apesar do crescente esforço nesta direção (DUARTE, 2002, p. 48).

A literatura infantil e juvenil surgiu no Brasil no final do século XIX e no início do século XX. Os personagens negros aparecem no final da década de 1920, início da década de 1930. Entretanto, o negro era apresentado nas narrativas de forma estereotipada e sempre como coadjuvante. Era ressaltado nessas histórias a condição do negro como subalterno, sem conhecimento da escrita e como meros repetidores dos discursos dos brancos.

A partir de 1975, surge uma literatura infanto-juvenil comprometida com uma representação realista do negro, o que, infelizmente, não impediu a continuação de uma literatura preconceituosa, discriminatória, racista e excludente.

Assim, percebe-se que na literatura infanto-juvenil não há espaço para os negros, quando há, estes são apresentados arraigados de ideários estereotipados e depreciativos, causando, assim, grandes prejuízos, tanto para as crianças negras que tendem a desenvolver a inferiorização em relação ao branco quanto para as crianças brancas que podem desenvolver uma superioridade em relação ao negro, o que gerará conflitos entre ambas. Nesse sentido, afirma Ana Célia Silva (2001, p. 24): "Veicular a inferiorização do negro e a supremacia do branco é uma forma de consciente ou inconscientemente, reforçar o racismo à brasileira".

A literatura tem contribuído, dessa forma, para promover um único padrão sócio cultural em detrimento de outros denegados em sua riqueza e diversidade. Isso se torna perceptível ao se valorizar o grupo étnico-racial branco em detrimento do negro, o qual é preterido nas obras literárias, sem nome (Menino Marrom), animalizados, em papéis de serviçais ou aludidos à sujeira e à tragédia.

A literatura atua em nossas vidas para unir os mitos fundamentais de comunidade, de seu imaginário ou de sua ideologia. Na literatura brasileira, no entanto, o negro é a palavra excluída ocultada com freqüência, ou uma representação inventada pelo outro, sendo sempre o elemento marginal (MUNANGA, 2005 p. 86).

No contexto dos anos 80, a literatura infanto-juvenil, na tentativa de romper com os atributos negativos a respeito das personagens negras, deixou a desejar. O fato de essas narrativas apresentarem personagens negras como protagonistas é uma evidente inovação, visto que essas personagens sempre ocuparam papéis irrelevantes. O problema está no fato de como é retratado o protagonista negro, o espaço social em que a personagem se encontra, a visão que eles têm de sua raça.

Ainda nos anos 80, buscou-se denunciar a problemática do racismo, mostrando que a democracia racial é um mito, pois só existe no papel, entretanto, o que se observa nessas histórias é, mais uma vez, a inferiorização das personagens negras, a humilhação a que os negros são submetidos, sem falar nas ilustrações, ainda, depreciativas.

Na atualidade, com a implantação da lei 10.639/03, que prima pela ressignificação e valorização da história da África e cultura africana e afro-brasileira, urge a necessidade de corrigir injustiças, eliminar discriminações e promover a inclusão social e a cidadania para todos, nos sistemas educacionais brasileiros, tomando por base, tanto a literatura quanto a história.

Destarte, não é necessário apenas retratar o negro na literatura, é importante e imprescindível atentar para a maneira como o negro é retratado, pois o problema não consiste na denúncia, mas na intenção da denúncia.

Nessa perspectiva, pode-se perceber que muitos livros que visam contribuir para a desconstrução de estereótipos dos negros acabam por reforçar essa estereotipia, isso é perceptível claramente em pequenos detalhes como, por exemplo, o livro O Menino Marrom(1986) onde o negro é apresentado como protagonista, visando, possivelmente, o enaltecimento das personagens negras, mas em contrapartida o menino é marrom e não negro, o menino (sem nome) não se reconhece enquanto raça negra. Assim, ele não se afirma enquanto negro nem procura ressignificar sua raça, ao contrário, sua raça/etnia torna-se uma incógnita, o menino marrom não tem identidade. Dessa forma, o que deveria servir para a desconstrução de estereótipos negativos dos negros vem corroborando para a dissimulação e disseminação do preconceito a da falsa democracia racial.

Diante dos pressupostos supracitados, é urgente promover, através da literatura infanto-juvenil, a alteração positiva das histórias com personagens negras, a fim de trilhar caminhos, rumo à uma sociedade democrática, justa e igualitária, revertendo os perversos efeitos de séculos de preconceitos, discriminação e racismo que a literatura vem cumprindo o triste papel de propagar.

A literatura infanto-juvenil deve dispor de textos onde o negro seja personagem com vida, cultura e história, desconstruindo, assim, visões estereotipadas das populações negras, denegadas pela literatura eurocêntrica.

