Márcio Costa Corrêa[1]

 Claudio Cesar de Mattos Viegas[2]

Leandro Bonoow Xavier[3] 

 

A religião no mundo antigo: o sagrado e os segredos

Houve um momento histórico onde o homem sofreu uma metamorfose, o império adota o monoteísmo, a estrutura mística vigente simplifica-se, estamos na Idade-Média. O homem tenta adaptar-se a esta nova ordem, é mister obedecê-la! Esta nova perspectiva se firma pela coerção, pela força, pelo fogo e pela morte.

             Após a fixação das bases da Igreja Católica Apostólica Romana, a concepção do “Místico” é monopolizada, legitimada pelo mistério da santíssima trindade, complexo e impregnado de carga teórica, mística e doutrinária, impõe-se a ideia de adoração ao cordeiro místico à crença de que não se chegaria ao pai sem a intersecção do filho. Neste sentido, dois referenciais determinantes surgem para uma persuasão mais eficaz das massas – são instituídos o Demônio e o Pecado.

           O demônio – Todo o Deus ou ídolo que não fosse o Deus uno, Judaico, do velho testamento hebreu. Toda a reverência a eles configurava um “pecado”, a insistência, uma heresia e logo um sacrilégio.

           O místico e o “Sagrado” eram monopólio de uma nova igreja, que agora militava sua doutrina em toda a Europa, e que em breve triunfaria como a instituição mais sólida do planeta.

           Todos os costumes místicos ou religiosos que sobreviveram a esta “filtragem” de costumes que o catolicismo implantou foram imediatamente proibidos, contudo não foram erradicados. Falam-se aqui de um conjunto de reminiscências gregas, egípcias, romanas, bem como todo o cabedal religioso dos povos ditos bárbaros, e o que se estendia no campo da superstição, do paganismo, da crença, do místico, do fantástico e do sobrenatural. Todo ritual que fugisse ao culto à santíssima trindade era praticado em segredo dentro da esfera privada ou íntima.

Numa fase de transição política e religiosa. O homem medieval se viu diante de uma transformação gradual em suas práticas cotidianas, intensificada pelo sistema maniqueísta/binário (Bem, mal). A partir da privatização da crença pela Igreja Católica Apostólica Romana em (391), quando foi o Cristianismo foi instituído como religião oficial de estado, o homem medieval, consequentemente, teria que ser convertido a esta nova ordem religiosa.

Para obter êxito na conversão dos novos “cristão”, a igreja – “atribuiu o sagrado maléfico a satanás, e transformou o sagrado benéfico cristianizando-o”. Nesse sentido, toda a prática religiosa que não fosse o cristianismo, configurava-se como manifestação satânica, do demônio. Para além da implementação do mal, do Diabo, a igreja começou a cristianizar as práticas pagas, tornando-as licitas.

O imaginário do homem medieval foi moldado por esse processo de transição do politeísmo para o monoteísmo. O Deus não está mais manifestado na natureza, ele está distante, muito longe, no universo, e agora homem medieval teria que enfrentar o Diabo, medo, forças do mal presente na sua vida cotidiana. E o único caminho para salvação se dava pela Igreja esta mediadora (Jesus) “ninguém chega ao pai senão por mim” (SANTÍSSIMA TRINDADE) entre Deus e o Homem. 

Na visão da Igreja, o homem medieval é um pecador por essência, tendo que pagar por tais pecados, as penitências - que podemos classificar de três modos: fisicamente (morte, trabalho), mentalmente (Orar), financeiramente (pagar). “Esta atitude levou a passagem de uma consciência exterior de seus males a uma consciência interior de sua responsabilidade.”

Pensando na relação homem/pecado não podemos ignorar a questão do gênero no período medieval uma vez que um grande mistério pairava não somente sobre as mentes dos pagãos, mas também sobre as mentes dos cristãos sobre figura feminina e a mulher. O que há em comum em ambos os casos? A compreensão da figura feminina pelo princípio sobrenatural dado que a sociedade medieval como um todo percebia o mundo pela religião.

