Diante da amplitude da temática proposta, quero delimitá-la de maneira específica em relação aos acontecimentos ocorridos atualmente em nosso país. Refiro-me a disputa ao cargo político majoritário da República Federativa do Brasil: a Presidência da República. Tento analisar de maneira geral o processo ocorrido, mantendo a imparcialidade. Ora, esse debate que, deveria naturalmente, ser desenvolvido na esfera política, apresentou-se como principal disputa no campo das convicções religiosas.
O Brasil, de acordo com a sua Constituição Federal de 1988, no seu Art. 19, define que a liberdade religiosa e a livre expressão do pensamento são garantias adquiridas que estabelecem um Estado laico, ou seja, um Estado onde não há uma religião oficial. Dessa forma, acreditava-se estabelecer um secularismo amplo no país. Contudo, surgiram espaços para as mais diversas manifestações religiosas em nosso país. De sorte que, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 1940 e 2000, o número de evangélicos cresceu de 2,6% para 15,4% da população nacional, e esse crescimento no âmbito religioso tem se refletido no campo político. Não obstante o crescimento e consolidação da chamada "bancada evangélica" no Congresso Nacional.
Mas, retornando ao cerne dessa discussão, o que se presenciou amplamente por intermédio de parte da imprensa brasileira, foi uma clara tentativa de se imputar a determinada candidata à Presidência da República, de que ela era a favor da legalização do aborto. Ora, logo essa questão tornou-se o principal destaque na concorrência ao Planalto Central. Não que essa temática seja irrelevante ou descontextualizada, mas numa disputa política, principalmente levando-se em consideração o futuro político da nação, seria patente que, primordialmente, os programas ou propostas dos partidos políticos envolvidos tivessem maior proporcionalidade nos debates e veiculações.
Outro fato que se constatou nesse período foi a aparição de vários líderes religiosos, tanto católicos quanto protestantes, nos meios de comunicações, utilizando-se de suas imagens e influências institucionais, quase que deflagrando uma "cruzada" político-partidária contra o partido político de tal candidata. Mas, não somente tentaram influenciar o processo eleitoral, como também afirmaram de forma mentirosa e indecente que ela era a favor da liberação do aborto, assim deliberaram estrito apoio ao adversário de tal concorrente.
É fato, que tanto o governo atual, quanto a continuidade dele, apresenta e apresentarão problemas, não se excetuando as críticas que tenho quanto à política de assistencialismo através da variedade de "bolsas disso e daquilo". Porém, jamais se presenciou tanto avanço social e econômico, oportunizando o filho do pobre sentar ao lado do filho do rico na mesma universidade, permitindo o acesso à créditos antes surreais, e à dignidade que vai desde a aquisição de um emprego à obtenção da casa própria.
A religião como um seguimento social que possui a característica de agregar valores e princípios, morais e éticos, particularizando-se como norteadora dos interesses espirituais, na vida de seus membros. Já a política se estabelece como a normatização das relações de indivíduos e sociedades, em seus ideais e na aspiração do bem comum. Portanto, é surpreendente, quando líderes religiosos, ao se vestirem de um "manto" fundamentalista, tentam manipular a consciência de seus congregados num particular e institucional interesse, ao invés de promoverem o estímulo ao debate de idéias e à livre decisão do voto por parte dos seus fiéis.

Héliton Wagner M. de Vasconcelos.
Bacharel em Ciências Teológicas
pela Faculdade Boas Novas
Manaus - AM