III. A CONSTRUÇÃO DO ESTEREÓTIPO EM O MENINO MARROM[4]

Nessa parte, procurarei mostrar como livros que pretendem contribuir para a desconstrução da estereotipação do negro continuam apresentando o negro de forma depreciativa e equivocada. Tomarei como corpus o livro O menino Marrom de Ziraldo, escrito em 1986, o qual, apesar de apresentar o negro como protagonista, apresenta um desrespeito à raça negra, contribuindo, assim, para o mito da democracia racial, a escamoteação do preconceito, bem como para a propagação deste.

Por estereótipo entende-se:

Generalização apressada: toma-se como verdade universal algo que foi observado em um só indivíduo.(...) a construção do estereótipo pode se dar por ignorância ou quando há um objetivo de dar como verdadeiro algo que é falso, com a finalidade de tirar proveito da situação (BERD, 1988 p.09).

No caso do Menino Marrom percebe-se que, escapando a idealização proposta na década de 80, o livro apresenta, de maneira sutil, uma visão racista e etnocêntrica, permeada pela criação de estereótipo que vislumbra a depreciação do negro. "[...] o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser atropelada" (ZIRALDO, 1986, p.24).

Aqui, fica claro que o negro, apesar de protagonista, continua sendo associado à marginalização, reforçado pelo estereótipo de que "todo negro é marginal[5]", o que implica dizer que o livro aludido contribui mais para reforçar estereótipos do que para desconstruí-los.

O titulo do livro é outro ponto que merece atenção, uma vez que este já indicia uma falta de identidade étnico-racial, se levarmos em conta que o pertencimento étnico-racial do menino marrom é uma incógnita, pois o livro deixa claro que não existem raças, mas, sim, cores.

Dessa forma, o menino marrom não se reconhece enquanto negro, o autor de forma sutil, passa para o leitor que o menino marrom se aproxima mais do ideal mestiço, arraigado no imaginário social."[...] a mistura das cores deu um marrom. Um marrom forte como o de chocolate puro. O menino marrom olhou para aquela cor que ele tinha inventado e falou: olha aí, é a minha cor" (ZIRALDO, 1986,p.15).

Nessa perspectiva, o autor busca afirmar o ideal da mestiçagem e a idealização da relação inter-racial colaborando para disseminar o mito da democracia racial. Tais ideários são construções políticas que trazem em seu bojo o desejo de dissimular o racismo à brasileira.

Trata-se realmente de um mito, pois a mistura não produziu a declarada democracia racial, como demonstrado pelas inúmeras desigualdades raciais e sociais que o próprio mito ajuda a dissimular - dificultando, aliás, até a formação da consciência e da identidade política dos membros dos grupos oprimidos (MUNANGA apud SCWARCZ, 1993, p. 16).

A "mistura" pregada pelo autor, visa à aproximação do padrão de beleza branca.

A professora [...] e perguntou: se eu misturar todas essas cores, o que é que elas viram? O menino marrom gritou rápido: viram marrom! E olhou orgulhoso para os outros [...]. A professora disse: Não. [...] eu vou rodar esse disco bem depressa e vou misturar todas as cores nessa rodada. [...] de repente, ficou tudo branco. E a professora explicou [...] o branco não é uma cor. O branco é a soma de todas as cores em movimento (ZIRALDO, 1986, p. 17, 18).

Percebe-se, então, que o autor propõe a idéia de um povo miscigenado que se orgulha da mistura de raças e da ausência da discriminação racial, "o mundo não é dividido entre pessoas brancas e pretas" (ZIRALDO, 1986, p. 17, 18). Isso corrobora, mais uma vez, para sustentar o mito da democracia racial, demonstrar que a raça branca é superior a todas as outras, pois apesar da mistura de cores o branco sobressai, bem como despertar o conformismo dos negros frente aos preconceitos a que sempre foram e são submetidos.

Vale ressaltar que no século XIX, período em que estava em pauta a discussão das teorias raciais, a idéia de mestiçagem era tida com um meio para estragar e degradar a boa raça. Para Munanga (1999, p.51), "a pluralidade racial nascida do processo colonial representava, na cabeça da elite, uma ameaça e um grande obstáculo no caminho da construção de uma nação que se pensava branca".

Para que a "boa raça" não fosse estragada, implantou-se o ideal implícito da homogeneidade, que só seria possível através da miscigenação e da assimilação cultural. "A mestiçagem tanto biológica quanto cultural teria, entre outras conseqüências, a destruição da identidade racial e étnica dos grupos dominados, ou seja, o etnocídio" (MUNANGA, 1999, p. 110). Assim, a mestiçagem era para a elite branca uma ponte para o destino final: o branqueamento do povo brasileiro.