As discrepâncias nas concepções da figura feminina sobre o mundo pagão e cristão são muitas e estão justamente na sua relação com o sagrado. De acordo com Phelipe Ariès (1990) para os pagãos a mulher tinha um papel sagrado e ao mesmo tempo secreto, pois era ela quem geralmente tomava frente no preparo das poções para matar ou conquistar um determinado amor, era detentora dos conhecimentos do amor e também conhecedora do futuro por meio da mediunidade, porém na sociedade cristã era percebida como um ser frágil, criatura medrosa e impura o que pode ser demonstrado no concílio de Auxerre (561-605), quando exige que as mulheres envolvam a mão numa aba de vestido para poder receber o Corpo de Cristo, tal atitude se justificava sobre a suspeita de impureza relacionada com a menstruação já que tudo que saísse da mulher era considerado impuro. (ARIÉS, 1990, p. 509). Era também “a única responsável pelo aborto, pelo infanticídio e pela contracepção” (ARIÉS, 1990, p. 517). De acordo com o autor este ser impuro pelo próprio sangue e tudo o que pode expelir ia contra o Evangelho de São Mateus (XV, 8), no qual afirma que somente as palavras podem manchar o coração do homem.

           Além dessas percepções citadas a mulher no medievo tinha sua função social, pois de acordo com Jacques Le Goff seu estatuto (esposa, viúva ou virgem), mas aqui o de esposa podia fortalecer os laços entre as famílias, mas tal fato vai se alterando na medida em que com o tempo os cônjuges vão tendo maior liberdade.  Por fim para ambos os autores a sua função por excelência era a da natalidade.

            Essa e outras percepções cristãs se deram por meio da clericalização da sociedade, conceito adotado por Hilário Franco Junior. Para este autor este foi um dos fatores mais profundos de transformação que ocorreram no Baixo Império Romano e que se refletiria por toda a Idade Média.

 A igreja faz com que o racionalismo fosse superado na I. Média dando lugar a fé por meio da monopolização da comunicação com Deus. O que Justifica a transformação dessa mentalidade e comparação com a cultura Greco-romana no qual a presença de filósofos e pensadores trazia uma denotação de uma sociedade racionalizada, embora não por completo.

            Buscando Deus mais por meio da fé que pela razão, o homem medieval encontra o silêncio como meio mais eficaz de se obter a salvação. O silêncio encontra-se dentro da igreja católica no 9º grau de humildade, junto com a fidelidade, pobreza, obediência, castidade entre outros, calcados na imagem de Jesus cristo que era um modelo para o povo, modificando para alcançar a eternidade.

A igreja católica detinha autoridade temporal terrena e mística, em seu interior viviam monges e escribas que se dedicavam inteiramente a leitura, ao estudo e a oração, tal modo de vida gerava um imenso arcabouço teórico baseado na filosofia grega, romana e egípcia que ficava guardado nos mosteiros e, portanto distante da população. Nesta perspectiva teórica usaram a imagem do “Sopro divino” como representação de “deus interior” o que fez depararem-se consigo mesmos, descobrindo então a necessidade do cultivo pessoal por meio do silêncio para poder encontrar a face de deus.

Referências bibliográficas 

ARIÉS, Phelipe. “Sagrado e Segredos”. In: ARIÉS, P.; DUBY, G (org). A História da vida privada: do Império Romano ao Ano Mil. São Paulo Companhia das Letras, 1990. pp. 501 – 529.

FRANCO JR, Hilário. O feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.

LE GOFF, Jacques. “O Homem Medieval”. In: LE GOFF, Jacques (org.). O Homem Medieval. Lisboa: Editorial Presença, 1989. pp 9 – 30.



[1]   Aluno de graduação do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Pampa. UNIPAMPA, Campus Jaguarão/RS.

  [2]  Aluno de graduação do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Pampa.    UNIPAMPA, Campus Jaguarão/RS.

[3]   Aluno de graduação do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Pampa. UNIPAMPA, Campus Jaguarão/RS.