Para Darcy Ribeiro, "prevalece em todo o Brasil, uma expectativa assimilacionista, que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branquização progressiva" e continua: "a própria expectativa que o negro desapareça pela mestiçagem é um racismo" (RIBEIRO, 1995,p. 224 e 226).

Sob esse prisma, o pensamento de Franz Fanon (1967) traz à tona questões pertinentes à realidade brasileira quando se percebe que o racismo assimilacionista brasileiro com seus estereótipos de "beleza branca" e "feiúra negra", leva o afro-brasileiro à despersonalização, ao embranquecimento estético e cultural.

Ficar sozinho, às vezes, é bom: você começa a refletir, a pensar muito e consegue descobrir coisas LINDAS[6]. Nessa de saber de cor e de luz [...] o menino marrom começou a entender porque é que o branco dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz! (ZIRALDO, 1986, p.29).

O autor de O Menino Marrom propõe a inferiorização do negro como condição básica da ideologia racista e esta imagem ideológica do negro estimula uma visão racista, inferiorizante, pautada no desprezo. A alienação do menino marrom, proposta pelo autor, faz com que ele se sinta inferiorizado e obrigado a vestir uma "máscara branca[7]", ele sofre, então, de transtornos psicológicos com o sentimento de inferioridade perante o branco. "Santa mãe, a cabeça do rapazinho fervia. Aí, ele concluía: para o Homem, tudo vira símbolo! (...) sua cabecinha de adolescente chegava a ranger crec, crec, crec, ele via a hora que ele ia derreter" (ZIRALDO, 1986, p. 29).

O negro sofre de um desvio existencial implementado pela cultura branca. Uma verdadeira neurose toma conta da psiquê do negro, ele tenta de todo modo fugir de sua própria identidade, ele tenta a todo custo aniquilar a sua própria presença. Os valores brancos parecem os mais verdadeiros, os mais evoluídos. (FANON, 1967,p. 95).

Assim, o negro sente-se fraco, inferior, possibilitando, dessa forma, o aumento da dominação cultural. Nessa perspectiva afirma Darcy Ribeiro: "O aspecto mais perverso do racismo assimilacionista é que lhe da de si uma imagem de maior sociabilidade, quando, de fato, desarma o negro para lutar contra a pobreza que lhe é imposta, e dissimula as condições da terrível violência a que é submetido". (RIBEIRO, 1995,p. 226).

"Meu querido amigo: Eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência [8] do branco" (ZIRALDO, 1986, p.30).

Ao vivenciar sua condição alienada, o menino marrom, buscando fugir dos estereótipos, assimila os ideais de branqueamento e, conseqüentemente, perde sua identidade, visto que o regime assimilacionista a dilui gradativamente.

A ideologia do branqueamento se efetiva no momento que, internalizando uma imagem negativa de si próprio e uma imagem positiva do outro, o indivíduo estigmatizado tende a se rejeitar, a não se estimar e a procurar aproximar-se em tudo do indivíduo estereotipado positivamente e dos seus valores, tidos como bons e perfeitos. (SILVA apud MUNANGA, 2005, p. 23)

No livro analisado, o racismo assimilacionista está calçado no discurso da "democracia racial", implícito no fato de que, através da miscigenação, forma-se um povo de identidade homogênea com direitos e deveres iguais.

Ziraldo, no decorrer de sua obra, sanciona a prática do racismo através da atribuição de uma pretensa inferioridade do negro em relação ao branco e assim retrata o menino cor-de-rosa e o menino marrom:

[...] um já está quase formado e o outro não estuda mais [...]. Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo [...], um não lê coisa alguma, deixa tudo pra depois [...]. Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver na contramão [...]. Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra é num pagode. [...] Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom"(ZIRALDO, 1986, p.31).

 

Nesse fragmento, o autor escamoteia a questão racial e afirma valores hegemônicos oficiais brancos. Percebe-se, aqui, que o autor propõe a disseminação do preconceito quando, através das características atribuídas ao menino rosa e ao menino marrom, valoriza o grupo étnico-racial branco em detrimento do negro.

O preconceito proposto por Ziraldo, nesse fragmento, é perceptível se analisarmos que o menino marrom é associado ao analfabetismo, à desqualificação profissional, à criminalidade, enfim, é inferiorizado em relação ao menino rosa. Dessa forma, pode-se dizer, que a maneira como o autor caracteriza o menino marrom, contribui, tão somente, para a consolidação de uma visão depreciativa da imagem do negro nas relações sociais, pois o branco continua sendo posto com o representante da espécie humana e, o negro, em contrapartida, continua à margem da sociedade e, sobretudo, da espécie humana.

Outro aspecto relevante na obra de Ziraldo são as imagens. Através delas o autor reforça a associação do negro a estereótipos. Ao retratar a imagem do menino marrom (p.05) e do menino rosa (p.07), percebe-se um grande contraste social que veicula o menino marrom à miséria. O menino marrom aparece de short com remendo e com um velho par de sandálias de dedo nos pés, assim descrito no livro: "o menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele" (ZIRALDO, 1986,p. 06).

Percebe-se, aqui, que o autor, talvez implicitamente, animaliza o menino marrom, pois o remete à figura de um cavalo que, mesmo nas corridas, ao pular obstáculos, as ferraduras não soltam dos seus pés; além de comparar o cabelo do menino marrom a uma esponja de aço. O menino rosa, ao contrário do marrom, o cabelo "caia na testa e dançava com o vento, de tão leve" (ZIRALDO, 1986, p.10), além de aparecer de calça, tênis é descrito de forma que lhe é ressaltada a sua "beleza branca". "O menino rosa é muito clarinho, o mesmo clarinho que serve para indicar dentes brancos" (ZIRALDO, 1986, p.10).

Nesse sentido, "[...] a ilustração tem servido de veículo para o reforço de estereótipos e preconceitos" (SARAIVA, 2001, p. 76) e; "[...] preconceitos não se passam apenas através de palavras, mas também – e muito!! – através de imagens" ( ABRAMOVICH, 1990, p. 41).

Nessa perspectiva, a obra aludida reproduz a ideologia de uma sociedade doente, de consciência deformada, que culpa o negro por sua própria desventura e que acredita que o racismo não decorre da escravidão e da opressão, mas que é algo biologicamente determinado."Quando a identidade leva os escritores a creditarem que o mundo finda nos limites de sua tribo, em vez de internacionalizarem-se estes autores se fecham em um etnocentrismo que reduz sensivelmente a sua legibilidade" (BERND, 1992, p. 17).

A partir do exposto, confirma-se que a literatura infanto-juvenil brasileira veicula visões estereotipadas e depreciativas do negro, confirmadas por autores que visaram à inovação das personagens negras, ao atribuir-lhes o papel de protagonista, mas que, por outro lado, corroboraram para reforçar exatamente o que, de acordo com a idealização prevista na década de 80, pretendiam denunciar: o preconceito racial.

A aceitação democrática das diferenças pressupõe igualdade de oportunidades para os segmentos que apresentam padrões estéticos e valores sócio-culturais diferentes. Então, o respeito às diferenças implica numa reciprocidade na igualdade de relações. Como não é possível estabelecer relações recíprocas de direitos e respeito em um sistema baseado na exploração do outro, desenvolve-se toda uma ideologia justificadora da opressão e inferiorização, objetivando a destruição da identidade, da auto-estima e do reconhecimento dos valores e potencialidades do oprimido (SILVA, 1995, p. 25).

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi evidenciado nesse artigo, pode-se inferir, através da caracterização do personagem negro na narrativa analisada, que os personagens brancos continuam sendo colocados de forma superior, enquanto o negro continua sendo estereotipado e estigmatizado, camuflado por uma roupagem que prega a igualdade racial.

Nesse sentido, enquanto professores, devemos analisar de forma criteriosa e atenta as obras literárias que são trabalhadas em sala de aula, no sentido de desconstruir idéias preconceituosas, muitas vezes, veiculadas por meio da literatura.

Com a sanção da Lei nº 10.639/2003, resultado de lutas e reivindicações, o desafio está posto, cabe a nós a busca de meios eficazes, capazes de construir uma educação que aponte para o respeito às diferenças, o que implica na valorização e respeito à real história dos afro-brasileiros que o discurso hegemônico racista e excludente vem há anos ora escamoteando, ora deturpando.

REFERÊNCIAS:

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BERND, Zilá. Literatura e identidade nacional. Porto Alegre: Editora da Universidade – UFGS, 1992.

BERND, Zilá. O que é negritude. São Paulo: Brasiliense, 1988.

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[1] Trabalho apresentado como avaliação de conclusão do Curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, sob a orientação da professora Suely Santana.

[2] Graduanda do VII semestre do Curso de Letras – Ipiaú - Bahia – Noturno

[3] Professora da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Mestre em Literatura Brasileira (UFBA).

[4] Obra analisada: 1986. O Menino Marrom; autoria e ilustração: Ziraldo, Editora: Melhoramentos. São Paulo.

Edição utilizada: ZIRALDO. O Menino Marrom. 29º ed. São Paulo: Melhoramentos, 2004.

[5] O termo marginal, aqui utilizado, refere-se a bandido, delinqüente, criminoso, fora-da-lei, pessoa sem caráter, de maus sentimentos.

[6] A caixa alta não consta do original transcrito. Grifos meu.

[7] O termo "máscara branca", aqui utilizado, refere-se ao racismo assimilacionista, que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branquização progressiva.

[8] A palavra sublinhada consta do original transcrito.